Contexto

Juízes dão continuidade à história da conquista de Israel da terra que Deus prometera a seus ancestrais. Enquanto o livro de Josué termina com a nação tomando uma posição por Deus e pronta para experimentar todas as bênçãos da terra prometida, na sequência os israelitas perderam seu comprometimento espiritual e a motivação depois de se estabelecerem em Canaã. Após a morte de Josué, a nação experimentou uma carência de liderança espiritual, que levou um período muito sombrio. O livro de Juízes cobre mais de 325 anos, registra 6 períodos sucessivos de opressões e livramento e descreve 12 libertadores (juízes), usados por Deus para livrar seu povo e demonstrar seu amor e misericórdia.

Cenário

O primeiro passo dos israelitas distante de Deus foi um ato de obediência incompleta – eles se recusaram a eliminar completamente o inimigo da terra. Isto levou a casamentos mestiços, idolatria, e cada um fazendo “o que lhe parecia certo” (Juízes 17.6, NVI). Em Juízes 2.1-3, vemos o resultado de sua desobediência: “Portanto, agora lhes digo que não os expulsarei da presença de vocês; eles serão seus adversários” (NVI). Durante este período, Israel repetidamente seguia este ciclo: (1) Rebelião contra Deus, (2) ser derrotado por nações inimigas, (3) ser livrado por um juiz temente ao Senhor, (4) permanecer leal a Deus durante o tempo desse juiz e (5) novamente esquecer-se de Deus quando o juiz morria.

A terra havia sido oprimida por midianitas e amalequitas por sete anos (6.1). Como gafanhotos, os grupos itinerantes de midianitas e amalequitas acamparam na terra dos israelitas e destruíram as plantações no tempo da colheita e pilharam as casas dos agricultores. Como resultado, os israelitas esconderam-se em covas, cavernas e fortalezas rochosas por segurança (6.2). Neste cenário, Deus enviou um anjo para visitar Gideão, um fazendeiro, enquanto este estava escondendo- se dos midianitas debulhando seu trigo em um lagar (6.11). A despeito de seu medo e timidez, o anjo do Senhor chamou-o de “valente guerreiro” ou “poderoso homem de valor”. Deus estava reconhecendo que havia posto esta qualidade de caráter em Gideão, mas ele não se via assim. Após Gideão ter falado de sua inferioridade (6.15), Deus prometeu: “Eu estarei com você”, respondeu o Senhor: “e você derrotará todos os midianitas como se fossem um só homem” (6.16, NVI). Esta resposta divina mudou a atenção de Gideão, para longe de seus próprios méritos, em direção a Deus, que será a fonte de sua vitória.

Gideão, hesitante e duvidoso, pediu ao anjo por um sinal. Ele preparou uma oferenda e a colocou no altar. O anjo tocou a oferta com seu cajado e o fogo a consumiu (6.19-21). Gideão reconheceu seu chamado pessoal para servir a Deus. Quando percebeu que tinha visto o anjo do Senhor face a face, temeu, achando que morreria (6.22,23).

A primeira tarefa dele foi destruir o altar de seu pai a Baal. Porque estava com medo, foi à n oite e levou dez servos consigo. Como resultado deste incidente, ele recebeu um novo nome: “Jerubaal”, que quer dizer “que entra em contenda contra Baal”. Muitas das pessoas da cidade queriam matá-lo, mas seu pai interveio.

Gideão recebeu poder do Espírito de Deus (6.34) para levar seu plano de batalha adiante. Mais uma vez, ele precisava se tranquilizar e requisitou mais dois milagres (6.36-40). Estas “provas” revelavam o medo de Gideão, mas Deus honrou seus pedidos mesmo assim.

Assegurado por Deus, Gideão enviou mensageiros para arregimentar voluntários para a causa de Israel: remover os 135.000 midianitas acampados nos arredores. Trinta e dois mil israelitas atentaram para a convocação à luta, mas Deus fez com que as tropas diminuíssem para 300 “A fi m de que Israel não se orgulhe contra mim, dizendo que a sua própria força o libertou” (7.2, NVI).

Mais uma vez, Gideão demonstrou medo. O Senhor o despertou e o enviou para o acampamento midianita à noite para escutar uma conversa que lhe daria coragem (7.12-15). Este incidente mostra que Deus está disposto e é capaz de nos dar a força que precisamos para qualquer situação. Contudo, precisamos escutar e estar prontos para dar o primeiro passo. Somente depois que começamos a obedecê-lo encontramos a coragem para seguir adiante.

Gideão de fato seguiu adiante com o plano divino. No tempo determinado, 300 trombetas estrondaram no ar, 300 mãos ergueram cântaros e os fi zeram em pedaços, 300 tochas acesas trespassaram a escuridão, e 300 guerreiros clamaram: “Espada pelo Senhor e por Gideão!” (7.19-21). Os midianitas entraram em pânico, e em sua confusão, muitos mataram seus compatriotas. Os soldados restantes fugiram. Os inimigos de Israel foram derrotados e a terra estava segura (7.22 e 8.10). Deus mostrara a Gideão e aos israelitas que a vitória deve vir dele (veja 1 Coríntios 1:27).

Depois de Gideão ter terminado de perseguir e matar o inimigo, seu povo queria fazê-lo rei. Ele replicou: “Não reinarei sobre vocês, nem meu fi lho reinará sobre vocês. O Senhor reinará sobre vocês”. (8.23, NVI). Entretanto, imediatamente seguindo esta declaração, ele pediu uma parte da pilhagem e transformou o ouro em uma estola sacerdotal. Enquanto Gideão provavelmente pretendia que esta estola fosse um memorial da vitória, o povo começou a idolatrá-la.

Aplicação

Por meio da vida e dos atos de heroísmo de Gideão, Deus revela muito sobre si mesmo e sobre a preparação que seus líderes precisam:

1. Deus chama líderes a partir de situações improváveis. Gideão era um fazendeiro que se sentia responsável pelo bem-estar de sua família, que duvidava da realidade do chamado de Deus e sentia-se inadequado para a tarefa. Seu pai era adorador de ídolos (6.25).

2. Deus prefere alguns discípulos dedicados e disciplinados a multidões de trabalhadores descompromissados. Uma minoria totalmente comprometida com Deus pode lograr êxito (veja 7.2, 4, 7 e 1 Samuel 14:6).

3. A vida espiritual de um líder é sustentada pela adoração regular. Gideão aparenta ter adorado frequentemente – em tempos de crise pessoal bem como de celebração (6.18-21; 7.15).

4. Deus deleita-se em “chamar à existência” o potencial (qualidades de caráter) que colocou em nós (veja também João 1:42). Gideão, no homem natural, era cauteloso e medroso, mas Deus o via como um “valente guerreiro” e trouxe à tona estas qualidades. Contudo, o Senhor começou pedindo a Gideão, “vá na força que tens”. Como Gideão, somos chamados para servir a Deus de maneiras específi - cas. Embora o Senhor nos prometa as ferramentas e força que precisamos, frequentemente damos desculpas. Lembrar Deus de nossas limitações implica que ele não conhece tudo sobre nós e que cometeu um erro ao avaliar nosso caráter.

5. Deus revela-se das maneiras que são necessárias para fortalecer nossa fé. O coração preocupado e temeroso de Gideão foi ao encontro de Deus com “O Senhor é Paz” (6.24). Através de um anjo, do consumir da oferta de Gideão, encharcar e secar a lã, e ouvir um sonho e sua interpretação, vemos a disposição de Deus em revelar-se da maneira que foi ao encontro das necessidades de Gideão.

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