Explanação
Ao trabalharmos esta unidade no livro de Tiago, estamos olhando as imagens de Jesus Cristo em nós. Quando as pessoas olham para nosso comportamento, elas veem Jesus em nós? Semana passada, falamos que nosso chamado não é para apenas ouvirmos a Palavra, mas para praticarmos o que ela nos diz (Tiago 1:22). O capítulo 1 termina com uma asseveração que a religião pura e imaculada é manifesta quando alguém cuida das necessidades das pessoas e mantém-se incontaminado do mundo (Tiago 1:22). O texto de hoje, do capítulo 2 de Tiago, focaliza outro aspecto do cuidado com as pessoas: não manifestar favoritismo. (Tiago 2:1).
Após proibir a parcialidade (verso 1), Tiago oferece um exemplo de tal favoritismo: tratar com preferência uma pessoa rica e menosprezar alguém pobre (versos 2-3). Depois ele discute o que está verdadeiramente em jogo no que diz respeito à questão do favoritismo.
Em primeiro lugar, Tiago argumenta que demonstrar favoritismo vai contra o que Deus tem ordenado. Ao invés de "se tornar juízes com maus pensamentos" (versículo 4, NIV), o povo de Deus foi chamado para ser imparcial: "Não farás injustiça no juízo, nem favorecendo o pobre, nem comprazendo ao grande; com justiça julgarás o teu próximo." (Levíticos 19:15). Além disso, Deus não somente nos ordena a sermos imparciais, Ele também exemplifica isso: "Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno." (Deuteronômio 10 17). O que está em jogo na questão do demonstrar favoritismo é a nossa obediência à vontade de Deus revelada para nós.
Adicionalmente, quando demonstramos favoritismo de um sobre o outro, fazemos uma distinção inexata entre nós (Tiago 2:4). Um dos resultados mais fenomenais da morte e ressurreição de Jesus é a remoção das barreiras entre nós: “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:28). É o mundo, e não a igreja de Cristo, que faz uma distinção primaria entre o rico e o pobre, o culto e o inculto, o nobre e o plebeu. Tiago teria que nos relembrar sua admoestação em 1:27 que a religião pura e verdadeira inclui manter-se incontaminado do mundo.
Ademais, em 2:5 Tiago rememora que Deus tem especificamente escolhido o pobre de forma que ele pode se tornar rico na fé. Quando preterimos o pobre em relação ao rico, ignoramos o que Jesus tão enfaticamente ensinou, pregou e exemplificou. Observe, por exemplo, a comissão que Jesus ofereceu, no início do seu próprio ministério público: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração.” (Lucas 4:18). Se quisermos seguir os passos de Jesus, então, devemos ser discípulos imparciais.
Exploração
Conforme temos visto, favorecer alguém em detrimento de outrem vai contra os ensinos e a obra de Deus. Tiago almeja que seus leitores claramente entendam isto, porém ele não para por aqui. Ele continua sua campanha contra o favoritismo, dando-nos mais algumas razões para proibir a parcialidade.
Em Tiago 2:6 vemos o efeito que o favoritismo tem sobre o pobre: ele os insulta. Quando as pessoas percebem que estão sendo tratadas com validismo, elas são fortemente afetadas pela nossa insolência, pela nossa indignidade, e pelo nosso desprezo. Isto as fere e envenena o nosso relacionamento com elas. Uma das experiências mais fundamentais do ser humano, o desenvolvendo de relacionamentos saudáveis e produtivos com os outros, está em jogo quando se mostra favoritismo.
Também é notável o contexto no qual o favoritismo normalmente ocorre. Nos versos 6-7 Tiago arrola alguns dos desafios que seus leitores estavam experimentando: exploração, processos judiciais e a difamação do nome de Deus. Tiago também identifica o rico, não o pobre, como aqueles que estavam causando tais problemas. Então, o favorecimento dentro do seio da igreja do rico sobre o pobre é como um grupo que puni os pecados dos outros. Simplesmente não faz sentido.
Por fim, Tiago completa sua condenação da parcialidade com seu argumento mais forte: a parcialidade é pecado. De acordo com os versículos 8-11, quando preterimos alguém em detrimento de outrem, não estamos guardando a lei, mas sim transgredindo-a. Em vez de guardar a “Lei Áurea” de amar ao nosso próximo como a nós mesmos, estamos condenando-o. Agindo assim, estamos também a condenar-nos como transgressores da lei. Provérbios 14:20-21 declara claramente que o favoritismo é pecado: “O pobre é odiado até pelo seu próximo, porém os amigos dos ricos são muitos. O que despreza ao seu próximo peca, mas o que se compadece dos humildes é bem-aventurado.” Quando demonstramos favoritismo, o que está em jogo não é apenas nosso relacionamento com as pessoas, mas também a nossa comunhão com Deus, porque isto é pecado.
Encorajamento
A imagem de Jesus que a lição de hoje discute é o seu tratamento imparcial dispensado às pessoas. Ele não favorecia ao rico em detrimento do pobre. Tiago insta-nos a refletir esta imagem de Cristo. Como podemos fazer isso?
Algo que podemos fazer é utilizar a ferramenta prática que Tiago nos fornece nos versos 12-13. Ele nos recorda que não apenas emitimos julgamento, mas também seremos julgados. Ele diz que o padrão será a lei. Será que o nosso comportamento está alinhado plenamente com a lei de Deus? Este é um padrão muito alto! Felizmente, Tiago também nos recorda que temos uma escolha no assunto: Podemos optar por demonstrar misericórdia aos outros e deixar de lado qualquer espécie de favoritismo. Se optarmos pela misericórdia, então também receberemos misericórdia. A ferramenta que Tiago nos oferece é uma atitude de consciência. À medida que interagimos com as pessoas em uma base diária, estamos conscientes de que Deus espera que nos comportemos de maneira misericordiosa?
Há outra ferramenta que podemos obter através da passagem escriturística de hoje. Lendo o verso 5 relembra-nos que há que uma perspectiva em cada situação. Existe a perspectiva que o mundo tem, e a perspectiva de Deus. Estas duas perspectivas são diametralmente opostas. Podemos escolhe qual delas usaremos ao interagirmos com outras pessoas. Tiago, é claro, aconselha-nos a empregar a perspectiva divina, porque ela é a mais completa, informada e justa.
O padrão do mundo está baseado na utilidade, em outras palavras, “como esta pessoa poderá beneficiar-me?”. Usando esta lógica frequentemente seremos guiados a ver as pessoas como uma obrigação (passivo) ao invés de um recurso (ativo) ¹. Os pobres, por exemplo, são seguidamente vistos dessa forma. O padrão de Deus, entretanto, está baseado no valor intrínseco. Quando Deus olha para uma pessoa, Ele vê alguém com um valor incalculável porque esta pessoa fora criada à própria imagem dele. Deus, portanto, vê a pessoa com um recurso ao invés de uma obrigação.
O desafio para nós, então, é ver cada pessoa não como um problema, mas sim como uma oportunidade. Ao lidar com esta pessoa, nós temos a oportunidade de escolher qual perspectiva empregar. Optando pela perspectiva do mundo nos levará a uma interação pobre com a pessoa. Se escolhermos a perspectiva divina, seremos levados a uma interação mais rica com ela. Quando usamos a perspectiva de Deus, aos nossos olhos os pobres se tornam ricos.
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¹ O autor do comentário, Scott Hausrath, usou duas palavras muito empregadas na área da contabilidade “Liability” e “Asset”. 'Liability' significa responsabilidade, dívida, passivo. Ou seja, uma pessoa que vamos gastar tempo ajudando. Já “Asset” significa bem, recursos, ativos. No sentido, uma pessoa que vai nos ajudar com nosso trabalho. N.T