Ententendo e Vivendo
Mordomia da mente
- Detalhes
- Wesley Batista de Albuquerque
- Entendendo e Vivendo
Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.
Filipenses 4:8
INTRODUÇÃO
De todos os elementos constitutivos do ser humano, sem sombra de dúvida a nossa mente é um dos mais espetaculares. Esta é uma das marcas da mão do Criador que não podem ser apagadas. A Bíblia apresenta a mente (ou o coração) em tão alta significação que afirmou: “Vigia acima de tudo o teu pensamento, porque dele depende a tua vida” (Provérbios 4:23 NTLH). Este versículo capta bem a importância da mente como uma usina que produz a força necessária para nossas ações. É aqui que reside toda nossa capacidade de armazenamento (memória), intelectual, afetiva, aprendizado, as intuições, sentimentos e motivações.
Uma vez que a sede de nosso ser é tão versátil e singular, cremos que este é o principal campo de batalha no qual estamos inseridos. Onde os principados e as potestades do ar estão querendo estabelecer trincheiras e descarregar toda sua munição. Isso porque nossos primeiros pais tiveram sua comunhão com Deus rompida por causa de uma especulação que Satanás conseguiu implantar na mente deles. Antes mesmo de existir qualquer armamento projetado pelo ser humano no mundo, Satanás usou a mais mortífera e ferrenha de todas – a persuasão.
Sabendo disso devemos redobrar nossa atenção, pois serão muitas as ameaças. A influência da cultura à nossa volta, por exemplo, é algo perigoso e concreto (principalmente quando levamos em conta uma cultura que tem virado as costas para Deus). A todo tempo os cristãos são atacados por munições ideológicas. A maneira de pensar do mundo não é a maneira de pensar de Deus. Os valores são diferentes também. Por isso, mais do que nunca, devemos administrar bem nossa mente.
UMA VISÃO GERAL
A Bíblia refere-se à mente valendo-se de certa variável de palavras. Estas palavras referem-se ora de maneira genérica, ora de maneira específica à estrutura cognitiva (razão), afetiva (emoções e sentimentos) e volitiva (vontade e ação) de uma pessoa.
No Antigo Testamento, a palavra mais comum para se referir a tudo isso é lev. Às vezes, o termo parece nos indicar uma referência ao órgão coração, mas nem sempre o pensamento hebreu, expresso em algumas passagens bíblicas, é tão objetivo assim. Confira, por exemplo, a passagem bíblica que relata a morte de Absalão. Em 2 Samuel 18:14 lemos que Joabe transpassou o coração de Absalão com três dardos, mas, no verso seguinte (v. 15), nos deparamos com o relato de que dez jovens mataram Absalão. Como pôde Absalão ter ficado vivo, sendo que Joabe transpassara seu “coração” com três dardos? Provavelmente, Joabe tenha transpassado outra parte do corpo, talvez as entranhas (cf. Jeremias 31:20)28. Já em o Novo Testamento o anjo referiu-se à vida do menino Jesus usando a palavra grega psiqué. Mas, há também uma palavra grega específica para “coração”, que é kardia (Mateus 11:14), e outra para referir-se à nossa mente ou pensamento, que é dianóia (Mateus 22:37).
Nosso foco aqui é nos deter na ideia que nos remete ao ser interior que há em cada um de nós. Aquela parte de nossa constituição humana, que é a sede de nossa consciência. Em uma das muitas passagens, que nos traz esta ideia, nos deparamos com a carta de Paulo aos Filipenses (4:8). Nesta passagem, a palavra usada por Paulo não é nenhuma das mencionadas acima. Paulo, na realidade, está se referindo a uma das funções da mente. Ou seja, o que ele está pedindo é que os cristãos calculassem, ponderassem, avaliassem, levassem em conta aquilo que estava sendo recomendado. É justamente este o significado da palavra logizomai. Assim, entenderemos não só o valor que nossa mente tem para Deus, como seremos estimulados a administrá-la de uma forma que venha a redundar em glória para Ele.
A MENTE COMO ALGO QUE SEMPRE ESTÁ OCUPADO
Nossa mente nunca está vazia. O autor C. J. Mahaney ilustra isso de maneira bem vívida:
Toda manhã soa o alarme do relógio, exigindo sua atenção. Desliga... desliga! Você aperta o botão de ‘snooze’.(...) Aí o alarme irritante começa de novo. Você abre os olhos e ai dá início à ‘escuta’.
- Hoje é quinta-feira. Ah, não... você tem aquela reunião de vendas! É melhor você se mexer para enfrentar o dia.
- Ai... que dor nas costas! Esquece. Dois pés são lançados num dos lados da cama. A voz não cessa de falar:
- Ontem... o que aconteceu? Ah... aquela barulheira no carro. Você ainda precisa verificar as contas, e os cheques emitidos...
Quando seus pés descalços tocam o chão frio do banheiro, a voz acelera o ritmo:
- O que é que a Laura quis dizer com aquele comentário? Será que ela estava sendo sarcástica?
- Será que ninguém desta família aprende a guardar a pasta de dentes no lugar?
Este fim de semana será tão corrido. Você tem tanta coisa para fazer hoje. E precisa orar. Mas você não tem tempo para orar. E nem orou ontem.
- Este espelho precisa ser limpo. Não devia ter ficado assistindo àquele programa ontem à noite. Meu! Estou precisando cortar o cabelo.
Percebeu como realmente não paramos de pensar! Nossa mente sempre estará ocupada. Deus nos fez assim e é maravilhoso! Como disse John Wesley: “o coração [mente] do homem é uma roda de moinho que trabalha sem cessar; se nada for jogado para moer correrás o risco de que ele triture a si mesmo”.
Somos os únicos seres criados por Deus que têm a capacidade de pensar em tantas coisas e de associá-las a outras coisas. E tudo isso numa fração de segundos. E mais: no momento em que estamos pensando, avaliamos aquilo que pensamos. E, dependendo de nossa personalidade, estes pensamentos revelarão algo sobre quem somos.
Este “tráfego de pensamentos” é resultado natural de nossa constituição. Sempre seremos impulsionados à atividade do pensar. Podemos ver isso em Eclesiastes: “Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim não consegue compreender inteiramente o que Deus faz” (Eclesiastes 3:11 NVI). Como nunca saberemos tudo, procuraremos sempre entender a razão das coisas!
Sabedores, pois, de todo este potencial mental, e do quão ocupada é nossa mente, resta-nos perguntar: como a temos gerenciado? Como aquilo que estou pensando afeta minha vida devocional e, consequentemente, meu compromisso com Deus?
A mente está, de alguma forma, sempre em funcionamento. Seu bom gerenciamento é fundamental em nossa relação com Deus. |
O CONTEÚDO QUE DEVE OCUPAR A MENTE
A resposta para as perguntas anteriores é facilmente encontrada no pensamento paulino. A perspectiva que Paulo
tinha da nossa mente como um altar para adorarmos a Deus é esplêndida (cf. Romanos 12:2). Em Colossenses, por exemplo, ele disse para mantermos os nossos pensamentos nas coisas do alto, pois é lá que nossa vida está escondida em Cristo (3:1-3). Partindo deste ponto, vemos que o que pensamos aqui deve estar em consonância com o que virá. Nada do que fazemos aqui é sem sentido, nem mesmo aquilo que fazemos com a mente. Com a mente entendemos aquilo que o Espírito nos ensina sobre Deus (1 Coríntios 2:12). Porém, se essa mente está centralizada em si mesma ela é vã (1 Coríntios 3:19-20).
Sem maiores delongas, vejamos o que Paulo tem para nos ensinar sobre a mordomia da mente, na carta aos Filipenses. Paulo havia transmitido todo seu afeto àquela igreja (1:3-11). Também mencionou os sofrimentos, devido à sua prisão, e em como isso promoveu a expansão do Evangelho (1:12-26). Pediu à igreja que tivesse a humildade em mais alta conta (2:1-11). Disse que enviaria o amado Timóteo àquela igreja e que ela o recebesse bem, assim como honrasse a Epafrodito (2:19-30). Alertou sobre os falsos mestres (3:1-4), e orientou a igreja a viver em união (3:17; 4:2-3). A partir disso, Paulo deu algumas exortações mais práticas e mais direcionadas.
Nosso texto de estudo faz parte de uma corrente estrutural de imperativos. Ele disse para aquela igreja permanecer firme (4:1), pensar concordemente no Senhor (4:2), alegrar-se no Senhor (4:4), ter moderação conhecida de todos (4:5), evitar a ansiedade (4:6), manter o pensamento focado naquilo que ele ensinou (4:8), por em prática o que haviam aprendido, recebido, ouvido e visto nele (4:9).
Em 4:8, Paulo destacou o conteúdo que deve ocupar nossa mente. Tendo em vista tudo aquilo que já abordamos
nesta lição, agora podemos entender como evitar que nossa mente se torne algo reprovável diante de Deus.
A lista de virtudes apresentada por Paulo lhe era bem conhecida, pois não devemos esquecer que Paulo tinha uma formação judaico-helenística. O apóstolo era um intérprete das Escrituras, assim como da cultura à sua volta. Ele sabia que uma das maneiras de vencer as paixões da carne era canalizando para dentro de nossa mente tudo aquilo que fosse digno de alguma aprovação e elogio.
Ao alistar coisas como “... tudo o que é verdadeiro, tudo que é respeitável, tudo que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama...” (4:8), Paulo estava estimulando àqueles irmãos ao Cristianismo na prática. Percebamos então a estreita relação que Paulo estabeleceu entre aquilo que ocupa nossa mente e a prática. E, para que os irmãos não ficassem apenas no discurso, ele ainda trouxe à tona seu próprio exemplo de vida. Os verbos “aprendestes”, “recebestes”, “ouvistes” e “vistes”, no versículo 9, mostram que Paulo foi um exemplo não só no ensino como também no comportamento em tudo aquilo que estava recomendando.
Aquilo que ocupa nossa mente está intimamente relacionado com o que vivemos na prática, isso se aplica também à vida cristã. |
CONCLUSÃO
Atualmente, sabemos que as pessoas admiram valores como: honestidade, confiabilidade, sinceridade etc. Mas, não sabemos até onde isso serve de base para a vida delas. Admirar os valores é uma coisa, vivê-los é outra completamente diferente. Esta distinção ficará bem nítida, quando um dia você presenciar um pai, ou mãe, dizendo para os filhos que é feio enganar as pessoas e vê-los fazer isso no trabalho ou na igreja. O problema é que há uma tendência em nivelar por baixo. Quando erram na área moral e ética geralmente as pessoas saem em defesa de si próprias alegando que “todo mundo faz o mesmo”. Ou, então, dizem que os padrões de Deus são inalcançáveis.
Somos seres responsáveis por tudo o que pensamos. Como disse Lutero: “Não podemos impedir que um pássaro pouse em nossa cabeça, mas podemos impedi-lo de fazer um ninho”.
Também não adianta ir pela cabeça dos outros. O que ou quem está fazendo sua cabeça hoje? Paulo dá uma orientação muito pertinente para todas as faixas etárias. Ele diz que devemos manter em nossas mentes aquelas coisas que são dignas de louvor. O tipo de pensamento que ocupa a mente de um cristão é determinante para a qualidade de sua comunhão com Deus e com Seu Filho Jesus.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
1. O que Paulo insistentemente nos pede para apresentarmos ao Senhor? O que vem a ser o nosso “culto racional”? (Romanos 12:1).
R.
2. Por que não devemos nos conformar com este século? O que significa “conformar”? Como podemos ser transformados pela renovação da nossa mente? Quais os resultados dessa transformação? (Romanos 12:2).
R.
3. Uma vez que já ressuscitamos com Cristo, Paulo nos encoraja a focalizarmos a nossa mente em Cristo. O que isso inclui? De que maneira podemos fazer isso? (Colossenses 3:1 2).
R.
4. Qual é o dever do crente em relação às suas faculdades mentais? Que tipo de conteúdo que deve ocupar nossa mente? Quais serão os benefícios disso? (Filipenses 4:1-9).
R.
5. Quais são os inimigos da nossa mente? Qual a maior batalha em sua vida no tocante ao conteúdo de sua mente? Que passos você tem dado para vencer a esta batalha? (Efésios 2:2-3; 1 João 2:16 17).
R.
6. Jesus disse que é do coração do homem que procedem os maus pensamentos. Quais são eles? De que maneira podemos evitá-los? Qual a importância da Palavra de Deus, neste aspecto? (Mateus 15:19; Lucas 6:45; Hebreus 4:12).
R.