E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
Mateus 25:21
INTRODUÇÃO
A parábola dos talentos foi a última proferida por Jesus cuja mensagem principal trata do nosso trabalho com diligência, constância e fidelidade com os talentos que Deus nos tem dado. No estudo desta lição abordaremos o assunto dos talentos sob a perspectiva da administração do nosso trabalho recebido da parte de Deus. Somos mordomos na aplicação dos nossos talentos na propagação do reino de Deus.
Entretanto, antes de entrarmos diretamente em nosso texto é preciso entender o contexto amplo em que ele está
inserido. Tudo começa em Mateus 24:1-3. Depois de mostrarem a beleza do Templo a Jesus, os discípulos são surpreendidos com a trágica informação de que “... não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada” (v. 2). Reflexivos, perguntam: “Diga-nos quando essas coisas vão acontecer e que sinal haverá da sua vinda e do fim dos tempos” (v. 3). Então, o que Jesus vai falar a partir do verso 4 é o famoso discurso do princípio das dores. A ameaça de falsos cristos, terremotos, perseguições, a grande tribulação, sinais nos corpos celestes e a incerteza do
dia exato da volta do Senhor foram elementos de destaque deste discurso.
Mas o que a nossa lição tem a ver com um sermão sobre o fim dos tempos? Sua relação reside no fato de que assim como alguns eventos serviam de sinais de alerta para os discípulos, a questão do momento exato da volta de Jesus permaneceu em oculto! Sem saber o dia exato de sua volta e do final dos tempos, o que um discípulo deve fazer? A resposta de Jesus é óbvia: esperem, vigiem, fiquem alerta! Mas isso não significa que era uma espera de forma passiva. Muito pelo contrário. Uma missão foi dada aos discípulos. Enquanto estavam em missão, deveriam utilizar os recursos dados pelo próprio Deus.
Mexendo mais ainda com a expectativa dos discípulos, Jesus ilustra sua vinda com algumas parábolas. E, em cada uma delas, um aspecto diferente é enfatizado. A parábola da figueira fala de elementos sinalizadores que antecederão o fim de tudo (Mateus 24:32-33)21. Nesse ponto, Jesus está ressaltando o fator previsibilidade.
Nas três próximas parábolas o elemento imprevisibilidade caracteriza as histórias. A parábola do bom servo e do mau servo revela que a volta do Senhor pode ser surpreendentemente cedo (cf. Mateus 24:48). Já a parábola das dez virgens revela que a volta do Senhor pode ser surpreendentemente tarde (25:5). E, quanto à parábola dos talentos? A parábola dos talentos explora o que devemos fazer no intervalo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Ou seja, independente de que a volta de Jesus seja surpreendentemente cedo ou tarde, devemos administrar fielmente os recursos que nos foram confiados.
Entendido, pois, o contexto mais amplo, passemos agora a analisar o grande ensinamento de Jesus sobre nossa responsabilidade com relação à mordomia dos recursos (talentos) que Ele nos deu para o avanço de Seu Reino (Mateus 25:14-30).
A PARTIDA DO PROPRIETÁRIO
A vívida parábola trazida por Jesus tem como pano de fundo o mundo dos negócios. Temos um homem detentor de certas posses. Este resolve se ausentar do país. Só que antes disso chama seus servos para lhes confiar seus bens enquanto estiver fora (v. 14). A um foi dado cinco talentos, a outro dois e a um terceiro servo foi dado um talento22. E depois disso partiu (v. 15). Se ele fez tal viagem a trabalho nós não somos informados. Mas, isso é o de menos. O que importa mesmo é que ele chama seus servos e põe sob a responsabilidade deles algo que lhe pertencia. Atente bem para esse fato. Os talentos confiados aos servos ainda pertenciam ao homem proprietário. Só no final da historieta é que vamos ter a reversão disso. Ou seja, os servos passarão a ser donos dos talentos que negociaram.
A MORDOMIA DOS TALENTOS EM AÇÃO
A próxima cena nos coloca em movimentos rápidos. O senhor dos servos sai de cena e agora nossos olhos são postos sobre a atitude dos servos. Como eles administraram o valor colocado em suas mãos? O que recebeu cinco talentos saiu rapidamente e negociou com eles. Foi tão bem sucedido que conseguiu dobrar a quantia depositada em suas mãos (v. 16). O outro, que havia recebido dois talentos, também negociou com eles e obteve o mesmo sucesso (v. 17). Ou seja, conseguiu dobrar a quantia que tinha em mãos. O próximo [..] é o personagem central da parábola, pois ela tem o objetivo de alertar-nos sobre o perigo da negligência. O terceiro servo cava um buraco e esconde o talento (v. 18). Uma ação completamente diferente da de seus companheiros. Por que ele fez isso? A resposta será encontrada em nossa próxima cena.
O RETORNO DO PROPRIETÁRIO
O retorno do proprietário demarca o momento do acerto de contas. A parábola nos diz que tal retorno se deu “depois de muito tempo” (v. 19). Tal informação traça certa semelhança com a parábola das dez virgens, pois nesta última o noivo é quem demora. Apesar deste elemento de semelhança, as duas parábolas têm suas particularidades. O texto bíblico entra em seu ponto mais decisivo.
1. Dois servos bons e fiéis. Os dois primeiros servos apresentam o mesmo resultado. Isto é, o desempenho de ambos gerou lucro em dobro, foi um sucesso. O elogio do senhor para os dois também é o mesmo: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; participa da alegria do teu senhor” (vs. 21, 23). Aquilo que antes foi uma delegação administrativa agora se torna um convite para o regozijo. A bondade desse homem se destaca quando pega seu próprio lucro e doa como prêmio pela fidelidade demonstrada.
2. Um servo mau e fiel. Como era de se esperar, a fala do terceiro servo diferiu dos demais. Sua alegação foi: “Sabendo que o senhor é um homem severo, que colhe onde não plantou e ajunta onde não espalhou, fiquei com medo e escondi o seu talento na terra; aqui está o que é seu” (vs. 24, 25). Há um elemento de ironia aqui neste ponto da parábola, pois, se o servo sabia de tudo isso sobre o caráter de seu senhor, então por que não fez o contrário? Sua crença ou convicção não estava de acordo com sua ação. Por mais que ele tivesse um conhecimento correto a respeito de seu senhor, não agiu de forma a que viesse honrá-lo. Podemos afirmar, portanto, que sua alegação tinha contornos de uma suposta “fidelidade”, mas, na realidade, não era nada disso. Desta forma, fica uma grande lição para nós cristãos do século XXI: precisamos ser ortodoxos no que cremos, e práticos no que acreditamos.
A prática deve corresponder ao que cremos. O Erro desse mau servo foi exatamente esse: agir em contradição às suas convicções. |
APLICAÇÃO DA PARÁBOLA
Querido irmão e irmã, um discurso tão solene como este do Senhor Jesus não pode deixar de angariar o mínimo de sua reflexão. Por acaso, você acha difícil encontrar paralelos entre a história que foi contada e a realidade de sua vida discipular?
Deixe-me mostrar que a história é a mesma, só mudam os personagens. O homem que se ausenta do país é o próprio Jesus que, após cumprir cabalmente Seu ministério, volta para junto do Pai, recebendo de novo a glória que tinha antes que existisse o mundo (João 17:5). Os servos são todos os discípulos que o Senhor tem chamado ao longo dos séculos, em cada geração. O retorno do homem depois de uma longa demora é o próprio retorno de Cristo. A demora daquele homem é a demora do próprio Jesus Cristo (2 Pedro 3:9-10). Aquele homem não marcou dia e nem horário, Jesus também não. O acerto de contas daquele homem com seus servos é o acerto de contas de Jesus com Seus discípulos.
Agora resta-nos identificar com os dois primeiros servos ou com o último. Quanto a este último, não negamos o fato de que teve certo temor com relação ao caráter de seu senhor. Tal temor partiu dos fatos certos, mas chegou a conclusões erradas! Por quê? Onde se perdeu este servo? Perdeu-se no fato de que o caráter exigente de seu senhor não é desculpa para a inanição, para a inatividade. O senhor daquele servo não queria preservação, mas sim multiplicação. Aquele servo mau preferiu preservar o talento recebido. E, não é por menos que seu senhor lhe repreendeu, afirmando-lhe que poderia, no mínimo, ter colocado aquela quantia nas mãos de banqueiros, para que os juros assegurassem o lucro de seu senhor. Ele deveria ter se esforçado mais.
A severidade de Deus não nos deve fazer recuar. Pare agora mesmo e veja o que está fazendo! Largue esta pá. Deixe de caminhar em direção ao lugar onde está a enterrar os preciosos recursos dados pelo Senhor! Não faça do quintal da sua vida discipular um cemitério das pérolas do Senhor. Se você ainda encontra dificuldades em prosseguir com o chamado da parte de Deus, leia a Bíblia e concentre-se no fato de que foi justamente em cima da insuficiência dos discípulos que Jesus revelou Sua glória. Foi em cima da insuficiência deles que o Reino se espalhou. Era natural que fosse assim, para que não houvesse espaço para a raiz do orgulho pessoal. Não se trata
de você. Trata-se Dele. “Porque dele, por meio ele, e para ele são todas as coisas” (Romanos 11:36). Dedique-se a Ele tão somente.
Oxalá todos os discípulos que há no mundo hoje estivessem usando seus dons e o mundo inteiro estaria em chamas, em chamas para Deus! Não haveria uma única sociedade no mundo atual que não fosse fortemente impactada pelos frutos dos céus. Talvez não tivéssemos tantas famílias desestruturadas, quiçá não existiriam tantas igrejas cheias de transeuntes e tão vazias de discípulos que adoram a Deus em espírito e em verdade. Quem sabe os povos estariam andando a passos mais largos sob a projeção da luz divina, refletida na vida de cada discípulo e discípula do Senhor.
Uma religião que professa ser “cristã”, mas não impacta a sociedade onde vive é resultado do mau uso das capacidades que o Senhor concedeu. Não colocar os recursos de Deus a serviço do Reino resulta em improdutividade e pode trazer severo juízo, que é a perda do pouco que temos. |
CONCLUSÃO
Esta parábola de Jesus é para nosso tempo. Trocando em miúdos: não queiramos ser o servo que esconde o talento.
Se fizermos isso, estaremos assinando a sentença de nossa própria condenação. Estaremos caminhando para nossa ruína. Ruína que começa com a retirada do pouco que já tínhamos. Depois, teremos o desprazer de ver aquele pouco sendo dado a outro. Isto é, perderemos o excedente de Deus. Perderemos a abundância de Deus. E nem sabemos o que é isso! Saberemos se permanecermos fiéis.
E, para selar o acerto de contas de nossa má administração, o Senhor dirá: “lançai fora este servo inútil” (v. 30). Oh querido cristão! Não desejemos uma sentença tão desprezível, tão aterradora! Não atraiamos a ira de nosso Mestre a ponto de Ele nos querer lançar nas trevas. Será possível que aquilo que começamos no Espírito, vai se acabar na carne! Será que seremos como a igreja de Laodicéia? Que se achava rica, e no fim era pobre, segundo a análise divina. Não! Quero crer que não. Negocie agora seu talento ou desenterre-o. Sua recompensa será entrar no gozo de seu Senhor! Uma alegria infinda, interna, externa e eterna!
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
1. Que pontos da parábola dos talentos são os mais evidentes? O que mais lhe chamou a atenção nesta parábola?
R.
2. Quem é o dono dos talentos? Os servos são chamados em função de já possuírem talentos? A distribuição dos talentos é proporcional a que? (vs. 14, 15).
R.
3. O que representam os talentos? O que devemos fazer com eles? Com o que cada um que recebeu os talentos deveria se preocupar? O que vem buscar o dono dos talentos, quando voltar? (vs. 16-19).
R.
4. Quantos servos administraram bem os talentos? O que eles receberam como recompensa? (vs. 20-23).
R.
5. Por qual motivo o servo infiel não fez o que lhe fora mandado fazer? O que ele fez como resultado de seus temores? O que isso indica quanto à maneira como às vezes se portam os cristãos? (vs. 18, 24, 25).
R.
6. Onde nós, como cristãos, que proclamamos crer em todas as verdades da Bíblia, temos deixado a desejar em nosso relacionamento com Deus, com os irmãos e em nossa responsabilidade missionária? Que talentos você tem recebido do Senhor e não tem posto em prática? Por qual razão?
R.
7. Você concorda que a maior razão de nós não sermos mais fiéis no tocante aos talentos que temos recebido deve-se ao fato de não acreditarmos que eles sejam úteis na Obra de Deus? Ou que sejam menos importantes do que os talentos que temos visto nosso irmão receber? Que razões você dá para esta resposta?
R.