TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

Eclesiastes 3:1

INTRODUÇÃO

   Imagine que ao final do dia será depositada na sua conta bancária a quantia de 86.400, e você terá que gastá-la
totalmente nas próximas 24 horas, da forma que bem quiser. O único critério é que você não poderá deixar nada para o dia seguinte ou tentar acumular, pois em 24 horas o seu saldo ficará zerado. A pergunta é: Como você utilizaria essa quantia?
   Tenho plena certeza que todos nós já temos em nossa mente um destino certo para esse valor. Alguns pagariam suas contas, outros viajariam, comprariam ou trocariam de carro, reformariam casa, e alguns separariam um pouco para Deus.
   No entanto, estou falando de algo mais importante, mais valioso que o próprio dinheiro. Estou falando do tempo! Deus nos concede a cada dia 86.400 segundos ou 1.440 minutos ou 24 horas para gastarmos da melhor forma possível!

O QUE É O TEMPO?

   Em nossa língua, geralmente, se emprega uma só palavra para definir o “tempo”, enquanto os gregos antigos tinham duas palavras [...]: chronos e kairós. Enquanto chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, o tempo que se mede, kairós é um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece, a experiência o momento oportuno (ou “o momento certo”). A palavra chronos é usada também em teologia para descrever a forma quantitativa do tempo, o “tempo dos homens”, enquanto a palavra kairós é usada para descrever a forma qualitativa do tempo, o “tempo de Deus”.
    Pode-se dizer, portanto, que chronos é o “tempo humano”, que é linear, medido em anos, dias, horas, minutos e segundos. Enquanto kairós descreve “o tempo de Deus”, que não pode ser medido, pois conforme diz Pedro: “Mas há uma coisa, amados, que vocês não devem esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos são como um dia” (2 Pedro 3:8).

ADMINISTRANDO O TEMPO: PRIORIDADES

   Para ser um bom mordomo do tempo é preciso saber eleger prioridades. Se quisermos aproveitar bem o nosso tempo, é importante dividi-lo metodicamente; temos que ter tempo certo para o trabalho; para a leitura e meditação na Palavra de Deus; para a oração e para a recreação necessária à preservação da saúde física e mental.
    O controle impróprio do tempo pode levar-nos a dar maior parte dele às coisas de menor importância, com sérios
prejuízos da vida espiritual, tanto da nossa, como dos que estão sob o nosso cuidado.
    Não é nossa intenção estabelecer normas para o aproveitamento vantajoso do tempo. Cada cristão deve ser
capaz para isto e pode fazê-lo de acordo com as suas atividades. Porém, há algumas áreas que o cristão deve considerar:
   O tempo que deve ser dedicado a Deus. Entre os que não conhecem a Palavra de Deus, há quem deixe o Senhor para o fim da fila de suas prioridades. Porém, para o cristão, Ele tem que ser o número um. O Senhor Jesus disse: “Mas busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça... ” (Mateus 6:33). Por mais ocupados que sejamos, o tempo de Deus tem que ser encontrado, separado e dedicado a Ele. Deus não pode ficar na dependência do “se houver tempo”. No exercício da mordomia cristã do tempo, o bom despenseiro tem que dar prioridade a Deus no tempo de sua vida.
    Davi entendeu isso. Ele era um Rei, tinha uma família, tinha mil afazeres. Porém, a sua vida pessoal com Deus, de oração, adoração e convívio com Sua Palavra era a principal prioridade. Vejamos a sua petição: “Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor, e meditar no seu templo” (Salmos 27:4). Como disse alguém: “não ter tempo para Deus é viver perdendo tempo”.
     O tempo que deve ser dedicado à família. Na ordem das prioridades, segundo a Bíblia, a família deve ocupar o
segundo lugar em nossa vida. Qualquer pessoa, homem ou mulher, que ocupar todo o seu tempo, sendo em causas nobres e meritórias, como o estudar e trabalhar, ainda que seja visando dar condições melhores à própria família, se não dedicar tempo à mesma, estará falhando no exercício da mordomia do tempo. Isso porque a família poderá não subsistir para desfrutar desse futuro melhor, o que tem ocorrido com frequência.
   Trabalhar é absolutamente necessário e estudar pode ser muito bom, desde que não sacrifique o tempo que tem que ser dedicado à família, ou a vida conjugal. É claro que não estamos afirmando que devemos dedicar todo tempo disponível à família, em prejuízo da igreja ou da obra do Senhor. Estamos afirmando, sim, que parte desse tempo disponível tem que ser dedicado, com prioridade à família, porque são as famílias que formam a igreja.
   Famílias bem estruturadas formam Igrejas bem estruturadas. Lembremo-nos da séria advertência de Paulo: “Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente” (1Tm 5:8, NVI).
   Outro ponto a ser ponderado é a qualidade do tempo. Há famílias que passam várias horas juntas. No entanto, o fazem sem trocar uma palavra, sem haver comunhão, pois estão presas às telas (principalmente redes sociais)15. Há famílias que não leem a Bíblia juntas, não oram juntas. É preciso dedicar tempo de qualidade em família. Pense nisso!
   O tempo que deve ser dedicado à Igreja. O bom mordomo tem que encontrar tempo para a igreja, para se dedicar à obra do Senhor. Tem que, na vocação em que foi chamado, dar a sua contribuição. Ninguém que conheça a Palavra de Deus poderá alegar ser desnecessário na obra do Senhor. É necessário, pois que cada crente encontre tempo para cumprir a sua função na Igreja, do contrário estará falhando no exercício da mordomia cristã do tempo.

DEVERES DO MORDOMO FIEL

   O tempo é uma dádiva de Deus. Ninguém pode orgulhar-se de produzi-lo. O que temos de fazer é utilizá-lo de maneira sábia, pois Deus pedirá contas da nossa mordomia também com respeito ao tempo.
    De acordo com Estevam Ângelo de Souza, são deveres do mordomo fiel:   
    1. Remir o tempo. Paulo ensina: “Vede prudentemente como andais, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Efésios 5:15-16, ARA). Não raro ouvimos alguém, na pretensão de desculpar-se da falta no cumprimento dos deveres para com Deus, alegar escassez de tempo. Tal declaração é inteiramente destituída de valor diante de Deus, pois Ele é o Senhor do tempo, que a todos dá como lhe apraz e nós, simples mordomos, temos o dever de usá-lo para a Sua glória. Perante Deus ninguém poderá alegar falta de tempo, pois está escrito que “há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3:1-8). Se há propósito, haverá tempo e sempre o temos para o que mais nos interessa.
    2. Aproveitar as oportunidades. Diz-nos a Escritura: “Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades” (Colossenses 4:5 ARA). Isto significa agir no momento apropriado. Jesus ensinou esta lição profunda ao propor a parábola das dez virgens. As cinco virgens néscias tiveram a mesma oportunidade que as prudentes, mas se descuidaram e somente fora do tempo se aperceberam de que suas lâmpadas precisavam de azeite. Foram comprá-lo fora de tempo e chegaram tarde demais para participar da festa nupcial (Mateus 25:1-13).
   Como aproveitar as oportunidades? É Jesus que nos dá sábios ensinamentos neste sentido. As oportunidades poderão apresentar-se como não desejaríamos, ou chegar inesperadamente. Daí a necessidade de uma disposição permanente para aproveitá-las. É bom lembrar que as oportunidades nem sempre se manifestam como um privilégio, ou como ocasiões para sermos honrados, mas para servir, o que implica em algum sacrifício e exige abnegação e humildade. (grifo nosso)
   Veja um grande exemplo deixado por Jesus no encontro com a mulher samaritana. Ele usou de uma necessidade básica, pois estava com sede, para iniciar uma conversa que resultou em salvação. Jesus soube aproveitar o momento próprio para salvar a mulher samaritana e, por meio desta, muitas outras pessoas da cidade de Sicar (João 4:5-30). O Mestre não julgou como desperdício de tempo o evangelizar uma única mulher. Aliás, esta era a Sua oportunidade para derrubar o muro de preconceitos que a longo tempo separava samaritanos e judeus. Era o momento de uni-los no plano da salvação. Além desta, muitas outras preciosas lições o Mestre nos dá com palavras e exemplos.
    3. Ser diligente. A Palavra de Deus exorta a sermos diligentes (Romanos 12:12). A negligência é responsável pela perda do precioso tempo que Deus nos dá. É muito severa esta exortação do autor dos Provérbios: “Vá ter com a formiga, ó preguiçoso! Observe os caminhos dela e seja sábio” (Provérbios 6:6). Somos testemunhas de que a sabedoria da formiga consiste em aproveitar o tempo próprio para prover o alimento, visando o rigor do inverno, quando lhe é impossível trabalhar. Este tipo de sabedoria consiste na previdência que se revela, no cuidado imediato para realizar o necessário, no tempo oportuno. Não deve ser próprio do cristão a procrastinação, o deixar para amanhã!
   A prosperidade material e estabilidade financeira de muitos homens são inegavelmente o resultado de uma disposição inquebrantável para o trabalho e uma atividade incansável pela emancipação econômica. “A quem trabalha Deus ajuda”. A nossa consciência aceita esse ditado como verdade, especialmente por estar de acordo com o ensinamento cristão. Não se aplicaria esta mesma norma à vida espiritual? Claro que sim! Se lermos as biografias de grandes homens de Deus, em todos os tempos, veremos que o grande êxito obtido, as maravilhosas realizações que concretizaram, foram o resultado lógico de grandes esforços. Igualmente, a pobreza espiritual, e o consequente insucesso de muitos, é fruto do comodismo e da indolência que os impede de buscar a Deus e se apropriarem das insondáveis riquezas da graça divina.
   4. Ser pontual. Há pessoas para quem tanto faz chegar na hora como atrasado. Há aqueles que nunca chegam no horário marcado. E, o pior, há aqueles que são pontuais em tudo, exceto em seus compromissos com Deus. Sempre chegam atrasados na igreja e ainda tem a petulância de dizer que colocam Deus em primeiro lugar! 
    Os impontuais tanto perdem as oportunidades como prejudicam os outros, principalmente em se tratando de pessoas ocupadas no trabalho de Deus. Implica forçosamente em prejuízo à causa divina. Tal procedimento não deixa de ser reprovável aos olhos do Senhor. Além do prejuízo pessoal, a impontualidade revela desinteresse para com as coisas de Deus, que excedem em importância o valor da própria vida.

O TEMPO SANTO QUE PERTENCE A DEUS

   Para se observar o Sábado é necessário planejamento. Deus mesmo já deixou isso muito claro no quarto mandamento: “Faça todo o seu trabalho durante seis dias da semana; mas o sétimo dia da semana é o dia de descanso, dedicado a mim, o SENHOR, seu Deus” (Êx 20:8,9a, NTLH). Temos seis dias da semana para planejarmos e realizarmos tudo que for necessário à nossa subsistência. O Sábado não nos pertence! É um dia que deve ser dedicado a Deus, à evangelização, à comunhão com nossos irmãos, fazendo o bem; enfim, há uma infinidade de atividades que agradam ao Senhor e podem ser realizadas no Santo Dia de Deus.
    O profeta Isaías nos recomenda a fazermos desse dia um dia “deleitoso” (Isaías 58:13 ARA e ARC). Infelizmente, existem batistas do sétimo dia que estão com dificuldades de leitura nessa passagem, lendo “deitoso” e passam o dia na cama. Deus, por intermédio do profeta, nos pede que consideremos “o Sábado como um dia de festa, o dia santo do SENHOR, que deve ser respeitado” (Isaías 58:13b, NTLH). Todavia, há batistas do sétimo dia que não têm alegria neste dia, fazem da guarda do Sábado algo enfadonho, quando este deveria ser o dia mais alegre da semana, o mais aguardado! O profeta continua a nos orientar, dizendo: “guardem o Sábado, descansando em vez de trabalhar; não cuidem dos seus negócios, nem fiquem conversando à toa” (Isaías 58:13c, NTLH). Já presenciei irmãos que nem bem a Escola Bíblica termina e já estão tratando de seus próprios negócios, ainda no pátio da igreja. Não é esta a recomendação da Escritura. Também, segundo Isaías, devemos ser cuidadosos com o teor de nossas conversas, no dia do Senhor.
    Larry Graffius traz as seguintes ponderações sobre o sábado:
    “Se há uma distinção significativa com relação ao sábado e na sua guarda é por ele ser santo e precisar ser guardado e observado como tal. Tudo o que é dito sobre o sábado deve estar baseado nessa característica inerente a ele: é o ‘Dia Santo de Deus’[...]. Quando criou o mundo, Deus proclamou o sátimo dia (sábado) como um dia santo [...]. É aqui, de fato, que a palavra santo’ é usada pela primeira vez na Bíblia, e não é uma referencia a um objeto o uma pessoa, mas ao sétimo dia, ao sábado [...].
    O sábado é um tempo santo. Tem um caráter, significativamente, diferente dos outros dias. É sagrado e, como tal, deve ser tratado com respeito [...].
    O que é santo deve ser cuidado de forma diferenciada, considerado distintivamente e separado do trivial [...].
    [...]. Quando consideramos o sábado, o ‘Dia Santo de Deus’, devemos tratá-lo de forma diversa do restante da semana; precisamos considerá-lo assim, cuidadosamente, vivendo-o com reverencia. Ser fiel a ele quer dizer manter duas categorias distintas de tempo e atividades: uma é a de todos os dias; a outra, muito especial, é a consagrada”.
    Há uma promessa para aqueles que dedicarem esse tempo precioso ao Senhor: “Se me obedecerem, eu serei uma fonte de alegria para vocês e farei com que vençam todas as dificuldades; e vocês serão felizes na terra que eu dei ao seu antepassado Jacó. Eu, o SENHOR, falei” (Isaías 58:14 NTLH).
    O tempo dedicado ao trabalho de Deus e às horas de devoção, louvor e oração, além de ser de grande proveito espiritual, resulta em bênçãos na execução de outros afazeres. George Müller, quando estava mais assoberbado de trabalho, chegou à conclusão de que realizava mais no dia que destinava mais tempo à oração20. Esta talvez seja a conclusão a que chegam muitos outros servos de Deus, de profunda experiência espiritual.

CONCLUSÃO

    A última palavra para as nações sempre virá de Deus. Juntamente com Seu juízo vem a graça e a misericórdia para aqueles que se arrependem. Igreja do Senhor, não vamos esperar que o peso da mão de Deus venha sobre nós trazendo Seu juízo. Vamos nos arrepender hoje, vamos clamar pelo perdão de Deus. Assim diz o Senhor: Convertam-se a mim de todo o coração; com jejuns, com choro e com pranto (Joel 2:12).
    No exercício da mordomia cristã do tempo, o homem tem que ser senhor e não escravo. Não podendo realizar todos os seus sonhos e concretizar todos os seus projetos, precisa, então, remir o tempo e eleger as prioridades, de acordo com a Palavra de Deus.
    Como temos administrado o nosso tempo? Temos sido bons mordomos? Como temos distribuído os 86.400 segundos que Deus nos concede a cada dia? Temos usado com sabedoria? Muitas vezes, passamos pela vida sem perceber a mportância que cada segundo e minuto tem para nós. Paulo nos diz: “Portanto, vede diligentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, usando bem cada oportunidade, porquanto os dias são maus” (Efésios 5:15-16).

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. “Há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3:1). Descreva brevemente as diferentes épocas da vida de uma pessoa. Como Deus usa essas etapas para nosso desenvolvimento espiritual?
R.

2. Qual o tempo oportuno para cada pessoa realizar seus afazeres? (Eclesiastes 3:9)
R.

3. Seguindo o exemplo de Deus que “tudo fez formoso a seu devido tempo” (Eclesiastes 3:11), como podemos aproveitar os dias que Ele nos dá? O que esse verso nos diz sobre planejamento?
R.

4. O que significa a declaração: “Deus fará renovar-se o que se passou” (Eclesiastes 3:15)? Salomão considerava essa declaração uma ameaça que inspira medo ou uma promessa que inspira segurança?
R.

5. O que significa lembrar-se do Sábado como um dia santo? Que tipo de atividades podem “contaminar” o dia de Sábado? (Êx 20:8)
R.

6. “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra” (Êx 20:9). O que essa parte do mandamento tem a ver com planejamento de tempo?
R.

7. Como repousar no Sábado reflete nossa confiança na provisão de Deus?
R.

8. O que deve ser evitado no dia de Sábado? Como devemos tratar esse dia? Quais as promessas aos fiéis observantes? (Is 58:13,14)
R.