Vós tendes dito: Inútil é servir a Deus; que nos aproveita termos cuidado em guardar os seus preceitos, e em andar de luto diante do SENHOR dos Exércitos?
Malaquias 3:14
INTRODUÇÃO
O que pode ser mais danoso espiritualmente que uma vida longe de Deus em pecado? Certamente, uma vida apática, morna, mecânica, que está tão no “automático” que perde a noção do sagrado e do profano, onde não se considera mais o quão preciosa é a comunhão com Deus. O texto bíblico não deixa rastro de dúvidas: “Conheço as obras que você realiza, que você não é nem frio nem quente. Quem dera você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, e não é nem quente nem frio, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (Apocalipse 3:15 e 16). Nesse trecho, o Senhor Jesus adverte a Igreja de Laodicéia por suas atitudes em relação a Deus e, no livro do profeta Malaquias, objeto de nosso estudo, também é possível traçar o perfil de um povo “alienado” 98,carente de uma verdadeira conversão.
Em primeiro lugar, traremos informações sobre o profeta. Em seguida, analisaremos seu contexto, sua mensagem e, por fim, os pontos de convergência com o Novo Testamento. No livro de Malaquias veremos a preocupação de Deus com Seu povo, os sacerdotes e o culto que prestavam a Ele.
O PROFETA
Malaquias, autor do último livro do Antigo Testamento, o último profeta de Deus para levar sua mensagem antes do período conhecido como período do silêncio do Senhor, provavelmente atuou após o retorno de Neemias a Pérsia em 433 a.C. Relevante mencionar que por aproximadamente 400 anos (silêncio) não houve um profeta que estivesse a serviço de Deus até a chegada de João Batista. Sobre Malaquias podese afirmar que:
“Sob o aspecto histórico, nada sabemos sobre a vida do profeta Malaquias. Tudo o que entendemos é o que deduzimos de suas declarações. [..] []Embora não tenhamos certeza quanto ao nome do profeta, não temos dificuldade em formar uma concepção clara e precisa sobre a personalidade de Malaquias. O pequeno livro de sua autoria apresenta um pregador impetuoso e vigoroso que buscava sinceridade na adoração e santidade de vida. Possuía intenso amor por Israel e pelos serviços do Templo. E verdade que deu mais destaque à adoração do que à espiritualidade. Contudo, “para ele o ritual não era um fim em si mesmo, mas uma expressão da fé do povo no Senhor”.
Embora haja escassez de informações sobre o profeta, sua missão é evidente: trazer uma mensagem de arrependimento sincero e absoluto ao povo. O versículo primeiro do texto já preambula: “Sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel, por meio de Malaquias” (Malaquias 1:1). A palavra “sentença”, masâ, peso, significa mais do que uma palavra da parte do Senhor. Cada palavra é fardo pesado e doloroso para o mensageiro, para o povo e para o coração de Deus.
Nessa “audiência”, em que o Senhor traz seu juízo, todas as provas arroladas aos autos testificam quanto à falta
de entusiasmo e devoção de Israel. O povo foi declarado “culpado” – “Eu não tenho prazer em vocês, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei as suas ofertas” (Malaquias 1:10b).
Malaquias era um pregador impetuoso e vigoroso, que buscava sinceridade na adoração e santidade de vida. Amava Israel e era zeloso pelos serviços do templo. |
O CONTEXTO
Decorridos aproximadamente 100 anos desde que Deus havia restabelecido o Seu povo do cativeiro babilônico,
Malaquias recebeu a missão de repreender não somente os líderes religiosos da época (sacerdotes), mas todo o povo, porque eles haviam começado a negligenciar o verdadeiro culto ao Senhor. “Eu, o Senhor dos Exércitos, pergunto isso a vocês, sacerdotes que desprezam o meu nome. Mas vocês perguntam: “Como desprezamos o teu nome?” (Malaquias 1:6 b).
Essa negligência acompanhada das más condutas eram manifestas através da oferta de animais imperfeitos para o sacrifícios (Malaquias 1:8); omissão dos sacerdotes (Malaquias 2:7-8); casamentos mistos com pagãos (Malaquias 2:11); imoralidade generalizada (Malaquias 3:5); retenção dos dízimos (Malaquias 3:10) e cinismo quanto ao dever do homem para com Deus. Apesar disso, o livro também traz uma mensagem de esperança na vinda do reino de Deus (Malaquias 3:1-4, 4:2-4).
Toda a apatia espiritual denunciava a crença deles de que Deus não estava cumprindo as suas promessas: “Vocês estão cansando o Senhor com as suas palavras, e ainda perguntam: “Em que nós o cansamos?” Nisso de dizerem: “Aqueles que fazem o mal passam por bons aos olhos do Senhor , e é desses que ele se agrada.” Ou: “Onde está o Deus da justiça?” (Malaquias 2:17).
Apesar do teor de advertência e desgosto, o texto de Malaquias traz a beleza de um relato sobre partes que mantém (ou mantinham, ou deveriam manter) um relacionamento como de pai e filho – porém aqui, um pai justo e amoroso, sentindo-se desonrado, entristecido e até irado com a conduta negligente e desobediente de seus filhos; um relacionamento como de esposo e esposa – nesse contexto, no entanto, um esposo leal sentindo-se desprezado e traído pela infidelidade de sua amada esposa. “O Senhor diz: — Eu sempre os amei. Mas vocês perguntam: — Como é que nos amaste?” (Ml1:2). Hernandes Dias Lopes afirma que o amor der Deus é:
[...] um amor declarado (1.2). Nenhuma outra nação foi tão privilegiada diante de Deus quanto Israel. Ele escolheu essa nação, fez uma aliança com ela e a destinou para uma missão especial. O amor de Deus pelo Seu povo é um amor deliberado e imutável (3.6). Era como o amor de um esposo pela esposa (2.11) ou de um pai pelo filho (1.6; 3.17).
O profeta anunciou em um tempo que não se pode precisar a data, mas é inegável a semelhança daquele povo com o ouvinte da contemporaneidade. O ouvinte de hoje se esforça para não pensar (quanto menos melhor), seu desejo é pautado em sensações. Ele não busca conhecer, mas satisfazer-se somente. Os pregadores (não todos, mas boa parte) pregam para agradar e não para promover a conversão. Diluem a Palavra em discursos rasos do que pode funcionar – “bênçãos” (Josué 1:3) – e não sobre as verdades difíceis de engolir– “arrependei-vos” (Mateus 3:2), “raça de víboras” (Mateus 3:7 8), “invocai-o enquanto se pode achar” (Isaías 55:6), negue-se a si mesmo” (Lucas 9:23).
Mesmo falando a um povo apático e negligente em relação a Deus, Malaquias ainda traz uma mensagem de conforto e esperança. O Senhor não esqueceu a aliança feita com Seu povo e promete futura restauração. |
A MENSAGEM
Malaquias retrata um “diálogo” entre Deus e o povo de Israel. Algumas passagens desse diálogo incluem perguntas feitas pelo Senhor ou por várias pessoas, assim como afirmações daqueles que se opõem ao Senhor. Vejamos:
O amor de Deus por Israel: “Eu vos amei” (1:2). Este é o verdadeiro peso da mensagem de Malaquias; deve-se analisar sob a perspectiva da sentença afirmativa. Entretanto, o povo manifesta sua incredulidade: “Em que nos amaste?”. Não reconhecem os atos de amor de Deus. Seu pensamento está turvo pela dúvida.
Os pecados sacerdotais: a afirmação amorosa de Deus por Seu povo, Malaquias conduz a narrativa a uma acusação contra a nação. A denúncia é especificamente contra os sacerdotes. Esses líderes foram comissionados a instruir e orientar o povo espiritualmente (Malaquias 2:6-7). Se eles tivessem cumprido sua missão de forma idônea e ministrado ensinos condizentes com os princípios divinos, Israel não teria sucumbido à apatia e à descrença. A decadência dos sacerdotes, sua falta de zelo e descompromisso, desviaram o povo de Deus. Esta parte do texto pode ser dividida em: a) Deus acusa um sacerdócio negligente (Malaquias 1:6-14); b) Deus diz que vai amaldiçoar a classe
sacerdotal (Malaquias 2:1-9).
Os casamentos que Deus rejeitava: este trecho (2:10-16) mostra-se bastante claro: ao divorciarem-se de suas esposas israelitas e se casarem com mulheres pagãs, os judeus quebravam a aliança que fora feita com seus antepassados. Devido a essa profanação, Deus decide extinguir a geração dos transgressores. Ainda, expõe Seu descontentamento quanto ao divórcio e chama a atenção do povo para que se dediquem à vida espiritual.
A reclamação do povo (Malaquias 2:17): após discorrer sobre as transgressões dos israelitas, neste versículo, Malaquias direciona sua mensagem aos que importunam Deus com a reclamação de que não há punição para a desobediência, ou ainda, que a transgressão não gera consequência: “Todos os que fazem o mal são bons aos olhos do SENHOR, e ele se agrada deles”; e finalizam: “Onde está o Deus da justiça?” (NVI). Essa queixa evidencia que eles não acreditam mais na soberania divina. Por causa de sua descrença, Deus incumbirá seu mensageiro à preparação para o dia do juízo (Malaquias 3:1). Nesse dia, os sacerdotes serão limpos e os transgressores serão totalmente condenados.
A negligência com os dízimos (3:6-12): nesta seção, Malaquias lida com outro problema de conduta do povo. Não havia disposição na devolução dos dízimos e ofertas. A negligência de Israel em dizimar era uma amostra de seu afastamento de Deus. Pode-se dizer, neste ponto, tratar-se de um sintoma de ceticismo e transgressão, e a conversão não podia ser tão evidente quanto pela entrega correta dos dízimos – das primícias, dos melhores animais, sem manchas, sem máculas, sem defeito.
O Senhor ouve o justo (3:16-4:1-6): o texto nos diz que Deus está atento e ouve; e “há um memorial escrito diante dele, para os que temem ao SENHOR” (v.16). Aqueles que confiam no Senhor têm certeza de que seus nomes estão anotados no livro da vida. É uma certeza que, atrelada à fé do Antigo Testamento no Deus vivo, direciona à genuína fé bíblica na bênção da vida eterna.
Se os líderes tivessem cumprido sua missão de forma idônea e ministrado ensinos condizentes com os princípios divinos, Israel não teria sucumbido à apatia e à descrença. A decadência dos sacerdotes, sua falta de zelo e descompromisso desviaram o povo de Deus. |
PONTOS DE CONVERGÊNCIA COM O NOVO TESTAMENTO
“Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe mandei em Horebe para todo o Israel, a qual são os estatutos e juízos” (Malaquias 4:4). Esse trecho nos remete à essência do livro de Eclesiastes: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos” (Eclesiastes 12:13). As palavras finais do Antigo Testamento são proféticas: “Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do SENHOR” (Malaquias 4:5). De certa forma, esse escrito faz referência a João Batista que iria “adiante dele no espírito e virtude de Elias” (Lucas 1:17). Não por acaso Lucas cita Malaquias 4:6: “E converterá o coração dos pais aos filhos” – pois, que essa é um prenúncio da missão preparatória de João – anunciar o arrependimento aos israelitas. Por esta razão, Jesus poderia dizer de João: “É este o Elias que havia de vir” (Mateus 11:14). LOPES enfatiza:
“O Antigo Testamento termina dizendo que Jesus vem. O Novo Testamento começa com a vinda de Jesus. O Antigo Testamento termina com a maldição para os desobedientes. O Novo Testamento com a graça para os remidos. O Antigo Testamento fecha as cortinas com a solene palavra “maldição” (4.6), mas o Novo Testamento termina o drama da história com a promessa: “E não haverá mais maldição” (Apocalipse 22:3). O que fez a diferença, pergunta Warren Wiersbe? É que Jesus, na cruz do calvário se fez maldição por nós (Gl 3.13), para que nós fôssemos feitos justiça de Deus (2 Coríntios 5:21). Agora mesmo você pode entregar sua vida a Jesus e receber Dele um novo coração, uma nova mente, uma nova vida, um novo lar, e ainda e melhor que tudo, o perdão dos seus pecados e a vida eterna”.
Importante salientar que o Antigo Testamento é um preparatório divino do povo de Deus para o Novo Testamento.
Devemos apreciar o Antigo sob a perspectiva de Cristo, sobre o qual se cumprem todas as profecias.
CONCLUSÃO
O livro de Malaquias não é sobre um Deus querendo punir Seu povo e, sim, sobre um Deus que incentiva à conversão genuína, para que a verdadeira adoração fosse restabelecida em todas as instâncias. Através do profeta Malaquias, o Senhor evidenciou o declínio e descrença do povo; repudiou o desleixo dos sacerdotes; instruiu a nação a voltar-se para Ele trazendo-Lhe seus dízimos e suas ofertas com mais fidelidade, e Ele prometeu abençoar e proteger aqueles que agissem dessa forma.
O Antigo Testamento se encerra com o aviso de “maldição” (Malaquias 4:6), o Novo Testamento finaliza com a promessa: “E não haverá mais maldição” (Apocalipse 22:3). Cristo se fez maldito por nós (Gálatas 3:13), fez-nos justiça de Deus (2 Coríntios 5:21). Você ainda hoje pode considerar a sua vida como objeto de análise, vivificar seu compromisso com Deus e praticar a verdadeira adoração.
QUESTÕES PARA ESTUDO E DISCUSSÃO EM CLASSE
1. Quem era Malaquias e o que significa seu nome?
R.
2. Quais são algumas das características marcantes desse livro?
R.
3. Quais as queixas de Deus para com o povo?
R.
4. Quais as queixas de Deus para com os sacerdotes?
R.
5. Em sua opinião, como o livro de Malaquias se relaciona com o Novo Testamento?
R.