1 O PESO que viu o profeta Habacuque. 2 Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? 3 Por que razão me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. 4 Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida.

Habacuque 1:1-4

INTRODUÇÃO


   Você já teve a experiência em que Deus parece não se importar com o que acontece nesse mundo? Muitos males estão diante de nossos olhos e parece não haver nada a ser feito, e se não “há nada a fazer” geralmente oramos ao Senhor que pode todas as coisas. Mas se houver demora e não tivermos respostas, como ficamos? Aconteceu algo semelhante ao profeta Habacuque. Ele viveu em um contexto onde predominava a maldade e o sistema legal da época não funcionava, estava cercado de opressão, corrupção e violência. Em meio ao seu clamor ele pergunta “até quando, Senhor?”. Na lição de hoje veremos como o Senhor respondeu ao profeta e como a mensagem de Habacuque permanece atual.


QUEM ERA HABACUQUE?


   O salmo composto por Habacuque, no capítulo três, indica-nos que possivelmente ele fosse um levita que participava da adoração (canto) no templo. Ele era um profeta do reino de Judá. Foi contemporâneo do profeta Jeremias e o seu livro geralmente é datado em torno do ano 600 a.C. e bem antes da destruição do templo e da cidade de Jerusalém (586 a.C)64. Nesse período, a Babilônia era o país que dominava a região e foi uma potência militar. O rei Nabopolassar havia conquistado a Assíria em 612 a.C. que até então era o império dominante (em 721 a.C. os assírios haviam destruído Samaria e levado o povo do reino do norte para o cativeiro 2 Reis 17:5-23).
   A situação do reino de Judá não era muito diferente. Apesar da reforma religiosa feita por Josias (2 Reis 22), os reis
que o sucederam levaram o povo de Judá a se corromper (2 Rs 23:31, 32, 36,37; cap. 24). Uma descrição bem detalhada dos pecados de Judá antes da destruição de Jerusalém nos é dada por Jeremias (Jeremias 32:27-35). Nesse contexto de pecado, idolatria, exploração dos mais pobres é que Habacuque profetizou ao reino de Judá.

 

    Habacuque era um profeta incomodado com o pecado reinante em seu próprio povo, mas também buscava resposta em Deus, suas queixas são a expressão de sua indignação, bem como uma confissão de fé.

 

CONTEXTO SOCIAL


    Yahweh deu as Suas leis a Moisés para que os filhos de Israel seguissem e fossem um povo justo. “Se guardarem o mandamento que hoje lhes ordeno, que amem o Senhor, seu Deus, andem nos seus caminhos e guardem os seus mandamentos, os seus estatutos e os seus juízos, então vocês viverão e se multiplicarão, e o Senhor, seu Deus, os abençoará na terra em que estão entrando para dela tomar posse” (Dt 30:16). O Deus de Israel importava-se com o pobre, o órfão, a viúva e o estrangeiro. Nas leis dadas foi providenciado um meio para que os vulneráveis da terra não sofressem de fome:
   —
“Quando estiverem no campo, fazendo a colheita, e, nele, esquecerem um feixe de espigas, não voltem para buscá-lo; deixem que fique para os estrangeiros, para os órfãos e para as viúvas, para que o Senhor, seu Deus, abençoe vocês em tudo o que fizerem. Quando sacudirem a oliveira, não voltem para colher os frutos que ficaram nos ramos; deixem que fiquem para os estrangeiros, para os órfãos e para as viúvas. Ao fazerem a vindima das uvas, não sejam rigorosos demais; deixem que o restante fique para os estrangeiros, para os órfãos e para as viúvas. Lembrem-se de que vocês foram escravos na terra do Egito; por isso lhes ordeno que façam assim(Deuteronômio 24:19-22).
   Também havia leis que regiam a posse da terra: ela deveria ficar na família. Se alguém precisasse vender a sua terra, quando chegasse o ano do jubileu, ela retornaria para aquela família: 
“Santifiquem o quinquagésimo ano e proclamem liberdade na terra a todos os seus moradores. Esse será um ano de jubileu para vocês, e cada um de vocês voltará à sua propriedade, cada um de vocês voltará à sua família” (Levíticos 25:10).
   Todas as leis foram dadas para que Israel fosse um povo justo e que servisse de modelo para as nações. O modo de viver dos israelitas deveria ser santo e influenciar as nações. 
“Portanto, guardem e cumpram essas leis, porque isto será a sabedoria e o entendimento de vocês aos olhos dos povos que, ouvindo todos esses estatutos, dirão: “De fato, este grande povo é gente sábia e inteligente. ‘Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor , nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje eu lhes proponho?’” (Deuteronômio 4:6-8, grifo nosso).
   Apesar de terem leis que os distinguiam dos demais povos, das intervenções poderosas de Deus livrando Israel dos seus inimigos, da organização social, o povo perverteu-se. Andaram nos pecados das nações vizinhas, adotaram os seus deuses e costumes (como oferecer crianças em sacrifício a Moloque, Jeremias 32:35). Os assassinatos ocorreram de tal forma que a Palavra de Deus diz que o rei Manassés encheu Jerusalém de sangue inocente (2 Reis 24:3 4). Jesus denunciou os fariseus e os escribas dizendo-lhes que também eram culpados do sangue dos profetas assassinados e continuariam a matar e perseguir os enviados de Deus (Mateus 23:29-37). A concentração de terra nas mãos dos ricos foi denunciada por outros profetas mais de um século antes de Habacuque (Isaías 5:8; Miquéias 2:1 2).

 

   Nos dias do profeta Habacuque o povo havia se corrompido, todos os tipos de pecados cometia-se em Judá, desde o povo em geral até a casa real e os sacerdotes, todos apostataram-se, desviando dos caminhos do Senhor.

 

ATÉ QUANDO?


   Foi nesse contexto de muitos pecados e opressão que Habacuque gritou: Violência!”, e questionou Deus: “Até quando, Senhor , clamarei pedindo ajuda, e tu não me ouvirás? Até quando gritarei: “Violência!”, e tu não salvarás? Por que me fazes ver a iniquidade? Por que toleras a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há litígios e surgem discórdias. Por isso, a lei se afrouxa e a justiça nunca se manifesta. Porque os ímpios cercam os justos, e assim a justiça é torcida” (Habacuque 1:2-4).
   A sua sensibilidade como profeta e um homem dedicado ao seu Deus faziam com que os pecados da sociedade
saltassem aos seus olhos. Ele via a idolatria do povo, a profanação do Templo (Ezequiel 8), a opressão dos pobres e vulneráveis da sociedade, a violência que ocorria nas cidades de Judá. O profeta Jeremias descreveu a escravidão de judeus pelos próprios conterrâneos (Jeremias 34). Podemos ficar um pouco incomodados pelo questionamento do profeta a Deus. Mas não é o único na Palavra de Deus. Podemos citar Jó (Jó 10:18-22), Jeremias (Jeremias 32:16-25), Jesus no Calvário (Mateus 27:46) e os 
mártires na glória (Apocalipse 6 9, 10). Parece-nos que Yahweh aceitou o questionamento sem objeções e lhe respondeu.

 

    Habacuque nos ensina que é impossível estar na presença de Deus e ao mesmo tempo não nos sentirmos incomodados pelos pecados que acontecem ao nosso redor.

 

A RESPOSTA DE DEUS


   “Olhem entre as nações e vejam; fiquem maravilhados e admirados. Porque, no tempo de vocês, eu realizo obra tal que vocês não acreditarão se alguém lhes contar. Pois eis que trago os caldeus, nação cruel e impetuosa, que marcham pela largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas. Eles são pavorosos e terríveis; fazem as suas próprias leis e impõem a sua dignidade. Os seus cavalos são mais ligeiros do que os leopardos, mais ferozes do que os lobos ao anoitecer. Os seus cavaleiros se espalham por toda parte; sim, os seus cavaleiros chegam de longe, voam como a águia que se precipita para devorar. Eles todos vêm para fazer violência. Estão determinados a seguir em frente. Reúnem os cativos como se ajunta areia. Zombam dos reis; os príncipes são motivo de riso para eles. Riem de todas as fortalezas, porque, amontoando terra, as conquistam” (Habacuque 1:5-10, grifo nosso).
   Como já foi mencionado acima, Judá tinha se tornado uma nação muito pecadora e injusta. Vemos no livro de Jeremias, capítulo cinco, uma lista de pecados de Judá: adultério (v. 7, 8), idolatria (v. 7, 19), enriquecimento ilícito (v. 27), injustiça social (v. 28), falsos profetas e profecias, e sacerdotes oprimindo o povo (v.31). E Habacuque, em meio a isso tudo, gritou desesperado. Porém, Deus está sempre atento ao que os homens fazem. Não há nada que se faça e o Senhor não saiba. Yahweh respondeu ao profeta dizendo que algo terrível aconteceria àquele povo pecador.
O Senhor Deus não fica indiferente ao pecado do Seu povo, como também disse que exerceria juízo sobre a Babilônia e foram pronunciados os cinco “ais” sobre ela (Habacuque 2:6-17).
   O juízo de Deus foi terrível, mas proporcional ao pecado de Judá. Yahweh trouxe uma nação que estava colecionando vitórias sobre os povos. Em 612 a. C. (ou 611) a Babilônia 
conquistou a Assíria que até então era o império dominante. Eles eram cruéis e podemos ver isso na própria Bíblia quando descreve a destruição de Jerusalém. O último rei de Judá, Zedequias, e os nobres fugiram em direção a Jericó. Foram alcançados pelo exército babilônico, presos e levados a Ribla, na Síria, onde foram sentenciados pelo rei Nabucodonosor. Mataram os filhos de Zedequias na sua frente e ele teve os seus olhos vazados (Jeremias 52:4-11), cumprindo a profecia de Ezequiel: o rei entraria na Babilônia, mas não a veria e lá, ele morreria (Ezequiel 12:10-13).
   Habacuque sabia da crueldade dos caldeus e que eram idólatras e uma nação ímpia. E por isso ele perguntou a
Yahweh:
“Não és tu desde a eternidade, ó Senhor, meu Deus, ó meu Santo? Não morreremos. Ó Senhor, puseste aquele povo para executar juízo; tu, ó Rocha, o estabeleceste para servir de disciplina. Tu és tão puro de olhos, que não podes suportar o mal nem tolerar a opressão. Por que, então, toleras os traidores e te calas quando os perversos devoram aqueles que são mais justos do que eles?” (Habacuque 1:12-13). Ele não estava questionando sobre o castigo de Judá, mas quem seria o instrumento de juízo: uma nação ímpia, cruel e idólatra.
   Mas, Deus respondeu ao profeta a respeito do que aconteceria à Babilônia:
Visto que você despojou muitas nações, todos os povos que restaram virão despojá-lo. Porque você derramou muito sangue e cometeu violência contra a terra, contra as cidades e contra todos os seus moradores. Ai daquele que ajunta em sua casa bens mal adquiridos, para pôr o seu ninho num lugar bem alto, a fim de livrar-se das garras do mal! Os seus planos resultarão em vergonha para a sua casa. Ao destruir muitos povos, você pecou contra a sua própria vida. [...] Você ficará coberto de vergonha em vez de honra. Beba você também e mostre a sua incircuncisão! Chegará a sua vez
de pegar o cálice da mão direita do Senhor, e a sua glória se transformará em vergonha
. Porque a violência contra o Líbano cairá sobre você, e você ficará apavorado por ter destruído os animais. Porque você derramou muito sangue e cometeu violência contra a terra, contra as cidades e contra todos os seus moradores
(Habacuque 2 8-10; 16,17 grifo nosso). Yahweh sabia da idolatria e maldade daquele povo e eles também não ficariam impunes. No ano de 539 a.C., a Babilônia foi conquistada pelos medo-persas liderados por Ciro, o Grande.

 

   Deus está sempre atento ao que os homens fazem. Não há nada que se faça e o Senhor não saiba.

 

OLHANDO PARA O NOVO TESTAMENTO


   Os textos mais conhecidos do livro de Habacuque são: “mas o justo pela sua fé viverá” (Habacuque 24b) e o salmo do capítulo três, especialmente os versículos 17-19. Sobre o versículo quatro (segunda parte), o apóstolo Paulo constrói a Teologia da justificação pela fé. Ele diz no livro de Romanos: “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé (Romanos 1:17 grifo nosso).


   De acordo com a citação que Paulo faz de Habacuque, a justiça daquele que crê tem sua base na promessa da salvação. A promessa hoje continua a exigir fé, mesmo já tendo alcançado seu cumprimento em Cristo. [...] Paulo entende o chamado do Senhor ao profeta – para que ele viva pela fidelidade de Deus em face da invasão babilônica – como um padrão (ou tipo) da obra redentora do Senhor que veio a se cumprir no evangelho, o qual inspira fé diante da ira escatológica de Deus, que já está presente no mundo. (SEIFRID, Mark A., 2014, p. 763).


   Paulo retorna ao assunto da justificação pela fé usando o texto de Habacuque: “E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3:11). Uma das mais importantes doutrinas da Igreja cristã, a justificação pela fé e não por obras da lei, foi elaborada com base na frase da profecia de Habacuque: “mas o justo pela sua é viverá” (Habacuque 24b). O povo de Deus do Novo Testamento foi chamado a viver uma vida de fé: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu” (Hebreus 10:19-23, grifo nosso). E novamente o texto de Habacuque é citado: “Mas o justo viverá pela fé”; (Hebreus 10:38a). O autor do livro de Hebreus nos exorta a vivermos pela fé e sermos perseverantes, baseando-nos nas
promessas do seu retorno para nos buscar.

 

   Paulo entende o chamado do Senhor ao profeta – para que ele viva pela fidelidade de Deus em face da invasão
babilônica – como um padrão (ou tipo) da obra redentora do Senhor que veio a se cumprir no evangelho, o qual inspira fé diante da ira escatológica de Deus, que já está presente no mundo.

 

CONCLUSÃO


   E o salmo de Habacuque (capítulo três do livro) nos mostra a fé posta em prática: “Tu com os teus cavalos marchaste pelo mar, pela massa de grandes águas. Ouvindo-o eu, o meu ventre se comoveu, à sua voz tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim; no dia da angústia descansarei, quando subir contra o povo que invadirá com suas tropas. Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é  minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. (Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda)” (Habacuque 3:15-19, grifo nosso). O profeta declarou a sua fé em Yahweh mesmo num cenário de guerra, quando havia apenas desolação. Se as ovelhas e o gado tivessem sido roubados ou mortos para alimentar o inimigo; se a figueira, a oliveira e a vide não tivessem frutos, ainda assim ele confiaria no seu Deus e n’Ele exultaria. A fé no Senhor Deus precisa ser maior do que as nossas adversidades e madura para entender que todas as coisas acontecem de acordo com a Sua permissão. Muitas vezes, esses acontecimentos ruins são para disciplinar ou servirem como juízo sobre as nações. Mas nada escapa da soberania de Deus. Que possamos refletir nesse texto e verificar se estamos construindo a nossa vida espiritual com uma fé inabalável no Senhor Deus.


QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE


1.
O que você entende por fé? O que define a sua fé?
R.


2. Como povo de Deus, temos lhe dado glória nos momentos tristes?
R.


3. Você seria capaz de manter a fé em Deus mesmo num cenário de terra arrasada (guerra ou seca) como é descrito nesse salmo de Habacuque?
R.


4. Compartilhe com a Igreja os momentos terríveis e desafiadores que lhe ocorreram e você conseguiu manter a sua fé.
R.

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