Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.

Gálatas 6:2 

INTRODUÇÃO


   Neste estudo, abordaremos o tema “levar as cargas uns dos outros” em paralelo com a história do livro de Rute; como Rute e sua sogra Noemi suportaram as cargas difíceis que encontraram na jornada de suas vidas.
   Você já ouviu falar em jugo? Jesus disse:
“Tomem sobre vocês o meu jugo[…]. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11:29-30). A palavra “jugo”, nessa passagem, representa um favor de Deus em nos ajudar a carregar uma carga que é excessiva para uma só pessoa. As Escrituras também usam a expressão “jugo” para falar de união, vínculo e sociedade.
   Por virmos morar em uma cidade ainda mais interiorana, ficou mais fácil conhecer uma canga, ou jugo. É uma peça de madeira colocada no pescoço de dois bois e amarrada a uma carroça, ou um equipamento agrícola, para que os bois carreguem o equipamento.
   Também, pesquisando o significado da palavra cônjuge, do latim “CONJUGATUS, particípio passado de CONJUGARE  ‘unir, juntar’, formada por COM-, ‘junto’, mais JUGUM, ‘jugo, canga’”12. Portanto, pode-se dizer que um casamento são dois dividindo uma mesma carga tornando-a mais leve.
   Mas, quando a canga é quebrada (ou rompida), ou quando três cangas são rompidas numa mesma família – como no caso da história de Noemi que ficou viúva e após alguns anos seus dois filhos casados também faleceram – o que fazer?
   Por esses exemplos, poderemos dar luz à importância do versículo de Gálatas 6:2, citado por Paulo, pois uma
comunidade que se ajuda suporta mais cargas e cumpre a Lei do Senhor.


DIVIDINDO A CANGA COM A COMUNIDADE


   Na Igreja, os problemas podem ser compartilhados, pois não estamos sós, e todos somos beneficiados por isso.
   “Então ambas se foram, até que chegaram a Belém. E aconteceu que, ao chegarem ali, toda a cidade se comoveu por causa delas. E as mulheres perguntavam: — Essa não é a Noemi?” (Rute 1:19 grifo nosso)
   Depois de uma mudança frustrada de Belém de Judá para os campos de Moabe, Noemi retornou para sua terra natal, porém desprovida de recursos, viúva, sem seus filhos, porque haviam falecido, e acompanhada de uma das noras, viúva e estrangeira.
   No entanto, ao contrário do que vemos na história de Jó, acusado por seus amigos de que seus pecados seriam a causa de seu estado lastimável (ver o livro de Jó, a partir do capítulo 4), na história de Rute, vemos uma comunidade compadecida com Noemi:
...e toda a cidade se comoveu” (Rute 1:19).
   Infelizmente, o julgamento é um impulso natural do homem em procurar fazer justiça com suas próprias mãos. Mas nós, como uma Igreja do Senhor, que se ajuda, devemos ser compassivos com as dores e aflições uns dos outros, pois não sabemos a história de cada um e não cabe a nós o julgamento. Estar pronto a socorrer toda e qualquer pessoa que precisar deve ser o nosso lema.
   Neste versículo, também vemos que Noemi era uma mulher sincera ao expressar seus sentimentos:
“Porém ela lhes dizia: — Não me chamem de Noemi, mas de Mara, porque o Todo-Poderoso me deu muita amargura” (Rute 1:20).
   No livro “Mulheres na Bíblia”, Eunice Faifh Priddy relata que:


   As pessoas em Belém estavam surpresas com as diferenças em Noemi, em seu retorno, imagine como deve ter sido difícil para Rute escutar todas as coisas que falavam sobre sua sogra. Novamente Noemi demonstrou sua sabedoria. Ela admitiu ser uma mulher diferente. Ela não tentou esconder nada. Não lemos palavras de criticismo. Somente o reconhecimento da mudança que ocorrera em sua vida.


   A Igreja deveria ser um lugar onde poderíamos compartilhar nossas aflições e pesares com toda a sinceridade,
pois ali está o povo santo de Deus.
   Que estejamos prontos para abraçar o desamparado, fortalecer o cansado e acolher o faminto, seja da nossa
comunidade na fé ou estrangeiro.
“Ajudem a suprir as necessidades dos santos. Pratiquem a hospitalidade” (Romanos 12:13).

   Devemos ser compassivos com as dores e aflições uns dos outros, pois não sabemos a história de cada um e não cabe a nós o julgamento. Estar pronto a socorrer toda e qualquer pessoa que precisar deve ser o nosso lema.

 

NÃO DEIXANDO O LADO DA CANGA


   Todos podem ajudar na busca de soluções para as dificuldades da vida. Esse princípio de cooperação e ajuda deve ser marca da Igreja de Cristo. Mais uma vez, a história de Rute e Noemi ilustram como as “cargas da vida” tornam-se mais leves se compartilhadas. Vejamos!
   “Então Noemi voltou da terra de Moabe com as suas noras, porque ainda em Moabe ouviu que o Senhor havia se lembrado do seu povo, dando-lhe alimento” (Rute 1:6).
   Nessa passagem, depois de mais de dez anos longe de Judá, Noemi decide voltar. 

   A Bíblia fala que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3:1). Agora era tempo de retornar ao povo de Deus, ao seu povo, a fome já passara e lhes havia uma ponta de esperança. Sabendo Noemi que seu retorno não a livraria de muitas aflições do porvir, despede suas noras para uma opção menos desafiadora e dolorosa, voltar para suas famílias. Órfa escolheu voltar, Rute não. Paramos aqui um pouco para refletir quão importante foi a decisão de Rute para ela e sua descendência. Ao retornar com sua sogra, Rute conheceu Boaz, casou-se com ele e teve um filho, Obede, um neto Jessé e um bisneto, o rei Davi. Rute
marcou seu nome na história, tornou-se parte do povo de Israel.
   Vemos aqui uma sogra amorosa, ajudando-as e ensinando-as o caminho do seu Deus. Órfa, apesar de amá-la, escolheu continuar com seu povo. A escolha sábia de Rute em não deixar a carga para sua sogra transformou seu futuro: 
“Porém Rute respondeu: — Não insista para que eu a deixe nem me obrigue a não segui-la! Porque aonde quer que você for, irei eu; e onde quer que pousar, ali pousarei eu. O seu povo é o meu povo, e o seu Deus é o meu Deus” (Rute 1:16).
   Na nossa vida, precisamos em todo o tempo tomar decisões para solucionar problemas, para ajudar a carregar as cargas uns dos outros. Quando agimos assim, temos uma comunidade coerente nas escolhas, escolhas difíceis, contudo decisivas para o futuro.

   Sabendo Noemi que seu retorno não a livraria de muitas aflições do porvir, despede suas noras para uma opção menos desafiadora e dolorosa, voltar para suas famílias. Órfa escolheu voltar, Rute não. Quão importante foi a decisão de Rute para ela e sua descendência.
 

 

DIVIDINDO A CANGA COM BOAZ


   Outra decisão determinante ocorreu na vida de Boaz e do primeiro remidor de Rute. Nessa época havia uma lei regente, a Lei do Remidor ou Resgatador, a qual estabelecia a obrigação do parente mais próximo a casar-se com a viúva, caso esta não tivesse filhos.
   O primeiro remidor que detinha esse direito recusou-o por interesses próprios, conforme Rute, capítulo 4. Por isso, seguindo a linha sucessória, o direito passou a ser de Boaz. Este, por amor e benevolência, assumiu o compromisso casandose com Rute, dando-lhe um lar, um filho,
“...para perpetuar o nome do esposo falecido na herança dele” (Rute 4:5b), e também acolhendo Noemi.
   Existem várias histórias na Bíblia de grandes guerreiros, reis, profetas. Porém, o que vemos aqui é a história de um homem que ficou conhecido não por sua vida abastada, mas por ser uma pessoa temente a Deus, tendo uma vida discreta. Boaz escolheu servir a Deus, seguir as Leis do Senhor (como a Lei do Remidor) e fazer o bem a uma estrangeira e à sogra dela. Boaz não era apenas rico de bens, mas de coração. Ele não deu apenas comida a elas, mas também dignidade.
   Quando Boaz soube da história de Rute, manifestou sua bondade, conforme o texto a seguir:
“... Então Rute se inclinou e, encostando o rosto no chão, disse a Boaz: — Por que o senhor está me favorecendo e se importa comigo, se eu sou uma estrangeira? Boaz respondeu: — Já me contaram tudo o que você fez pela sua sogra, depois que você perdeu o marido. Sei que você deixou pai, mãe e a terra onde nasceu e veio para um povo que antes disso você não conhecia” (Rute 2:10-11).
   A partir desses exemplos, devemos tomar as nossas decisões pautadas no temor do Senhor e na piedade:
“E não
nos cansemos de fazer o bem, porque no tempo certo faremos a colheita, se não desanimarmos”
(Gálatas 6:9).

   Boaz ficou conhecido não por sua vida abastada, mas por ser uma pessoa temente a Deus, tendo uma vida discreta. Ele escolheu servir ao Senhor, seguir Suas Leis e fazer o bem a uma estrangeira e à sogra dela.

 

COMPARTILHAR A CANGA NÃO É UM FARDO, MAS UM EXERCÍCIO DE AMOR


   Somos criados para amar a Deus, ao próximo e a nós mesmos. No entanto, quando falamos em amar a nós mesmos, como seria? Seria comprar o melhor carro, uma casa luxuosa, u conforto? Não, nada disso satisfaz o coração do homem, nós nos sentimos realizados, também, ajudando o próximo, “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:10). Muitas vezes, vemos pessoas virem à Igreja ouvir a mensagem e voltarem para suas casas para cuidar de seus próprios interesses, objetivos de vida, realizações pessoais e não se preocupando com a família chamada Igreja. Os maiores testemunhos em que pessoas se derramaram em lágrimas de satisfação foi quando puderam fazer a diferença na vida de outras pessoas. Fomos criados para amar e a realização do homem é amar, “pois Deus é amor” (1 João 4:8b).
   Na história de Rute, vimos que a sua escolha de amar a sua sogra Noemi e ao seu Deus trouxe-lhe alimento físico e espiritual:
O Senhor lhe pague pelo bem que você fez. Que você receba uma grande recompensa do Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas você veio buscar refúgio” (Rute 2:12 grifo nosso).
   Rute amou sua sogra e o seu Deus. Essas escolhas tocaram o coração de Boaz, permitindo, no início, que ela coletasse as respigas e se alimentasse com as servas dele. E como conta a história no livro de Rute, num futuro breve, Boaz casou-se com ela.

   Muitas vezes, vemos pessoas virem à Igreja ouvir a mensagem e voltarem para suas casas para cuidar de seus próprios interesses, objetivos de vida, realizações pessoais e não se preocupando com a família chamada Igreja.

 

A FORÇA DA UNIÃO DOS IRMÃOS


   Em seu livro Igrejas que Prevalecem, Carlito Paes cita que:

     Igrejas que prevalecem são comunidades que investem fortemente no bom relacionamento e no serviço entre os membros. A comunhão e os serviços são fatores que têm de estar presentes em todas as ações da vida em comunidade, independente do porte.

    A Igreja do Senhor é dinâmica, viva e não há espaço para individualismo. Como um corpo trabalha em unidade com seus membros para sua sobrevivência, assim é a Igreja. Um corpo saudável precisa ter membros saudáveis, trabalhando em harmonia por um mesmo propósito e cuidando uns dos outros.
   Há um ditado popular que diz que “a união faz a força”. Confirmamos que isso é verdade em Atos:
“Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum” e o resultado disso é que “o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos dos Apóstolos 2:44 47b).
   A unidade em amor é o caminho para uma Igreja prevalecer nos propósitos do Senhor.
   Paes ainda acrescenta:

   O inimigo sabe do grande potencial de uma igreja unida e bem conectada que agrega cada dia os que vão sendo salvos; Ele vai tentar de todas as maneiras impedir que a igreja alcance esse patamar de relacionamento, por isso precisamos estar sempre alerta .

   Que verdadeiramente possamos amar nossos irmãos e vivermos em união, seguindo o exemplo de Cristo, que amou a Igreja e Se entregou por ela.

Um corpo saudável precisa ter membros saudáveis, trabalhando em harmonia por um mesmo propósito e cuidando uns dos outros.

 

CONCLUSÃO


   Como citado no início deste estudo, casamento é dividir a canga/jugo com o cônjuge. Porém, não é só entre casais que se pode compartilhar as cargas da vida, como observa-se na história de Noemi e Rute. É nas maiores catástrofes que o amor entra em cena, pela disposição das pessoas em lutar e não abrir mão de estar ao lado daqueles a quem amam.
Essa atuação do amor é comprovada nas palavras de Rute a sua sogra:
“Porém Rute respondeu: — Não insista para que eu a deixe nem me obrigue a não segui-la” (Rute 1:16). Rute não desistiu de estar com sua sogra, que por sinal, foi uma grande discipuladora.
   Aprendemos com essa história que é importante persistir em amar, apesar das dificuldades. A persistência de Rute em amar, cuidar e ajudar sua sogra, levou-a a conhecer o Deus verdadeiro e libertou-a de um mundo pagão, colocando seu nome na história da Bíblia, na genealogia de Cristo e no Livro da Vida. Amar, servir e ajudar o outro não é um fardo, mas uma oportunidade de sermos melhores, de tornar a vida de outras pessoas mais leves e aliviar suas cargas, e também as nossas, quando precisarmos de ajuda.
“Levem as cargas uns dos outros e, assim, estarão cumprindo a lei de Cristo” (Gálatas 6:2).

   Eu preciso ter um compromisso com o próximo. Eu tenho de começar a ser um instrumento de Deus para a vida dos outros. Devo abrir o meu mundo e ser útil aos que estão ao meu alcance, aqueles pelos quais Jesus morreu (LINHARES, 2001)16

   Não carregue sua carga sozinho, nem deixe seu irmão carregar a dele só, e lembre-se; “E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28:20b).

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE


1. Em sua igreja, você consegue compartilhar seus problemas?
R.


2. Como é seu relacionamento com seus familiares? É um relacionamento amoroso?
R.


3. Em paralelo à história de Boaz, você tem dado um bom testemunho de alguém temente a Deus, acolhendo os de fora de seu convívio?
R.


4. Quanto ao versículo de Gálatas 6:2, você tem ajudado o seu irmão ou tem sido indiferente?
R

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