Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;

Mateus 5:3 

INTRODUÇÃO

   O texto que estudaremos hoje se encontra no mais belo sermão já pronunciado por um homem nesta terra: o famoso SERMÃO DO MONTE, proferido por Jesus. No início da exposição, nosso Mestre descreve quais são as características do cidadão do Reino dos Céus. Essa seção é denominada

   AS BEM-AVENTURANÇAS. As bem-aventuranças são encontradas tanto no Antigo como no Novo Testamento. No livro de Salmos a expressão “bem-aventurados” descreve as qualidades que trazem bênçãos ao ser humano. Em Mateus, o termo bem-aventurado significa “feliz”. A diferença dos termos utilizados nos livros acima citados é que no Antigo Testamento refere-se principalmente a bênçãos futuras dos fiéis e destaca os bens materiais. Jesus, em Seu sermão, concentra-se no estado presente dos que adotam valores e atitudes que lhes permitem experimentar de imediato o toque de Deus em sua vida1 .

   O sermão do monte foi escrito para aqueles que escolheram ser discípulos de Jesus, tornando-se submissos livremente ao Rei. O Mestre deixa claro que viver no Reino significa abandonar os caminhos do mundo e adotar um conjunto de valores e compromissos radicalmente diferentes.

   É difícil viver num mundo sem ser afetado pelos valores descritos pela coluna da direita, adotados pela maioria dos seres humanos. Na realidade, até valorizamos pessoas que são autoconfiantes, competentes e seguras de si.

   Jesus, porém, condena tais aspirações nas bem-aventuranças, estabelecendo um pacote de valores inteiramente novo e deixando claro que só assim seremos verdadeiramente felizes.

 

   Partimos agora para um aspecto importante do estudo das bem-aventuranças. Como surgem esses atributos? Como me torno humilde de espírito? Há um passo-a-passo que posso seguir? O quanto devo me esforçar? Qual o papel do Espírito Santo?

   Ao longo desse trimestre perceberemos que há um encadeamento lógico e espiritual entre cada bem-aventurança, como afirma Lloyd-Jones: “Não há como duvidar que essas bem-aventuranças foram arrumadas em uma sequência bem definida.”3 De fato, essa deveria ser a primeira das bem-aventuranças, pois para entrar no Reino dos Céus se faz necessário ser humilde de espírito e isso indica um esvaziamento, ao passo que as demais apontam para recebimento do alto a fim de sermos cheios dos valores celestiais. Enfim, não podemos ser cheios se não formos, primeiro, esvaziados.

   Após esse fundamental alerta vamos analisar o termo HUMILDADE (ou pobreza, como algumas versões bíblicas trazem)

   Alguns compreendem que há um elogio à pobreza econômica neste texto. No entanto, não encontramos nas Escrituras ensinos afirmando que a pobreza é algo tão bom assim. O fato é que um homem pobre não está mais próximo do Reino dos Céus do que um rico. Não há mérito na pobreza e nem indícios de espiritualidade. O que se condena é a dependência às riquezas materiais. E nesse sentido, há pessoas pobres que dependem dos bens materiais para dar sentido à vida, exatamente como fazem muitas pessoas ricas.

   No capítulo 6 do evangelho de Lucas, fica bem clara a intenção de Jesus quanto ao termo ‘humildes’, referindo-se àqueles que não exibem o arrogante espírito mundano, ou seja, pobres no sentido que eles não dependem das riquezas materiais.

   Portanto, não precisamos nos afastar da sociedade vivendo em mosteiros ou realizando voto de pobreza para nos tornarmos humildes de espírito.

   Então, se humildade não está relacionada com as nossas posses materiais, como poderíamos compreendê-la?

   Já dissemos que há contradições entre os valores mundanos e os proclamados no Sermão do Monte. Pensando na atualidade, podemos definir que nossa cultura está arraigada em princípios relativos em que não existe uma verdade, mas cada indivíduo possui a sua verdade. Alguns chamam o período que vivemos de pós-modernidade. Independente do termo utilizado, os cristãos precisam refutar totalmente esta perspectiva ou qualquer pensamento em que o ser humano é a medida de todas as coisas, tendo em vista que compreendemos a existência de uma única verdade revelada nas Sagradas Escrituras. Portanto, cabe-nos examinar a Bíblia para compreender o verdadeiro sentido sobre humildade. Vejamos cinco coisas sobre humildade apresentados pelo teólogo John Piper5 que estão em consonância com a Palavra de Deus. Abaixo, compartilho essa parte do texto com vocês: 

   Vamos caminhar mais um pouquinho sobre o conceito de humildade. Convido, caro estudante, a analisarmos o termo original contido na Bíblia. Lembremos que o Novo Testamento foi escrito na língua grega e compreender o sentido do termo escrito no idioma original das Sagradas Escrituras nos ajuda a entender quais eram os propósitos do escritor. Posto isto, vamos analisar a palavra grega Ptokoi. Substituindo o termo em português pelo termo em grego ficaria assim: “Bem-aventurados os Ptokoi de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.

   Nesse contexto, ptokoi traduzida por humilde nas principais versões brasileiras, significa, em seu sentido original, “pobre indigente”, “mendigo desprovido do básico”.

   O que isso quer dizer? Jesus está dizendo que feliz é aquele que se achega a Deus com as mãos vazias, não ostentando nada, nada reivindicando e nada exigindo. Feliz é o homem que sabe que nada tem e nada é, e, por isso, depende total e exclusivamente da graça de Deus. Jesus não veio chamar os que se julgam justos. Os que se julgam sãos não precisam de médico. Apenas aqueles que se reconhecem pecadores encontram o Salvador.

   Somente os que estão desesperados por causa de seus pecados encontram o alívio do perdão. Jesus é enfático em dizer que os humildes de espírito são felizes. E dá razões para isso: é que dos tais é o Reino de Deus. Ninguém pode entrar no céu a menos que seja humilde de espírito. Ninguém se deleitará no céu a menos que seja humilde de espírito. Você é humilde de espírito?

 

 

   Antes de finalizarmos o estudo dessa semana, convido a aplicar o que estudamos na vida do apóstolo Pedro. Este era um homem, que por natureza, era agressivo, que se impunha aos seus semelhantes e era dotado de autoconfiança. Mas veja esses textos:

   “Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: — Senhor, afaste-se de mim, porque sou pecador” (Lucas 5:8 NAA).

   “E considerem a longanimidade do nosso Senhor como oportunidade de salvação, como também o nosso amado irmão Paulo escreveu a vocês, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar a respeito destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas cartas. Nelas há certas coisas difíceis de entender, que aqueles que não têm instrução e são instáveis deturparão, como também deturparão as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pedro 3:15 16,NAA).

   Os textos relatam dois momentos distintos de Pedro. O primeiro num diálogo com Jesus. O segundo mostra um elogio ao apóstolo Paulo. Ambos demonstram a ação do Espírito Santo na vida de Pedro a viver uma vida de humildade. Lloyd-Jones ressalta: “Contudo, cumpre-nos observar que ele (Pedro) jamais deixou de ser um homem de grande ousadia [...]. Sua personalidade essencial não se alterou; ao mesmo tempo, porém, ele se tornou um homem “humilde de espírito”.

   Caro estudante, por fim, peço a sua atenção e paciência, e lhe digo que finalizarei este estudo com os textos bíblicos a seguir:

   “Porque aquilo que a lei não podia fazer, por causa da fraqueza da carne, isso Deus fez, enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no que diz respeito ao pecado” (Romanos 8:3 NAA).

   “— Quando vocês levantarem o Filho do Homem, então saberão que Eu Sou e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (João 8:28 NAA).

   “não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu digo a vocês não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (João 14:10 NAA).

   Você já deve ter percebido que são textos que narram falas de Jesus Cristo. Não poderíamos terminar este estudo sem demostrar o maior exemplo que devemos seguir.

   Os textos revelam a humildade de Cristo. Embora continuasse igual a Deus, deixou de lado as prerrogativas de Sua divindade. Enquanto estivesse neste mundo, o Mestre resolveu que viveria como um mero homem, ainda que continuasse totalmente Deus. Como resultado dessa atitude, Ele sempre declarava Sua completa dependência do Pai.

   Se for para gravarmos apenas um aspecto da lição, para entendermos sobre humildade de espírito, basta-nos o exemplo de Cristo. Ele indica que não há algo que possamos produzir de nós mesmos, mas nos conscientiza da nossa nulidade quando estamos diante de Deus.

   Concluo dizendo que ser ‘humilde de espírito’ não é depender dos dotes naturais, das riquezas que acumulamos, da educação recebida nas escolas ou faculdades que frequentamos ou da nossa conduta moral ou bom comportamento. Mas sim compreender que nada somos, que nada temos e que olhamos para Deus com total submissão a Ele, dependendo inteiramente de Sua misericórdia, de Sua graça. 

 

REVISÃO FINAL

   Nesta lição estudamos os seguintes tópicos:

1. Os valores do cidadão do Reino dos Céus contrapõem-se aos valores do mundo.

2. A pobreza, a pouca escolaridade não são atributos da humildade.

3. Humilde é aquele que é submisso a Deus e sabe que é dependente da graça de Deus.

4. Humildade não significa ser calado, retraído ou tímido. 5. Somente os humildes de espírito são verdadeiramente felizes.

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Quais são os valores do mundo que se contrapõem aos humildes de espírito?

R.

2. A humildade de espírito é uma virtude que nasce ou se desenvolve naturalmente em cada um dos seres humanos ou é conduzido pelo Espírito Santo? Justifique sua resposta.

R.

3. À luz da Bíblia, o que é ser humilde de espírito?

R.

4. Diante da definição acima, pesquise um personagem bíblico que é humilde de espírito.

R.

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