Tudo isto disse Jesus, por parábolas à multidão, e nada lhes falava sem parábolas;

Mateus 13:34 

INTRODUÇÃO

   Uma das marcas de Jesus, no que se refere às Suas pregações do Evangelho do Reino, é o método empregado: o uso de parábolas. Ao contá-las, Ele desenhava quadros verbais que retratavam o mundo ao redor. Ensinando assim, descrevia o que acontecia na vida real dos ouvintes, cativando o público, prendendo a atenção dos espectadores. Ao fim de cada história, havia mais lições a ser aprendidas. Eram verdades escondidas nos fatos, muitas vezes comuns, presentes nas histórias narradas pelo Mestre.
   A lição de hoje tem como objetivo explanar sobre o ensino por parábolas. O que são parábolas? Por que Jesus ensinava por esse método? Qual a vantagem desse ensino? A sequência deste estudo mostrará o caminho para a resolução dessas perguntas.


O QUE SÃO PARÁBOLAS?


   A palavra parábola deriva do grego (parabole1) e, etimologicamente, significa “colocar as coisas lado a lado”, com a finalidade de fazer uma comparação.
   A parábola propriamente dita é uma história simples e curta, da qual se origina um detalhe de ensino. É um exemplo ampliado de uma comparação ou de uma metáfora
. Podemos dizer que é uma comparação extraída da natureza ou da vida quotidiana, destinada a esclarecer uma verdade espiritual sob a suposição de que o válido em uma determinada esfera também o será em outra.
   O objetivo imediato de uma parábola é ser bem atraente, redirecionando a atenção do ouvinte, desarmando-o. O objetivo final é despertar uma compreensão mais aprofundada, estimular a consciência e levar os ouvintes a uma ação
. Um bom exemplo disso é a conclusão da parábola do Bom Samaritano, na qual Jesus estimulou seus ouvintes a imitarem a conduta do protagonista (Lucas 10 25-37).
   Embora o uso das parábolas tenha sido característica ímpar no ensino popular de Jesus, visto que “
sem parábolas, não lhes falava”, não foi Cristo o criador desse recurso didático. Elas foram utilizadas desde a antiguidade. Na época e na região em que Jesus apareceu, as parábolas eram, como as fábulas, um método popular de instrução entre todos os povos orientais.
   A antiguidade desse método disseminado de linguagem confirmou-se pelo fato de figurar, no Antigo Testamento, em larga medida e sob diferentes formas. A primeira registrada, em forma de fábula, mostrava árvores escolhendo para si um rei, retrato do que aconteceria entre o povo ( Juízes 9). Jotão usou essa história com o objetivo de convencer os habitantes de Siquém sobre a tolice de terem escolhido por rei o perverso 
Abimeleque. Outras parábolas conhecidas, relatadas no Antigo Testamento, são encontradas nos livros de 2 Samuel 12 e de Isaías 5
   Embora existam inúmeras maneiras de classificar as parábolas, de acordo com sua forma, podemos sintetizar da
seguinte maneira:
   A) Parábolas autênticas: Usam como ilustração um fato comum do dia a dia e são de fácil compreensão por parte dos ouvintes. Ou seja, qualquer pessoa entende a verdade transmitida. Não há motivo para objeção ou crítica. Todos já viram uma semente germinar (Marcos 4:26-29), o fermento levedando a massa (Mateus 13:33), crianças brincando numa praça (Mt11:16-19), uma ovelha desgarrando do rebanho (Mateus 18:12-14). Essas e muitas outras parábolas começam retratando verdades evidentes a respeito da natureza do homem. São contadas usualmente no tempo presente.
   B) Histórias em forma de parábolas: Referem-se a um acontecimento em particular do passado, geralmente relatando a experiência de uma pessoa. É, por exemplo, a experiência de um fazendeiro que semeou trigo e, mais tarde, percebeu que seu inimigo havia semeado joio no mesmo terreno (Mateus 13:24-30). Pode ser a história de um homem rico cujo administrador defraudou seus bens (Lucas 16:1-9). É o relato a respeito de um juiz que julgou a causa de uma viúva, após seus inúmeros pedidos (Lucas 18:1-8). O interesse de tais histórias não está na narrativa, porque o significativo não é o fato narrado, mas a verdade transmitida.
   C) Ilustrações: Servem de modelo ou exemplo. Em especial, encontramo-las no Livro de Lucas. Exemplos: a parábola do Bom Samaritano (Lucas 1030-37), a do Rico Insensato (Lucas 12:16-21) e a do Fariseu e o Publicano (Lucas 18:9-14). Essas ilustrações diferem das histórias em forma de parábolas pelo propósito. Enquanto as segundas são uma analogia, as primeiras contêm exemplos a serem imitados ou evitados. Isso ocorre de uma forma direta e clara.
   No geral, quase que regra, as parábolas são histórias curtas e não se preocupam em delinear, com precisão, detalhes pouco importantes para o momento, como a aparência física dos personagens, as condições climáticas, datas específicas etc. O objetivo principal é transmitir, por meio de curta narrativa, verdades que ficarão cravadas na mente do ouvinte.


AS VANTAGENS DO ENSINO POR PARÁBOLAS


   De uma forma minuciosa, podemos identificar, na narrativa dos evangelhos, mais de 40 parábolas proferidas por Jesus. Alguns estudiosos chegam a elevar o número a quase 70. Isso comprova que o Mestre fez desse recurso didático um marco do Seu ensino. Mas por que Ele teria empregado o método? Sem desprezar o foco escatológico, pois o Antigo Testamento aponta a maneira como o Messias pregava o Evangelho do Reino (Salmos 78:2; Isaías 6:9-10; Mateus 13:14-15,35; Marcos 4:33-34), vejamos algumas vantagens de tal método:
   1. É atraente. E, quando completamente compreendida, é mais fácil de ser lembrada e de grande ajuda à memória. Estamos mais inclinados a nos lembrar de uma narração ou ilustração do que de qualquer outro ensino proferido em um sermão. A parábola pode ser relembrada muito depois de já termos esquecido o tema principal do sermão.
   2. Presta grande auxílio à mente e à capacidade de raciocinar. Os seus significados devem ser estudados. É como uma mina de ouro, e devemos escavá-la e buscá-la com toda a diligência, para descobrirmos o verdadeiro sentido. O método parabólico faz pensar! O Mestre dos mestres sabia que não poderia ensinar nada aos ouvintes se não os levasse a ensinarem a si próprios. Ele deveria alcançar a mente de cada um e fazê-los trabalhar com a d’Ele. A forma da parábola atraía a todos, mas apenas os pensadores entendiam o seu significado. E esse não podia ser encontrado sem o uso do pensamento. Então, o texto atraía e, ao mesmo tempo, peneirava a multidão9.
   3. Estimula os afetos e desperta as consciências. Bons exemplos ocorreram quando o inferno, numa parábola, foi mostrado como uma fornalha de fogo; ou a consciência, como um verme roedor.
   4. Chama e prende a atenção. Atentos às parábolas de Jesus, os ouvintes mostravam-se maravilhados e diziam: “Nunca ninguém falou como este homem”. Ele precisava fazer o povo ouvi-Lo e conseguiu! Era maravilhosa a forma como usava, pronta e espontaneamente, as sugestões do momento; desse modo, prendia a atenção dos que estivavam ao redor!
   5. Preserva a verdade. As palavras mudam constantemente de significado, ao passo que os símbolos usados para a vida e para a natureza, como os empregados pelo Senhor, em Suas parábolas, são tão duradouros quanto a natureza e a vida. Utilizando um método largamente vantajoso, com vimos, o ensino por parábolas foi marcante, porque os textos de Jesus foram marcados pela simplicidade e simetria, concentrando-se essencialmente nas pessoas. Havia descrições fictícias tiradas da vida quotidiana do contexto imediato ao tempo de Jesus.


COMO INTERPRETAR E CONTEXTUALIZAR AS PARÁBOLAS


   Quando lemos as parábolas de Jesus, precisamos ter muito cuidado quanto à interpretação e à contextualização. Seguindo a ordem proposta, precisamos interpretá-las para, então, contextualizá-las. Todavia, o processo precisa ser executado com bastante cuidado para que não caiamos no erro de impor ao texto o que ele não transmite. Algumas parábolas têm sua interpretação autêntica, pois o próprio Cristo proferiu-as e interpretou-as, como a do Semeador e a do Joio e do Trigo (Mateus 13:1-43). Sendo assim, é inconcebível outra interpretação a respeito das duas.
   De forma um pouco exaustiva, mas necessária, vejamos alguns critérios que precisamos levar em consideração à interpretação adequada das parábolas
:

  1. Analise cada parábola de forma completa, verificando se, porventura, aparece em mais de um Evangelho. Dedique atenção à sua estrutura.
  2. Ouça a parábola sem pressuposições referentes à sua forma e ao significado.
  3. Lembre que as parábolas de Jesus eram instrumentos orais, em uma cultura oral.
  4. É preciso ouvir a parábola da mesma forma que uma pessoa da Palestina a ouviria na época.
  5. Interprete o que lhe foi entregue pela narrativa, e não o omitido. Qualquer tentativa de interpretar uma parábola com base naquilo que está ausente fadará ao fracasso.
  6. Não imponha uma cronologia real à cronologia de uma parábola.
  7. Dedique uma atenção especial à regra da ênfase final. Ou seja, a verdade fundamental e principal da narrativa.
  8. Observe em que pontos os ensinamentos das parábolas mesclam-se aos ensinos de Jesus, em outras partes da Escritura.

   Seguida a primeira parte do processo, vem o momento da contextualização. Todo o ensino é marcante quando é
atual, contemporâneo. O ensinamento de Jesus era marcante porque parecia atual aos ouvintes.
   Ao contextualizar as parábolas, precisamos ter a sabedoria de contextualizá-las aos nossos dias, sem ferir seus objetivos primários. Então, é necessário que se faça conhecido ao ouvinte contemporâneo o contexto imediato em que a parábola fora proferida. Por exemplo: como entender a parábola da dracma perdida sem saber o que é uma dracma?
   As parábolas de Jesus não são tão fáceis de interpretar quanto parecem. Vemos isso de forma clara quando pensamos que os próprios discípulos não compreenderam alguns ensinos do Mestre (Mateus 13:10; 13:36). Não podemos esquecer que tais histórias ensinaram verdades espirituais e, como nos ensinam as Escrituras, as coisas do Espírito discernem-se espiritualmente (1 Coríntios 2:14). Por isso, acima de tudo, é necessária a direção do Espírito Santo para que possamos compreender, com certeza e clareza, os ensinos transmitidos pelas parábolas.


CONCLUSÃO


   Conhecer um pouco sobre o ensino por parábolas é importante e necessário, antes de mergulhar no vasto campo didático utilizado pelo Mestre. Saber o que são parábolas, como as classificar, interpretar e contextualizar ajudará a compreendermos cada estudo que teremos pela frente. Que possamos, com a direção do Espírito Santo, aprender com cada uma delas, com sensibilidade suficiente, de forma tal que nos toquem e possam mudar em nós aquilo de que precisamos.


QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE


1.
Com base no estudo de hoje, descreva com suas palavras o que é uma parábola.
R.


2. Quais são o objetivo imediato e o final de uma parábola?
R.


3. Embora o uso das parábolas tenha sido característica ímpar no ensino popular de Jesus, o método precedeu os tempos de Cristo. Quais evidências temos, na Bíblia, que comprovam a antiguidade do ensino por parábolas? ( Jz9; 2 Samuel 12; Isaías 5).
R.

4. Como as parábolas podem ser classificadas quanto à forma? 

R.


5. Cite três vantagens do ensino por parábolas e discorra sobre elas.
R.


6. Quais critérios devem ser considerados para que haja uma interpretação adequada das parábolas de Jesus? Por que é importante que todo o ensino seja contextualizado?
R.

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