Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.

2 Timóteo 4:7-8

INTRODUÇÃO

   Igreja amada, mais um trimestre de estudos bíblicos se finda. Deus nos deu o privilégio de nos deleitarmos com os maravilhosos ensinos, conselhos e exortações de um veterano, cansado e esgotado pastor a um jovem principiante ministro da Palavra, o pastor Timóteo.

   Como vimos no editorial deste manual de escola bíblica, essa é a última carta de Paulo, vindo, na sequência, o seu martírio em Roma. Alguns estudiosos veem nessa epístola uma carta de despedida.

   Eram dias difíceis. Era o período que transcorria entre os anos 64 e 67 a.D., quando dura e atroz perseguição se desencadeou contra os cristãos. Os historiadores confirmam que, em 64 a.D, o imperador Nero incendiou Roma e transferiu a culpa para os cristãos que após isso, em todo o Império Romano passaram a ser alvo de sangrentas e desumanas perseguições.

   O Pastor e Professor Doutor Frederick F. Bruce, amparando-se nas anotações do historiador romano Tácito, a esse respeito, escreveu:

   “Durante a noite de 18 para 19 de julho de 64 d.C., irrompeu um incêndio no lado nordeste do Circo Máximo. As lojas que ficavam sob as colunas que circundavam o Circo por fora estavam cheias de material inflamável; o fogo se propagou ali e, alimentado pelo vento, devorou tudo aos seu redor durante cinco dias, [...].

   Apesar de Nero, que estava em Antium (Anzio), quando o incêndio começou, ter corrido para Roma e instituído medidas enérgicas de socorro, espalharam-se rumores de que fora ele quem incendiara a cidade, a fim de ‘reconstruí-la mais próxima dos desejos de seu coração’. Cansado, pelo menos de ser alvo da suspeita popular, ele procurou bodes expiatórios. [...]; ‘

   Assim, para abafar o rumor, Nero pôs como culpados, que puniu com a crueldade mais refinada, um grupo de homens, detestados [...], que a plebe conhecia como cristãos. Cristo, de quem eles receberam seu nome, fora executado por sentença do procurador romano Pôncio Pilatos quando Tibério era imperador, e sua religião perniciosa foi controlada por algum tempo, só para irromper com nova força, não só na Judéia, terra de origem da praga, mas também na própria Roma, para onde todas as coisas mais horríveis e vergonhosas do mundo convergem e onde encontram um lar.

   Primeiro, os que confessaram foram presos; depois, com base nas informações deles, uma grande multidão foi condenada, não tanto como incendiários quanto por seu ódio à raça humana. Sua execução acabou sendo um esporte: alguns foram costurados dentro da pele de animais selvagens e jogados aos cães para serem despedaçados; outros foram amarrados em cruzes e transformados em tochas vivas, para iluminar a cidade quando o dia acabava. Nero abriu os jardins do seu palácio e organizava jogos no Circo, misturando-se à multidão ou pondo-se em pé sobre uma biga [...]’”. 

   Fique claro, assim, que se extrai do NT e da Histórica Eclesiástica Primitiva que Paulo teve duas prisões em Roma. A primeira é aquela em que ele ficou em prisão domiciliar (entenda-se, numa casa onde podia receber pessoas), por cerca de dois anos (Atos dos Apóstolos 28:30). Ali, manifestou firme esperança de ser liberto e visitar novamente as Igrejas por onde havia passado. Já, a segunda foi em uma masmorra inadequada, indigna e humilhante. Dessa, o apóstolo sabia que não daria continuidade ao seu ministério. Saiu para a morte.

   Mas, o pano de fundo para a elaboração dessa segunda carta a Timóteo ainda não está completo. Acresce ressaltar que afora os ataques dos inimigos externos, conforme mencionamos, a Igreja cristã vinha sendo sacudida e açoitada pelos ataques internos, por meio dos falsos Ministros da Palavra.

   Necessitamos destacar o elevado espírito pastoral de Paulo! Lembrando que agora ele não está mais em uma prisão domiciliar de onde escreveu algumas cartas — as cartas da prisão —, quais sejam, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses e a Filemom.

   Agora está chegando a hora de seu martírio, quando, está numa masmorra fétida e de precárias condições sanitárias, conhecida na história como Prisão Mamertina. De lá escreveu essa segunda carta a Timóteo.

   Que Pastor extraordinário era Paulo! Não se sentia derrotado. Havia conquistado o clímax, o ponto mais alto da carreira pastoral, combatendo o bom combate, sem, contudo, perder a fé!

 

ESMIUÇANDO OS VERSOS-CHAVES NA BUSCA DE UMA COMPREENSÃO PRÁTICA.

   1. Combatendo “o bom combate”:

   Desde que o pecado entrou no mundo, a vida relacional interpessoal dos descendentes de Adão tem sido marcada por conflitos de diferentes dimensões. Há desavenças dentro de uma mesma família, na vizinhança (entre estranhos) e até mesmo entre povos e nações. Alguns desses litígios tornam-se tão grandes que acabam em guerra. Ora, quem se alista para a guerra, dispõe-se a combater.

   Certamente, a ordem jurídica internacional busca, por todos os meios possíveis, evitar que isso aconteça, prevendo, porém, o direito de guerra. Na verdade, a história da humanidade é a história das guerras, [] que na maioria das vezes são injustas. Logo, uma guerra injusta jamais poderia ser classificada como “bom combate”.

   Mas, pensando na figura do combatente, afora as guerras declaradas, havia, ainda, nos dias de Paulo, os esportes atléticos. Assim, por exemplo, em 1Corintios 9:24-27, o apóstolo “faz alusão aos Jogos Ístmicos, que eram realizados a cada dois anos no istmo de Corinto. Realizados em honra dos deuses gregos, a festa consistia de corridas a pé, corridas de cavalos, disputas de carruagens, saltos, lutas, boxe e arremessos de discos e de lanças. Os prêmios nesses jogos eram coroas de flor, que não duravam muito. Para os gregos, eram eventos de orgulho patriótico, uma paixão mais que um passatempo, e, portanto, eram uma metáfora apropriada da seriedade da corrida cristã. [...]. Outras alusões no Novo Testamento a linguagem dos jogos: Atos dos Apóstolos 20:24; Efésios 6:12; Filipenses 3:12-14; 1 Timóteo 6:12; 2 Timóteo 4:7; Hebreus 12:1-12; Apocalipse 2:10”.

   Surge-nos, então, a seguinte indagação: o que Paulo denomina como “bom combate”?

   Paulo, com essa expressão, usa uma linguagem figurada. Ele já estava no fim da vida aqui. Buscou demonstrar que, após sua conversão a Cristo, dedicou toda a sua vida a uma causa que valia e, efetivamente, valeu à pena investir na proclamação da salvação pela graça, por meio da fé. Investiu, portanto, no Evangelho.

   Mas, o que aqui cresce em importância é a convicção de que há combates justos e injustos. Isso abrange a área militar e a dos desportos.

   Concordamos com o Pastor e Professor Doutor Hernandes Dias Lopes sobre a afirmação — “combati o bom combate” — escreveu:

   “O que fora um propósito, ou seja, completar a carreira (Atos dos Apóstolos 20:24), era agora um retrospecto. Paulo está passando o bastão para o seu filho Timóteo, mas, antes de enfrentar o martírio, relembra como havia sido sua vida: um duro combate. A vida para Paulo não foi uma feira de vaidades nem um parque de diversões, mas um combate renhido. [...] Paulo lutou contra poderes sombrios da maldade; contra Satanás; contra vícios judaicos, cristãos e gentílicos; contra hipocrisia, violência, conflitos e imoralidades em Corinto; contra fanáticos e desleixados em Tessalônica; contra gnósticos e judaizantes em Éfeso e Colossos; e, não por último— no poder do Espírito Santo —, contra o velho ser humano dentro de si mesmo, tribulações externas e temores internos. Acima de tudo e em todas as coisas, porém, lutou em prol do Evangelho, a grande luta de sua vida, seu bom combate”.

   Amados irmãos, na carreira cristã o bom combate se evidencia por uma vida de comunhão com Deus. Esta se manifesta pelo estudo da Palavra, pela oração, pelo testemunho (1. Conduta aprovada por Deus; e, 2. Proclamação das boas-novas da salvação pela graça) e pelo apoio às ações da Igreja no desempenho de sua missão de “sal da terra” e “luz do mundo”.

   2. “Completando a carreira”:

   Há um velho hino do Cantor Cristão (Revificação), de Henry Maxwell Wright, cuja 3ª estrofe, fruto de verdadeira constatação, lança a seguinte reflexão:

   “Quantos que corriam bem

   Já não mais Contigo vão!

   Outros seguem, mas também

   Frios, sem amor estão”.

   O autor dessa poesia expressou o desejo de revificação da fé dos salvos, dando-lhe esse título. A ideia era de renovação espiritual com o propósito de melhor se alicerçar na comunhão com o Senhor. Sim, amados, ao longo da jornada cristã, existem aqueles que, por razões diversas, desanimam no percurso.

   Temos um adversário pronto a lançar toda a sorte de tropeço e empecilhos no caminho. À semelhança da realidade vivida na descrição dessa carta a Timóteo, somos desafiados por provações externas, mas também, por desafios internos na Igreja.

   É preciso lembrar que a Igreja militante ainda não é a triunfante. Mas, há a promessa infalível de que ela finalmente triunfará! Todavia, não se pode esquecer que Jesus previu a coexistência do joio com o trigo dentro da Igreja.

   Temos pregado que a Igreja pode ser concebida em pelo menos dois prismas: Igreja Visível e Igreja Invisível. A Igreja visível é aquela conhecida em seu aspecto material, denominacional e institucional. Ela tem placa, nome, CNPJ e é composta de ovelhas e bodes, de trigo e joio. Para muitos que a integram, cumpre-se a solene advertência de Jesus no sermão da Montanha: “Nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino do meu Pai” (Mateus 7:21).

   Por outro lado, há a Igreja Invisível. Esta é a universal assembleia dos santos, descrita na carta aos Hebreus. É composta só de trigo, só de ovelhas. Esta será arrebatada no Grande Dia!

   Nós, pastores e as lideranças em geral de nossa amada IBSD estamos convencidos de que o Senhor quer nos usar como instrumentos em Suas mãos, de modo a sermos verdadeiro amparo aos que, porventura, se encontrem cansados e quase desanimando, neste caminho estreito e repleto de dificuldades.

   Há uma recomendação da Palavra que não pode ser desprezada: “Fortaleçam as mãos frouxas e firmem os joelhos vacilantes. Digam aos desalentados de coração: Sejam fortes, não tenham medo. Eis aí está o Deus de vocês” (Isaías 35:3 4). E ainda: “Pelo contrário, animem uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama hoje, a fim de que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado” (Hebreus 13:3).

   Entendendo de outro modo a mensagem contida no verso-chave deste estudo bíblico, diríamos que a carreira é completada por aqueles que combatem até o fim. Esse entendimento se harmoniza com as palavras do Senhor Jesus, que alerta: “Aquele, porém, que ficar firme até o fim, esse será salvo” (Mateus 24:13). Está em sintonia, ainda, com a afirmação: “Porque temos nos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firmes, até o fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos” (Hebreus 3:14). Também com a promessa ao apóstolo João, já um idoso, na ilha de Patmos, com quase 100 anos de idade, assim escrita: “Sê fiel até a morte e eu lhe darei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10, ultima parte).

   Lembremo-nos sempre, que Paulo, apesar das aflições suportadas, podia morrer em paz, porquanto havia concluído a sua carreira, conforme seu maior sonho expresso em Atos20:24, onde se lê: “Porém, em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, desde que eu complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”.

   Unamo-nos sempre em oração uns pelos outros para que o Senhor nos conserve nesse Santo Caminho até o fim, de modo a completar a carreira!

   3. “Guardando a fé”:

   O que isso pode significar? Como se pode guardar a fé?

   É bom ter sempre em mente que a fé verdadeira não é sinônimo de mera crença. Aliás, à luz da Palavra de Deus, em Tiago 2:19 “até os demônios creem e tremem”, mas não obedecem. Logo, somos desafiados a cultivar a fé genuína. Ela é mais do que mera aceitação intelectual. O possuidor da fé verdadeira desconfia totalmente de si próprio, mas em contrapartida, confia inteiramente no Senhor.

   Somos exortados a observar que “sem fé, é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11:6). E nem poderia ser diferente. A revelação divina referente ao Plano de Salvação exclui qualquer merecimento da parte do ser humano. O texto é enfático: “Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef. 2:8, 9).

   Anote-se, ainda, que a fé não é sinônimo de pensamento positivo. É mais do que otimismo. É confiança total e absoluta nAquele que “é o Autor e Consumador da fé” (Hebreus 12:2).

   São por demais impressionantes as palavras do Pastor e Professor Doutor Warren W. Wiersbe, quando sugere que “o mundo incrédulo não entende a verdadeira fé bíblica, provavelmente porque vê tão pouca fé operando na Igreja de hoje. H. L. Mencken, um editor cínico, definiu a fé como ‘uma crença ilógica na ocorrência do impossível’. O mundo não entende que a fé tem o mesmo valor que o seu objeto e que o objeto da nossa fé é Deus. A fé não é um sentimento que criamos. É nossa resposta de corpo e alma àquilo que Deus revelou em Sua Palavra”.

   Evidentemente, discordamos com veemência da afirmação de H.L. Mencken. Ao contrário, afirmamos com o autor da Epístola aos Hebreus que “a fé a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem” (Hebreus 11:1). A fé não é superstição. “Bem-aventurados os que não viram e creram”! A fé é, pois, a certeza do improvável e do invisível! Aleluia!

   O autor dessa reflexão, em 1986 atuou como um dos delegados da Conferência Batista do Sétimo Dia Brasileira, na Convenção Mundial realizada em Westerly, Massachussets, EUA. Lá ouviu reiteradamente uma frase, proferida pelo Pastor Doutor Herbert Saunders, que marcaria sua vida para sempre. Disse aquele Pastor: “Nós, batistas do sétimo dia, temos uma verdade inegociável”! Isso é encantador! Somos a Igreja da Bíblia! Sim, pois a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática.

   Ora, se cremos mesmo nisso, não podemos abrir mão dos ensinos puros das Sagradas Escrituras, que sempre foram pregados pelos nossos pioneiros. Nossa consciência deve estar cativa à Palavra de Deus, assim como nossa teologia e nossa filosofia de vida. Enfim, nossa prática do cotidiano deve estar submetida à vontade do Salvador, que também é Soberano Senhor.

   4. “A coroa da Justiça”:

   Por último, abordaremos o aspecto do verso-chave que se refere à premiação por haver completado a carreira, sem perder a fé.

  O ponto de partida dessa reflexão deve nos conduzir à certeza de que Paulo não está usando de vanglória, para afirmar sua justiça pessoal e, por isso, ser merecedor da mencionada coroa da Justiça.

   De todo modo, transcrevemos das palavras do já mencionado Pastor Warren W. Wiersbe que, a propósito, ensinou:

   “O atleta grego ou romano que vencia a competição era recompensado pela multidão e, normalmente, recebia uma coroa de louros ou uma guirlanda com folhas de carvalho. A palavra grega para ‘coroa’ é STEPHANOS — a coroa do vitorioso, de onde vem o nome Estêvão. [...]. Mas Paulo não receberia uma coroa de folhas que murchariam, e sim a coroa imarcescível de justiça.

   Jesus Cristo é o reto juiz que sempre julga retamente, Os juízes de Paulo em Roma não eram justos. Se fossem, o teriam libertado. Paulo foi julgado em diversos tribunais, mas estava prestes a encontrar-se com seu último Juiz, seu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Quem está pronto para encontrar-se com o Senhor não precisa temer o julgamento de homens.

   A coroa da justiça é a recompensa de Deus por uma vida fiel e justa, o incentivo para viver em retidão e santidade é a volta de Cristo. Uma vez que Paulo amava essa volta e esperava por ela, era justo em sua vida e fiel em seu serviço. Por isso, o apóstolo usa a volta de Jesus Cristo como base para sua admoestação nesse capítulo. [...]”.

   Julgamos oportuno, ainda, trazer para a reflexão, a seguinte nota elaborada pelo Pastor e Professor Doutor Russel Norman Champlin que, a respeito das coroas, escreveu:

   “AS COROAS: A ‘corona triumphalis’ era feita de folhas de louro e servia para coroar os generais triunfantes. A ‘corona obsidionalis’ era conferida aos generais que tivessem salvo o seu exército do cerco ou da rendição vergonhosa. Era tecida com grama ou outro material que pudesse ser encontrado no local da vitória. Essa coroa também era chamada de corona graminea’. A ‘corona myrtea’ ou ‘corona ovalis’ era feita de louro, de folhas lustrosas e espessas, a qual era outorgada a generais que celebrassem triunfos militares de maior ou menor envergadura. A dourada ‘corona muralis’, fixada como ornamento, era conferida aos líderes militares que atacassem alguma muralha. A ‘corona castrensis’ [...], feita de ouro e ornada em imitação a paliçadas (fortificações) era dada ao primeiro soldado que escalasse o terrapleno do acampamento inimigo. Nas competições atléticas, a coroa de louro era usada como prêmio. Aquelas coroas formadas com ramos de oliveira, hera e salsa, ou então as coroas de flores, eram de folhas que murchariam, e sim a coroa imarcescível de justiça. Jesus Cristo é o reto juiz que sempre julga retamente, Os juízes de Paulo em Roma não eram justos. Se fossem, o teriam libertado. Paulo foi julgado em diversos tribunais, mas estava prestes a encontrar-se com seu último Juiz, seu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Quem está pronto para encontrar-se com o Senhor não precisa temer o julgamento de homens. A coroa da justiça é a recompensa de Deus por uma vida fiel e justa, o incentivo para viver em retidão e santidade é a volta de Cristo. Uma vez que Paulo amava essa volta e esperava por ela, era justo em sua vida e fiel em seu serviço. Por isso, o apóstolo usa a volta de Jesus Cristo como base para sua admoestação nesse capítulo. [...]”.

Julgamos oportuno, ainda, trazer para a reflexão, a seguinte nota elaborada pelo Pastor e Professor Doutor Russel Norman Champlin que, a respeito das coroas, escreveu:

   “AS COROAS: A ‘corona triumphalis’ era feita de folhas de louro e servia para coroar os generais triunfantes. A ‘corona obsidionalis’ era conferida aos generais que tivessem salvo o seu exército do cerco ou da rendição vergonhosa. Era tecida com grama ou outro material que pudesse ser encontrado no local da vitória. Essa coroa também era chamada de ‘corona graminea’. A ‘corona myrtea’ ou ‘corona ovalis’ era feita de louro, de folhas lustrosas e espessas, a qual era outorgada a generais que celebrassem triunfos militares de maior ou menor envergadura. A dourada ‘corona muralis’, fixada como ornamento, era conferida aos líderes militares que atacassem alguma muralha. A ‘corona castrensis’ [...], feita de ouro e ornada em imitação a paliçadas (fortificações) era dada ao primeiro soldado que escalasse o terrapleno do acampamento inimigo. Nas competições atléticas, a coroa de louro era usada como prêmio. Aquelas coroas formadas com ramos de oliveira, hera e salsa, ou então as coroas de flores, eram comumente utilizadas para os que obtinham vitórias nas competições atléticas. Nas metáforas do NT, tais coroas de vitória são aludidas, e não as coroas de reis e príncipes, formadas de ouro e pedras preciosas. Exceções a isso são a coroa de espinhos, do Senhor Jesus, feita para motejar de Sua ‘autoridade real’, e a coroa do anticristo, em Apocalipse 6:2 que expressa falsa realeza. [...]. Também pertencem a esse caráter excepcional as coroas de ouro que os seres celestiais depositarão aos pés de Cristo, em honra a Ele, como o Grande Rei; as coroas do anticristo, que representam uma realeza temporária (Apocalipse 19:12), e as coroas de Cristo, que representam Sua autoridade majestática, quando de Seu Segundo Advento”.

   Não nos esqueçamos que, em sua autocrítica, o apóstolo Paulo reconhecia ser o pior e mais indigno dos pecadores. Estava convencido de que tudo o que era e possuía, devia unicamente à graça maravilhosa de Deus! Portanto, quando expressou com inabalável confiança aguardar a “coroa da justiça”, fê-lo com a certeza de que Cristo era a sua recompensa. Por Ele, o destemido apóstolo estava determinado a enfrentar o veredito condenatório do Tribunal de Roma. Seu martírio era verdadeiro triunfo, pois sabia que o julgamento que lhe importava era aquele realizado pelo “Reto Juiz”, Cristo Jesus!

   Portanto, o corrupto, parcial e injusto veredito de Nero, quando chegasse na última e Superior instância, certamente seria revogado pelo Juiz de toda a Terra!

 

CONCLUSÃO

   Não nos será possível, por ausência de tempo e espaço, explorar nesse estudo bíblico, todas as lições que os versos-chaves escolhidos encerram. Entretanto, sugerimos uma meditação mais aprofundada também na expressão “[...] reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda”. Concordamos com o Pastor e Professor Doutor Russel Norman Champlin quando, ao analisar o verso-chave, pondera que

   "a verdadeira vida cristã é pintada aqui como uma luta, como uma competição atlética, como uma experiência árdua e testadora, embora o seu propósito seja elevado, pois há uma coroa a ser obtida. Mas essa coroa só pode ser conquistada por aqueles que lutarem de conformidade com as regras, e assim se saírem vencedores. Ora, isso exige a aceitação do verdadeiro Cristo, conforme é exposto no Evangelho e na doutrina de Paulo; e, por outro lado, exige a negação e a oposição contra os ensinamentos contrários. Também envolve o cumprimento fiel dos deveres cristãos e do ministério da Palavra, em que o crente observa todas as exigências próprias da vida cristã. É preciso, pois, seguir a santidade, propagar o Evangelho e ensinar devidamente àqueles que já confiaram em Cristo”.

   De fato, muito nos conforta saber que um dia seremos julgados por um “Reto Juiz”. O veredito nos será favorável, pois aceitamos a oferta do perdão materializada na cruz do Calvário.

   Mas esse texto também expressa a certeza da Segunda Vinda de Cristo, quando então, os salvos de todos os tempos receberão a coroa da vida eterna, denominada por Paulo como sendo a “coroa da Justiça”.

   Em suma, amada Igreja, combatemos o bom combate e, desde já, temos a certeza de que o Senhor, que é justo e reto Juiz, tem reservado a cada um de nós a coroa da justiça, totalmente diferente da coroa de louro dos vencedores guerreiros ou atletas do mundo antigo. Aquela coroa murchava e com o passar do tempo, desaparecia, sendo que a dos vencedores por Cristo dura por toda a eternidade. Esse, aliás, é o sentido da exortação do mesmo apóstolo Paulo, quando pondera: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível” (1 Coríntios 9:25).

   Que o Senhor nos fortaleça nesse bom combate!

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. À luz das explicações contidas na introdução desse estudo bíblico, como se pode entender as prisões de Paulo em Roma? O que era a prisão domiciliar? Durou quanto tempo? (Ver Atos dos Apóstolos 28:30).

R.

2. Medite sobre as perseguições sofridas pela Igreja Cristã nos dias em que Paulo escreveu essa Segunda Carta a Timóteo.

R.

3. No seu entendimento, o que significa “combater o bom combate”? O que significa guardar a fé?

R.

4. Qual a certeza que podemos ter de receber a coroa da Justiça? No entendimento de Paulo, quando ele a receberia do Reto Juiz? (2 Timóteo 4:8).

R.

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