Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;
Mateus 7:24
INTRODUÇÃO
A parábola em análise é a conclusão magistral do famoso Sermão da Montanha26.Perto de concluir a sua fala no monte, Jesus contou a ilustração dos dois caminhos, cujo propósito era ensinar sobre “o caminho estreito, oposto ao largo”. (Mt 7:13-14) Em seguida, exortou sobre o cuidado que devemos ter para não sermos enganados pelos falsos profetas (Mateus 7:15-16), enfatizando o exemplo das duas árvores, representando o verdadeiro e o falso profeta – “o fruto bom, oposto ao ruim”. (Mateus 7:17-20)27.
Por conseguinte, Jesus continuou dizendo que nem todos, pelo simples fato de professarem ser cristãos, de estarem na igreja, são verdadeiros cristãos, prestes a serem salvos. Contudo, quem demonstra fazer pelas atitudes a vontade de Deus, obedecendo aos mandamentos em amor, este, sim, é o verdadeiro cristão e estará nos céus, salvo (Mateus 7:21-23).
Não obstante, esta última seção sobre a atitude do homem sábio e a do tolo, em relação aos ensinamentos de Jesus (Mt 7:24-27), “...é uma ilustração da absoluta necessidade de fazer a vontade de Deus, isto é, o que nos disse para fazer”28. Noso Mestre queria que seus ouvintes não apenas ouvissem, mas também praticassem o que lhes havia dito, em todo o Sermão do Monte.
Portanto, Jesus diferenciou o cristão verdadeiro e o pseudocristão. Ele advertiu, nesta parábola, que a profissão de fé sem a consequente mudança no modo de viver tornava-se vazia. Jesus queria que os ouvintes não apenas ouvissem, mas também praticassem o que lhes dizia. É insuficiente apenas ouvir as palavras de Jesus; aquele que crê deve aceitá-las e construir sua fé apenas em Jesus. Ele é o fundamento sobre o qual o homem prudente constrói-se30. Nas palavras de Paulo:
Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. (1 Coríntios 3:10-11).
Vejamos, então, os dois fundamentos sobre os quais as casas foram construídas, e o que o Senhor quer nos ensinar com ela.
O PRIMEIRO FUNDAMENTO
Na Parábola alume, Jesus descreve a pessoa que ouve as Suas palavras e as põe em prática, isto é, que age baseado nelas ou que vive de acordo com os Seus ensinamentos como
um homem sábio, ou prudente.
Como identificar “o homem prudente”? (v. 24) Não se trata simplesmente de uma qualidade da alma ou do espírito
Prudência é uma qualidade vital de sobrevivência. A parábola sugere que o homem prudente tinha um comportamento equilibrado; sabia o que queria e o que estava fazendo. Era alguém que guiava sua vida com equilíbrio racional. Não se deixava induzir por meras emoções, porque preferia a consistência. Uma pessoa prudente desenvolve as capacidades de moderação, cautela e sensatez; por isso, é sábia e constrói a vida sobre um fundamento firme.
Prudência é uma qualidade moral que deve ser cultivada, especialmente pelas pessoas de temperamento colérico ou sanguíneo. A precipitação é típica de quem não pensa no que deve fazer. Daí, acaba provocando frustrações. A moderação, a ponderação, a precaução e a sensatez são sinônimas, que devem nortear a nossa vida na construção dos valores morais e espirituais.
O texto mostra que o homem prudente, embora tenha sido combatido no seu caráter, manteve-se firme. Ele não desanimou porque, mesmo tendo sido surrado pelas tempestades, não perdeu a confiança na rocha sobre a qual construíra sua casa. O ato de “edificar sobre a rocha”, como sugere o texto, significa quem “ouve as palavras de Jesus e as pratica”. (v. 24)
A vida cotidiana implica numa aprendizagem continua, enquanto vivemos; por isso, devemos aprender a “ouvir a Palavra de Deus e a praticá-la”. Dessa forma, construiremos uma vida estabilizada sobre a rocha, que é Jesus! (Isaías 28:16; 1Co 3:11; 1 Timóteo 1:1; Atos dos Apóstolos 4:11-12)31. O primeiro construtor é descrito como um homem sábio por construir a sua casa sobre a rocha. Como resultado, a chuva, que provocou o transbordar dos rios, ou os fortes ventos que vieram, não puderam derrubá-la. Mas, como a casa conseguiu resistir a uma forte tempestade e não cair?
a) A base da construção (v.24). Conforme podemos observar nesta passagem, os dois construtores enfatizados
por Jesus construíram as casas no mesmo local, num vale. Nele, havia o leito de um rio. Durante a estação de estio, o leito ficava seco, ou quase, de modo a não oferecer risco algum às moradias.
Na Palestina, quando se constrói uma casa, é preciso pensar com antecipação. No verão, os rios geralmente secavam e deixavam o leito arenoso e vazio. Há muitos terrenos que, no verão, são lugares aprazíveis e sombreados; contudo, no inverno, depois das chuvas de setembro, o rio seco convertese em esmagadoras correntes de águas! Ao procurar um lugar para construir uma casa, a pessoa poderia achar que um desses terrenos baixos e arenosos, protegido dos ventos e do sol, seria o mais apropriado. Porém, se não fosse precavida, não perceberia de que a casa estaria sendo construída justamente num leito seco, de um rio com duração restrita a uma estação. Assim, no inverno, a água desintegraria a casa.
Portanto, construir num lugar assim, sem cavar até a rocha, era preparar-se para o desastre. Indubitavelmente, o primeiro construtor foi sábio e precavido. Ele percebeu que a estação seca não duraria por muito tempo, mais do que três meses, e que as fortes chuvas e os ventos viriam com ímpeto contra a sua casa. Soube que corria o risca de tê-la completamente inundada e destruída. Desse modo, ele preparou-se para evitar um grande infortúnio. Antes da construção, o primeiro homem removeu a terra solta e cavou até encontrar a rocha. (Lucas 6:48) Dessa forma, assentou o alicerce na rocha34. Ou seja, construiu a casa sobre um sólido e firme fundamento.
b) O resultado da construção (v.25). As chuvas e os fortes ventos não poderiam destruir aquela casa por estar construída sobre a rocha. Diante disso, o que a primeira parte da parábola tem a nos ensinar? Quais os ensinamentos que extraímos e deveríamos aplicar à nossa vida?
Às vezes, uma tempestade de crises ou calamidades revela o tipo de pessoa que somos, pois “a verdadeira piedade não se distingue totalmente de sua imitação, até que venham as provações”. Caso contrário, a tempestade do Dia do Juízo certamente o fará. A verdade sobre a qual Jesus insistiu, nos dois parágrafos finais do sermão, é que nem um conhecimento intelectual, nem uma profissão de fé verbal, embora ambos sejam essenciais em si mesmos, podem substituir a obediência.
O cerne da questão não é se dizemos coisas bonitas, polidas, ortodoxas e entusiásticas sobre Jesus; nem se ouvimos suas palavras, se prestamos atenção, se estudamos, se meditamos e se memorizamos até empanturrar a nossa mente com os seus ensinamentos. A questão é se nós praticamos o que dizemos, se perpretamos o que estamos aprendendo e se fazemos o que já sabemos. Em outras palavras, se o senhorio do Jesus que professamos é a grande realidade de nossa vida. O que o Mestre destacou é que quem verdadeiramente ouve o Evangelho e professa a sua fé sempre há de lhe obedecer, expressando a sua fé em suas obras.
O SEGUNDO FUNDAMENTO
Por outro lado, o insensato ouve, mas não pratica. Tão próximo para ouvir e tão distante para praticar! A palavra de Jesus chega a ele tão nítida e tão clara como ao prudente. Chega com a mesma autoridade e firmeza; tão plena e verdadeira como foi até o prudente. Mas ele, por não a praticar, distancia-se de Jesus e não se relaciona com Ele
no dia a dia. Assim, não aceita sua autoridade e não crê. É néscio. Coloca sua esperança em si mesmo, construindo uma casa sem fundamento, apenas com a areia, que não resiste às tormentas da vida e destroça-se facilmente.
O Dr. Loyd-Jones, citando as características do pseudocristão, aquele que apenas ouve e não pratica, disse que o primeiro aspecto é que, tal como o homem descrito na parábola de Jesus, ele é um indivíduo com um único propósito: agradar a si mesmo. Se analisarmos tudo quanto faz, e escutarmos o que diz, descobriremos que deseja ter todas as coisas girando em torno de sua pessoa. Na verdade, essa é a chave! O “eu” acha-se no próprio centro da sua vida, pois o “eu” controla a sua perspectiva e todas as suas ações. Ele deseja lazer, conforto e determinados benefícios; eis a razão pela qual pode ser encontrado na própria Igreja. Ele anseia por obter bênçãos, e nisso difere do homem que se mostra francamente mundano, que não reivindica possuir quaisquer crenças.
Esse indivíduo já descobriu que existem certas bênçãos que o Cristianismo oferece. E sente-se interessado por elas; quer saber algo mais e como as obter. Sempre pensa em termos de quem indaga: “Que posso conseguir disso? O que isso me dará? Quais benefícios, provavelmente, derivarei disso se eu começar a participar?”. Esses são os motivos que o animam. E, visto que essa é a sua atitude, na realidade ele não se dispõe a enfrentar o pleno ensino do Evangelho, nem deseja conhecer o conselho de Deus. Tampouco pensa em estudar a Palavra do Senhor, pois não é um autêntico estudioso da Bíblia. Na realidade, talvez demonstre um pouco de interesse pela gramática ou pela mecânica das Escrituras. De fato, não está preocupado em conhecer a mensagem do Livro Sagrado. E jamais se permite enfrentar francamente o claro e o pleno ensino da Bíblia39. Vejamos alguns pormenores dessa construção.
a) A base da construção (v.26). Embora a descrição do Evangelho de Mateus, acerca desta parábola, não mostre todos os detalhes respectivos à maneira como cada um construiu as casas, temos um paralelo relatado pelo evangelista Lucas. Este nos deu os detalhes imprescindíveis para entendermos melhor a questão em pauta.
No Evangelho de Lucas (6:48), é mencionado um pormenor sobre o modo de construção da casa do homem sábio, e que já tratamos na seção anterior- o primeiro construtor cavou bem fundo e pôs o alicerce sobre a rocha. (NTLH) Sobre o segundo, é dito, no versículo 49, que ele construiu a casa na areia, sem o alicerce firme. (NTLH) Desse modo, se examinarmos atentamente a passagem, iremos perceber dois erros por parte do segundo construtor.
Em primeiro lugar, o segundo não queria trabalhar duro, cavando fundo o chão até a rocha, a fim de alicerçar a casa firmemente. Sabemos que construir sobre a areia era muito mais fácil, menos trabalhoso, oferecia menos problemas e, além do mais, a conclusão da obra seria mais rápida. Por muitas vezes, agimos como o segundo construtor! Construímos nossa casa espiritual não sobre a rocha, mas sobre a areia. É muito mais fácil não levar uma vida de oração, leitura e estudo das Escrituras, obediência aos mandamentos do Senhor, que construir a casa espiritual em uma vida pautada nas disciplinas espirituais, isto é, na rocha. Não praticar tais disciplinas básicas de uma vida cristã autêntica e normal implica construir o espiritual na areia.
A loucura desse segundo construtor não consistiu apenas em não dar ouvidos às palavras de Jesus; mas também ao desprezo às coisas sérias da vida. Sua loucura consistia no fato de ouvir a Palavra de Deus e não demonstrar a menor preocupação em praticá-la. Em cada decisão que tomamos ,há uma perspectiva de curto alcance e outra, de longo alcance. Feliz é o homem que nunca troca o bem futuro pelo prazer presente. Feliz é quem vê as coisas não à luz do momento; e, sim, da eternidade.
b) O resultado da construção (v.27). O segundo construtor, como resultado de ignorância e negligência sofreu os efeitos da chuva. Os rios transbordaram, o vento soprou contra a casa, e ela caiu. Foi totalmente destruída. Ouvir apenas proporciona uma posse aparente, mas ela se quebra justamente quando deve ser comprovada. Porém, para aquele ouvinte que põe em prática o que ouviu, a palavra de Jesus torna-se poder e força bendita. Infelizmente, esse não foi o caso do segundo construtor.
CONCLUSÃO
A pessoa que ouve as palavras de Jesus e pratica-as é o construtor sábio. A casa construída sobre a rocha representa a vida alicerçada em Cristo e no Evangelho. A tempestade alude a provas da vida, adversidades, tentações, perdas, enfermidades e tantos outros males. Tudo depende de pôr em prática o que Jesus disse. Somente é sensato ou sábio quem transpõe a palavra do Senhor à prática43. Apenas a vida cujo fundamento é firme pode suportar as provas
Jesus apresentava duas exigências. Exigia que os homens o ouvissem. E que pusessem em prática o que ele dizia. O conhecimento deve transformar-se em ação; a teoria precisa passar à prática; e a teologia deve chegar a ser vida. Existem muitas pessoas na Igreja que ouvem os ensinos de Jesus, porém não colocam nada daquilo em prática. Se dissermos que somos cristãos, concluímos que temos as duas obrigações: ouvir e praticar. E ambas se resumem em uma só palavra: obedecer!
Em sua vida cristã, não fará diferença alguma quantos sermões você ouviu, quantas vezes leu a Bíblia, embora essas atitudes devam ser feitas por todos os cristãos. O que trará uma enorme diferença, no momento da tempestade, é quanto daquilo que ouvimos, lemos e aprendemos de Jesus temos posto em prática.
Que cada um de nós pergunte-se: “Estou fazendo aquilo que o Senhor me mandou fazer?”. Devemos ainda nos indagar: “Somos meros ouvintes e maus praticantes do ensino da Palavra, ou somos bons ouvintes e praticantes daquilo que ouvimos da parte do Senhor?”. Cada um precisa avaliar sua vida nesse sentido.
Quando lemos as Escrituras e ouvimos as palavras do Senhor, quando nos tornamos membros de uma igreja, dizemos que cremos em Cristo. Porém, tal atitude responsabiliza-nos a garantir o que ouvimos e a praticá-lo. (Tiago 1:22-25; 2:14-20).
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
1. Ao concluir o Sermão da Montanha, Jesus ilustrou dois tipos de comportamento quanto ao que acabara de ensinar. Quais comparações foram essas? (v. 24-27)
R.
2. Sobre qual terreno o homem prudente construiu sua casa? O que aconteceu com a moradia quando as tempestades vieram? (v.24-25).
R.
3. Sobre qual terreno o homem insensato construiu a sua? O que lhe aconteceu quando as tempestades chegaram? (v.26-27).
R.
4. O que fez a diferença na vida dos homens? Quem, na verdade, os dois representam?
R.
5. O que Jesus pretendeu ensinar por meio desta parábola? Quais os ensinamentos que podemos extrair para a vida?
R.
6. Sobre qual alicerce você está construindo sua vida? Jesus iria classificá-lo de prudente ou de insensato?
R.