19 Quando no teu campo colheres a tua colheita, e esqueceres um molho no campo, não tornarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra das tuas mãos. 20 Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás para colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. 21 Quando vindimares a tua vinha, não voltarás para rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. 22 E lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito; portanto te ordeno que faças isso.

Deuteronômio 24:19-22 

INTRODUÇÃO

   As Escrituras Sagradas nos fornecem preciosas lições de como proceder diante da sociedade, e de como e a quem considerarmos nosso próximo. Aprendemos que nosso próximo em um contexto cristão, pode ser todo aquele que necessita de alguma forma de auxílio de nossa parte e, assim, o objetivo do cristão como representante do Reino de Deus aqui na terra é ser um imitador d‘Aquele que foi muito além daquilo que qualquer outro ser humano pudesse ir ao afirmar com propriedade: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45).

   Nesta lição, buscaremos apresentar as atribuições e competências do profissional da área da assistência social e os aspectos que envolvem essa importante iniciativa, tanto considerando o enfoque bíblico como também, a vocação natural que alguns indivíduos desenvolvem ao longo de sua existência e, até mesmo, independentemente de influências religiosas. É oportuno abordar sobre as atividades diaconais da Igreja nesse tão importante papel social. Diáconos e/ou diaconisas ocupam uma função especial no trabalho social desenvolvido pela igreja. A palavra diácono, que tem origem grega, está relacionada ao serviço social, nomenclatura que ganhou destaque na narrativa do Novo Testamento, especialmente nos Atos dos Apóstolos. Trataremos de alguns personagens bíblicos que, por sua vez, cumpriram com muita veemência aquilo que foi ensinado por Jesus: “Eu lhes dou um novo mandamento: que vocês amem uns aos outros. Assim como eu os amei, que também vocês amem uns aos outros” (João 13:34). O Filho de Deus foi enviado ao mundo para cumprir o perfeito plano de amor, tomando sobre Si o castigo destinado a nós, portanto, pode-se dizer que o ministério de Cristo nos serve de modelo. Ele considerou e socorreu aos humildes em suas necessidades mais emergenciais. Aprendamos o caminho de amor ao próximo com Aquele que deu Sua vida em resgate de todos os que buscam a luz em um mundo dominado pelas trevas do pecado e pelas injustiças sociais.

 

QUAIS AS PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES NA ASSISTÊNCIA SOCIAL?

   As experiências vividas em virtude do próximo, e também, as ações da Igreja, que são serviços que se prestam a Deus e à sociedade, são capazes de trazer efeitos significativamente relevantes para o estado emocional do praticante de ações desta natureza. A assistência social, intrinsecamente ligada ao ser humano e à Igreja, em sintonia com o Estado, pode trazer grandes resultados no controle e assistência às pessoas carentes. De acordo com Samuel Pinheiro:

“É importante destacarmos que a impulsionadora ideia da separação da Igreja e do Estado foi a igreja, isso não significa que a Igreja deva ignorar o Estado, nem que o Estado venha a ser um obstáculo à Igreja para as questões sociais, é sempre desejável que existam protocolos de cooperação entre um e outro e que exista um espaço saudável no sentido de a Igreja se mobilizar no que diz respeito à sociedade, de trazer para ela toda uma intervenção a título de solidariedade, assistência social, promoção da pessoa humana, e dos valores que suportam o plano social”

   O trabalho social possui desdobramentos diferentes a depender da instituição que o pratica. Apesar da ajuda que o Estado proporciona, sobretudo aos que sobrevivem à margem da sociedade mais abastada, este está voltado para a perpetuação da pobreza, tendo em vista o fato de que não há grande interesse por parte da maioria dos políticos que a situação da pobreza seja revertida. No final das contas, será quase sempre o voto da população sofredora que lhes irá interessar em tempos de campanha eleitoral. Sem querer generalizar, pois sempre haverá exceções, e, por isso, nem toda a ajuda estatal ocorre de forma interesseira, mas a realidade tem demonstrado que o modus operandi (maneira de agir) do Estado, principalmente, em países subdesenvolvidos e emergentes ou em desenvolvimento, utiliza-se desse modelo.

   É importante explorar as atribuições que são aplicáveis no âmbito da Igreja, para isso é preciso diferenciar essa profissão (serviço social) da vocação/chamado a oferecer assistência social (o que é conhecido biblicamente de “dom da misericórdia”). Nessa perspectiva é necessário considerar que, mesmo que haja vocação, é muito importante o aperfeiçoamento vocacional por meio de cursos, palestras e leituras, bem como todo o material de apoio que possa dar maior suporte a esse importante ofício. É necessário planejamento, disposição e, em muitos casos, investimento, mas sem dúvidas, o melhor investimento que se pode fazer para uma prática social integrada está atrelado a uma vida de devoção, conectada a Deus e aos exemplos de prática de boas obras relatadas nas Escrituras Sagradas deixadas pelo Bom Pastor, o Cristo ressurreto, redentor e restaurador do cansado, do necessitado e do aflito.

   Segundo o vigente Código Brasileiro de Ética dos Assistentes Sociais, (Lei nº 8.662, de 15 de março de 1993), que rege as atividades das entidades assistenciais, conclui-se que:

   Serviço social é uma profissão de nível superior (curso de bacharelado com 4 anos de duração), regulamentada pela Lei 8.662/1993. Assistente social: profissional com graduação em Serviço Social (em curso reconhecido pelo MEC) e registrado no Conselho Regional de Serviço Social.(CRESS) / Assistência social: uma política pública prevista na Constituição Federal de 1988 e direito de cidadãos e cidadãs, assim como a saúde, a educação, a previdência social etc. É regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), constituindo-se como uma das áreas de trabalho dos assistentes sociais. / Assistencialismo: uma prática (individual, grupal, social), que envolvem organizações governamentais e entidades sociais junto às camadas sociais mais desfavorecidas e carentes, caracterizada pela ajuda momentânea ou filantrópica.

   As atribuições ligadas ao serviço assistencial, papel esse desenvolvido pelas nossas igrejas em um de nossos departamentos geralmente conhecido como Departamento de Assistência Social, são ações e cuidados com o próximo. Algumas Igrejas realizam espontaneamente esse tipo de trabalho, porém ainda não possuem em sua estrutura um departamento organizado para esse fi m, mas pensemos um pouco: Qual é o papel da Igreja no mundo? Qual é a função que ela deve assumir diante da sociedade? Cabe a cada um de nós, cristãos, refletir e considerar a Assistência Social como parte do projeto de Cristo para Sua igreja. Talvez, durante toda sua história, a Igreja nunca esteve tão bem provida de recursos materiais, didáticos e de locomoção para uma prática mais efetiva na área social do que na atualidade, entretanto, o número de pessoas carentes tem aumentado dia após dia mostrando suas várias facetas à igreja. Como agir diante disso? Devemos ficar parados? Achar que quem deve cuidar disso é o Pastor, o Diácono? De forma nenhuma! Somos todos parte da igreja de Cristo e colaboradores nesta grande missão.

   O Doutor Robert Kalley, um pioneiro da fé evangélica no Brasil, em sua chegada ao país desenvolveu ações de cunho social dignas, não só de serem lembradas, mas também reproduzidas, tais como Registro de Nascimento; Registro de Casamento Civil (para praticante ou não da fé cristã); direitos políticos e civis; liberdade para venda de Bíblias e Tratados Evangélicos; registro de Igrejas Protestantes e sepultamento de protestantes em locais apropriados. Isso é a verdadeira ação assistencial, ações realmente significativas que transformam vidas. Não podemos nos eximir de nossa tarefa neste mundo que despeja todos os dias em nossa porta seus problemas, suas chagas e, enfim, seus dilemas. A Igreja não pode se esconder ou permanecer alheia aos desafios que se nos apresentam, a tudo aquilo que nos bate à porta, às mazelas deixadas por um sistema político-social desestruturado, cruel e até mesmo opressor em que vivemos, sistema em que o pai não tem dinheiro para alimentar o filho. Nesse cenário, o menino de rua fuma crack em fuga desenfreada e estúpida. Além disso, milhares de mulheres são espancadas por seus respectivos parceiros sem mesmo terem coragem para denunciá-los.

   A Igreja está inserida em um contexto relacionado ao tempo e ao espaço, e, neste sentido, ela precisa se adequar aos tempos, épocas, ou seja, precisa estar atualizada. Cristo, acima de tudo, deu atenção especial às pessoas, aos necessitados, curando-os, resgatando-os de seus estados de precariedade. A Igreja deve estar ciente de sua missão de trazer alívio para o sofrimento humano como um todo e não apenas às mazelas da alma. Isso pode até ser comprometedor, mas seguramente gratificante, tanto para o que recebe, quanto ao praticante da ação social. Essa característica faz da Igreja uma autêntica representante de Cristo na Terra, um refúgio para o aflito, um porto seguro para aquele que precisa de amparo, de direção, de uma palavra de consolo e de esperança em um mundo desorientado.

   O amor ao próximo necessita ser exercitado, sendo ele parte essencial do legado deixado por Cristo como fruto espiritual de um coração transformado pelo poder do Espírito Santo. A preocupação com o semelhante deve estar impregnada em nosso ser, deve fazer parte de nossa vida cristã e pautada em nossa regra de fé e prática: a Bíblia Sagrada. Como podemos ficar parados diante dos problemas que chegam até nós? Como ficarmos de braços cruzados diante de tanta pobreza, miséria, desamparo, crianças em situação de risco, prostituição e tantos descasos com os menos favorecidos? Devemos enfrentar cada situação de maneira adequada e/ou peculiar. A Igreja precisa se preparar para as mudanças a que somos submetidos, pois a cada dia os problemas sociais se agravam e o clamor popular, de alguma forma, reivindica uma postura mais firme de nossa parte, ou seja, um sólido enfrentamento digno de um cristão. Isso inclui medidas de capacitação para que o trabalho social seja realizado da forma mais competente possível.

   A Igreja de Cristo deve estar preparada para abençoar com o Pão da Vida que é a Palavra de Deus, mas também com provisão de mantimentos, roupas, suprimentos domésticos, assessoria jurídica, apoio emocional, psicológico etc. Concordamos com o Pastor Silvandro Cordeiro, quando afirma: “Este é o momento mais oportuno na história da igreja evangélica brasileira, de usar a fé na defesa da liberdade sem, contudo, perder os valores e os princípios do Reino de Deus, estabelecidos nas Escrituras Sagradas”.

   Não é tarefa das mais fáceis atender aos necessitados, pois é um trabalho que demanda tempo, disposição, desprendimento, coragem e, às vezes, sacrifício. Como servos de Deus, todo serviço prestado ao próximo deve ser feito como que se estivéssemos fazendo ao Senhor, sendo feito de boa vontade, com amor, cuidado e dedicação. A prática do altruísmo, que também é parte da mordomia cristã, é comprovadamente salutar à vida do praticante. Obedecer a Deus e aos Seus mandamentos resultam em tranquilidade de espírito e paz para com nosso Pai Celestial. Essa paz pode ser ainda mais completa quando somos tomados pela alegria de saber que podemos contribuir de alguma forma com o bem-estar do nosso próximo, proporcionando-lhe aquilo que estiver ao nosso alcance, visitando, orando com ele e por ele, alimentando-o com itens básicos para sua sobrevivência e com a Palavra de Deus.

 

ALGUNS PERSONAGENS BÍBLICOS NA ASSISTÊNCIA SOCIAL

   Deus dirige o Seu povo enquanto preparam-se para a sua jornada pelo deserto, conforta-os nas suas dificuldades, lida com os seus temores e fracassos, repreende e pune quando necessário. Apesar dos obstáculos interpostos, dos grandes perigos e dos fracassos do povo, Deus o conduz com segurança ao atravessar o deserto. O Seu poder e soberania são sufi cientes diante de toda e qualquer eventualidade. Em preparação para a conquista da terra prometida, Deus ordenou que fosse feito um recenseamento dos guerreiros de Israel, exceto da tribo dos levitas que não foram contados juntamente com as demais tribos, visto que foram separados para cuidar do tabernáculo e estavam isentos do serviço militar. A herança deles também foi separada dentre os israelitas. Moisés era o profeta com quem Deus falava face a face, Arão e seus filhos como sacerdotes do Senhor, ministravam no Tabernáculo. Os levitas incumbidos de deveres para com o sacerdote e para com todo o povo, também deveriam cuidar de todos os utensílios da tenda da congregação e cumprir com o seu dever social e espiritual para com os filhos de Israel.

   Após a ascensão de Jesus Cristo no NT, Seus discípulos, chamados também de Apóstolos, deram continuidade à obra do Senhor. No Livro de Atos dos Apóstolos lemos o relato da ressurreição de uma mulher chamada Dorcas ou Tabita. A Bíblia não esclarece muito sobre esta mulher, mas Dorcas foi notável em suas ações de boas obras, dedicando seu tempo em ajudar os pobres, dando-lhes esmolas e ajudando em suas necessidades, costurando roupas para cobrir-lhes o corpo contra o frio. (Confira-se Atos dos Apóstolos 9:36-43).

   O Apóstolo Paulo expressa enorme gratidão a Deus pela Sua graça concedida às Igrejas da Macedônia, visto que mesmo com muita prova e tribulação, não se importaram em ajudar com abundância e profunda alegria, sem medirem esforços em dar de si na obra de Deus e aos irmãos pobres da Judéia. (Confira-se 2 Coríntios 8:1-7).

   Paulo ao escrever sua carta aos filipenses declara sua gratidão para com aqueles irmãos pelo cuidado para com ele em suas tribulações, tanto nas orações como nas dádivas financeiras, suprindo suas necessidades físicas, o que fazia dele um homem agradecido pela experiência vivida, já que nenhuma outra Igreja o havia honrado com a dádiva do dar e receber, senão unicamente os filipenses. Mesmo assim ele se declara feliz em servir ao Senhor tanto na fartura como na fome, na humilhação como também na honra porque, declara ele: “tudo posso naquele que me fortalece” e termina sua carta com estas palavras: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, tudo aquilo de que vocês precisam” (Filipenses 4:19).

 

DEUS NOS CHAMA PARA SERVIR

   Trabalhar para Deus tem um sabor muito especial, mas não é fácil, pois temos que renunciar a muitas coisas. Todos os crentes são chamados para servir, pois fomos criados para servir! Encontramos no texto precioso da Bíblia. “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:10). Servo não é um título que se ganha, mas sim um estilo de vida de entrega total como Jesus ensinou. Deus chamou todos os crentes para o serviço em Sua obra. Muitas vezes nossa falta de conhecimento e limitação pessoal faz com que nos sintamos impossibilitados de nos envolver na obra do Senhor. Deus quer nos usar e precisamos estar disponíveis para que Ele nos use! Deus chama pastores e obreiros bíblicos, mas chama também obreiros voluntários para estarem na missão de socorrer as pessoas em suas necessidades físicas e espirituais. O cristão verdadeiro é aquele que tem a verdade e a proclama com a vida e com os lábios. Todos podemos e devemos ser cristãos genuínos: no lar, no trabalho, na sociedade, desenvolvendo os frutos do Espírito. “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei” (Gálatas 5:22-23).

   É-nos dito que o grande Pastor John Wesley – cofundador da Igreja Metodista na Inglaterra, no século VXIII – certa ocasião exortou: “Faça todo o bem que puder, com todos os meios que tiver, de todas as maneiras que puder, em todos os lugares onde estiver, para todas as pessoas que precisarem, enquanto puder”.

   Falar de experiências próprias no serviço do Senhor, de certa forma é desconcertante, mas necessário. Aos nossos olhos somos um grão de areia no deserto impulsionado pelo desejo de servir, como um peregrino enfrentando as tempestades, distâncias, solidão e muita, mas muita falta de recurso financeiro para suprir as necessidades e expectativas das pessoas com quem trabalhamos. Poderia exemplificar algum dos muitos momentos vividos nesses quase três anos em nome da Igreja Batista do Sétimo Dia em Manaus-AM, em um bairro chamado Tarumã, onde coordenamos um Projeto chamado de Pró-Criança Tarumã e a Escola Sabatina da IBSD. Mas não, não falarei desse trabalho querido, amado e prazeroso, para me reportar a uma outra atividade anterior a essa.

   Entre os anos de 2000 e 2005, desenvolvia uma atividade de dirigente em uma Congregação Batista na BR-319 – início da Transamazônica AM-RD. Tinha que atravessar o Rio Negro em uma balsa, para chegar ao Km 81 da BR, na Congregação Esperança. Certo dia, em uma dessas viagens, me deparei com uma moça, despida, tomando banho próximo à balsa. Fiquei incomodada com a situação e fui até ela. A princípio ela se apresentava muito hostil. Mas com muito cuidado e carinho consegui estabelecer um contato com ela. Chamava-se Marta, tinha 28 anos e era acometida de esquizofrenia. Levei-a comigo até a congregação e lá ela teve o carinho e cuidado das irmãs. Isto era um sábado e na segunda-feira retornei para casa com a Marta. Sentia na mente que se tratava de alguém que carecia de um lar, amigo e muito mais. Comecei a investigar o que havia acontecido com aquela moça. Ela tinha momentos de lucidez, falava corretamente, sabia ler e escrever. Pelos relatos dela cheguei ao Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, que nem existe mais. Quando a viram foi logo identificada e atendida, pois ela possuía um histórico nesse hospital. A história dessa moça era estarrecedora.

   Enquanto isso me chamavam de maluca, irresponsável, pois não é compreensível amar o próximo, ainda mais com problema mental. Então, através do registro do hospital cheguei ao marido dessa moça, pois ela havia sido casada e tinha duas filhinhas que eram criadas pela avó em Santarém/ PA. Só que ele já havia se casado com outra pessoa. O problema dela, segundo histórico médico, era hereditário, sua mãe, que também havia se tratado naquele hospital, havia cometido suicídio ocasionado pela mesma doença. Irmãos, tudo decorrente de problemas familiares, falta de compreensão, amor e longanimidade. Os relatos familiares eram os mais absurdos possíveis, Encontrei também dois parentes dela que se diziam “crentes” de uma determinada igreja, que se recusaram em aceitá-la, não deixando nem que ela entrasse em sua casa.

   Marta ficou morando comigo durante um ano e meio, indo e vindo à Congregação comigo, participando dos cultos e também fazendo o tratamento no hospital psiquiátrico, tomando os remédios que precisava. Um dia saímos e ela pediu para descer e ir à farmácia. Esperei-a no carro durante um tempo até que me dei conta de que ela havia fugido. Fui à Delegacia de Polícia, fizemos buscas mas não a encontramos. Passados alguns meses a encontrei em uma cidadezinha chamada Castanho, também na BR-319, 23 Km adiante da Congregação. Ela estava acompanhada de um senhor de idade, que me apresentou como seu tio, e ele confirmou. Parecia-me feliz finalmente. Nunca mais vi Marta. É lógico que essa história tem seus meandros que não dariam para contar aqui, mas na verdade escolhi essa experiência para exemplificar que os maiores problemas sociais começam no seio da família. Muitas das vezes, famílias que se dizem evangélicas, mas que não conhecem o verdadeiro Evangelho de Cristo.

 

APLICAÇÃO

   Agora que estudamos acerca desta tão importante atividade, é hora de colocá-la em prática, ou seja, aplicarmos em nossas Igrejas e/ou Comunidade aquilo que aprendemos. Como Igreja do Senhor, somos chamados não apenas a conhecer, mas fazermos uso das práticas sociais. E esse trabalho deve ser constante, na medida do possível. Este porém, não é um caminho fácil, mas com uma ação conjunta, com o envolvimento de toda Igreja, poderemos sim, cumprir com o verdadeiro propósito da Igreja de Cristo e da “religião imaculada” (Tiago 1:27).

   Ser servo de Cristo na prática, é ter consciência da revelação que Ele nos deu, pois somos convocados por Deus ao trabalho. Na verdade somos chamados a cumprir uma missão aqui na terra e no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Nenhum membro está isento de cumprir com sua função. Servir ao próximo, é o mesmo que o lavar dos pés ao nosso grande Mestre, é como acolher ao próprio Deus em nossas dependências, mas cada qual executando sua função. Pequenas ações, podem trazer grandes resultados, como por exemplo: Identificar as necessidades de nossos irmãos, pois primeiramente temos que servir os domésticos da fé conforme diz a Palavra: “Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gálatas 6:10).

   Para isso, pede-se a ajuda de cada pessoa que faz parte do corpo da Igreja com aquilo que possa contribuir. Tal contribuição pode ser com alimentos não perecíveis, materiais de higiene e limpeza, de modo a ter sempre disponíveis algumas cestas básicas para suprir as necessidades daqueles que precisam. Tudo isso amparados pela Palavra de Deus: “Em tudo tenho mostrado a vocês que, trabalhando assim, é preciso socorrer os necessitados e lembrar das palavras do próprio Senhor Jesus: ‘Mais bem-aventurado é dar do que receber’” (Atos dos Apóstolos 20:35).

   Finalmente, é necessário pedir orientação a Deus para a realização de tantos outros projetos sociais em nossas Igrejas. Portanto, necessitamos ser guiados pelo Espírito para atender aos moradores de rua com alimentos, roupas, cobertores, fazer visitas aos hospitalizados, abrigados em casas de recuperação, orfanatos, promover eventos especiais para as crianças de nossa comunidade e, além do alimento físico, alimentar a todos com o alimento espiritual que é a Palavra de Deus. PS.: O termo “serviço social” é aqui tomado enquanto ação ligada à ideia do serviço cristão. Entretanto, sabe-se que “Serviço Social” é o título do curso de nível superior para formação do Assistente Social, cuja profissão é regulamentada pela Lei 8.662/1993.

 

CONCLUSÃO

   O cotidiano faz parte da nossa vida. Em todos os momentos históricos o homem vive as demandas do “dia a dia”. E quando damos respostas para as questões que emergem todos os dias, seja na esfera privada, profissional, lazer ou descanso, lidamos com muitas informações, e pela agitação diária, pouco paramos, falamos e fazemos.

Como servos de Deus, o serviço ao próximo é um dos maiores testemunhos de fé do verdadeiro cristão, pois somos formados em um só Corpo em Cristo Jesus. (Confira-se Romanos 12:4 5).

   Não se pode separar a ação social da consciência cristã, pois nada foge ao domínio de Deus. Ao analisarmos as Escrituras, observamos que o papel social na história da Igreja começa a partir de sua fundação. O Apóstolo Tiago, no capítulo 1:27, exorta para que a Igreja olhe, vele, assista às pessoas que estão carentes de ajuda, como os órfãos e as viúvas em suas necessidades; a ajudar os irmãos necessitados (Tiago 2:14-171 João 3:17); a cuidar não somente dos seus interesses (Filipenses 2:4); a ajudar os fracos (Atos dos Apóstolos 20:35) e lembrarmos dos que estão nas prisões; dos que estão sendo maltratados como maltratados com eles (Hebreus 13:1-17).

   Infelizmente, a maioria das Igrejas, e cristãos individualmente, demonstram preocupação social apenas por meio da oração pelos problemas sociais que afligem o mundo. Esta preocupação é legítima e incentivada na Bíblia. Bem menor porém, é o número de Igrejas e crentes que desenvolvem algum tipo de serviço social. Este serviço também é incentivado e acha apoio na Bíblia, principalmente no exemplo dos primeiros cristãos.

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

 

1. Quais qualidades podem indicar o chamado ao serviço social para vida do crente em sua Igreja?

R.

2. Somente pessoas com vocação podem praticar o serviço social?

R.

3. Se somos feitura de Deus, criados em Cristo Jesus, por que ainda há crentes relutantes em fazer boas obras?

R.

4. Como o fruto do Espírito descrito no livro de Gálatas 5:22-23 encaixa-se particularmente em sua vida?

R.

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