Sem espectadores
Temos uma filosofia básica em nossa igreja: "O cristianismo não é um esporte para espectadores". Em outras palavras, Deus não o salvou para que você fique confortavelmente sentado nos bancos da igreja e sendo alimentado. Ele tem um trabalho para você fazer. Infelizmente, muitos cristãos têm se sentido confortáveis e complacentes com simplesmente frequentar uma igreja. Eles racionalizam - temos profissionais bem pagos para fazer o trabalho do ministério; se eu continuar dando o meu dinheiro para a igreja, o trabalho do Senhor será feito (isso quando contribuem!).
Esse tipo de pensamento vai contra o ensino das Escrituras, que deixam bem claro que cada crente é equipado pelo Espírito Santo com dons espirituais, os quais se espera que sejam usados na obra do Senhor (seja dentro da igreja ou fora). Uma parte do significado de ser "comunidade" é que todos se envolvam. Se alguns indivíduos estão sentados, apenas observando à margem, não apenas seus dons espirituais estão sendo enterrados, como também outras pessoas estão tendo que assumir responsabilidades adicionais, talvez em áreas que não foram capacitadas, e que, por sua vez, impede-as de se concentrarem naquilo que verdadeiramente foram chamadas e capacitadas por Deus a fazer. Tal pensamento destrói o equilíbrio desejado por Deus para sua igreja.
Muitas igrejas têm como meta ter 50-60% da congregação envolvida no ministério. Porém, penso que não podemos descansar até atingir 100% dos irmãos envolvidos no ministério da igreja local. Não podemos nos assentar e esperar até que essas pessoas naturalmente se envolvam. Como igreja, temos de avançar com o trabalho que Deus está chamando-nos a realizar, continuar a equipar nossos membros e a envolvê-los no ministério, e orar para que o Espírito Santo toque no coração daqueles que estão sentados assistindo à margem da ação.
Atos dos Apóstolos 13 enuncia alguns princípios importantes a considerar sobre como nossas igrejas devem se esforçar para avançar.
A estabilidade da Comunidade
À medida que entendemos quais ministérios Deus quer em nossas igrejas, e em quais Ele deseja que cada membro se envolva, temos de nos comprometer com tal ministério e trabalhar no sentido da estabilidade no seio da igreja, em especial se estamos a ponderar nos tornarmos uma igreja que "envia" servos para o campo missionário. Pessoas que são "enviadas" (seja para outro bairro em nossa cidade ou para outro país) para fazer missões devem ter uma sólida e crescente relação com o Senhor, e precisam de pessoas na igreja comprometidas a orar por elas e a ajudar no seu sustento no campo missionário. Isso não significa que temos de ser perfeitos antes que possamos servir ao Senhor. Mas se espera, pelo menos, que nosso coração e mente estejam bem alinhados com uma base sólida (a Igreja), onde iremos continuar a ser ensinados na sã doutrina e discipulados nos princípios cristãos.
A igreja em Antioquia é um exemplo deste tipo de comunidade estável. Considere que apenas há alguns anos esta igreja havia sido fundada, com a dispersão dos cristãos de Jerusalém por causa de perseguições. Até este ponto, o Evangelho ainda estava sendo pregado principalmente para os judeus. Mas alguns homens de Chipre e de Cirene se converteram e pregaram para os gregos em Antioquia que, por sua vez, creram e formaram a Igreja. A igreja em Jerusalém ouviu o que estava acontecendo em Antioquia e enviaram Barnabé para verificar o que estava ocorrendo. Barnabé observou que o povo em Antioquia tinha recebido o verdadeiro Evangelho e que a mão de Deus estava com eles, mas que precisavam de alguém para ensiná-los e edificá-los. Então Barnabé recrutou seu velho amigo Paulo de Tarso e ambos vieram e ensinaram-lhes uma boa doutrina bíblica, provavelmente por um período de cerca de dois anos.
Pelo tempo do capítulo 13 de Atos, a igreja em Antioquia estava sólida em sua doutrina e diversidade de liderança. Ela estava pronta para envolver-se na obra missionária. Este é realmente um divisor de águas na história da Nova Comunidade. Você se lembra que Jesus disse a seus discípulos que eles iriam levar a mensagem para Jerusalém, Judéia e Samaria, e até os confins da terra (Atos dos Apóstolos 1:8)? Podemos observar que a disseminação do Evangelho em Atos dos Apóstolos 1, o foco está na pregação do evangelho em Jerusalém, que instituiu e solidificou a primeira igreja cristã. Os capítulos 8-12 de Atos descrevem a propagação do evangelho na Judéia e Samaria. E com o capítulo 13 e seguintes, vemos o evangelho “criar asas” e se espalhar por todo o mundo.
O poder do Espírito Santo
É importante notar que a igreja de Antioquia não decidiu simplesmente “Ei, vamos fazer missões!”, e seguiu em frente com os seus próprios planos. Eles se reuniram para a adoração, oração e jejum, práticas estas destinadas a colocar a mente em sintonia com as coisas espirituais e buscar orientação do Senhor sobre uma nova direção. Foi o Espírito Santo quem disse: “Ei, vamos fazer missões!” A igreja obedeceu ao comissionar e enviar Barnabé e Paulo ao campo missionário.
Novamente, os dois não saíram por iniciativa própria ou em sua própria força, mas eles foram enviados "pelo Espírito Santo" para esta obra (v. 4). E, à medida que foram, podemos ver o Espírito Santo trabalhando através da vida deles, dando-lhes um ministério profícuo. Seja ao serem convidados a falar com o procônsul em Pafos (v. 7), no episódio da cegueira de Elimas, ou no convite para falar à sinagoga em Pisidia (v. 15), no poder da sua pregação ou na resposta que trouxe toda a cidade para ouvi-los ao próximo sábado (v. 44), não podemos negar que foi o poder do Espírito Santo trabalhando através do ministério deles.
Temos que manter isso em uma perspectiva adequada. Algumas pessoas pensam erradamente sobre o Espírito Santo como um poder que eles podem se aproveitar e utilizar em seus ministérios. Porém, a verdade é totalmente oposta a tal pensamento. O Espírito Santo é o próprio Deus, uma das "pessoas" da Triunidade, a própria presença de Deus conosco. É ele quem nos usa, e não nós que o usamos, para realizar o ministério (que também é dele, não nosso). Imagine Paulo pregando na sinagoga com esta estranha mensagem em sua própria força. Ou enfrentando uma poderosa personalidade como Elimas em sua casa sem a orientação do Espírito Santo. Posso lhes garantir que os resultados não teriam sido bons.
A riqueza das oportunidades
Quando nos submetemos ao Espírito Santo e à sua orientação em nossa vida, seja como indivíduos ou como igreja, vamos encontrar o ouro das ilimitadas oportunidades de ministério. Lembre-se novamente da conversão de Paulo, cerca de doze anos atrás. Naquele momento foi-lhe dito que teria o privilégio de levar o Evangelho aos gentios. Mas o tempo ainda não era certo, o Espírito sabia que ele precisava de algum tempero e maturidade. Paulo não avançou cegamente na sua própria força. Ele preparou sua mente e seu coração para a tarefa a ser desempenhada, em seguida, o Espírito Santo lhe disse que era hora de avançar. E quando veio o convite, ele estava pronto para ir e cumprir seu ministério, no poder do Espírito Santo.
Sua igreja é uma comunidade que equipa, prepara e envia pessoas para o ministério? Você responde ao chamado do Espírito Santo para sua vida? Se não, talvez precisemos nos empenhar a sermos preparados e fervorosamente buscar o ministério no qual Deus gostaria de usar-nos.
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¹As disciplinas espirituais são: Meditação, oração, jejum, estudo, simplicidade, solitude, submissão, serviço, confissão, adoração, orientação e celebração. (Cf. Richard Foster em Celebração da Disciplina, Editora Vida).