Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.    

Mateus 13:9 

A palavra “parábola” tem sua raiz na palavra grega “parabôle”, que é uma palavra composta, cujo significado literal é “colocar lado a lado; comparar; fazer um paralelo”. No texto bíblico, as parábolas são histórias que, em geral, contrastam e/ou comparam uma realidade natural do conhecimento dos ouvintes com uma verdade espiritual, que é o ensino moral a ser aprendido1.

Uma Parábola pode ser definida como sendo uma narrativa que usa alegorias e símbolos, visando transmitir uma lição ou ensino moral. As parábolas sempre foram muito comuns na cultura oriental, notadamente no Oriente Próximo. As parábolas de Jesus Cristo tinham como objetivo ensinar sobre o Reino de Deus e como as pessoas estavam inseridas nesse Reino e no Plano de Deus. As parábolas de Jesus têm sido a parte mais conhecida dos seus ensinamentos e a que mais recebe destaque. Mesmo as pessoas que não professam a fé cristã já ouviram ou leram algumas das suas parábolas e as mencionam como sendo parte da cultura e sabedoria ocidentais. Isso não significa, no entanto, que as parábolas sejam completamente compreendidas e seus ensinos aplicados nas vidas das pessoas2.

Na medida em que as parábolas narram uma realidade distante, antiga e de uma cultura diferente, como esse ensino pode ser aplicado na vida do homem do século XXI? Qual o sentido dessas metáforas e símbolos para o homem que vive, predominantemente, nas cidades? A resposta a essas perguntas exige que sejam ultrapassados alguns importantes obstáculos ao entendimento e aplicação das parábolas. A distância geográfica, temporal e cultural das narrativas é um problema sempre presente na interpretação de textos antigos, mas, no caso das parábolas, esse não é o principal problema. O mais difícil obstáculo para o entendimento espiritual do texto das parábolas está onde sempre esteve, nos “corações” das pessoas, que segundo a Bíblia, é onde reside a vontade, os valores, percepções e sentimentos3. Dentro da apresentação do Reino, esse é o centro do ensino da “Parábola do Semeador”, os corações dos homens.

 

A SEMEADURA – Mateus 13 1-9

“Naquele mesmo dia, Jesus saiu de casa e assentou-se à beira-mar. E ajuntou-se muita gente ao pé dele, de sorte que, entrando num barco, se assentou; e toda a multidão estava em pé na praia.” (Mateus 13:2)

 

Jesus estava na Galileia quando contou essa parábola. Estava à beira do “mar da Galileia”, onde tinha a visão quase completa da região, podendo, da beira do mar, avistar os campos e as montanhas. O cenário era dividido entre plantações de aveia, trigo, oliveiras e pastos, descendo ondulado até o vale e o terreno escarpado das montanhas que ia até a praia. Ao redor dos campos, o chão era endurecido e descoberto, nesse lugar era a passagem de homens e animais. E era no meio do vale que se formava uma planície, onde ficava a boa terra, na qual era plantada grande quantidade de trigo.

Esse era o ambiente e a visão que Jesus e as pessoas tinham daquele lugar. As pessoas conheciam bem a cultura do campo e Jesus também conhecia. Por essa razão Jesus podia transmitir-lhes a Parábola do Semeador, pois todos os aspectos da parábola eram familiares a todos os seus ouvintes, um povo que vivia no campo e na lida com a terra.

 

“E falou-lhes de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear...” (Mateus 13:3-9)

 

O relato de Jesus sobre a semeadura aponta para a descrição de quatro tipos de solo ou lugares onde as sementes caíram: o solo que está à beira do caminho, o solo rochoso, o solo que está tomado de espinhos e, por fim, a boa terra. E assim, continua a parábola dizendo: no primeiro solo, as aves comeram as sementes; no segundo, na terra rasa, o sol queimou e matou a planta; no terceiro, os espinhos cresceram e sufocaram a planta que nascia e no quarto solo, que era a terra boa, frutificou a cem, sessenta e a trinta por um. Essa era uma colheita diferenciada e abundante4. Mesmo considerando as sementes “perdidas”, houve, ao final, uma grande produtividade, fica claro que Jesus está falando em algo muito bom. Nesse ponto, pode-se perguntar: que colheita é essa e para que ela aponta?5

 

OUVIR -“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mt. 13:9)

 

Qual o propósito da frase de Jesus, no verso 9? Por que é dada a ênfase em ouvir? O “ouvir a palavra de Deus”, quando enfatizado na Bíblia, remete à necessidade de entender, apreender e praticar o ensino que está sendo dado. Na parábola do semeador, é necessário ouvir, entender e viver o ensino do Reino, o que implica ser transformado pela mensagem. Tais parábolas ensinam que ouvir de maneira apropriada a palavra de Deus, seguindo seus princípios e ensinos, capacitará o ouvinte para o entendimento das outras parábolas e de outras porções da Escritura.6

No texto paralelo de Marcos 4:13 Jesus fala que os discípulos também não haviam entendido o sentido da parábola, acrescentando que se eles não entenderam aquela parábola não entenderiam as outras7. Entretanto, eles, humildemente, pedem que lhes seja explicado qual a verdade revelada naquela narrativa. Neste ponto está a chave na relação de todo ouvinte da palavra, que é discípulo, pois esse reconhece sua incapacidade e pede que o Senhor revele o que ele está ensinando.

Nesse ponto, há uma ligação direta com a resposta que seria dada aos discípulos quando estes perguntaram: “porque o Senhor fala com eles por meio de parábolas?” (Mateus 13:10). A resposta de que aos discípulos seria dado conhecer os mistérios do Reino de Dos Céus, mas aos outros isso não seria concedido, pode parecer dura e injusta. Entretanto, revelava o que estava em questão naquele momento: a diferença entre as pessoas que resistiam à palavra e aquelas que humildemente recebiam e viviam de acordo com os ensinos de Jesus Cristo.

Pode-se ainda questionar: a parábola tinha o propósito de condenar ou de afirmar a realidade da vida de muitos daqueles ouvintes? A resposta dada por Jesus, citando e interpretando a profecia de Isaías é clara: corações endurecidos não entenderão as verdades e os ensinos de Deus e essa já era uma condição definida. Jesus demonstra, assim, qual era o sentido do que já havia sido profetizado pelo profeta Isaías8, pois houve rejeição no passado e havia pessoas, no tempo de Jesus, que, mesmo ouvindo, rejeitariam a revelação de Deus em Cristo.

No versículo 9, Jesus confirma o que ele estava tentando explicar. A frase de Jesus demonstra que havia pessoas, no meio da multidão, que não ouviriam ou não entenderiam a parábola. Por outro lado, havia pessoas que, mesmo ouvindo, rejeitariam os ensinos da palavra de Deus e, também havia pessoas que, mesmo aceitando, não viveriam os princípios ensinados. Assim, ouvir e não frutificar, não fazer a palavra viva em sua vida é o resultado de ter a mente ou coração endurecidos. Ser um ouvinte infrutífero é o mesmo que não ter vida, não estar ligado na “Videira Verdadeira”, que é Cristo, conforme descrito no Evangelho de João, no capítulo 15, versos 1 a 6. Nos versículos 19-23, Jesus dá a seguinte explicação:

 

“Quando alguém ouve a mensagem do Reino e não a entende, o Maligno vem e lhe arranca o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. Quanto ao que foi semeado em terreno pedregoso, este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria. Todavia, visto que não tem raiz em si mesmo, permanece pouco tempo. Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona. Quanto ao que foi semeado entre os espinhos, este é aquele que ouve a palavra, mas a preocupação desta vida e o engano das riquezas a sufocam, tornando-a infrutífera. E, finalmente, o que foi semeado em boa terra: este é aquele que ouve a palavra e a entende, e dá uma colheita de cem, sessenta e trinta por um”.

No verso 19, Jesus se referia àqueles que não entendiam o evangelho. Não compreendiam porque rejeitavam a palavra, tinham resistência aos ensinos de Deus que eram dados por Jesus Cristo. A semente, que é a palavra de Deus, sequer entrava no solo. A rejeição está explicada no fato de a semente não entrar no “solo”. A mente “cauterizada” pelo pecado e valores do mundo não consegue absorver a palavra e os ensinos de Deus, tendo a palavra roubada pelo Maligno.

Já nos versículos 20-21, a explicação do Senhor Jesus é que, mesmo recebendo com alegria, mas não tendo profundidade o “solo”, não será retida a semente e não irá criar raízes. Visto que não tem raiz em si mesmo, não permanece. “Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona”. Nesses dois versículos, a pessoa concorda com a palavra de Deus, mas, visto que a palavra não cria raízes em seu coração, para que possa transformá-la, mudando a sua mente e maneira de ver o mundo, a pessoa não tem força para manter o que ouviu, muito menos viver os princípios do Reino de Deus. Esse é um problema muito comum. Muitas pessoas parecem ser estimuladas com os ensinos da Escritura, mas não há compromisso com os princípios e ensinos. Não há perseverança.

Outro problema é a mente voltada para as questões mundanas, o que traz a esterilidade espiritual. No versículo 22 diz: “Quanto ao que foi semeado entre os espinhos, este é aquele que ouve a palavra, mas a preocupação desta vida e o engano das riquezas a sufocam, tornando-a infrutífera”. A permissão para que as coisas do mundo dominem o seu pensamento trará uma vida estéril espiritualmente. Ser cristão é ter a mente e a vida transformadas, para que o mundo não mais seja o padrão para a vida daquele que crê. Como Jesus diz: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro”.

A colheita abundante: “E, finalmente, o que foi semeado em boa terra: este é aquele que ouve a palavra e a entende, e dá uma colheita de cem, sessenta e trinta por um” (Mateus 13)

Aqui neste ponto, Nosso Senhor Jesus nos responde que colheita é essa. A colheita é uma vida espiritual frutífera, pois, ouvindo e praticando o que foi ensinado pela palavra de Deus, a pessoa dará frutos de amor, paz, humildade, domínio próprio e será uma testemunha de Cristo. Há, então, dois sentidos para a colheita: a vida espiritual frutífera, com os frutos do espírito, e a propagação do Reino de Deus. Assim, ter o coração transformado significa ter a mente transformada e redimida pela Palavra, que é Cristo.

A pessoa que ouve e se torna espiritualmente produtiva possui as seguintes características: entende o que ouve, suporta as dificuldades, tem uma mente espiritual, e não mundana, manifesta o fruto do Espírito, conforme está em Gálatas 5:22. Desse modo, terá também o seu pensamento ou visão transformados, conforme é exortado na carta aos Romanos 12:2. Só desse modo poderá cumprir a grande comissão de propagar o Reino, de acordo com o que foi dito por Jesus, no evangelho de Mateus, capitulo 28, versículos 18 a 20. Essa é a grande esperança descrita na parábola: haverá frutos em abundância e resultados na vida de todo aquele que ouve e pratica a palavra de Deus.

 

CONCLUSÃO

Desse modo, pode-se depreender da Parábola do semeador que, a despeito de toda a pregação e ensino, haverá aqueles que não são capazes de apreender e viver os valores do Reino de Deus e sempre haverá os que rejeitarão a Palavra de Deus. Além disso, fica claro que o maior empecilho para uma vida frutífera, no Espírito, são a mente dominada pelos valores do mundo e, portanto, sujeita a todas propostas do inimigo, e o coração endurecido.

No entanto, a Parábola do Semeador traz, também, uma lição de esperança, pois haverá uma colheita abundante na vida de todo que ouve e vive os ensinos da Palavra. Esses têm a mente e o coração transformados, tendo ouvidos capazes de receber os ensinos da Palavra e, apreendendo-os, viver as verdades do Reino de Deus.

 

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

 

1 - Com base na leitura da Parábola do Semeador, qual o significado da semente e o que representa cada tipo de solo?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

2 - Qual o motivo de Jesus ter contado a verdade do Reino de Deus por meio de uma parábola? Ele estava condenando as pessoas ao contar as verdades por meio de parábolas ou estava revelando algo que já era profetizado?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

3 - O que é, de fato, ouvir a palavra de Deus? Basta ouvir?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

4 - Que atitude dos discípulos devemos ter como exemplo para nossas vidas?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

5 - Conforme o que foi descrito, há alguma esperança?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

6 - O que é ser frutífero?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

1 CHEUNG, Vincent. As parábolas de Jesus. Boston: Reformation Ministries International, 2001, p. 4.

2 SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as Parábolas de Jesus. Rio de Janeiro. CPAD. 2010, p.21.

3 “Na grande maioria das suas ocorrências nas Escrituras, a palavra “coração” é usada figurativamente. Diz-se que representa “a parte central em geral, o íntimo, e assim o homem interior, conforme se manifesta em todas as suas diversas atividades, nos seus desejos, afeições, emoções, paixões, objetivos, seus pensamentos, percepções, imaginações, sua sabedoria, conhecimento, habilidade, suas crenças e seus raciocínios, sua memória e sua consciência de si mesmo”. — Journal of the Society of Biblical Literature and Exegesis, 1882, p. 67.” https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2009/07/estudo-da-palavra-coracao-na-biblia.html

5 Galátas 5.22

6 CHEUNG, Vincent. As parábolas de Jesus. Boston: Reformation Ministries International, 2001, p. 12.

7 Idem.

8 Isaías 6 9-10

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