Texto de Estudo

Neemias 13:22:

22 Também disse aos levitas que se purificassem, e viessem guardar as portas, para santificar o sábado. Nisto também, Deus meu, lembra-te de mim e perdoa-me segundo a abundância da tua benignidade.

INTRODUÇÃO

No estudo passado, vimos a celebração do povo de Deus. Uma majestosa festa foi dedicada ao Senhor. O capítulo 12 enfoca esse evento. Mas o que aconteceu, após a celebração? Pois bem, o capítulo 13 de Neemias nos mostra que a vida cristã não termina após uma vitória. Muitos fracassam por imaginar o contrário. Após vencerem uma batalha, concluem que a guerra terminou. O que não deveria acontecer com o povo de Deus, ou seja, a quebra de promessas que haviam sido feitas a Deus, ocorreu.

Neemias descobriu que o fogo da devoção havia se apagado em Jerusalém. Seu primeiro mandato como governador durou onze anos e meio, depois dos quais voltou ao palácio a fim de dar seu relatório ao rei. É provável que tenha permanecido na Babilônia por doze anos.  Porém, quando voltou a Jerusalém, descobriu que a situação se deteriorara drasticamente, pois o povo não cumprira os votos que havia feito (Neemias 10). Como será que o líder Neemias não reagiu diante dessa lamentável situação? É o que veremos no decorrer deste estudo.

 

A NECESSIDADE DE UMA REFORMA É DETECTADA

Quando os líderes cometem abusos na casa de Deus, a obra é prejudicada, o povo perde a confiança e fica desanimado para cooperar. Na ausência de Neemias, os líderes espirituais e administrativos da na¬ção enveredaram-se para práticas e atos desonestos, corrompendo-se grandemente. O próprio sacerdote, que deveria ser o primeiro a dar o bom exemplo ao povo, se deixou levar por interesses pessoais e familiares, e usou e abusou de sua autoridade. 

Deus sempre se mostrou comprometido com o seu povo. Porém, sempre exigiu deste a mesma atitude. Quando retorna a Jerusalém, Neemias percebe que o templo, o culto, o sábado, as ofertas e dízimos estavam sendo negligenciados. Ele procura a causa e começa a corrigir os problemas.

Antes de tratar da questão da aliança, três coisas merecem destaque:  

1. A instabilidade do povo de Deus. Inúmeras vezes, o povo de Deus fez promessas solenes e as quebrou. No capítulo 10 de Neemias, acontece um grande reavivamento espiritual. Na ocasião, o povo fez uma aliança com Deus. Porém, pouco depois, no capítulo 13, tal compromisso assumido estava sendo quebrado.

2. A importância da liderança espiritual na vida do povo de Deus. Na restauração física e espiritual de Jerusalém, Neemias enfrentou ataques externos e internos, mas sempre com firmeza, tendo liderado o povo nessa restauração por 12 anos. Porém, ele precisou retornar à Babilônia, e o povo, sem sua liderança, se corrompeu e quebrou a aliança que havia feito com Deus. 

3. A única maneira de restaurar a aliança quebrada era uma volta à Palavra de Deus. Não existe reforma espiritual sem a Palavra de Deus. Sem as Escrituras o povo perde o caminho, sem profecia o povo se corrompe! Quando nos submetemos à Palavra e confessamos nossas faltas e incapacidades, podemos começar a andar pelo caminho da obediência que conduzirá à verdadeira liberdade, justiça e santidade. A aliança com Deus é feita com base na inexpugnável rocha da Palavra, para guardar a Palavra. O compromisso é andar e guardar e cumprir os mandamentos, juízos e estatutos da Palavra.

 

ENFRENTANDO OS PROBLEMAS

A aliança com Deus estava sendo quebrada em três áreas: 

1. Negligência para com o sustento sacerdotal. Os israelitas haviam prometido não só a separação dos povos da terra, mas também o sustento da casa de Deus (Neemias 10:30,39). Mas Neemias diz que foi “informado de que os levitas não tinham recebido o que lhes era devido, de modo que eles e os levitas cantores que deviam guiar os cultos de adoração tinham voltado para as suas terras” (v. 10). A situação era grave. Os levitas, que por lei dependiam dos dízimos e das ofertas para se manter, não tinham sustento e estavam abandonando o serviço no templo, a fim de sobreviver. Não havia mantimento algum nos depósitos do templo. A casa de Deus estava entregue ao completo abandono.

As coisas podem chegar a esse nível, quando se retém aquilo que pertence ao Senhor. O projeto divino era que os sacerdotes e levitas trabalhassem integralmente na obra do Senhor. Eles deveriam cuidar exclusivamente das coisas de Deus. Mas com a retenção do sustento, eles foram para os campos, e a casa de Deus ficou desamparada. Desta forma, faltou também o ensino da Palavra de Deus, levando o povo a uma vida espiritual frágil a um grande declínio espiritual. Eles racionalizaram e concluíram que a retenção dos dízimos e ofertas não afetaria a vida espiritual deles. Mas o bolso é um grande revelador do coração. A sinceridade do culto passa pelo gazofilácio. Quem ama a Deus não o rouba. Quem ama a Deus tem prazer em ser fiel nos dízimos e ofertas. 

2. A profanação do dia do Senhor. O quarto mandamento da Lei de Deus havia sido banalizado. O pecado invadiu o coração daquela gente. Neemias observou que “em Jerusalém havia gente que no sábado pisava uvas para fazer vinho. Outros, no sábado, carregavam os seus jumentos de cereais, vinho, uvas, figos e outras coisas e levavam para dentro de Jerusalém. Então dei ordem para que não vendessem nada no sábado” (Neemias 13:15). O lucro passou a ser mais importante do que a obediência. Os interesses pessoais prevaleceram sobre os interesses de Deus.

O sábado foi-nos dado para o descanso. Nesse dia, deve-se cessar todo o trabalho, para nos lembrarmos de Deus. A profanação do sábado é um sinal de secularismo. Quando o lucro toma o lugar do culto, quando se passa a confiar mais na provisão do que no provedor, então estamos na contramão da vontade de Deus. A inobservância do dia do Senhor é um forte sinal da decadência espiritual. 

Neemias ordenou que, na sexta-feira, ao pôr do sol, os portões da cidade fossem fechados e assim permanecessem até ao final do sábado. Como os mercadores continuassem fora da cidade, Neemias deu-lhes um ultimato: “Por que vocês passam a noite junto ao muro? Se fizerem isso de novo, mandarei prendê-los” (v. 21). Atemorizados, os comerciantes foram embora e não voltaram mais no sábado. Neemias, então, exortou os judeus e gentios de Jerusalém a que guardassem o sábado, a fim de evitar o juízo divino sobre a cidade.

3. Casamentos mistos. Na ausência de Neemias, o sacerdote Eliasibe tornou-se parente de Tobias. Este era amonita, inimigo do povo judeu e comparsa de Sambalate (Neemias 2:19). Eliasibe ousou, erroneamente, ceder o templo para o inimigo morar (v. 4).

Neemias observou que os judeus, após a volta do cativeiro babilônico, estavam caindo no mesmo pecado de Salomão: “Vi também, naqueles dias, judeus que tinham casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas” (v. 23). Os judeus sabiam muito bem que Deus era contra os casamentos mistos, pois estes, além de contrariar os seus mandamentos, sempre acabavam por trazer sérias consequências à nação (v. 26).

A ordenança do Senhor era clara e não comportava nenhuma dúvida: “Não darás tuas filhas a seus filhos e não tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós e depressa vos consumiria” (Deuteronômio 7:3-4). No entanto, Israel não ouviu a Deus e frontalmente o desobedeceu, suscitando a ira divina contra todo o povo. Como você, jovem, tem agido em relação ao casamento? Tem levado em conta a vontade divina ou o seu próprio querer?

Por causa dos casamentos mistos, as famílias judaicas começavam a enfrentar um sério problema: a perda de todas as suas referências culturais e espirituais: “Metade dos seus filhos falava a língua de Asdode ou outra língua e não sabia falar a língua dos judeus” (v. 24, NTLH). Como se vê, as mulheres asdoditas exerciam mais influência sobre os filhos dos judeus do que os seus próprios pais. Se as crianças não falavam o hebraico, isto significava que não estavam sendo educadas no caminho de Deus (Levíticos 20:7), mas criadas como pagãs. E o resultado disso seria catastrófico.

Foi feita uma pesquisa entre os descendentes de duas famílias americanas: a de Jonathan Edwards, famoso pastor e evangelista, e a de Max Jukes, um ateu e defensor da abolição de qualquer tipo de leis ou regras. Jonathan casou-se com uma mulher temente a Deus, seus descendentes eram dedicados à Palavra de Deus e seguiram princípios de honestidade e integridade. Dentre eles, encontram-se vários presidentes de universidades, professores, ministros do evangelho, missionários, teólogos, advogados e autores renomados. Por outro lado, os pósteros de Max mostram uma longa linha de prostituição, embriaguez e insanidade. Na pesquisa, observaram-se 1.200 descendentes e percebeu-se que apenas 20 deles aprenderam uma profissão, sendo que, destes, metade aprendeu a profissão na prisão. 

O lar deve ser a base da sociedade, a estrutura sobre a qual uma nação se constrói. Jaime Kemp alerta para o fato de que 75% dos casamentos mistos enfrentam sérios problemas. 

 

A RESTAURAÇÃO DA ALIANÇA COM DEUS

Neemias poderia cruzar os braços e não se importar com o que estava acontecendo. Afinal, o povo estava em segurança e ele já havia feito muito por aquelas pessoas. Mas esse não era o perfil dele. Ele tinha compromisso com o povo, mas, acima de tudo, servia a Deus.

Então, uma urgente reforma espiritual começa. Para isso, Neemias, com a ajuda de Deus, toma as rédeas da situação. Ele sabe que, sem o cumprimento do pacto, a nação logo seria alvo do juízo divino. O que fez Neemias? Ele começou a tratar do problema expressando seu horror ao ver algo assim ocorrendo em Israel (v. 25). Numa situação semelhante, Esdras havia arrancado os próprios cabelos e a barba (Esdras 10), mas Neemias ateve-se a repreen¬der os transgressores e fez o povo prometer que não procederia mais daquela maneira. Ele também fez um sermão, lembrando ao povo de que a ruína de Salomão, um dos maiores reis de Israel, havia sido pro¬vocada por seus casamentos com mulheres estrangeiras (v. 26; 1 Reis 11:4-8). 

Quando não há indignação frente ao pecado, há o risco de se imaginar que ele é inofensivo, e o resultado disso poderá ser devastador. É bom que se diga: “Somente pessoas que têm a capacidade de se indignar contra o mal podem fazer diferença na História”.  Neemias era um desses.

A próxima atitude dele foi a repreensão aos culpados. “Empurrar com a barriga” seria a atitude de muitos líderes de nossos dias. Mas Neemias fez diferente: “Imediatamente repreendi os oficiais e perguntei: Por que o templo foi abandonado?” (v. 11, BV). Neemias tinha autoridade de Deus. As demais pessoas haviam quebrado suas promessas diante de Deus, mas não ele. Neemias repreendeu tanto a liderança quanto os liderados (v. 15).

Repreender é admoestar de modo enérgico. Foi isso que aquele servo de Deus fez. O Senhor não quer que seu povo fique sem advertência quanto aos erros que poderiam ser cometidos. Há muitas pessoas vivendo em pecado por falta de advertência, e muitos líderes estão comungando com os erros cometidos pelos crentes e até por obreiros que são responsáveis pelo ministério na casa do Senhor. A omissão em protestar contra o pecado é cumplicidade com o mal. O obreiro deve ser um atalaia que chama a atenção no tempo certo, antes que o mal caia como um laço sobre o povo de Deus. 

A atitude subsequente de Neemias foi a correção do erro. Ele não apenas se indignou com o pecado e repreendeu os culpados, mas tomou medidas práticas em relação ao erro. A começar pelo templo: ele expulsou Tobias e ordenou que se “purificassem as câmaras” (v. 9). Eles dedetizaram o lugar. Neemias não queria sequer que o cheiro de Tobias permanecesse na Casa de Deus. 

Em seguida, ele reorganizou o culto: “Depois trouxe de volta para o Templo os levitas e os músicos e os coloquei de novo nos seus postos” (v. 11, NTLH). Na sequência, extinguiu a profanação do sábado, ordenando que se fechassem as portas da cidade nesse dia e impedindo, desse modo, que qualquer comercialização fosse feita (v. 19). Por fim, purificou o povo de tudo o que era estrangeiro (v. 30). Ele contendeu, amaldiçoou e espancou alguns dos que não sabiam falar a língua judaica (v. 25). Neemias não agiu errado. Esta atitude era, na verdade, comum na história do Próximo e Médio Oriente.  Vivemos a quase três milênios de diferença. Hoje, essa atitude não seria “politicamente correta”, mas, para aquela época, era necessária.

Que bênção inaudita! A reforma espiritual do povo já não era apenas um plano arquitetado, mas algo realizado. O povo caiu, mas se reergueu. Aliás, Deus o reergueu. O inimigo tentou derrubá-lo de várias maneiras. Quando viu que não conseguiria vencê-lo por meio de oposição, tornou-se “aliado”. Mas havia um líder de integridade e discernimento espiritual ali. Um homem que não se vendeu nem se tornou aliado do mal. Um homem de oração. A propósito, a oração está em destaque no capítulo 13 do livro. Confira os versículos 14, 22, 29 e 31. O livro de Neemias termina com um povo reerguido espiritualmente. Todos voltaram novamente à aliança com o Senhor. O desfecho dessa história não poderia ter sido melhor. 

 

CONCLUSÃO

Neemias foi o líder certo no lugar certo. A restauração de Jerusalém teve muito a ver com a liderança espiritual de Neemias. Ele era um homem íntegro e sensível à direção de Deus. Ele tinha grande discernimento espiritual e profunda coragem. Foi um homem comprometido com a oração e a Palavra e, por isso, foi um líder que salvou a nação. Quase três milênios se passaram, mas vivenciamos praticamente os mesmos problemas. Precisamos de novos “Neemias”. Quem sabe o Senhor esteja levantando você para fazer a diferença em nossa geração? 

Chegamos ao final de mais uma série de lições bíblicas, que foi baseada no livro de Neemias. Este, mesmo tendo vivido numa época e numa cultura diferente, continua a influenciar o povo de Deus desta geração. Os ensinos do livro que leva o seu nome continuam fundamentais para o crescimento espiritual dos filhos de Deus. O estudo de hoje é um exemplo disso. O povo daquela época precisou de uma reforma espiritual. Nós somos diferentes? Na verdade, não. Que adotemos, portanto, a postura espiritual de recordar o compromisso, evitar o conformismo e promover a mudança. Amém!

 

 

 

 

 

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