Ententendo e Vivendo
A Comunidade Enfrenta Dor e Alegria
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- Linda Harris
- Entendendo e Vivendo
Depois que concordei em ser editora convidada para esta edição dos Estudos Bíblicos para a Escola Sabatina, fui diagnosticada com câncer de mama. Após a biópsia, tive de aguardar seis dias para ouvir o diagnóstico. Durante este tempo, me convenci de que não tinha câncer; deveria ser um caroço de um ferimento anterior. Ouvir as palavras: “É câncer” pareceu surreal. Minha única resposta foi: “Verdade?” Contudo, desse momento em diante a paz de Deus se estabeleceu em mim. Verdadeiramente é uma paz que supera o entendimento (Filipenses 4:7), porque a reação humana normal a tal notícia seria devastação, ansiedade ou raiva.
A despeito desta paz implícita, tenho tido muitos momentos dolorosos: três cirurgias, seis tratamentos de quimioterapia, 30 sessões de radioterapia; crises infecciosas, incluindo pneumonia; desapontamento em não ser capaz de ter ir à nossa convenção, e o pensamento sobre o câncer ter se espalhado. Em cada momento, tive de me lembrar da paz que ultrapassa todo entendimento e que Deus está no controle.
Tantas Perguntas
Em meu grupo de apoio, um homem questiona a bondade e a soberania de Deus. Sofrer não parece lógico para ele, especialmente quando o câncer toma a vida de um jovem pai que ele acabara de conhecer.
Suas dúvidas me motivaram a pesquisar visões diferentes sobre o sofrimento e as enfermidades. Em um livro, uma perspectiva calvinista disse que Deus ordena o mal para dele retirar o bem. A visão oposta, de um programa de televisão, disse que não há doenças no Reino de Deus; todos os problemas de saúde vêm de uma visão equivocada do Reino. Se apenas reconhecêssemos e aceitássemos o quanto Deus nos ama, nossas doenças desapareceriam.
Enquanto examinava estes dois extremos, voltei para onde começara - um equilíbrio em algum lugar entre as perspectivas. Benefi ciei-me do questionamento, porque isso fortaleceu minha fé na soberania de Deus.
Durante este tempo, estudei o livro de Jó. Já o havia lido antes, mas desta vez fui além de uma leitura em sequência. Vi como os amigos de Jó usaram a “lógica” para explicar suas atribulações. Eles estavam procurando uma explicação. Acho que estavam com medo de que algo semelhante pudesse lhes acontecer. Se Jó sofria por nenhuma razão, então o que impedia que eles também sofressem?
Jó tinha numerosas perguntas para Deus. Ele queria saber por que o Senhor não o deixara só ou não permitira que morresse. Todas as suas perguntas se resumiam a uma: o que ele havia feito para merecer aquilo?
Quando sofremos, também temos perguntas: por que eu? O que eu fi z para causar isto? O que eu poderia ter feito diferente? Assim como Jó, podemos nunca receber respostas a nossos questionamentos acerca do porquê sofremos, mas podemos confi ar no Pai, que tem todas as respostas em suas mãos.
Jesus disse: “Neste mundo tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33). Sofrimento não é opcional; todos o enfrentamos. A questão não é “Por quê?” mas “Como?” Como enfrentaremos as provas que aparecem em nosso caminho? Deixaremos que nos derrotem ou confi aremos que Deus trará o bem atravez delas? Podemos descansar em sua promessa: “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar.” (1 Pedro 5:10)
Os discípulos tinham perguntas sobre o futuro. O que Jesus quis dizer quando disse: “Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis” (João 16:16)? Por que eles chorariam enquanto o mundo estaria se regozijando? Como poderia o lamento deles se tornar em alegria? Eles não entenderiam até a ressurreição.
No túmulo vazio, a mente de Maria estava cheia de perguntas. O que acontecera com o corpo de Jesus? Alguém o havia roubado? Suas perguntas foram de encontro a outra: “Mulher, por que choras?”, vinda tanto dos anjos como do próprio Jesus (20:13, 15). Quando o Salvador ressurreto chamou seu nome, todas as suas perguntas foram respondidas. Seu lamento instantaneamente se transformou em alegria.
A Espera
Contudo, a espera pode ser difícil. O tempo entre a biópsia e o diagnóstico de câncer foi preenchido com incerteza. A demora na cura tem parecido interminável. O momento mais difícil foi a quimioterapia, quando a doença tornou-se uma companheira diária. Mal começava a me sentir melhor, era hora de outra sessão. Eu mal podia esperar para que acabasse, mas assim que terminou, contraí pneumonia, e a cura mais uma vez parecia enganosa.
Os três dias entre a crucifi cação de Jesus e sua ressurreição devem ter sido difíceis para os discípulos. Eles não entenderam o que ele lhes dissera sobre sua morte e ressurreição (João 20:9). Tudo parecia perdido. Aquele a quem pensavam ser o Messias jazia deitado em uma sepultura. Um dentre eles o havia traído. Como alguma parte disto tudo poderia ser plano de Deus?
Fazemos as mesmas perguntas em meio ao sofrimento. Nossa visão fi nita não pode visualizar o porvir, e esquecemos que Deus tem nos feito passar por outros momentos difíceis. Ainda assim, a menos que lembremos dos momentos que Deus nos fez passar no passado, o desespero pode se estabelecer durante o período de espera. Basilea Schlink, fundadora da Irmandade Evangélica de Maria disse: “Aqueles que seguem o caminho da cruz com Jesus são levados a um dos grandes segredos do coração de Deus: a pérola de grande valor, o tesouro escondido, é encontrado no fundo do cálice do sofrimento.” Não se pode achar a pérola sem beber do cálice.
Quanto Mais Profundo o Sofrimento, Maior a Alegria
Lamento e alegria, dor e prazer, sofrimento e deleite não são diametralmente opostos. Com assiduidade eles vêm juntos. Perder algo especial torna isso mais querido quando é restaurado.
Para Maria e os discípulos, seu lamento se tornou na maior alegria possível quando seu amado Salvador se levantou do túmulo. Essa alegria continua por todas as eras, quando pecadores trocam seu remorso pela salvação.
Ponto de Virada
Depois de olhar para dentro do túmulo, Maria se voltou para Jesus, mas não o reconheceu (20:14). Contudo, quando ele pronunciou o nome dela, ela voltou-se rapidamente para ele, sabendo imediatamente quem ele era (20:16). Isto provou o que Jesus dissera antes: “Minhas ovelhas conhecem a minha voz” (João 10:27).
Maria fisicamente voltou seu corpo para Jesus, mas ela também chegou a um ponto de virada em sua jornada espiritual. Instantaneamente, a tristeza se transformou em alegria. Ela entendeu que seu Salvador estava vivo e chegou à compreensão que sua ressurreição signifi cava vida para todos que cressem nele.
Eu cheguei a um ponto de virada em minha jornada no câncer. Um dia, enquanto escrevia em meu diário de oração, disse a Deus: “Estou cansada de ter câncer.”
Por quase três páginas, listei todos os efeitos colaterais e inconveniências que me sobrecarregavam. Então o Pai transformou meu pensamento, e no fim da oração, renovei meu compromisso com ele, prometendo fazer da segunda metade da minha vida adulta mais produtiva que a primeira. O câncer tornou-se um alerta para mim. Se você está passando por uma prova, volte-se a Deus em oração. Perceba que a espera não durará para sempre.
Deixe seu Pai saber como você está se sentindo, ainda que não seja algo bonito. Experimente escrever suas orações. Peça ao Senhor para lhe dar a paz que ultrapassa todo entendimento. Lembre-se dos momentos em que Deus trabalhou seus problemas no passado e os transformou em algo bom. Diga-lhe que você confi a nele para trazer a alegria vinda da tristeza que você agora experimenta. Esta é a única atitude que pode mudar sua vida.