Números 32:13:
13 Assim se acendeu a ira do SENHOR contra Israel, e fê-los andar errantes pelo deserto quarenta anos até que se consumiu toda aquela geração, que fizera mal aos olhos do SENHOR.
No mundo dos Homens quando um plano não funciona, logo chega-se a conclusão de que algo ou muitas coisas deram errado. Conseqüentemente o plano todo é considerado como um erro. Na percepção de Deus não funciona assim. Se realmente acreditamos na doutrina bíblica de que Deus é onisciente e onipotente, então seria uma contradição enorme acreditarmos, ainda que por um instante, de que Ele venha a cometer erros. Então, o que foram aqueles quarentas anos de Israel no deserto? Não foi um erro? Não. Foi um treinamento, uma preparação, uma provação. Assim como o ouro é provado pelo fogo, o Senhor provou seu povo pelo deserto. Essa prova no deserto teve como objetivo:
I. Quebrar o vínculo com o Egito. Os muitos anos que os israelitas habitaram no Egito influenciaram a forma de pensar e de agir deles. Um afastamento destas coisas seria mais do que necessário. Creio que as promessas feitas a Abraão continuaram firmes no coração dos remanescentes. Contudo, uma boa parte do povo, não havia cedido apenas à escravidão, mas também havia cedido a cultura e a cosmovisão egípcia. Esta foi uma das razões do porque o Senhor os quis destruir quando pediram para Arão fazer um bezerro de ouro. E isso foi só o começo. Mesmo no deserto o povo sentia falta até da comida do Egito. Tudo o que o Senhor fazia por eles, eles comparavam com o que tinham no Egito. Isso provocava a ira do Senhor. Deus tinha que os provar. Ou seja, tinha que tirar o Egito do coração deles. Por isso, foram enviados ao deserto.
II. Criar um vínculo com o Senhor. Quebrar o vínculo com o Egito não era o suficiente. O Senhor Deus teria que oferecer algo para substituir o Egito. Então ofereceu a Si mesmo e as Suas promessas. Aqueles 40 anos no deserto foram suficientes para toda uma geração morrer. A nova geração tinha agora apenas o Senhor como seu presente e como seu futuro. Não somente isso, mas houve um objetivo instrutivo também. O Senhor aproveitou aqueles 40 anos para ensinar a Israel quem Ele era, o que podia fazer e que já havia feito pelos seus antepassados. Sem uma base educacional o povo não poderia servir ao Senhor. Se o povo havia servido aos deuses egípcios sem os conhecerem, o mesmo não se aplicava ao Senhor. Com isso percebe-se a urgência de uma re-educação religiosa, política, moral e cultural.
Há muita semelhança entre os passos de Israel com o Senhor e os nossos passos com Ele. Podemos dizer que uma vez resgatados, também estamos em peregrinação. Nosso caminho está sendo estendido também. De alguma forma o desvio de rota de Israel, também é o desvio de rota da Igreja. Poderíamos já ter chegado à Canaã celestial, mas aprouve ao Senhor nos desviar da rota. Pois, "tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza também..." (João 10:16). Ele quer nos provar, nos treinar. Essa experiência se aplica não só ao coletivo, mas também ao individual. Perceba como Moisés também passou 40 anos na terra de Midiã (Atos dos Apóstolos 7:27-30). Deus estava preparando Moisés para liderar o povo. Depois disso, Moisés passou mais 40 anos com o povo no deserto. Que treinamento! E ainda sim Moisés falhou em cumprir a ordem de fazer brotar água da rocha. Isso revela a necessidade constante de estarmos em treinamento. Toda a compreensão errada que temos de Deus e da vida não é abandonada de uma vez só. É preciso tempo para que as velhas coisas sejam abandonadas.
Às vezes não entendemos porque o Senhor permite desvios em nossas rotas ou na rota da igreja. Não conseguimos abarcar todas as razões do porque ele nos leva para o "deserto". Mas pela experiência de Israel podemos aprender alguma coisa.