É um mistério

Há algo intrigante em um bom mistério. Não importa se venha em forma de um fi lme, um livro ou um quebracabeça para ser resolvido. Nossa mente gosta da intriga de uma problemática que requer um pouco de esforço para solucioná- la. Este mesmo conceito tem levado a humanidade a incontáveis invenções e descobertas da ciência, medicina e matemática. Procedendo sob o pressuposto de que existe uma solução, nossa mente se mantém pesquisando e inquirindo as possibilidades, eliminando uma após outra, até encontrar uma que funcione.

 

O plano de Deus para o universo é repleto de mistérios, os quais Ele tem revelado no decorrer do curso da história humana. Deus deu-nos um papel vital no desvendar o mistério do Evangelho aos pecadores que ele deseja salvar.

O papel de Paulo

Paulo falou, primeiramente, sobre o seu papel no desvendar do mistério – um papel para o qual o próprio Deus havia lhe escolhido. No verso 2, ele fala da “dispensação da graça de Deus”. Literalmente, isso signifi ca que Paulo havia sido nomeado como mordomo – alguém de confi ança que cuidasse e supervisionasse (naquela época era um agregado da família). O apóstolo considerava um grande privilégio Deus haver lhe confi ado o mistério do Evangelho.

O mistério do qual Paulo fala aqui é em sentido geral do particular e sábio plano de Deus da salvação. O Senhor tinha um plano para salvar o seu povo desde o início da humanidade, mas não o revelou todo de uma só vez. Ele revelou peça por peça, ao longo da história de Israel e dos escritos dos profetas. Não quer dizer que fosse secreto, mas que Deus estava trabalhando e revelando seu plano da salvação etapa por etapa.

Pode parecer que Paulo estivesse se gabando nos versículos 4 e 5, mas ele estava simplesmente reconhecendo, que a única maneira que poderia saber algo acerca disto era através da revelação de Deus. Se alguém poderia desvendar tal mistério em termos humanos, este alguém seria Paulo. Ele teve acesso a todas as informações das profecias veterotestamentárias, as afi rmações de Jesus acerca dos milagres, da sua morte e ressurreição. Porém, Deus o derrubou do cavalo e deu-lhe uma verdadeira demonstração de quão cego estava, ele tinha perdido totalmente o signifi cado do mistério. O Espírito Santo removeu sua cegueira espiritual e revelou-lhe o misterioso e maravilhoso plano de Deus. Paulo fi cou maravilhado por ser considerado digno de ser uma parte do desvendamento do mistério de Deus, juntamente com o resto dos apóstolos e profetas de Deus.

No verso 6, Paulo começa a decifrar a parte específi ca do mistério para o qual fora chamado e que lhe fora confi ada. Esta parte do mistério envolvia os gentios, porém mais do que apenas eles serem incluídos no plano de salvação de Deus, ele declara que isto tinha sido, pelo menos, insinuado nas profecias do Velho Testamento. O mistério que Paulo falou aqui, foi muito além disso. A chave está na repetição da palavra “juntos”. Até este ponto, os judeus se viam como o único e exclusivo povo de Deus, mas o Senhor revelou através de Paulo que, através do Evangelho, judeus e gentios foram agora ajuntados, herdeiros em conjunto, os membros de um só corpo, companheiros na promessa em Cristo.

O mistério aqui era que os gentios agora eram iguais aos judeus, incluídos, completos destinatários do plano divino para a salvação da humanidade. Paulo então declara que este era o EVANGELHO que ele servia. Foi este EVANGELHO para o qual Deus o chamou; foi por este EVANGELHO que ele derramara seu sangue, suor e lágrimas; foi por este EVANGELHO que ele fora perseguido e quase morto por seu próprio povo; foi por este EVANGELHO que ele fora feito prisioneiro em Roma.

E embora não se considerasse digno (v.8), ele alegremente pregava aos gentios as inescrutáveis riquezas de Cristo e a revelação desta parte do mistério de Deus.

O papel da igreja primitiva

No verso 10, Paulo revelou que a igreja tinha um importante papel a executar no plano de Deus. A Igreja detinha esse mistério do Evangelho e deveria continuar a passá-lo à frente. Através da igreja o mistério da graça de Deus seria manifestado ao mundo.

Paulo havia escrito no capítulo 2 sobre como o Evangelho havia demolido o muro que por muito tempo havia separado os judeus dos gentios. A igreja, portanto, deveria viver este Evangelho e exibi-lo a todo o mundo, não apenas ao mundo físico, mas Paulo menciona especifi camente os governantes e as autoridades nos reinos celestiais. Em outras palavras, a igreja é a proclamação, pela sua própria existência, da vitória de Deus sobre Satanás e seus asseclas!

O nosso papel

Hoje nós também temos o privilégio de participar na revelação deste mistério. No entanto, às vezes, parece que existe uma espécie de muro que nos separa do mundo. Até certo ponto, essa separação pode ser algo positivo, pois pelo menos, teoricamente, distingue nossas convicções e comportamentos das do mundo. Mas, por outro lado, ao longo dessa linha divisória, nós permitimos que esta parede se tornasse uma parede de hostilidade, como a que Paulo descreve entre os judeus e os gentios. Precisamos cuidar para que não fiquemos esnobes ou até mesmo olhemos para o mundo com certo desdém, esquecendo-nos de que sem a graça de Deus, não somos nada melhores. Esta atitude tem nos levado a ver nossas igrejas como um refúgio do mundo, como que estando dentro de seus muros estamos seguros. Mas esse não é o Evangelho, não é mesmo?

Francis Foulkes coloca desta forma “[Este] Evangelho é, portanto, o único meio de profunda unidade espiritual entre as pessoas, não importando as suas divergências raciais, culturais, políticas ou histórias diferentes.” (Efésios: Introdução e comentários). O mistério para o qual Deus nos chamou é que Ele ama TODAS as pessoas. Devemos fazer tudo o que pudermos como igreja para transmitir essa mensagem. Ao invés de segregarmo-nos do mundo em nossas igrejas, como um castelo cercado com fossos cheios de jacarés, para manter o mundo do lado de fora, devemos construir pontes que permitam as pessoas se achegarem e participarem da graça de Deus.

Lições para a vida

1. A maioria de nós leva a sério suas responsabilidades. Sejam elas no trabalho, fazendo parte de uma equipe, ou sendo eleitos para uma posição, nós trabalhamos duro para retribuir a confi ança depositada em nós. Da mesma forma deveríamos trabalhar duro, para sermos bons mordomos no desempenho da mais sublime tarefa que Deus nos confi ou: propagar a mensagem do Evangelho a todas as nações.

2. A atitude de humildade de Paulo é algo a ser imitado. Paulo não deixou que a “falsa humildade” lhe impedisse de realizar aquilo que Deus havia lhe chamado a fazer. Ele tinha boa compreensão de quem era no contexto, de quem Deus é, e não se envergonhou ou se intimidou de concluir as grandes obras que o Senhor lhe chamara a fazer.

3. A fi na arte de construir pontes de amor para os perdidos pode levar anos para se aperfeiçoar. Mas isso não deve nos impedir de prosseguirmos em nossa missão. Devemos continuar tentando alcançar com amor e compaixão alguém que não é nada parecido conosco. Nesta caminhada podemos descobrir pistas para compartilhar o Evangelho com mais efi cácia. É interessante notarmos que há várias maneiras de partilharmos a mensagem de Cristo com os não-cristãos, devemos ser sensíveis à direção de Deus e deixar que Ele nos use no momento, lugar e da maneira certa.

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