importante é a evidência?

Lucas devota a maior parte do capítulo 24 para demonstrar as reais evidências da ressurreição de Jesus. Após a cena inicial do túmulo, ele relata a história de dois homens no caminho de Emaús. Então, o Cristo ressuscitado aparece diante dos discípulos numa sala fechada e mostra-lhes seu corpo físico. Este relato é similar ao de João, com exceção à ausência de Tomé. No princípio desta aparição, os discípulos não acreditaram. Então, Ele comeu algo para convencêlos de que era real. Herschel Hobbs aponta algumas coisas sobre o corpo ressurreto de Cristo. Ele era real, um corpo físico e carregava as marcas do sofrimento do calvário. Ele era consciente, um ser pensante. Entretanto tempo, espaço e densidade não lhe eram aplicáveis. Ele aparecia e desaparecia. Ele entrava em lugares fechados sem a necessidade de abrir qualquer porta ou janela. Ele se alimentava, ouvia, via e falava. Ele era capaz de ser tocado e reconhecido. (An Exposition of the Four Gospels: Luke, p. 351).

 

Caso as evidências não fossem importantes, Lucas não teria gasto tanto tempo e detalhes expondo estas aparições pós-ressurreição. Em abril de 2008, pude despender uma tarde com o Dr. Josh MacDowell, o autor de obras apologéticas como “Evidência que Exige um Veredicto”, publicada no Brasil pela Editora Candeia. Há um grande número de materiais que os cristãos podem explorar para defenderem-se das acusações que os relatos nos evangelhos são fi ccionais, falhos ou muito simplistas. Porém, MacDowell alertou-me que as evidências podem levar-nos somente até certo ponto, por isso a fé é um ingrediente essencial no cristianismo. Nossa meta deve ser termos uma fé inteligente. Jonathan Edwards ensinou que não há contradição numa fé que é razoável tanto intelectual quanto emocionalmente, que é decorrente de um coração que se relaciona com Cristo. Nós precisamos de equilíbrio.

Os olhos deles foram abertos

Jesus seguiu o mesmo padrão aqui que fi zera com os discípulos a caminho de Emaús, expondo as Escrituras do Antigo Testamento que falavam acerca do seu sofrimento, morte e ressurreição. Note a ênfase dele que “era necessário que se cumprisse tudo” (v.44). Pedro, que estava entre os que contemplaram este fato, compartilha seu entendimento deste conceito em 1 Pedro 1:10-11, aludindo ao fato de que os profetas diligentemente procuraram a verdade e falaram claramente sobre os sofrimentos e a glória de Jesus. Cristo cumpriu tudo. Isto era uma necessidade, não uma opção. Por isso, como cristãos, podemos argumentar pela exclusividade de Cristo.

Pedro adiciona no verso 12 que o Espírito Santo iluminou o coração deles com o conhecimento do Evangelho, de forma que eles pudessem ministrar aos outros. O Espírito Santo é responsável por abrir nossos olhos espirituais, de forma que possamos ser capazes de reconhecer a verdade (veja João 14:15-16 e 25-26; 1 Coríntios 2:14-16), convencenos do pecado e nos dá a mente de Cristo. Note, portanto que nos escritos de Lucas, a obra do Espírito Santo está conectada à primazia da Palavra, e não a qualquer outro recurso da verdade. Sem esta direção jamais seremos capazes de entender completamente os ensinamentos de Jesus.

A comissão – aplicada a nós

As palavras contidas em Lucas 24:46-49 não são as mesmas encontradas em Atos dos Apóstolos 1:4-8, porém os princípios são muitos semelhantes.

 1. Cristo tinha que sofrer e ressuscitar no terceiro dia. Sofrimento e ressurreição andam juntos ao longo dos Evangelhos. Os primeiros discípulos não fi zeram esta conexão imediatamente.

2. A mensagem de arrependimento e perdão seria pregada no mesmo contexto. Leon Morris percebe que Lucas foi mais direto ao ensinar esta doutrina do que os outros evangelhos sinóticos. “Todos os três sinóticos têm esta declaração de Jesus: ‘Eu não vim chamar justos, mas pecadores’; porém somente Lucas adiciona ‘ao arrependimento’ (5:32, NVI). Poderá argumentar-se que isto está implícito em Mateus e Marcos, mas o ponto é que Lucas explicita isto. Ele não deixa escapar a necessidade por arrependimento. Ele nos informa que Jesus usou o arrependimento de Nínive como uma censura à atual geração impenitente (11:32); e que Ele até mesmo usou a queda de Tiro e Sidom com o mesmo propósito (10:13; eles não teriam resistido às evidências dos sinais e milagres realizados naquela geração)”. (New Testament Theology, p. 180)

3. Veja também Lucas 13:3-5; 15:7-10 e Atos dos Apóstolos 2:38; 3:19; 5:31; 8:22; 11:18; 17:30 e 26:20. Lucas concentra-se nos ensinos de Jesus de que as pessoas precisam se arrepender de seus pecados de forma a receber o perdão.

4. A primazia da pregação ou proclamação da mensagem é muito evidente no livro de Atos. Eu sei que há muitos que falam sobre evangelismo de “estilo de vida”, e sei que nosso estilo de vida é importante. Entretanto, uma vida sem uma mensagem verbal não oferecerá um testemunho muito forte.

5. A mensagem deveria começar em Jerusalém e então ser espalhada para todas as nações, a mesma frase citada em Mateus 28:18-20, uma referência a todos os grupos de pessoas ao redor do mundo. Atos dos Apóstolos 1:8 amplifi ca a intenção ao falar sobre como e o Evangelho seria pregado.

6. Eles receberiam o Espírito Santo, prometido pelo Pai (João 14:6). Ele seria fonte do poder deles. O livro de Atos poderia ser corretamente intitulado “Atos do Espírito Santo”. É digno de nota que os discípulos não oraram para receber o Espírito Santo, isto porque o Pai já havia prometido enviá-lo. Havia apenas um requerimento para recebê-lo: esperar. Hobbs faz um comentário interessante sobre o verbo traduzido por “revestido” ou “dotado”. Por causa da sua conjugação verbal, tem o signifi cado de ser algo que os discípulos teriam que fazer por si mesmos. Isto signifi ca que os discípulos teriam que se revestirem ao invés de fi carem esperando que o Pai lhes vestisse. O Espírito Santo viria em poder, porém, eles tinham que se revestirem com este poder. Isto sugere que o poder do Espírito Santo pode estar disponível, todavia não operando. (Hobbs, p. 354).

Para que o Espírito Santo esteja em plena operação (ou seja, trabalhando) em nossa vida, precisamos render o controle de cada área dela em sua direção. (veja Efésios 5:18). Se o Espírito Santo está no controle de nossa vida, teremos então o equilíbrio entre a apologética intelectual, a defesa das nossas convicções e a fé simples e pura, como a de uma criança, quando compartilharmos o Evangelho com outras pessoas.

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