³³ Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! ³⁴ Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? ³⁵ Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? ³⁶ Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.

Romanos 11:33-36 

INTRODUÇÃO

   O Pr. Larry Titus em seu livro Teleios – o homem completo17, contou a história de Craig, um homem que sofria de crises depressivas, desde a separação de seus pais que ocorreu quando tinha apenas 2 anos de idade. Após o divórcio ele passou a viver em um lar dividido e disfuncional por muito tempo. Aos 13 anos fora visitar o seu pai e o encontrou morto, ele deixando uma mensagem de suicídio em que informava ter sido Craig a razão da sua morte. A partir desse momento o jovem, desesperado e carregando uma culpa insuportável, foi morar nas ruas, roubando comida de bêbados e dormindo nas lixeiras. Quase morreu ao ser despejado na caçamba do caminhão que recolhia lixo. Craig viveu sentindo-se um lixo, pois considerava que levara o pai ao suicídio.
   Diferentemente de Craig, José (Gênesis 37 a 50) teve uma origem muito positiva, fora muito desejado e amado pelos
seus pais. Ele era o filho preferido de Jacó que o elogiava diante dos irmãos, recebia presentes especiais e seu pai confiava muito nele. A dificuldade dele era o relacionamento com os seus irmãos. Com eles vivenciou muitas situações difíceis, “bulling” e principalmente injustiças. Foi alvo de ciúmes, inveja, desejaram matá-lo, foi vendido como escravo. No Egito sofreu assédio sexual, foi caluniado, preso injustamente e traído pelas pessoas que ajudou. Mesmo assim manteve a sua fé e integridade, obtendo vitória recebendo bênçãos de Deus.
   Essas duas histórias nos fazem perceber que certos problemas familiares podem gerar traumas emocionais e
serem difíceis de superar por conta própria. Às vezes, mesmo após nascerem de novo em Cristo, os traumas ainda interferem na forma de verem a si mesmas.
   Na psicologia o trauma psicológico é definido como uma resposta emocional a algum acontecimento que provoca memórias dolorosas e que pode afetar o conceito de identidade do indivíduo. Podem surgir muitas emoções negativas logo após o evento traumático ou algum tempo depois. Baker afirma que “o trauma psicológico acontece quando ninguém está presente para nos dar apoio e nos ajudar a compreender os danos que sofremos. Um evento doloroso torna-se traumático quando adquire um significado negativo a respeito de quem somos18”. Isto significa que o trauma além de provocar memórias dolorosas pode afetar o nosso conceito de identidade e o nosso equilíbrio emocional.
   Qual seria o “segredo” de José para permanecer firme apesar das adversidades que sofreu? Craig e José passaram por vivências difíceis e traumáticas. O primeiro sucumbiu à dor e deprimiu, o segundo foi resiliente. Brandão define a resiliência como a “habilidade das pessoas responderem às frustrações e estresses diários, em todos os níveis, com superação e recuperação emocional19. A origem da resiliência de José era a sua fé no Senhor! A convicção de Sua fidelidade independente das circunstâncias. Isto o ajudava a superar todas as adversidades.
   Estar presente e dar apoio a quem sofre é imprescindível! Como igreja e corpo de Cristo entendemos que o nosso coração deve estar voltado ao próximo. Dessa forma cumpriremos o desejo do Senhor para nossas vidas, a de “amarmos uns aos outros” (1 João 4:7). O Amor vindo do coração de Deus nos fortalece e nos ajuda a diminuir a dor dos traumas e a sermos resilientes.

AS TRÊS GRANDES PERGUNTAS DA HUMANIDADE: “DE ONDE EU VIM? O QUE ESTOU FAZENDO AQUI NESTE MUNDO? E PARA ONDE VOU”?

   As respostas a essas três perguntas podem variar conforme a crença ou filosofia de quem responde. Nós cristãos, devido à nossa fé, cremos no Deus Triuno e criador de todas as coisas (Gn 1). Isto nos fortalece e nos impulsiona a entender, conforme a Palavra nos ensina, que Deus tem um plano e propósito para toda a humanidade e assim encontramos paz n’Ele.
   Quando pensamos sobre a nossa origem, propósito e futuro geralmente consideramos a nossa história familiar. Os nossos antepassados são a referência para nossa identidade. Saber de onde vieram, os seus costumes e história são informações passadas de pais para filhos, contadas em
fotos, vídeos e narrativas de acontecimentos peculiares. As características genéticas, de personalidade e temperamento fazem parte da nossa história familiar e nos dão referências sobre a nossa própria identidade e perspectivas para as decisões sobre o nosso futuro.
   A vivência familiar influencia no crescimento e desenvolvimento psíquico, físico e social das pessoas. A família é a matriz da identidade de cada ser humano, se a família desenvolver vínculos saudáveis oferecerá equilíbrio emocional, estabilidade nas relações, comunicação afetiva satisfatória e modelo de autoridade clara e compreensível. Abreu afirma: “o modelo que o adulto constrói de si mesmo reflete a imagem que seus pais tiveram dele. Esses modelos governarão seus medos, seus desejos e suas expectativas quanto ao futuro”. A família serve de referência para um futuro com conquistas e alegrias ou fracassos e tristezas.
   Na história de José percebemos que seu grande problema era o vínculo fraterno (com os irmãos) e toda a agressividade que era dirigida contra ele a ponto de planejarem destruir o seu presente matando-o, ou futuro vendendo-o como escravo (Gênesis 37:20-28). Seus irmãos tinham sérios problemas de comportamento e relacionamento ocasionando muitas decepções a Jacó. O aspecto mais importante é que mesmo havendo desentendimentos, traumas e desestabilidade nessa família Deus não desistiu deles, pois tinha um grande propósito para suas vidas. Ele os exortou, disciplinou, corrigiu e abençoou de tal forma que José (seus filhos) e seus irmãos deram origem às doze tribos de Israel.
   José entendeu a sua origem e o seu propósito na vida, pois Deus o guiava em cada momento de sua história. Assim é conosco também, mesmo que nada saibamos de nossas origens familiares ou não tenhamos uma história muito bonita para contar. Acima de todas as coisas Deus é a nossa origem, Ele é a razão de nossa existência e n’Ele está o nosso futuro. No Senhor Jesus temos a esperança de poder recomeçar mesmo que tenhamos problemas e dificuldades em várias áreas de nossas vidas. N’Ele temos a esperança de conseguirmos superar as adversidades. O Senhor não nos abandona. “Porque, se o meu pai e a minha mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá” (Salmos 27:10).

A COMUNIDADE DE FÉ AJUDA O INDIVÍDUO A ENCONTRAR RAZÃO PARA SUA EXISTÊNCIA (Efésios 2:10)

   Contamos anteriormente a história de Craig e vimos como ele sofreu a ponto de tratar a si mesmo como se fosse lixo por não suportar a dor e culpa pela morte do pai. Podemos perceber que ao passar por situações difíceis e de conflito muitas vezes a nossa mente fica confusa tentando achar uma explicação para a dor, perda ou fracasso. A tendência é culpar a si mesmo ou aos outros, por vezes perdemos a esperança e pensamos em desistir. O caminho da autodestruição, autopunição ou do abandono de si mesmo passa a ser traçado e podemos entrar em depressão e até adoecer fisicamente.
   O Pr. Larry conta em seu livro21 como tratou essa dor com Craig, dizendo-lhe que “embora o seu pai terreno tivesse falhado com ele, seu Pai celestial nunca falharia”. Prossegui e descrevi como Deus havia investido na vida dele e que futuro incrível Deus tinha em mente para ele... vocalizei o que o seu pai verdadeiro não fora capaz de dizer: “Craig, eu o amo e tenho orgulho de você”. Essas palavras transformaram a percepção que Craig tinha de si mesmo e restauraram a sua esperança e alegria. O Pr. Larry entendeu que deveria se colocar no lugar de pai e assim tratar a ferida de sua alma. É isso que Deus espera de todos nós, que nos comportemos como família, uma comunidade de fé e sejamos instrumentos de cura e restauração através de Seu amor.
   Deus sempre vai em direção ao que sofre, a humanidade é criação d’Ele e pelo Seu grande amor estende as Suas mãos em direção a todos os que O buscam, vemos isso na ação redentora de Seu Filho Jesus (João 3:16), pois através Dele somos feitos Seus filhos “Pois todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos vocês que foram batizados em Cristo de Cristo se revestiram.” (Gálatas 3:26-27). Em Cristo podemos chamar a Deus de Pai e nos tornarmos Seus herdeiros (Gálatas 4:6-7).

AINDA QUE NADA DÊ CERTO TUDO FICARÁ BEM SE PERMANECERMOS FIEIS A ELE.

   Ser vendido como escravo aos 17 anos é algo realmente muito cruel, assim foi com José. Certamente ele imaginava ter um futuro muito bom, uma vida abastada e talvez se visse líder da família, já que havia tido sonhos a respeito disso. Ele procurava ajudar em tudo ao seu pai Jacó que por sinal confiava muito nele. Mas de repente TUDO mudou! Os sonhos e planos caíram com ele dentro da cisterna em que fora jogado (Gênesis 37:22-24). Quantas emoções e quantos pensamentos desesperadores esse adolescente vivenciou enquanto gritava clamando pela sua vida naquele buraco escuro. E mesmo tendo tido um lance de esperança ao ser retirado de lá percebeu a pior traição – ser vendido como escravo pelos próprios irmãos! Qual poderia ser o seu futuro a partir disso?
   José guardara em seu coração tudo o que o seu pai havia lhe ensinado sobre o que era correto diante de Deus, aprendeu a temê-Lo, respeitá-Lo e obedecê-Lo. Isto guiou todas as ações e decisões dele durante o tempo da escravidão. Deus conhecia José e sabia de tudo o que ele precisava para tornarse um grande líder e salvar o seu povo e as nações da fome e da morte. Nenhum acontecimento na vida de José, por mais
triste que fosse, passou despercebido d’Ele (Romanos 8:15-16). E isto fez grande diferença para a família de José. Que maravilhoso é entender que ao mostrar o Caminho da salvação estamos contribuindo para a transformação do futuro de tantas pessoas e até de nações.
   O Pr. Larry se dispôs a ser instrumento de cura na vida de Craig, ele obedeceu esse propósito de Deus e abençoou aquele jovem. José, mesmo nas adversidades, manteve-se firme e fiel a Deus e cumpriu os desígnios de Deus para o seu povo. O Senhor também tem um propósito para cada um de nós individualmente e como igreja. Temos a missão de levar o amor manifestado em Jesus que “cura os quebrantados de coração e liberta os cativos” (Isaías 61:1). Seguindo os passos de Jesus transmitiremos a Sua Verdade e Salvação. Que maravilhoso é entender que ao mostrar o Caminho da salvação estamos contribuindo para a transformação do futuro de tantas pessoas e até de nações.

O SER HUMANO SOMENTE SE REALIZA E ENCONTRA PROPÓSITO EM DEUS, O CRIADOR E DOADOR DA VIDA (Jeremias 29:11).

   Em Gênesis 45 quando José se revela aos seus irmãos, de antemão já os perdoando e dizendo-lhes que não se condenassem, mostra mais uma vez a sabedoria de Deus em sua vida. “Agora, pois, não fiquem tristes nem irritados contra vocês mesmos por terem me vendido para cá, porque foi para a preservação da vida que Deus me enviou adiante de vocês. Deus me enviou adiante de vocês, para que fosse conservado
para vocês um remanescente na terra e para que a vida de vocês fosse salva por meio de um grande livramento. Assim, não foram vocês que me enviaram para cá, e sim Deus, que fez de mim como que um pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito” (Gênesis 45:5-7,8). Toda a inteligência e sabedoria de José, sua riqueza e mesmo a sua disposição em ajudar a sua família não fariam sentido se não houvesse o perdão. O perdão faz parte da essência de Deus, portanto não pode ser ignorado. Quando houve perdão entre toda a família de José (Gênesis 45:15) o destino deles e o plano de Deus para Israel teve continuidade.
   Quando somos magoados, feridos, traídos por alguém que amamos, muitas emoções e sentimentos negativos passam em nossa mente. É comum sentir raiva, tristeza, rancor e sentimento de vingança a ponto de ficarmos cativos dessas emoções. Não conseguimos viver em paz nem sentir alegria, podemos adoecer física e/ou mentalmente. Esses sentimentos travam a vida e impedem o fluir do propósito de Deus para todos nós!
   O perdão é essencial para dar continuidade à vida. Precisamos aprender a perdoar mesmo que seja difícil ou pareça impossível. O sofrimento e a dor serão superados, inicialmente, através do perdão. É necessário perdoar para que a vida flua e tenha continuidade dentro de nós. Ao perdoar obedecemos um desejo do coração de Deus. Jesus nos ensinou que devemos perdoar sem limites (Mateus 18:21-22) e perdoar para sermos perdoados (Mateus 6:14).
   Os planos de Deus para a família de Jacó se realizaram após o perdão e reconciliação de todos. Assim também Deus age em nossas vidas. Seus propósitos se concretizarão quando a nossa mente e coração estiverem firmes n’Ele em obediência e fidelidade.

CONCLUSÃO

   Contamos duas histórias muito interessantes através das quais aprendemos que a dor e sofrimento podem ocorrer na vida de qualquer pessoa mas Deus está sempre pronto para socorrer e levantar os que sofrem. Deus dá valor a nossa existência, sentido ao nosso presente e esperança ao nosso futuro.
   O Senhor deseja que sejamos instrumentos de benção e transformação na vida uns dos outros, assim como o Pr. Larry agiu com Craig podemos praticar o amor de Cristo com o nosso próximo e fazermos a diferença em nossa sociedade, na igreja e em nossa família.
   A obediência e fidelidade de José servem como exemplo para o nosso relacionamento com Deus. Assim como José foi instrumento divino de perdão, transformação e benção entre os seus e todas as nações ao seu redor, nós também podemos ser canal de transformação.
   É uma benção entender a ação do amor e perdão de Deus em nossas vidas e como dependemos Dele para alcançar os Seus propósitos para a humanidade. Como é maravilhoso saber que Deus pensa sobre nós com tanto amor e cuidado!

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Qual era o motivo da agressividade dos irmãos contra José?
R.

2. Qual é o significado da palavra resiliente?
R.

3. Como Deus age em relação aos que sofrem? E o que Ele espera que façamos?
R.