Um ensino central na mensagem do cristianismo
Muito tem sido escrito tanto na literatura secular quanto na cristã concernente à ressurreição. Um respeitado comentarista, John R. W. Stott, advoga que nossa examinação precisa conter três elementos: “O que ela signifi ca?” (Semântica), “Ela de fato aconteceu?” (História) e “Por que ela é importante?” (Relevância). (Contemporary Christianity, p. 71).
Para responder à primeira questão, ele declara categoricamente:
“A evidência aduzida pelos Evangelhos é que, antes e depois da ressurreição, Jesus é a mesma pessoa com a mesma identidade (‘Sou eu mesmo!’, Lucas 24:39 NVI). Porém a ressurreição deu-lhe um corpo transformado, transfi gurado, glorifi cado. A ressurreição foi um ato dramático de Deus através do qual Ele deteve o processo natural de deterioração e decomposição... , resgatando Jesus do reino da morte e transformando seu corpo em um novo veículo para sua personalidade, dotando-lhe de novos poderes e possuindo a imortalidade”. (ibid. p. 76)".
A evidência histórica da ressurreição de Cristo pode ser colocada em três categorias simples: o desaparecimento do corpo, as aparições do Senhor e a emersão da igreja. A primeira parte de Lucas 24 lida com a primeira linha de evidência. Agora, porque a ressurreição de Jesus é importante? Stott assevera que ela nos capacita a encararmos nosso passado, presente e futuro porque podemos confi ar no perdão, poder e por fi m no triunfo de Deus (ibid, p.85). Um dos grandes benefícios do Evangelho é que ele traz confi ança e segurança em momentos de desesperança e insegurança.
A ressurreição é o evento que separa o cristianismo das outras crenças. Nós servimos a um Salvador ressurreto. Isto é nossa única fonte de esperança. Se historicamente a ressurreição fosse inverossímil, então toda a nossa fé seria vã.
O relato das Escrituras
O capítulo 23 de Lucas conclui com as mulheres preparando as especiarias e o bálsamo e descansando no sábado. De acordo com o verso 10 de Lucas 24, essas mulheres eram Maria Madalena, Joana, Maria irmã de Tiago e outras mulheres. Maria Madalena foi a primeira a ver o Senhor ressurreto, segundo os relatos de Marcos 16:9 e João 20:11 18. O versículo 1 do relato de João, capítulo 20, na versão revista e atualizada traduz por “de madrugada”, enquanto que outras traduções versam “de manhã cedo”, no primeiro dia da semana. Mateus 28:1 e Marcos 16:2 usam linguagem similar, embora João 20:1 indique que ainda estava escuro quando as mulheres foram ao sepulcro. Estas referências têm levado muitos estudiosos a concluírem que a ressurreição ocorreu ao pôr do sol de sábado. Pelos relatos fi ca óbvio que as mulheres esperavam encontrar o corpo na tumba. Mesmo Jesus tendo predito sua ressurreição seis vezes, somente em Lucas, elas não estavam convencidas. Marcos 16 descreve a preocupação delas acerca de que forma a enorme pedra seria tirada da entrada do sepulcro; Mateus 27:62-66 expõe a colocação da guarda em torno do túmulo, como um selo para garantir que o corpo não seria roubado. Entretanto, surpreendentemente elas não encontraram o corpo.
Lucas reporta a aparição de dois homens com vestes resplandecentes. Mateus e Marcos mencionam somente um homem, ou anjo, ao passo que João menciona as fi guras de dois anjos aparecendo a Maria Madalena depois dela ter ido e contado aos discípulos do sumiço do corpo. Diversas explicações têm sido propostas para estas diferenças no detalhes. F.F. Bruce conclui: “O fato é que cada escritor está tentando trazer a sua perspectiva única e sua compreensão teológica através dos detalhes que ele incluiu ou deixou de fora... Quando olhamos para a ressurreição através destes olhos, informados pela perspectiva de cada escritor dos Evangelhos, vemos não simplesmente um milagre, nem mesmo o fato da ressurreição, mas a mensagem que a igreja tem crido que Deus queria comunicar através da ressurreição de Jesus Cristo.” (Hard Sayings of the Bible, p. 508).
Os anjos relembraram as mulheres das profecias prévias, que elas haviam ouvido, várias vezes antes da crucifi cação, dos próprios lábios de Jesus. Uma vez recordadas das palavras que o Senhor dissera, correram para relatar aos onze discípulos restantes e aos que estavam com eles. Aparentemente, essas mulheres estavam cheias de entusiasmo e alegria pelo que haviam visto e ouvido. Gostaria que você notasse a recepção que elas tiveram: ninguém creu nelas, pensaram que estavam delirando e falando coisas sem sentido. Herschel Hobbs observa que uma das grandes provas da ressurreição de Jesus é que nenhum dos seus seguidores esperava que isto acontecesse. (An Exposition of the Four Gospels p. 346).
Fazendo jus à sua natureza, Pedro levantou-se, apesar das suas dúvidas, e correu para investigar a situação. Quando ele olhou para o túmulo, viu os lençóis, porém não o corpo. O relato paralelo de João 20:3-10 oferece detalhes adicionais. Aparentemente, João ultrapassou a Pedro e olhou a tumba vazia por primeiro. Pedro viu o lenço que estivera na cabeça do Mestre, separado do restante das demais vestes. Lucas e João enfatizam a posição da mortalha, o mesmo lugar onde estivera o corpo – um poderoso argumento próressurreição em vez do roubo do corpo.
João creu, mas não entendeu. Lucas disse que Pedro voltou para casa, “maravilhado” com o que acontecera. Pedro creu em algo, ou ele não teria deixado o túmulo. O texto não nos diz se ele entendeu ou aceitou completamente o que havia observado. No caminho de Emaús, um dos dois discípulos menciona que ouvira falar da ressurreição do Salvador e posteriormente reconheceram-no, voltando a Jerusalém para testemunhar aos demais. Neste relato é dito que o Senhor aparecera a Pedro (Lucas 24:34) numa determinada ocasião, mas não há nenhuma indicação de que Pedro tinha uma verdadeira ousadia em testemunhar até o dia de Pentecostes. Talvez ainda estivesse envergonhado de si mesmo por haver negado a Jesus durante as horas de sofrimento.
É muito fácil para os cristãos de hoje criticarem os discípulos pela difi culdade deles em crer na ressurreição. De certa forma, esta é outra peça das evidências que provam a realidade dela. Os escritores dos Evangelhos foram honestos ao retratar a difi culdade das testemunhas da crucifi cação de Jesus em aceitar a realidade de que o Salvador estava vivo novamente. Em Marcos 16:14, Jesus censurou a incredulidade e dureza de coração deles. Isso deve servir-nos como uma precaução contra tornarmo-nos demasiadamente argumentativos e arrogantes, ao discutirmos esta questão com pessoas que estão buscando sinceramente a verdade. Nós devemos ajudá-las em sua busca.