As sete últimas palavras

Durante o tempo que pastoreei a igreja em New Auburn, um dos momentos mais marcantes foi quando participamos de um acampamento de uma semana, promovido por nossa associação. Durante aquela semana cada um dos pastores presentes pegou uma das “sete últimas palavras”. ou as sete últimas frases, de Jesus na cruz para expô-la ao grupo:

 

1)“Pai perdoa-os, porque eles não sabem o que fazem” (Lucas 23:34); 2) “Estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:43) ; 3) “Mulher, aí está o teu fi lho” (João 19:26); 4) “Meu Deus, Meu Deus, por que me desamparaste?” (Marcos 15:34; Mateus 27:46); 5) “Tenho sede” (João 19:28); 6) “Está consumado” (João 19:30); 7) “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lucas 23:46).

Três delas são encontradas somente em Lucas. Leon Morris alegou que há uma sustentação teológica subjacente à seleção de materiais. Lucas não repetiu simplesmente o que outros tinham dito. Ele estava profundamente interessado na paixão de Cristo e, embora não tenha hesitado em usar o material que possuía dos outros evangelistas, ele também reuniu informações exclusivas. Ele nos deixou sem qualquer sombra de dúvida de que a paixão foi o clímax de tudo que Jesus fez. Foi para isto que Cristo veio ao mundo.

Houve, pois, a malícia dos inimigos de Jesus, a disponibilidade de um de seus seguidores de traí-lo, a multidão pedindo o sangue de um homem que sabia que não houvera qualquer ofensa, o fracasso do governador romano de libertar um homem que ele reconhera como inocente. Mas houve também a mão de Deus. E porque Deus estava no controle, a última palavra não foi tragédia, mas triunfo (New Testament Theology, p. 183-84).

A primeira palavra

Jesus foi levado ao calvário e crucifi cado juntamente com “outros dois, ambos criminosos” (Lucas 23:32 NVI). No grego o uso de “outros” enfatiza a conotação de que eles eram “diferentes”, signifi cando que eram culpados de crimes e, portanto, dignos de morte. A despeito da multidão, dos líderes religiosos, e do que os soldados estavam fazendo, nosso Senhor manteve uma atitude de perdão. A Nova Versão Americana Padrão apropriadamente traduz o verbo com o gerúndio “dizendo”, indicando uma ação contínua. Como observado por Hershel Hobbs: “é possível que Ele tenha começado quando os soldados estavam preparando-o para crucifi carem-no, e continuou orando mesmo depois de haver sido cravado na cruz e levantado”. (An Exposition of the Gospel of Luke, p. 335).

O apóstolo Paulo nos ordena a termos o mesmo altruísmo, humildade e obediência em Filipenses 2:5-8, ou seja, o mesmo esvaziamento que Cristo teve. Porém é necessário que você se lembre do verso 4 “cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros”. No momento de sua maior agonia, Jesus ainda tinha graça misericordiosa para interceder por aqueles que não mereciam sua oração. Quando contemplo esta palavra de Jesus, eu preciso me perguntar se tenho o mesmo tipo de atitude em relação àqueles que não conhecem Cristo como seu Salvador. Tenho eu clamado para que o Espírito Santo lhes revele a luz da verdade ou oro para que eles sejam julgados por Deus?

A segunda palavra

Um dos criminosos continuou a blasfemar, como as outras pessoas. No relato único de Lucas, o segundo criminoso reconhece sua necessidade de temer a Deus na luz de seu estado condenatório, o qual ele mesmo admitiu ser justo. Jesus não havia feito nada de errado para merecer uma punição tão terrível quanto aquela. Aparentemente este homem arrependeu-se, creu no reino celestial e pediu por um lar naquele lugar quando Cristo ressuscitasse. Não obstante a sua teologia limitada, ele teve o mesmo tipo de fé de uma criança (Lucas 18:18) ou de Zaqueu (19:9). Ele não participara de nenhum tipo de ritual, que fi zesse dele alguém apto para o reino, todavia recebeu a promessa da salvação. Lucas tinha um propósito ao mostrar a importância de uma fé simples.

Esta “palavra”, ou declaração de Jesus, tem sido assunto de muita indagação acerca do paradeiro tanto de Cristo quanto deste criminoso após a crucificação. Teologicamente, há várias questões e eu vou apenas mencionálas, para que você possa estudar os textos relevantes. Uma questão é saber se Jesus tinha de estar no túmulo por três dias completos, ou se a ressurreição foi no terceiro dia. Outra questão é se Jesus desceu ou não ao Hades entre a sua morte e ressurreição (com base em interpretações possíveis de 1 Pedro 3:19 4:6 e Efésios 4:4). Além disso, Jesus poderia ter sido metafórico? Outra prerrogativa é a questão da pontuação no grego, talvez a ênfase devesse ter sido em “hoje”, com uma vírgula depois, indicando que Jesus não estava precisamente dando uma fórmula para “quando” o homem estaria com Ele, e sim apenas certifi cando-lhe de que aquele homem certamente estaria salvo (cf. João 20:17). Foram os seus corpos em um lugar e seus espíritos em outro (cf. Filipenses 1:21-23 e 2 Coríntios 5:6-8)? Finalmente, a palavra “Paraíso” é fundamental. Será que significa o céu (cf. 2 Coríntios 12:2-4 e Apocalipse 2:7)? Uma possível ferramenta para a compreensão de todas estas questões é a de associar esta “palavra” com a última palavra de Jesus na cruz. Como batistas do sétimo dia, em geral, temos interpretado esta passagem como uma asseveração de Jesus de que aquele homem, mesmo arrependendo-se de seus pecados no último momento, alcançou a salvação.

A terceira palavra

Mateus e Marcos enfatizam a crueldade da cruz e a separação com o Pai que Jesus experimentou. João concentra- se na consumação do plano da salvação. Ao recordar isto como uma declaração fi nal, Lucas centrou em dois aspectos: a natureza voluntária do sacrifício e a superintendência do Pai. Ele ofereceu a si mesmo no lugar daqueles que não poderiam oferecer nada.

Hobbs ajudou a ligar esta palavra com a segunda: “entrego” exprime o sentido de colocar ao lado. Essa foi também uma palavra usada no sentido bancário para se colocar algo em depósito para a guarda, a fi m de ser utilizado para a sua finalidade primária. Então, em um sentido definido Jesus depositou seu ato redentor nas mãos do Pai para assegurar a salvação todos os que cressem nele”. (p. 338).

Se esta interpretação é correta, então podemos confi antemente asseverar que Jesus estava declarando que estava de partida para estar com o Pai, porque a obra da redenção estava total e completamente consumada. Seu espírito poderia ser “depositado” no paraíso. Ele emprestou estas palavras de Davi no Salmos 31:5. Naquele contexto, o Senhor era a sua única rocha e fortaleza em meio à adversidade, com os inimigos em torno dele, colocando-o em constantes apuros.

Devemos lembrar, em seguida, que essa declaração foi feita no contexto da inexplicável agonia. Em meio a tal rejeição Jesus depositou sua vida nas mãos do Pai.

Estas “palavras” de Jesus são cheias de impactos pessoais e teológicos. Aconselho você a ler outros autores que possam lançar luzes sobre as “últimas palavras de Jesus na cruz” antes de formar sua opinião sobre as questões mais controversas de interpretação.

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