E leram no livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse.
Neemias 8:8
INTRODUÇÃO
A perseverança em estar no centro da vontade de Deus faz a diferença na vida daqueles que decidem esperar no SENHOR e confiar em Sua Palavra. Crer em Deus e ter a convicção de que Ele se importa com nosso bem-estar
físico, emocional e espiritual é pré-requisito básico para o cristão. Os desafios enfrentados são parte de um estilo de
vida adotado por aqueles que pretendem compor as fileiras dos discípulos de Cristo, chamados e escolhidos para o bom combate ao lado d’Aquele que não perde batalhas e que ama a fidelidade de Seu povo. Se nosso objetivo é viver para Deus, que possamos diariamente meditar em Sua vontade para conosco. Que aprendamos com nossos erros ou acertos, com as experiências vividas por aqueles que experimentaram a ira ou as misericórdias divinas. Dos que tiveram seus nomes registrados entre os heróis da fé na Bíblia Sagrada ou, até mesmo, que possamos aprender com o exemplo de fé de quem entrou para a história, posteriormente aos tempos em que as Escrituras foram redigidas e compiladas.
Nossa lição de hoje trata dos desafios lançados pela Palavra de Deus e o chamado para que sejamos orientados
e edificados em seu fundamento, a fim de que não nos desviemos do nosso alvo que é Cristo. Ao iniciarmos ou recomeçarmos uma atividade, devemos estar fundamentados em um planejamento que não deixe dúvidas quanto aos objetivos a serem alcançados. Ao lermos o livro de Neemias, temos grandes exemplos de perseverança, fé e autodisciplina. No oitavo capítulo desse livro, somos levados a meditar sobre uma das mais belas e vibrantes exposições públicas das Escrituras já vista e ouvida pelo povo de Deus. Vemos também a reação que essa leitura provocou nos ouvintes - os judeus que retornaram do cativeiro – os quais puderam reconhecer e se arrepender de seus pecados diante daquilo que ouviam. Esta lição nos convida a sermos, em todo e em qualquer momento, orientados pela Palavra de Deus. É Ele quem realmente sabe das nossas necessidades e sobre aquilo que de fato é o melhor para nós e para o Seu Reino.
UMA LEITURA PÚBLICA E INSTRUTIVA
Nem todos os leitores de um determinado texto têm a imediata capacidade cognitiva para entender cada frase ou cada linha do texto que lê. Nesse caso, aconselha-se que a leitura se repita por algumas vezes, frase por frase, parágrafo por parágrafo e assim sucessivamente, até que o texto comece a ganhar sentido na mente do leitor. Semelhantemente, acontece com aqueles que apenas ouvem uma leitura feita por outrem e, nesse outro caso, a atenção deve ser ainda maior. No segundo versículo do capítulo 8 de Neemias, lemos que “Esdras, o sacerdote, trouxe a Lei diante da congregação, composta por homens, mulheres, e todos os que eram capazes de entender o que ouviam...” (Neemias 8:2). O texto sugere que nem todos eram capazes de entender a leitura feita por Esdras. Porém, aqueles que podiam compreender estavam atentos diante do que ouviam. Os que não compreendiam contavam com a ajuda daqueles que estavam dispostos a colaborar com o processo.
A leitura pública da Lei estava sendo motivo de uma mistura de alegria e remorso por parte dos ouvintes, que reconheciam seus pecados e sabiam que os males que lhes sobrevieram eram consequências do seu afastamento da vontade de Deus e da procura por novos rumos, como bem declarou o SENHOR através do profeta Jeremias: “Porque o meu povo cometeu dois males: abandonaram a mim, a fonte de água viva, e cavaram cisternas, cisternas rachadas que não retêm as águas.” (Jeremias 2:13). Por mais que o versículo 2 sugira que alguns dentre o povo não compreendiam a leitura, esses não eram impedidos de serem instruídos, pois o texto segue dizendo: “E Jesua, Banis, Serebias, Jamim [...], e os Levitas ensinavam a Lei ao povo; e o povo permanecia no seu lugar. Eles iam lendo o Livro da Lei de Deus, claramente dando explicações, de maneira que o povo entendesse o que se lia” (Neemias 8:7-8).
ESTRATÉGIA E PERSEVERANÇA
A vontade de Deus estava sendo proclamada, desde o amanhecer até o meio do dia, diante de homens e mulheres atentos a tudo o que se dizia. O local escolhido fora a praça da cidade, diante do “Portão” ou “Porta das Águas”, um local estrategicamente escolhido, haja vista a importância daquele momento para todos os que voltaram do exilio. “Esdras leu o livro em voz alta, diante da praça que fica em frente ao Portão das Águas, desde o amanhecer até o meio-dia, na presença dos homens, das mulheres e dos que podiam entender. E todo o povo tinha os ouvidos atentos ao Livro da Lei” (Neemias 8:3). Sobre o desfecho da “Assembleia da Porta das Águas”, o Dr. James I. Packer diz o seguinte:
“[...] o fato é que, ao meio-dia, a assembleia da Porta das Águas achava-se tão compungida pelo que aprendera sobre o agir e a vontade de Deus — o Criador Santo, que escolhera, salvara e separara Israel para ser o seu povo santo — que caiu em prantos, e a ministração teve de ser interrompida.”
O esforço coletivo colaborou com a compreensão dos ouvintes. O Texto é enfático em afirmar: “[...] ensinavam a Lei ao povo; e o povo permanecia no seu lugar. Eles iam lendo o Livro da Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que o povo entendesse o que se lia” (Neemias 8:7-8). Havendo falta de compreensão, os colaboradores entravam em ação no processo de ensino da Palavra. Ao participarmos de nossas escolas bíblicas, podemos nos deparar com situações semelhantes em nossas igrejas. Em algumas ocasiões se faz necessário que
adotemos certos critérios para que a compreensão da lição seja alcançada por todos. Deste modo, o professor precisa ter paciência e empatia, ou seja, ele precisa sentir-se na situação daqueles que apresentam dificuldades no entendimento. Muitas vezes, cabe ao professor flexibilizar sua didática, adaptando a lição ao domínio geral, sem que seu conteúdo seja comprometido, mas visando a ampla compreensão por parte de todos.
INTERVENÇÃO DIVINA E ESFORÇOS NECESSÁRIOS
Enquanto estiveram cativos na Babilônia por cerca de setenta anos, os judeus tiveram que aprender a se comunicar no idioma dos caldeus, o aramaico. Essa prática trouxe algumas consequências um tanto quanto desconfortáveis após o exílio, pois o hebraico havia quase caído em desuso por parte dos exilados. O esforço dos intérpretes durante a leitura sacerdotal da Lei foi primordial para que houvesse ampla compreensão. Ainda sobre isso, Packer argumenta que:
“A necessidade de que todos conhecessem a revelação de Deus acerca de sua vontade e de seus caminhos, na Torá (os cinco livros de Moisés), era clara e óbvia: a Lei achava-se escrita em hebraico, enquanto todo o povo falava aramaico,- e como, ao menos desde o exílio, não se fizera nenhuma tentativa de âmbito nacional de se ensinar a Lei, o povo comum era profundamente ignorante de seu conteúdo. E a ignorância torna impossível servir e agradar a Deus. Um programa nacional de instrução da lei divina faziase urgentemente necessário.”
Ao observarmos o contexto envolvendo o retorno dos exilados para sua terra, é oportuna a contribuição que fez o
Dr. Packer ao afirmar que “o povo comum era profundamente ignorante de seu conteúdo” (a Lei).
Deus, em Sua infinita bondade e misericórdia, conduziu todo o processo de reconstrução de Jerusalém e levantou homens como Neemias e Esdras, entre outros, para ensinar o povo sobre Sua vontade, trazendo entendimento a todos, independentemente de nível de instrução. Ao lermos o livro de Neemias, é impossível não percebermos a ação divina. Ele, sendo ainda copeiro do rei em outra terra, sentiu-se incomodado ao saber sobre a situação de miséria de seu povo e a ruína de Jerusalém, como veremos a seguir: “Então o rei me disse: — Por que o seu rosto está triste, se você não está doente? Isso tem de ser tristeza do coração! Então fiquei com muito medo e lhe respondi: — Que o rei viva para sempre! Como não estaria triste o meu rosto, se a cidade onde estão sepultados os meus pais está em ruínas e os seus portões foram queimados?” (Neemias 2:2-3).
Durante todo o trabalho de reconstrução dos muros e demais obras, Neemias e seus liderados enfrentaram dificuldades e ameaças, porém, a perseverança e a fé foram fundamentais para que as obras fossem concluídas com êxito e, milagrosamente, em um curtíssimo período de tempo. “A reconstrução da muralha foi terminada aos vinte e cinco dias do mês de elul, em cinquenta e dois dias. Quando todos os nossos inimigos ouviram isso, todos os gentios à nossa volta temeram e decaíram muito no seu próprio conceito, porque reconheceram que foi por intervenção do nosso Deus que fizemos esta obra” (Neemias 6:15-16). É evidente que houve intervenção divina em todo o trabalho de reconstrução dos muros.
LEITURA REVERENTE E DIDÁTICA
Quando fazemos a leitura de um livro, por mais significativo que ele nos seja, temos a liberdade para fazê-lo em qualquer momento que tenhamos disponível sem que para isso nos preocupemos com nossa condição espiritual.
Porém, nossa leitura bíblica deve ser feita com devoção e meditação, pois quando estamos em sintonia com o Inspirador das Escrituras, certamente nossa leitura será mais produtiva e também, inspiradora. Davi tinha a certeza em seu coração sobre os benefícios de uma vida de meditação na Palavra de Deus: “Bem-aventurado é aquele que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Pelo contrário, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite Ele é como árvore plantada junto a uma corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo o que ele faz será bem-sucedido” (Salmos 1:1-3).
Ao pensarmos em um estudo bíblico elaborado por alguém que pretenda fazer uso do conhecimento adquirido para transmitir aos seus ouvintes, concluímos que a dedicação deverá ser ainda maior. Pois o leitor/instrutor terá que considerar o seu próprio aprendizado e o aprendizado daqueles que estarão atentos ao que ele tem a dizer. Se quiser ter um bom desempenho, ele terá que estar envolvido com certos princípios cristãos que farão toda a diferença. Esses princípios são: reverência, humildade, amor a Deus, amor ao próximo e temor do Senhor, que “é o princípio da sabedoria” (Provérbios 9:10). No Salmos 119 há uma declaração que expressa a grandeza da Lei de Deus e a satisfação que ela nos traz. Os Preceitos Divinos tornam seus conhecedores e praticantes, homens e mulheres destacados entre os demais: “Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia inteiro. Os teus mandamentos me tornam mais sábio que os meus inimigos, porquanto estão sempre comigo. Tenho mais discernimento que todos os meus mestres, pois medito nos teus testemunhos. Tenho mais entendimento que os anciãos, pois obedeço aos teus preceitos” (Salmos 119:97-100 NVI). Não confundamos a honra atribuída a Deus e Sua Palavra e o que é dito sobre aqueles que nela meditam com uma atitude de arrogância por parte do salmista. Ele faz uso de palavras que exaltam o Criador e Sua Lei indicando total dependência e confiança na Lei de Deus. Muitos são os testemunhos daqueles que garantem que aprenderam a ler e escrever através das Escrituras. Certamente, durante esta lição, não faltarão experiências a serem compartilhadas por alguns de nossos irmãos em nossas igrejas. Não é raro haver aqueles que tiveram o privilégio de serem alfabetizados por meio da leitura bíblica. Ouvir sobre essas práticas “autodidáticas” soam muito bem aos nossos ouvidos.
No contexto do presente estudo, à medida que o povo ouvia a leitura da Lei, havia quebrantamento no coração dos arrependidos e a preocupação por parte dos intérpretes, a fim de que todos chegassem ao pleno entendimento. Houve mudança de conceitos e alcance de excelentes resultados. De acordo com Renovato, “o povo entendeu a mensagem divina, e, como resultado, sobreveio um poderoso avivamento no meio deles. Houve um quebrantamento verdadeiro, e não um simples remorso.”
ATITUDES PRODUZIDAS PELA PALAVRA
Ao lermos as Escrituras, geralmente buscamos respostas para nossos dilemas, procuramos um texto visando preparar um esboço para uma mensagem ou lemos simplesmente pelo prazer de meditar em seu conteúdo. Os sentimentos gerados em nós podem variar de acordo com as nossas necessidades e com nosso estado de fidelidade ou de miséria espiritual diante de Deus. E é exatamente isso que observa-se na sequência. Havia uma certa confusão nos sentimentos do povo, e foi necessário que tanto Neemias como Esdras exortassem seus ouvintes para que se alegrassem ao invés de estarem tristes: “Neemias, que era o governador, e Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que ensinavam o povo disseram a todos: — Este dia é consagrado ao Senhor, nosso Deus, e por isso vocês não devem prantear nem chorar. Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei. Então lhes disse: — Vão para casa, comam e bebam o que tiverem de melhor. E mandem porções aos que não têm nada preparado para si. Porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto, não fiquem tristes, porque a alegria do Senhor é a força de vocês. Os levitas tranquilizaram todo o povo, dizendo: — Acalmem-se, porque este dia é santo. Não fiquem tristes.” (Neemias 8:9-11)
O apóstolo Paulo afirma que: “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Deus” (Romanos 10:17). A Palavra de Deus é que nos convence sobre nossa mudança de rumo e de atitudes, sendo essa, entre outras, uma de suas principais funções. Seus efeitos são surpreendentes, ela fará as mudanças necessárias no que diz respeito à vontade divina e não retornará para Deus sem resultados. Zacarias de Aguiar Severa afirma que:
“A maior parte da história bíblica (AT) se refere ao povo de Israel, formado e instruído por Deus com o propósito de servir de agente na história da redenção. Outra parte (NT) descreve a vida e as obras de Cristo, o descendente prometido a Abraão, que veio para abençoar as famílias da terra; descreve também a formação e expansão da igreja, o novo povo de Deus, constituídos por aqueles que creem em Cristo, de todas as Nações.
Ao descrever as ações, os propósitos de Deus e seus atributos, as Escrituras suscitam a fé naqueles que ouvem a sua mensagem com sinceridade de coração (Romanos 10:17); ela também instrui, corrige e aperfeiçoa a nossa crença e vida com Deus. Enfim, as ‘Sagradas Letras’ podem tornar o homem sábio para a salvação, pela fé em Cristo Jesus, e preparado para agir segundo a vontade de Deus (2 Timóteo 3:15-17). A Bíblia, então, é a fonte primordial do conhecimento de Deus e seus propósitos.”
Os objetivos da leitura e da proposta de Esdras e Neemias foram alcançados. Seus ouvintes puderam entender que a “fidelidade a Deus é melhor do que o sacrifício” (1 Samuel 15:22). Todo o povo chorava e sentia suas deficiências ouvindo as “Palavras da Lei”. Diante de tamanho pranto e arrependimento veio também a mensagem de consolo ao coração de todos, estimulando-os para que transformassem aquele momento em uma ocasião de festa e alegria e não em um dia de lamento. As instruções sobre a vontade de Deus e sobre a grandeza de Sua Lei não se limitaram àquela metade de dia de leitura e quebrantamento, na praça da cidade, diante do “Portão das Águas”. Tanto a restauração da cidade quanto a reeducação sobre os princípios divinos tiveram continuidade por um longo período na rotina do povo de Deus.
CONCLUSÃO
Neemias, ao saber sobre a ruína de Jerusalém e o estado em que seu povo se encontrava, chorou, jejuou, orou a Deus e sua oração foi atendida. Não havia mais nada a se fazer diante de tamanha desolação.
Há momentos em nossa vida que o controle sobre situações adversas parece nos “escapar pelos vãos dos dedos” e a única esperança é olhar para cima para buscar pelo socorro d’Aquele que de fato pode mudar toda e qualquer situação. A providência divina chegou e acompanhou Neemias em uma tarefa que para alguns era impossível, tanto em seu início como em sua conclusão. Porém, ele se manteve fiel ao Deus que viu o seu pranto, ouviu sua oração e o levantou para uma histórica missão. Deus esteve presente, Sua palavra foi proclamada e ensinada a todo o povo.
Que essa lição seja um incentivo para que jamais venhamos a desistir de nossos objetivos. Que a leitura e a meditação na Palavra de Deus sejam um bálsamo para a nossa alma trazendo quebrantamento e submissão Àquele que um dia “nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9).
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
1. Que atitude Deus espera de nós diante de Sua Palavra?
R.
2. Esdras leu o Livro da Lei desde o amanhecer até o meio do dia. Em sua opinião, o povo conseguiu permanecer atento do início ao fim da leitura?
R.
3. Quais sentimentos a leitura da Palavra gerou no coração do povo?
R.
4. Segundo a Palavra de Deus escrita em Jeremias 2:13 o povo desobedeceu a Deus praticando algumas maldades. Que maldades foram essas?
R.
5. Que tipo de auxílio os levitas e seus companheiros deram ao povo?
R.