Ententendo e Vivendo
Salvação, a graça de Deus!
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- Irmão Fabrício Luís Lovato
- Entendendo e Vivendo
E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado. E o SENHOR Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Gênesis 2:8-9
INTRODUÇÃO
Há um relato de que, certa vez, C. S. Lewis (1898-1963), escritor e apologista cristão, presenciou um acalorado debate em um auditório em que estava ocorrendo um congresso religioso na Inglaterra e no qual participavam teólogos de todo o mundo. O tema da discussão era o que tornava o Cristianismo diferente de qualquer outra religião. “Isso é muito simples”, respondeu Lewis. “É a doutrina da graça!”[1]
Como é possível ao homem aproximar-se de Deus? As diferentes religiões mundiais fornecem respostas distintas. O islamismo é baseado em cinco pilares: aceitar o credo de que Alá é o único Deus e Maomé é o seu profeta; orar cinco vezes por dia voltado para Meca, na Arábia; jejuar durante todo o mês de Ramadã (nono mês do calendário islâmico); doar dinheiro aos necessitados; e, se houver condições físicas, viajar em peregrinação para Meca pelo menos uma vez na vida. Se o fiel muçulmano cumprir todos os passos, talvez (jamais é certo!) Alá tenha misericórdia dele no dia do juízo.
O judaísmo ensina a obediência estrita ao código de aliança mosaica, conforme encontrado nos livros de Êxodo a Deuteronômio. O budismo ensina o “caminho dos oito passos”, seguindo os quais, o praticante será conduzido até a iluminação espiritual. O hinduísmo ensina que, por meio da obediência às suas tradições, ética e rituais, é possível acumular um bom “karma”[2] e nascer em melhores condições nas próximas reencarnações, até uma extinção final da personalidade.
Quão diferente de todos esses conceitos é a fé cristã! Para o Cristianismo, não é o homem que vai até Deus por meio de suas “boas” obras. Foi Deus quem desceu até o homem. O que era necessário para que pudéssemos experimentar reconciliação, paz e um relacionamento pessoal com Deus já foi realizado a nosso favor, ao Jesus Cristo carregar todos os nossos pecados na cruz. Isso é graça! Graça é o “tratamento imerecido que Deus concede aos humanos; é simplesmente um transbordamento da bondade e da generosidade de Deus”[3]. Ao longo dessa lição, iremos discutir a respeito do significado da graça, do papel do homem no plano da salvação e sobre como podemos expressar a nossa gratidão ao misericordioso Salvador.
O QUE É GRAÇA?
Diferentemente da ideia de que somos o produto de um processo evolutivo aleatório, que ocorreu ao longo de milhões e milhões de anos, a Bíblia nos ensina que o ser humano foi criado originalmente das mãos de um Deus sábio, amoroso e perfeito. “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27). Deus nos criou para desenvolvermos um relacionamento livre e pessoal com Ele. Não deveria existir nenhum tipo de “coerção” ou “amor forçado”. Por isso, os nossos primeiros pais, o casal Adão e Eva, foram colocados como representantes de toda a sua descendência, em um jardim chamado Éden. A fim de que o ser humano pudesse demonstrar livremente a sua obediência à vontade de Deus, um teste lhe foi apresentado: “E o Senhor Deus ordenou ao homem: ‘Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gênesis 2:16-17).
Nas palavras do teólogo norte-americano O. Palmer Robertson, “ao homem foi dado o privilégio de comer de todas as árvores do jardim. Como vice-gerente de Deus, tudo era seu. Todavia, agora é introduzida uma única exceção. Ergue-se uma árvore no meio do jardim como lembrança simbólica de que o homem não é Deus. Tudo lhe foi graciosamente dado; permanece, porém, uma exceção para lembrá-lo de que não deve confundir sua abundante bem-aventurança com o estado do Criador. Ele é criatura; Deus é o Criador.”[4]
Contudo, o primeiro casal desobedeceu a Deus. Preferiram confiar nas palavras da serpente (Satanás, cf. Apocalipse 12:9 e 20:2), a qual distorceu e negou as palavras de Deus (Gênesis 3:1-6), do que nas advertências de Seu próprio Criador. Esse ato de rebelião declarada trouxe maldição sobre toda a criação. A mulher teria dores em meio ao parto, o solo se tornaria resistente ao trabalho do homem, e ambos, por fim, voltariam ao pó (Gênesis 3:16-19). O resultado do pecado é a morte: morte espiritual, na qual o relacionamento entre Deus e o homem seria interrompido (Isaías 59:2); e morte física, onde a estrutura orgânica do homem se desintegraria. Mas em meio às trevas das sentenças de julgamento, um raio de esperança brilhou: “Então o Senhor Deus declarou à serpente: ‘Já que você fez isso, maldita é você entre todos os rebanhos domésticos e entre todos os animais selvagens! Sobre o seu ventre você rastejará, e pó comerá todos os dias da sua vida. Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gênesis 3:14-15).
O texto de Gênesis 3:15 a primeira profecia da Bíblia, é conhecido como o “proto-Evangelho”. Deus profetizou que um descendente específico da mulher (“descendente” ou “semente” é masculino singular no hebraico) viria um dia para destruir os danos causados pelo Maligno. Citando Robertson mais uma vez, “se o calcanhar pode ser considerado como o objeto do ataque subversivo e de ferimento parcial (a despeito da intenção fatal), a cabeça representa o objeto do ataque aberto e de ferimento mortal. A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente. Satanás será mortalmente ferido, totalmente derrotado.”[5]
Com a queda do homem, Deus manifestou a Sua graça à humanidade. É um erro muito grave imaginar que o Antigo Testamento é a “dispensação da Lei” enquanto o Novo Testamento é a “dispensação da Graça”, conforme imaginaram alguns teólogos do século XIX. A graça sempre esteve em operação no relacionamento entre Deus e a humanidade. O Senhor jamais teve a intenção de que a Lei funcionasse como um meio de o homem alcançar a salvação. O “fim” (finalidade, objetivo) da Lei era apontar para Cristo (Romanos 10:4). Ela era um aio (“mestre” ou “instrutor”) conduzindo as pessoas a Cristo, para que, ao perceberem a sua própria pecaminosidade, pudessem encontrar a justificação pela fé (Gálatas 3:24).
Vemos a mesma misericórdia de Deus sendo oferecida ao longo de todas as Escrituras. Embora os judeus pensassem que Abraão havia encontrado aceitação perante Deus ao se submeter ao ritual da circuncisão, o apóstolo Paulo explica que não foi esse o caso. Ele foi aceito pela graça de Deus, com base em sua fé apenas. “Portanto, que diremos do nosso antepassado Abraão? Se de fato Abraão foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar, mas não diante de Deus. Que diz a Escritura? ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’ [Gênesis 15:6]. Ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida. Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça” (Romanos 4:1-5).
Quando Deus estabelece a aliança mosaica com Israel, mais uma vez a graça está em ação. Em meio às leis morais e civis instituídas, Deus estabeleceu um sistema de sacrifícios animais. Sempre que um israelita cometesse algum pecado, um animal, especialmente um cordeiro sem manchas ou defeitos físicos, deveria ser levado até o santuário (o lugar de encontro entre Deus e Seu povo, cf. Êxodo 25:8) e morto (Levíticos 1). O sangue de touros e bodes não podia purificar as pessoas (Hebreus 10:4), mas apontava para a vinda do “Cordeiro de Deus”, o qual tiraria o pecado do mundo (João 1:29).
Em uma impressionante profecia bíblica, Isaías previu a vinda e a obra do “Servo Sofredor”, o qual seria o sacrifício definitivo e a manifestação suprema da graça de Deus ao homem: “Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima. Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças, contudo nós o consideramos castigado por Deus, por ele atingido e afligido. Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados” (Isaías 53:3-5).
Jesus Cristo, “semente da mulher”, “cordeiro de Deus” e “servo sofredor”, suportou na cruz toda a ira de Deus por nossos pecados. Seu sofrimento não foi apenas físico[6], mas sobretudo espiritual. Ele sentiu a separação de Deus Pai (Mateus 27:46), com o qual desfrutava de comunhão perfeita desde a eternidade passada (João 17:5). A mensagem do Evangelho (a “boa notícia”) pode ser resumida em um dos versos mais conhecidos de toda a Bíblia: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16) Maravilhosa graça!
QUAL É O MEU PAPEL NA SALVAÇÃO?
“Senhores, que devo fazer para ser salvo?” (Atos dos Apóstolos 16:30)
Essa é pergunta mais importante que qualquer ser humano poderia fazer! Afinal, a resposta a ela é capaz de decidir qual será o nosso destino na eternidade. Se tudo aquilo que era necessário para consertar os efeitos do pecado foi suficientemente realizado por Cristo, que papel cumprimos no recebimento de “tão grande salvação” (Hebreus 2:3)?
FÉ. A fé é o instrumento por meio do qual recebemos os méritos da graça de Cristo. Envolve a aceitação, em nossa mente e em nosso coração, daquilo que Jesus fez a nosso favor. O apóstolo Paulo afirma que “vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9) O próprio Jesus ensinou a condição essencial dessa fé: “Se vós não crerdes que Eu Sou, certamente morrereis em vossos pecados” (João 8:24); “Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão. Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Coríntios 15:2-4).
ARREPENDIMENTO. A Bíblia afirma que nascemos infectados com o pecado (Salmos 51:5), alienados da glória de Deus (Romanos 3:23). Todos nós, pessoalmente, escolhemos pecar (Eclesiastes 7:20; 1 João 1:8). Por isso, precisamos passar pelo arrependimento bíblico. O arrependimento é a tristeza pessoal por havermos estado em rebelião contra Deus, reconhecendo nossas falhas, rejeitando o estilo de vida desobediente e escolhendo viver de forma que honre a Deus. “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo” (Atos dos Apóstolos 2:38); “Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados” (Atos dos Apóstolos 3:19); “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pedro 3:9)
CONFISSÃO. Após nos arrependermos, precisamos confessar os nossos pecados a Deus. Confessar envolve contar a Deus os nossos pecados, expressando a nossa profunda tristeza por tê-los cometido e o desejo expresso de não repetirmos aquelas ações. Mesmo após nos termos convertido, eventualmente ainda cairemos em pecado. Assim que tomarmos consciência de que cometemos algo contra o Senhor, devemos imediatamente ir à Sua presença, pedindo o Seu perdão e ajuda para vencer o pecado. “Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas. Eu disse: ‘Confessarei as minhas transgressões ao Senhor’, e tu perdoaste a culpa do meu pecado” (Salmos 32:5); “Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia” (Provérbios 28:13); “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:8-9)
Confessar o pecado é importante para a reconciliação, quando também pecamos contra alguma outra pessoa. Como seguidores de Jesus, devemos ser capazes de perdoar e de pedir perdão quando necessário. “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta” (Mateus 5:23-24); “Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tiago 5:16).
BATISMO. Tendo decidido entregar a vida a Cristo, é preciso demonstrar publicamente essa aceitação. O batismo é o testemunho público de que Jesus nos lavou de nosso passado e agora estamos renascendo para uma nova vida. Nas palavras do saudoso pastor Jonas Sommer, “esse ato tem a ver com a união do crente com seu Senhor ressurreto. É demonstração da disposição de viver submisso a Jesus e à Sua santa Palavra. [...] Esse passo é tão importante que, tanto quanto sabemos, com exceção do ladrão na cruz, cada um dos convertidos no Novo Testamento foi batizado.”[7] Não há nada de “mágico” nas águas do rito. O batismo é um símbolo externo de uma transformação espiritual que já aconteceu em nosso interior. Deve ser administrado por imersão[8] (mergulho nas águas), e em nome do Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mateus 28:19-20); “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Marcos 16:16); “Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Se dessa forma fomos unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Romanos 6:3-5).
COMO POSSO SER GRATO A DEUS?
Deus ofereceu a nós uma misericórdia infinita! Por toda a eternidade jamais seremos capazes de “retribuir” a Deus o que Ele nos ofertou. Contudo, devemos ser gratos pelo que Ele fez a nós. Como podemos expressar a nossa gratidão ao Senhor? Jesus disse aos Seus discípulos: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos” (João 14:15). A obediência aos comandos de Deus, conforme revelados nas Escrituras, é uma demonstração de nosso amor. Como escreveu o apóstolo João: “Porque nisto consiste o amor a Deus: obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5:3)
Devemos evitar, por um lado, o extremo de pensar que nossa obediência contribui de alguma forma com a salvação. De forma alguma! Não podemos adicionar nada ao que Jesus consumou na cruz. Pensar que nossas boas obras colaboram na salvação é menosprezar o sacrifício de Cristo. A salvação é apenas pela graça, não por graça mais obras como ensinam muitas seitas. Pois “se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça” (Romanos 11:6). Por outro lado, devemos evitar pensar que, havendo Cristo realizado tudo, estamos livres para vivermos a nossa vida da forma como bem entendermos. O apóstolo Paulo, já em seus dias, teve de enfrentar pessoas que pensavam assim: “Que diremos, então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?” (Romanos 6:1-2).
“É impossível que alguém que tenha morrido para o pecado continue a viver em pecado como um meio de vida. Somente a lógica mais pervertida concluiria que uma vida de pecado seja o modo de os cristãos existirem.”[9] A vida cristã é uma vida de discipulado, de crescente santificação e de desenvolvimento de um relacionamento cada vez mais íntimo com Deus. Jesus não é apenas o nosso Salvador, Ele precisa se tornar também o Senhor de nossas vidas! Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), pastor luterano morto por sua resistência ao regime nazista de Adolf Hitler na Alemanha, escreveu contra o que ele chamava de “graça barata”[10]:
“A graça barata é a graça que nós dispensamos a nós próprios. A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.
A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende com alegria tudo quando tem; a pérola preciosa, a qual o comerciante se desfaz de todos os seus bens para adquiri-la; o governo régio de Cristo, por amor do qual o homem arranca o olho que o escandaliza; o chamado de Jesus Cristo, o qual, ao ouvi-lo, o discípulo larga as suas redes e o segue.
A graça preciosa é o Evangelho que há que se procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta à qual se tem que bater.
A graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao homem, e é graça por, assim, dar-lhe a vida; é preciosa por condenar o pecado, e é graça por justificar o pecador.”
APLICAÇÃO
O jornalista ex-cético Lee Strobel escreveu um livro chamado “Em Defesa da Graça”[11]. Nessa obra, ele nos apresenta as histórias de uma diversidade de pessoas. Uma órfã coreana abusada e abandonada. Um professor intelectual cético. Um jovem viciado em cocaína e meta-anfetaminas em Las Vegas. Um líder comunista genocida no Camboja. Um ladrão sem-teto que passou várias vezes pela prisão. O que elas têm em comum? Estavam completamente perdidas, mas encontraram (ou melhor, foram encontradas pela) Graça. O amor de Deus é redentor. Ele verdadeiramente transforma as vidas de homens e mulheres nos dias atuais. É possível encontrar restauração dos erros e traumas do passado e receber um novo propósito e esperança por meio da fé em Jesus Cristo.
Há “falsos convertidos” no meio cristão? Sim, uma religiosidade externa pode ser utilizada como “verniz” para encobrir um coração não regenerado (Mateus 23:27). Mas isso em nada altera o fato de que o “Evangelho é o poder de Deus para salvar todos os que creem” (Romanos 1:16). Não há pessoa alguma sobre a face da Terra da qual poderíamos pensar: “essa pessoa jamais poderia mudar e ser salva”. O poder dessa mensagem deve incendiar nossas igrejas para que avancemos cada vez mais na obra de proclamação das boas novas do Salvador. O que você tem feito pessoalmente para que outros conheçam essa mensagem?
A mensagem da graça deve ter ainda outra aplicação pessoal. Na oração do Pai Nosso, uma das cláusulas afirma: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6:12) Ou seja, o cristão deve estender ao próximo o mesmo perdão que ele sabe que recebeu da parte de Deus. Corrie ten Boom[12] (1892-1983) foi uma escritora cristã holandesa que ajudou a salvar a vida de muitos judeus ao escondê-los dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, sendo presa por isso em 1944 (e solta no mesmo ano por engano). Seu pai e sua irmã morreram nos campos de concentração.
Em 1947, Corrie estava pregando em uma igreja em Munique, Alemanha. Ao final do culto, foi surpreendia ao ser cumprimentada por um dos guardas do campo de concentração em Ravensbruck, onde ela e sua irmã haviam sido presas. Com a mão estendida, ele lhe disse: “Que bela mensagem, fräulein [senhorita]! Que bom saber, como disse, que nossos pecados estão todos no fundo do mar! [...] Eu tornei-me cristão. Eu sei que Deus me perdoou pelas coisas cruéis que cometi, mas eu gostaria de ouvi-lo da sua boca também. Fräulein, você me perdoa?” Nas palavras da irmã Corrie: “Eu não tinha opção – eu sabia disso. A mensagem do perdão de Deus possui um pré-requisito: que perdoemos a todos que nos feriram. ‘Se não perdoardes aos homens’, afirmou Jesus, ‘tão pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas’ (Mateus 6:15).
Ainda assim, lá estava eu com o coração dominado por frieza. Entretanto, perdoar é um ato da vontade, e a vontade pode funcionar indiferentemente da temperatura do coração. ‘Jesus, ajuda-me’, supliquei silenciosamente. ‘Eu posso levantar minha mão. Pelo menos isso, posso fazer. Dá-me o sentimento depois.’ Então, sentindo-me um robô, coloquei minha mão mecanicamente na mão que me estava estendida. E, enquanto o fiz, algo incrível aconteceu. Uma corrente começou no meu ombro, correu pelo meu braço e saltou para nossas mãos unidas. Em seguida, esse calor restaurador parecia inundar todo o meu ser, trazendo lágrimas aos meus olhos.
‘Eu te perdôo, irmão’, exclamei, ‘com todo o meu coração!’”
Que Deus nos ajude a termos a mesma disposição de espírito.
CONCLUSÃO
Graças à obra de Jesus Cristo, todos os efeitos do pecado podem ser desfeitos em nossa vida. Ao nos arrependermos de nossos pecados e confessá-los a Deus, aceitando a Jesus como nosso Senhor e Salvador pessoal, o relacionamento quebrado é restaurado e nos tornamos filhos de Deus por adoção (João 1:12). Nossos corpos, mesmo que desfeitos no pó da terra, serão um dia ressuscitados e glorificados para a vida eterna (1 Coríntios 15:52-54), na qual desfrutaremos comunhão face a face com nosso Pai Celestial. “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação” (Romanos 10:9-10) Você já tomou essa decisão? Se não, o que ainda o está impedindo?
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
- Como as diferentes religiões do mundo ensinam que uma pessoa pode se aproximar de Deus?
R:
- Como você definiria “graça”?
R:
- Em que momento e de que forma a graça entrou em operação na história da humanidade?
R:
- Por que Jesus teve de morrer na cruz? Não seria possível Deus simplesmente nos perdoar, sem qualquer sacrifício?
R:
- Como você responderia a alguém que lhe perguntasse: “o que devo fazer para ser salvo?”?
R:
- Que aplicações práticas a doutrina da graça deve ter na vida cristã?
R: