Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.
Romanos 7:19-21
INTRODUÇÃO
A sociedade atual está cheia de pecados e em franca decadência moral, basta tentar assistir a jornais, filmes e propagandas, por exemplo. O baixo padrão moral de comportamento, a prostituição, a violência, a mentira, a malícia e demais obras da carne - como classifica o apóstolo Paulo, em Gálatas 5:19-21, estão abertamente presentes na cultura atual. Independente dos valores morais, a vontade do homem natural, do homem não regenerado pelo Espírito, tem prevalecido como lei. Nesse contexto de degeneração moral, tem-se buscado justificar as mais sórdidas atitudes, afrontas aos valores da vida e da ética. O orgulho e a vaidade parecem ter virado uma virtude, dada a ênfase que a autoestima tem tido na sociedade, nas denominações religiosas e até nas Igrejas cristãs. Se avaliarmos com cuidado o que tem sido ensinado e pregado em algumas Igrejas cristãs, veremos que o homem, e não Cristo, tem sido o centro das mensagens e ensinos.
Esse direcionamento tem tomado uma dimensão ainda mais prejudicial quando se deixa de falar de pecado e das suas consequências para a humanidade. Agora, parece que os males a serem tratados pela mensagem da cruz são apenas a sensação de culpa e a autoestima baixa. Em muitos aspectos, adota-se uma visão na qual o cristão não pode sofrer aflições, que o homem nasceu para ser feliz, realizando seus desejos, mesmo que agrida a moral e o direito dos outros. Essa situação está completamente descolada e distante do que é apresentado pela Palavra de Deus.
Por isso, o estudo sobre o pecado e sobre quem somos - seres criados à imagem de Deus, mas com essa imagem corrompida depois da Queda de Adão, é tão importante nesses tempos. As pessoas não reconhecem que o pecado as levou a um estado de afastamento e alienação espiritual, de perversão da imagem de Deus e de inimizade com Deus. O homem, por não aceitar ou não compreender que a natureza humana é decaída e incapaz de alcançar o alvo ou objetivo de Deus para suas vidas, anda errante, sem propósito, cheio de dor e sofrimentos, fazendo o que é mal aos olhos de Deus, caminhando como ovelha sem pastor. Assim, é urgente a compreensão real do que a humanidade, da qual fazemos parte, precisa de fato, que é a salvação em Jesus Cristo. E mais, é necessário conhecer e cumprir o papel que nos foi dado por Deus.
O QUE É O PECADO?
Em princípio, o estudo e discussão sobre esse tema passa por entendermos quem é o homem e a razão da existência do mal, considerando-se como mal todo pensamento e ação que se opõe à santidade e vontade de Deus expressa em Sua Lei. O conceito de lei que devemos considerar, como base para a nosso estudo, em primeiro lugar, é a Lei Moral de Deus expressa nos Dez Mandamentos. Devemos levar em conta, ainda, que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento trazem desdobramentos e aprofundamentos do que está expresso nos Dez Mandamentos, que também representam a Lei Moral de Deus. Assim, A Lei Moral de Deus, resumida nos Dez Mandamentos, é a Lei Universal e Absoluta, que não sofre variação de lugar ou tempo. Não há que se falar em mudança ou perda de validade, conforme disse o nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho de Mateus. Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido. (Mateus 5:17-18).
Diante disso, o conceito de pecado que está mais presente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento é o de violação da Lei e da Vontade de Deus. Como bem disse o apóstolo João: “...pecado é iniquidade...” (1 João 3:4), significando que pecado é tudo aquilo que é, na língua grega, “anomia”, aquilo que se opõe ou viola a lei de Deus. Esse é um dos pilares da fé cristã: compreender o que é o pecado e como isso afetou e afeta todos os homens e qual a única solução para esse mal. E. H. Brancoft e Anthony Hoekema1 apresentam uma metodologia na definição da natureza do Pecado, em que é importante sabermos, em primeiro lugar, o que o PECADO Não É, depois, o que o PECADO É. Essa será a metodologia adotada nesse estudo.
O QUE O PECADO NÃO É:
a) O pecado não é um mero acidente, um acontecimento aleatório ou obra do acaso, que não possa ser atribuída culpa a quem o pratica. O pecado é um ato de vontade, decisão e responsabilidade de quem o pratica, conforme podemos atestar em Romanos 1:32 e 5:12. Os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem (Romanos 1:32). Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram (Romanos 5:12).
b) O pecado não é uma deficiência que invalida a responsabilidade do homem pela prática do mal. Há um senso comum que fala da fraqueza de todo homem, como se um instinto ou a tendência para a prática do pecado afastasse a consciência e a responsabilidade. Essa concepção, no entanto, não encontra amparo na Bíblia. Todos os homens são responsáveis por seus atos e pelos pecados cometidos. Deus conhece os corações ou intenções dos homens e sabe da deliberada rebeldia, conforme podemos ver nas passagens abaixo. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.” (Jeremias 17:9-10). “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos" (Romanos 1:21-22).
c) O pecado não é a mera ausência do bem, mas a real e visível presença do mal. A Bíblia afirma que o pecado tem existência real e visível. O que podemos verificar na Palavra de Deus é que a ausência de bem torna efetiva a presença do mal e do pecado, e isso é algo que ofende diretamente a Deus, pois o homem sabe o bem que deve fazer e não o faz. O pecado é um ato de vontade consciente, mesmo que seja, apenas, por omissão do bem. Podemos ver isso claramente em Tiago 4:7 e Romanos 7:14. “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tiago 4:17 - NAA); “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado” (Romanos 7:14 - NAA, grifo nosso).
d) O pecado não é fruto de imaturidade ou desconhecimento, pois não podemos atribuir o pecado ao desconhecimento do que é certo, para, com isso, isentar o pecador ignorante. A Bíblia é clara em apontar que todo homem tem conhecimento do que é certo e bom. No mesmo sentido, o apóstolo Paulo trata como indesculpáveis todos os homens, mesmo aqueles que não conhecem a Palavra, pois Deus Se revela em tudo que foi criado. Assim, não há pecadores inocentes, pecadores por desconhecimento ou por imaturidade, conforme podemos concluir das passagens bíblicas abaixo. “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” (Romanos 1:19-20); Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando os, quer defendendo-os; No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho (Romanos 2:14-16 - NAA).
ENTÃO, O QUE O PECADO É?
Desse modo, com as poucas passagens acima, olhando para o que o pecado não é, podemos afirmar que o pecado é sempre em relação a Deus. O pecado não é uma mera imperfeição, mas, antes de tudo, um ato atentatório, consciente e responsável contra Deus, contra a Sua imagem, Sua vontade e Seus Mandamentos a Lei Moral de Deus. Não cabe nesse contexto, justificativas do tipo ninguém é perfeito ou todos cometem erros etc. De fato, ninguém é perfeito, só Jesus Cristo o é, e também todos cometem erros. Entretanto essa condição não pode ser justificativa para o pecado ou para ignorarmos a nossa condição de pecadores, necessitados da regeneração, da justificação e perdão de Deus. Há que se fazer um acréscimo, em relação ao pecado ser sempre em relação a Deus. Mesmo quando pecamos contra outra pessoa, estamos afrontando e pecando contra Deus, contra os Seus Mandamentos e contra a Sua santidade. É importante entendermos que, quando amaldiçoamos alguém, amaldiçoamos e afrontamos Deus, como podemos ver na exortação do apóstolo Tiago: “...Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus” (Tiago 3:9).
No mesmo sentido, podemos ver, no exemplo do Rei David, no Salmo de número 51, que o Rei sabia que tinha pecado contra Urias, sua esposa e contra Batseba, mas podemos ver que todos esses pecados afrontaram a santidade de Deus, conforme a confissão do próprio David. “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares” (Salmos 51:3-4 - NAA, grifo nosso). Assim, resumidamente podemos afirmar que:
a) O pecado é uma condição de todos os homens, pois “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”, conforme Romanos 3:23;
b) É uma ação, ou omissão, deliberada e consciente contra a vontade de Deus;
c) É uma transgressão da Lei de Deus, conforme podemos confirmar em 1Jo:4, pois “Todo aquele que pratica o pecado, transgride a lei; porque o pecado é transgressão da lei.”;
d) É uma atitude contrária ao nosso Senhor Jesus Cristo, na medida em que a incredulidade é reputada como pecado. Aqueles que não creem em Jesus pecam contra Ele e contra Aquele que o enviou, conforme podemos ver nas seguintes passagens bíblicas: Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não creem em mim;” (João 16:7-9); Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema. Maranata!” (1 Coríntios 16:22); E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo” (1 João 4:3).
Com isso, após esses pontos sobre a natureza do pecado, é importante que saibamos as palavras usadas na Bíblia para conceituar o pecado nas suas mais diversas situações e conceitos. O termo mais usado no Antigo Testamento é “chatta´th”, que significa fundamentalmente “errar o alvo”. Esse sentido de “errar o alvo” não significa que a pessoa “quer acertar”, mas, por “obra do acaso” ou circunstâncias, não consegue acertar o alvo, mesmo desejando acertar. Esse termo exprime, na verdade, a incapacidade do homem, em seu estado decaído e não regenerado, de fazer a vontade de Deus e de que toda transgressão é um fracasso no cumprimento da vontade de Deus para nossas vidas, não cumprindo o propósito para o qual foi criado.
Há outros termos, tais como: awon”, iniquidade ou culpa; “pesha”, rebelião ou revolta, insubordinação à autoridade;abhar, literalmente passar além, transgredir; “resha”, impiedade ou maldade; ra, maldade ou perversão.; ma´al, violação ou ato de traição; e awen, idolatria, iniquidade ou vaidade. No Novo Testamento, o vocábulo mais usado é hamartia, que é o termo grego para designar chatta´th, que significa errar o alvo, mas que na linguagem e aplicação do Novo Testamento toma o sentido de estar destituído ou carecer da glória de Deus, conforme está em Romanos 3:23. “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; (Romanos 3:23). Outros termos tais como: “anomia”, ilegalidade ou quebra da lei; “paraptoma”, delito ou passo em falso; “asebeia”, impiedade; “parakoe, desobediência a uma ordem; e adkia, falta de retidão, injustiça ou erro. O pecado diz respeito à moral/ética.
O PECADO AFRONTA O CARÁTER SANTO DE DEUS
Como vimos que o pecado é fundamentalmente uma atitude contra Deus, certamente deve se opor direta e primariamente a um dos Seus atributos. Na medida em que o pecado é um ato moral, ético, ele atenta, principalmente, contra os atributos morais de Deus. Assim, para entendermos essa ofensa contra Deus, necessitamos entender o que a Bíblia nos diz sobre o caráter de Deus. Dentre todos os atributos de Deus, o pecado afronta e agride diretamente a SANTIDADE DE DEUS, incluindo a Sua retidão e justiça. Os atributos de Deus estão absolutamente ligados e são partes inseparáveis do Seu Ser. Isso é visto claramente na Palavra, na Bíblia. Deus não é só amor, mas todo-poderoso, omnisciente, omnipresente, justo, maravilhoso e tantos outros atributos.
Em uma explanação sobre a Santidade de Deus, R.C. Sproul explica que um artifício de ênfase na língua hebraica, principalmente na poesia, é a repetição de verbos e vocábulos, numa mesma sentença. Nessa explicação sobre o destaque da Santidade, o autor apresenta uma curiosidade: a santidade é o único atributo de Deus que é repetido 3(três) vezes numa mesma frase, enaltecendo a Majestade, a retidão e a justiça de Deus. Nenhum outro atributo recebe tal destaque em toda a Bíblia. Essa foi a forma que Deus Se revelou para todos. “E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6:3); E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo Poderoso, que era, e que é, e que há de vir (Apocalipse 4:8).
O fato de a santidade de Deus ser o atributo mais destacado na Bíblia não significa que os outros não sejam igualmente importantes e maravilhosos. A Santidade expressa a majestade da natureza e do caráter de Deus. Isso significa que em toda ação de Deus está presente a Sua Santidade, incluindo a retidão e a justiça. A palavra hebraica para santidade é qadash”, deriva da raiz “qad”, que significa cortar ou separar. É uma das palavras mais proeminentes do Velho Testamento, e é aplicada primariamente a Deus, significando que Ele é santo, no sentido de ser majestoso, puro, justo e não poder ser confundido com a Sua criação. Esse mesmo sentido é dado pelas palavras “hagiazo” e “hagios”, no Novo Testamento. O que reforça que o sentido fundamental de santidade como uma qualidade é também moral/ética.
A ideia primeira diz respeito a uma posição de Deus em relação a tudo que foi criado, Sua transcendência. Deus é santo, pois é separado das coisas criadas, sendo puro, justo, perfeito, imaculado e majestoso. Ao mesmo tempo, sabemos, pelas Escrituras, que Ele é presente em todo tempo e lugar e toda a criação existe por Ele e para Ele. Assim, segundo BERKOFF (2007), Ele é santo em tudo aquilo que O revela, em Sua graça e bondade como também em Sua ira e justiça. Pode-se-lhe chamar majestade-santidade de Deus e passagens como Êx 15:11; 1 Samuel 2:2; Isaías 57:15 e Os 11:9 se referem a ela”. Ao mesmo tempo, a santidade de Deus apresenta também um aspecto ético/moral.
O aspecto ético/moral, diz respeito à separação do que é considerado mal moral, o pecado. Esse sentido indica pureza. Esse é um ponto que não é somente uma separação passiva do mal moral, estando apenas distante ou separado do pecado, mas, antes, é uma posição ativa contra o mal e o pecado, uma oposição que age contra o mal e o pecado, pois Deus aborrece o pecado, Deus não tem participação com o pecado e Se opõe a todo tipo de mal. Assim, Esta santidade ética de Deus pode ser definida como a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em Suas criaturas.”
A santidade de Deus está revelada na lei moral implantada no coração do homem, que atua por meio da consciência e, mais especificamente, na revelação especial de Deus, a Bíblia. Na Escritura, a Lei Moral está explícita, principalmente, nos Dez Mandamentos. Essa Lei foi dada para que todos buscassem a santidade, a pureza. Inicialmente foi revelada para o povo de Israel, que, como povo de Deus, deveria viver de acordo com a Lei Moral de Deus e testemunhar para todos os povos a vontade e a pureza de Deus. Dentro da Revelação Especial, a suprema revelação da santidade de Deus foi dada na encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo, que é denominado de “o Santo e o Justo”, conforme Atos dos Apóstolos 3:14 Jesus apresentou em Sua vida a perfeita santidade de Deus, cumprindo a vontade do Pai em todas as coisas.
Ainda, no sentido de testemunho, a santidade de Deus deve ser revelada por Sua Igreja. Todos aqueles que dizem ser cristãos devem andar como Cristo andou, devem cumprir a vontade do Pai, imitando a Jesus, como exortou o Apóstolo Paulo. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados” (Efésios 5:1); Sede meus imitadores, como também eu de Cristo (1 Coríntios 11:1) Do mesmo modo, ainda no Novo Testamento, temos os textos em João 17:11; 1 Pedro 1:16; Apocalipse 4:8; 610, que afirmam que o povo de Deus deve estar separado do mundo, mesmo que ainda no mundo, vivendo uma vida santa e para o Reino de Deus. Assim, temos que o testemunho implica obediência aos Mandamentos de Deus. E mais, se a Lei Moral de Deus é a revelação da Sua Santidade, esta mesma Lei, universal, absoluta, imutável, santa, justa e boa, por decorrência, expressa o Caráter Santo de Deus. Por isso, o pecado é primordialmente um ato atentatório contra a Santidade de Deus, incluindo a Sua retidão e justiça, pois atenta contra a Lei Moral de Deus e contra o ápice da Sua revelação, Jesus Cristo.
O PECADO É A EXPRESSÃO DO CARÁTER DO HOMEM DECAÍDO E GERA CONFLITO NO HOMEM REGENERADO PELO ESPÍRITO SANTO
Quando iniciamos nosso estudo sobre o pecado, começamos ponderando que para o entendimento do pecado, sempre presente na vida de todo homem, é necessário compreender o homem, sua origem e estado atual. A presença do mal moral, o pecado, e todos os problemas vividos pela humanidade, só podem ser entendidos à luz da cosmovisão bíblica. Apenas nas Escrituras sabe-se quem é o homem e a sua necessidade do Salvador, sem o qual não há solução para os problemas atuais tampouco para a morte eterna daqueles não redimidos por Jesus Cristo.
A realidade da origem do homem está no relato bíblico de Gênesis, onde está escrito que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. O relato bíblico traz a criação do homem por Deus e a sua condição moral no momento em que foi criado. O homem era a imagem e semelhança de Deus. Portanto, era um ser moralmente íntegro e justo e bom. Conforme a Bíblia temos o seguinte relato. “E Deus disse: — Façamos o ser humano à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os animais que rastejam pela terra. Assim Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:26-27, NAA).
A despeito de toda uma discussão histórica sobre todos os aspectos, entendimentos e possíveis significados de o homem ter sido criado à imagem e semelhança, devemos ter claro dois pilares desse conceito. O primeiro, imagem e semelhança não significa imagem e semelhança física, pois Deus não teria a forma humana. Essa afirmação pode ser comprovada, além de outros textos, nos seguintes textos bíblicos: “Por isso mesmo, era necessário que, em todas as coisas, ele se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hebreus 2:17) ...que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:6-8).
Fica claro que, se era necessário que o Verbo Divino se tornasse semelhante aos irmãos” e que Se “esvaziasse” “tornando-se semelhante aos seres humanos, logo essa não era a forma de Deus. Então, não podemos levar as aparições (Teofanias) ao extremo de achar que Deus tem aspecto humano. Deus é Espírito! Assim, resta-nos compreender que o aspecto relevante da criação do homem e a sua condição original era o seu estado moral. Deus criou tudo perfeito e “viu que era bom”.
Logo, podemos dizer que a expressão imagem de Deus está vinculada diretamente, conforme explicado pelo apóstolo Paulo (Colossenses 3:1-10; Efésios 4:24), às faculdades mentais e morais que os capacitavam a servir a Deus, eles eram pessoas capazes, possuíam livre arbítrio, personalidade e caráter. “Não mintam uns aos outros, uma vez que vocês se despiram da velha natureza com as suas práticas e se revestiram da nova natureza que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que a criou.” Colossenses 3:9-10, NAA – grifo nosso); Quanto à maneira antiga de viver, vocês foram instruídos a deixar de lado a velha natureza, que se corrompe segundo desejos enganosos, a se deixar renovar no espírito do entendimento de vocês, e a se revestir da nova natureza, criada segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” Efésios 4:22-24,NAA – grifo nosso).
Há de se notar que a ênfase está na questão ética e moral do homem no seu estado original. Entretanto com a Queda - desobediência e desejo de autonomia, veio o pecado para o homem. Nesse ponto, é necessário salientar que o pecado não é resultado de uma inocência, que inabilitava o homem a ter discernimento sobre o que estava fazendo quando deu ouvidos aos argumentos do Inimigo. O homem e a mulher tinham capacidades plenas de discernir o bem, que era tudo que Deus os havia ordenado, e o mal, que era tudo contrário à vontade de Deus. Mesmo nunca tendo experimentado o mal, eles sabiam qual era a verdade que fora proferida por Deus e qual era a ordem de Deus para a vida deles.
Por essa razão, não se deve simplificar e minimizar a rebeldia e a queda, atribuindo esse fato a uma inexperiência sobre o mal. Ser criado à imagem e semelhança implicava, necessariamente, em capacidade de discernimento e responsabilidade. O homem andava com Deus no Jardim do Éden e desfrutava de intimidade com Deus até a Queda. Depois do pecado, a condição do homem muda. A imagem de Deus é distorcida, torna-se pervertida, pois o homem, criado moralmente puro e íntegro, torna-se pecador. Essa condição se estende, por representação, para toda a humanidade, que, a partir daí, tornava-se escrava do pecado, inimiga de Deus, sujeita à condenação e à morte, conforme exarados na Bíblia. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, porque todos pecaram” (Romanos 5:12, NAA); Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Todos se desviaram e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Romanos 3:10-12, NAA).
O que se pode concluir é que todos os homens sem Cristo, conhecedores ou não da Lei, estão debaixo do pecado (Romanos 3:9), e se estão debaixo do pecado, logo não há quem faça o bem, não há nem um só (Romanos 3:12). Desse modo, todos os homens são pecadores diante de Deus mesmo quando não descumprem prescrições legais. Os homens são transgressores porque o seu caráter e natureza são pecaminosos, e não apenas quando transgridem leis ou regras morais. Parafraseando R.C Sproul: O homem não é pecador porque comete pecado; mas comete pecado porque é pecador.
Há, ainda, uma questão importante quanto ao cumprimento da Lei e da condição do homem diante de Deus. Mesmo cumprindo toda a Lei Moral, não há ninguém perfeito e aprovável diante de Deus. A condição de aprovado depende única e exclusivamente do sacrifício de Jesus Cristo. Nesse sentido, podemos ver também o que é dito pelo apóstolo João na sua primeira carta: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. “Se dissermos que não cometemos pecado, fazemos dele um mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 João 1:8-10, NAA) “... E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas também pelos do mundo inteiro. E nisto sabemos que o temos conhecido: se guardamos os seus mandamentos” 1 João 2:3 NAA)
É nesse sentido que o apóstolo Paulo está tratando a condição do cristão, principalmente, apresentada no capítulo 7 de Romanos, que é o verso áureo da lição. O pecado ainda habita no homem, mesmo naquele que foi regenerado, justificado e salvo. Por isso, todo cuidado com pensamentos, palavras e atos ainda é pouco. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. (Romanos 7:19-21)
A condição do cristão, ainda que liberto do poder do pecado, ainda é de imperfeição. Entretanto, mesmo enfrentando esse conflito entre a carne e o espírito, deve ter a sua vida conduzida e guiada pelo Espírito, confiante e firme na salvação em Cristo. Devemos seguir com confiança, pois Deus fará essa obra em nossas vidas, conforme podemos confirmar na carta do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses, bem como em Romanos 8:14-16. “O mesmo Deus da paz os santifique em tudo. E que o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é aquele que os chama, o qual também o fará” (1 Tessalonicenses 5:23-24, NAA); “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. (Romanos 8:14-16, ACF).
O que é posto como obrigação de todo que diz conhecer o Senhor, que diz ser Seu servo, redimido e salvo, é viver de acordo com a Lei Moral de Deus, sendo guiado pelo Espírito Santo, cumprindo tudo aquilo que lhe foi ordenado pelo Senhor Jesus. Não confiar em suas próprias forças, mas buscar a cada dia desenvolver a sua salvação, andando nas obras que Deus preparou para todos os que creem, pois n´Ele está o querer e o realizar, conforme alerta o apóstolo Paulo na carta aos Filipenses. ...e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Assim, meus amados, como vocês sempre obedeceram, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvam a sua salvação com temor e tremor, porque Deus é quem efetua em vocês tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:11-13).
O Senhor exorta-nos a fugir da tentação e do pecado, buscando a santidade, sem a qual ninguém verá a Deus. A salvação é pela graça, mediante a fé, somente, mas devemos andar nas boas obras que Deus preparou para nós. “Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:8-10, NAA).
APLICAÇÃO
a) Cientes de que o pecado é uma condição de todos os homens, devemos buscar forças em Deus para lutar contra essa condição, que ainda aflige toda a humanidade. Assim, devemos ser arautos da verdade libertadora e salvadora do sacrifício de Jesus Cristo, alertando que a única solução para os males do mundo é a fé em Jesus Cristo;
b) Na medida em que o pecado é qualquer ato deliberado e consciente contra a vontade de Deus, devemos buscar, cada vez mais, saber qual a vontade de Deus, para não a contrariar. Todo cristão deve guardar a Palavra de Deus no coração para não pecar contra Deus.
c) O pecado é uma transgressão da Lei de Deus, conforme podemos confirmar em 1Jo:4, assim, devemos ser obedientes à Lei Moral de Deus, universal e imutável;
d) Por fim, sendo o pecado uma atitude contrária a nosso Senhor Jesus Cristo, devemos, arrependidos dos nossos pecados, cumprir os Seus Mandamentos e conselhos, buscando conhecer Jesus, cada dia mais.
CONCLUSÃO
Como conclusão, devemos levar o pecado a sério, pois é ato atentatório contra Deus e Sua Santidade. Como disse R.C. Sproul: “você não pode levar Deus a sério até que leve o pecado a sério. Desse modo, todo cristão deve manter no seu coração a certeza de que, diante da existência do mal moral - o pecado, é necessário viver uma vida embaixo da vontade de Deus, crendo em Jesus Cristo autor e consumador da nossa fé e salvação. “Portanto, meus amados, tendo tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.” (2 Coríntios 7:1 NAA); “Em Cristo fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo. Nele também vocês, depois que ouviram a palavra da verdade, o evangelho da salvação, tendo nele também crido, receberam o selo do Espírito Santo da promessa. O Espírito é o penhor da nossa herança, até o resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Efésios 1:11-14, NAA).
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
1. O que não é o pecado?
R.
2. O que é o pecado?
R.
3. Como podemos definir a Santidade de Deus?
R.
4. Onde está revelada a Santidade de Deus?
R.
5. Qual a condição do homem sem Deus em relação ao pecado?
R.