A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.    

Romanos 13:8 

INTRODUÇÃO

   Na lição desta semana iremos nos deter na abordagem reflexiva sobre a importância das leis para a vida das pessoas em uma comunidade saudável. Já de início, julgo ser adequado questionar a necessidade e relevância das leis para a vida em sociedade. Observe-se que a vida em sociedade pressupõe a existência de ordem — no sentido de organização com regras claras e eficazes que disciplinam os direitos e obrigações de cada integrante daquele grupamento de pessoas. Sim, pois o oposto a isso é o caos. E nem poderia ser diferente, pois nosso Deus é um Deus de ordem. Por falar nisso, mostra-se interessante, nesta introdução, assentar que a forma de Estado que temos hoje — com seus diferentes sistemas de Governo — não foi assim desde sempre. Aliás, para enriquecer a reflexão e o debate, recomendo aos estudantes das igrejas locais e aos professores da Escola Bíblica Sabatina que pesquisem as diferentes concepções de Estado na História das Civilizações, tanto no Antigo Oriente, em priscas eras antes de Cristo, como também, no Ocidente com o ingresso da cultura cristã.

   Posso antecipar que o filósofo francês Jean Jacques Rousseau (1712-1778), no seu famoso “Contrato Social”, trouxe à civilização ocidental o pensamento estruturado de modo a conceber a organização do Estado partindo da premissa de que o homem (cada pessoa de uma aldeia, vila, cidade, província — unidade fracionada da Federação — e/ ou de toda a Federação) cede um pouco de sua liberdade a um ente maior, o Estado. Logo, o moderno pensamento que exalta as virtudes de uma sociedade civil organizada nos moldes como conhecemos hoje, tem seu desenvolvimento com o pensamento de Rousseau. Com isso, não estamos afirmando que concordamos com tudo o que o mencionado filósofo ensinou. Discordamos, pois, com base na Santa Bíblia, de sua assertiva de “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. Com efeito, não é esse o ensino bíblico. “Bom só existe um” (Mateus 19:17), disse Jesus.

   Da mesma forma, para Rousseau, “o homem nasceria livre, mas por toda parte se encontraria acorrentado por fatores como sua própria vaidade, fruto da corrupção do coração”. Mas, a Bíblia diz: “Eu nasci na iniquidade e, em pecado me concebeu a minha mãe” (Salmos 51:5). Somos levados a concordar, todavia, com as ilações que se podem abstrair do discurso acima transcrito. Em verdade, o ser humano tem se tornado escravo de suas necessidades — algumas reais e outras imaginárias. Há, de fato, muita preocupação com o mundo das aparências, com a incessante e frenética busca do reconhecimento e da conquista de um status mais elevado. O já mencionado filósofo se deparou com a seguinte questão: “como preservar a liberdade natural do homem e ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem estar da vida em sociedade?”

   Aí reside a beleza de sua teoria. Dentro dessa concepção de organização social e de Estado, isso seria possível mediante um “contrato social”, por meio do qual haveria de prevalecer a soberania da sociedade, ou seja, a soberania política da vontade coletiva. De tal arte, persegue-se a ideia de se instituir a Justiça e a Paz de modo a submeter igualmente os ricos e os pobres, os poderosos e os fracos, os cultos e os iletrados, de todas as etnias. Tudo isso, com o objetivo de alcançar a pacificação social, ou seja, a concórdia entre as pessoas. Vê-se, pois, que a ideia de contrato social pressupõe uma relação, no mínimo, bilateral, porquanto envolve pelo menos duas pessoas. Nesse caso, o cidadão tem uma parte ativa e uma parte passiva no pacto. Sim, ele contribui para a elaboração das leis e também para o seu cumprimento, com a plena convicção de que a obediência à lei que é escrita para si mesmo é, certamente, um ato de liberdade.

   Decerto, no referido contrato social não se anularia a vontade individual ou vontade particular. Mas, ao mesmo tempo, a vontade do cidadão — daquele que vive em sociedade — há de ser coletiva, porquanto dá preponderância a um interesse no bem comum. Trata-se, pois, da busca da igualdade entre todos alicerçada no comprometimento entre todos. Feita essa introdução, somos compelidos a reconhecer que a sociedade ideal e perfeita, preconizada por Rousseau, foi um malogro. Não floresceu. Pois bem. Para entrar no cerne da lição desta semana, passemos agora a analisar os seguintes tópicos: (i) conhecimento das leis, (ii) obediência às autoridades e (iii) manutenção da ordem.

 

O CONHECIMENTO DAS LEIS

   Revela-se oportuno na abertura desse subtópico, fazer a transcrição dos primeiros versículos do cap. 13 da Epístola aos Romanos, com uma breve análise daqueles que se mostrarem mais controvertidos. Confira-se, pois:

“1 – Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus.

2 – Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.

3 – Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela.

4 – Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fi zeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal.

5 – Portanto, é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência.

6 – Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo sempre a isto mesmo.

7 – Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.

8 – A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos ouros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei” (Romanos 13:1 8).

   Ao tecer anotações sobre os versos acima transcritos, o Pastor e Professor Warren W. Wiersbe refere que Deus estabeleceu três instituições, quais sejam, (i) o lar (Gênesis 2:18 25), (ii) o governo (Gênesis 9:1-17) e (iii) a igreja (Atos dos Apóstolos 2). Nesta epístola, Paulo se dirige aos cristãos que se encontram no centro do império romano. A esta altura, as grandes perseguições ainda não haviam começado, mas estavam a caminho. O cristianismo ainda era considerado uma seita do judaísmo e a religião judaica ainda tinha a aprovação de Roma. Mas, um dia, seria extremamente difícil, senão impossível, um cristão manter-se leal ao imperador. Não poderia colocar incenso no altar e declarar “César é Deus”.

   Neste capítulo, Paulo vai refutar a ideia de que, em nome de Cristo, devamos estimular tumultos e revoltas, afrontando as leis e as autoridades constituídas de modo que cada um faça o que pareça mais correto aos seus próprios olhos. De todo modo, uma boa consciência cristã e cívica requer a obtenção do conhecimento das leis que regem o País, o Estado e a Cidade onde vivemos. Aliás, em nosso país há um princípio que exorta que a ninguém é permitido desconhecer a lei. Daí, uma das características da lei nova é a sua ampla publicidade, de modo que ninguém possa alegar ignorância de seus reclamos. Com efeito, em razão da leitura do texto bíblico acima, impõe-se-nos as seguintes indagações:

1) Toda a autoridade foi posta no cargo que ocupa (em qualquer esfera de Poder — Executivo, Legislativo e/ ou Judiciário) por escolha de Deus?

2) Devemos obediência às leis feitas pelas autoridades em toda e qualquer circunstância? 

3). É possível reconhecer que a Bíblia, em determinadas situações, ampara a desobediência às autoridades constituídas?

   Pois bem. Este autor abraça uma vertente teológica que reconhece, sim, a soberania de Deus (só um tolo a negaria), mas concebe Sua soberana vontade em duas acepções, quais sejam: a) vontade coativa de Deus “Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?” (Isaías 43:13); e b) vontade permissiva de Deus. “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas, fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1 Coríntios 10:13). Calha assinalar, por oportuno, que a Bíblia está repleta de textos — do Gênesis ao Apocalipse — que respaldam a convicção de que Deus, em muitas situações, mesmo não sendo o autor do mal, permitiu que determinado mal se abatesse sobre Seus filhos.

   Com essa visão, aludindo à vontade permissiva de Deus, pode-se compreender mais facilmente as exigências estabelecidas nos primeiros versículos do capítulo 13 da Epístola aos Romanos. Do contrário, estaria dificultada a compreensão de ter Deus colocado um Nero em Roma; ou um Adolf Hitler para governar a Alemanha e trazer tamanho mal à humanidade, principalmente ao povo judeu; ou, ainda, um Idi Amim Dadá, em Uganda, sem falar dos países comunistas (antiga URSS e China) e dos governos teocráticos islâmicos. Outrossim, o que dizer dos governos e regimes de governo déspotas, torturadores, sanguinários e assaz tiranos? Feitas essas observações, temos de convir que as dúvidas sobre uma melhor compreensão do texto bíblico paulino acima transcrito ainda persistem. É oportuna a indagação: Quais os aspectos práticos do mencionado texto para a vida cristã hoje?

   Antes da análise do texto, convém atentar às palavras do Pastor e Professor Warren W. Wiersbe que, ao introduzir seus comentários a esse capítulo, afirma que Paulo conclui todas as suas cartas com uma lista de deveres práticos com base nas doutrinas discutidas. Na vida cristã, a doutrina e o dever andam juntos. Nossas convicções ajudam a determinar nosso comportamento. Não basta compreender as explicações doutrinárias de Paulo; devemos transformar nossa aprendizagem em prática e mostrar, por meio de nossa vida diária, que cremos na Palavra de Deus.

   Na esteira do mesmo entendimento, o Rev. Hernandes Dias Lopes, citando William Greathouse, observa que o apóstolo Paulo, após dar regras de como viver na Igreja, agora explica no capítulo 13 de Romanos como os cristãos podem praticar seu cristianismo no mundo secular, político e cotidiano. Conclui que o cristão é um cidadão de dois mundos, de duas ordens, e Paulo parece dizer como o Mestre: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21).37 Busquemos, pois, uma melhor interpretação do texto. No versículo 1, a expressão “todo homem” quer significar cada pessoa. A ideia aqui é a de que nenhum ser humano está fora da abrangência jurisdicional das autoridades. Ora, se nenhum ser humano está fora do domínio da autoridade, implica dizer que todos os cristãos estão, igualmente, sujeitos às autoridades. Sendo assim, como pode ser compreendida nossa obediência às leis e às autoridades? Trata-se de uma obediência cega? Vejamos.

 

A OBEDIÊNCIA ÀS LEIS E ÀS AUTORIDADES

   À guisa de ilustração e exemplificação do tema a ser aqui desenvolvido, registro que em minhas andanças pelo Brasil a fora, sou frequentemente indagado sobre uma eventual imposição legislativa de celebração de casamento homossexual. Suponha-se que o legislador pátrio elabore uma lei que nos obrigasse a tais celebrações. Como procederíamos? Simples assim! Temos dupla cidadania, cada um de nós é cidadão de dois mundos, a saber, de duas ordens. E o que isso significa? Vale a pena recordar a velha canção que afirma: 

“Aqui não é meu lar,

um viajante sou.

Meu lar é lá no Céu,

Jesus já preparou.

Avisto num portal um anjo a chamar.

No meu lar celestial espero logo entrar!”

   Mas, voltemos à hipótese de elaboração de leis antibíblicas. Concordo em gênero, número e grau com a assertiva do Pastor Doutor Hernandes Dias Lopes quando, a propósito, afirma:

           “Quando a autoridade foge do seu caminho, quando deixa de ser ministro de Deus para fazer o bem e punir o mal, quando oprime, quando se corrompe, quando torce as leis ou elabora leis injustas de opressão quando cria meios e instrumentos para espoliar os fracos, quando suborna os tribunais, quando arrebata o direito do inocente, quando ama o luxo e esquece a fome e a miséria do povo a quem governa, quando promove a idolatria e induz o povo a se desviar, quando colabora com a depravação moral e o desbarrancamento da virtude, então, esse governo precisa ser alertado. Precisa ser alertado como João Batista alertou o rei Herodes Antipas, como Amós alertou Jeroboão II, como os apóstolos alertaram o Sinédrio judaico, como Luthero alertou a aristocracia feudal, como Calvino alertou os tecnocratas genebrinos, como João Wesley condenou o tráfico de escravos na Inglaterra, como Charles Finney alertou sobre a impiedade da escravidão na América, como Dietrich Bonhoeff er ergueu sua voz contra o nazismo alemão. O povo de Deus não pode, a título de obediência, ser colaboracionista, entreguista e conivente com a opressão, a corrupção e a maldade. A igreja europeia foi colaboracionista com o nazismo de Adolf Hitler. (...). Quando o governo se desvia de sua rota e se rebela contra a autoridade de Deus, promulgando leis contrárias à lei de Deus, a desobediência civil se torna um dever cristão, e precisamos resistir como as parteiras hebreias se recusaram a matar os meninos recém-nascidos no Egito por ordem de Faraó (Êx. 1:17)”.

   Em tais situações, amada Igreja, torna-se da mais alta relevância a desobediência civil. Há respaldo bíblico para essa conclusão. Confira-se, pois, as palavras do apóstolo Pedro, quando exortou: “Antes importa obedecer a Deus, do que aos homens” (Atos dos Apóstolos 5:29).

   Nessa linha de compreensão da Revelação da Palavra de Deus, socorre-me à lembrança a experiência das parteiras hebreias que, decididamente, recusaram-se a matar os meninos recém-nascidos (Êx 1:17). Da narrativa bíblica extraímos, ainda, as lições sobre a resistência de Mesaque, Sadraque e Abedenego que, resolutos, determinaram se opor ao temível Nabucodonosor, afirmando que não adorariam a sua imagem (Daniel 3:15-18). Vale lembrar, em semelhante cenário, a consistente firmeza de Daniel, o profeta, no exílio babilônico, resistindo à trama política e espiritual (do mal) que lhe armaram para não orar ao seu Deus (Daniel 6:10). É necessário, portanto, que resistamos como Daniel, que ousou encarar e desafiar aquela trama diabólica.

   Como salvos em Cristo, somos, enfim, desafiados a resistir como os nossos irmãos integrantes da Igreja Primitiva. Esses tomaram a firme decisão de não adorar o imperador romano, mesmo que tivessem de selar sua fé entregando o seu próprio sangue nas arenas das feras ou servindo de lampiões incendiados e iluminando as noites da capital do Império Romano. Por outro lado, estamos cientes de que muitos crentes, em nossos dias, têm se debatido, encontrando sérias dificuldades em conciliar a orientação de Paulo — quando assevera que “não há autoridade que não venha de Deus e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (v. 1) — com a realidade de muitos governos déspotas, tiranos, maus, truculentos, corruptos e perseguidores.

   Informes estatísticos concluem que na China de Mao Tse Tung morreram 60 milhões de pessoas; na Alemanha de Adolf Hitler, durante o nazismo — que desencadeou a 2ª Guerra Mundial — para além das torturas do holocausto, mais de 60 milhões de pessoas foram mortas; no comunismo dos países soviéticos, milhões de pessoas foram oprimidas por mais de 50 anos. Persiste a pergunta: 1) Essas autoridades foram postas por Deus? 2) Como se pode entender a afirmação de Paulo em Romanos 13?

   Uma boa exegese nos leva a crer que a solução mais adequada e em consonância com o conjunto da revelação das Escrituras seja atribuir tudo à vontade permissiva de Deus — que não se confunde com a vontade coativa (ou decretiva, para alguns) de Deus. Logo, é razoável crer que Deus permite a ascensão e permanência de maus governantes e más autoridades (nas diferentes esferas de Poder — Executivo, Legislativo e Judiciário; e nos diferentes níveis territoriais da Federação — União Federal, Estados e Municípios) com o propósito de corrigir e disciplinar o Seu povo. Postas essas premissas, convém rememorar a indagação sobre qual deva ser a postura e conduta de um ser regenerado (um salvo em Cristo) quando confrontado com leis iníquas e que se contraponham à orientação bíblica? Valho-me das palavras do Pastor Doutor John Stott quando, mencionado por Dias Lopes, a este propósito, exorta: “Se o Estado exige aquilo que Deus proíbe, ou então proíbe o que Deus ordena, então, como cristãos, nosso dever é claro: resistir, não sujeitar-nos, desobedecer o Estado a fi m de obedecer a Deus”.

   Alicerçados nesses esclarecimentos bíblicos, somos desafiados a ser cristãos cuja vida em sociedade ostente as características que nos identifiquem como ordeiros, é dizer, sempre cumpridores de nossos deveres cívicos e sociais. Entretanto, se em algum momento as exigências das leis seculares se sobreponham ou contrariem as leis divinas, não poderá haver margem para dúvida, pois devemos ficar com o que é reto e esteja de acordo com a clara e expressa vontade de Deus — estampada em Sua Santa Palavra.

 

A MANUTENÇÃO DA ORDEM E DA HARMONIA SOCIAL

   É rica de significados a expressão de Cristo Jesus, no sermão da montanha, quando afirmou que “somos o sal da terra e a luz do mundo” (Mateus 5:13-14). Se conectarmos essa afirmação de Jesus com o texto básico deste estudo, a saber a exortação de nada dever a ninguém, exceto o amor, visto que ao fazê-lo estaremos cumprindo a lei, chegaremos à conclusão de que aí está um resumo da conduta ética do cristão. Cumpre ressaltar, por oportuno, que em diversas ocasiões somos confrontados com cristãos que afirmam despreocupação com a ética, alicerçados no fundamento de que ela não passa de mera convenção humana. Ora, não se pode negar que a ética decorre da convergência de opiniões sobre determinado tema, em determinada época e em determinada região. É vero. Está correto. Todavia, não é menos certo que “enquanto a ética considera o que é moralmente certo ou errado, a ética cristã considera o que é moralmente certo ou errado para os cristãos à luz da Palavra de Deus.

   A ética cristã tem a forma de um mandamento divino. Um dever ético é algo que nós temos de fazer, é uma prescrição divina. É claro que os imperativos éticos que Deus dá estão alinhados com Seu caráter moral imutável. Em outras palavras, Deus deseja que se faça o que é certo em concordância com Seus próprios atributos morais. “Sede santos, porque eu sou santo”, foi o mandamento de Deus para Israel (Levíticos 11:45). “Sede, pois, perfeitos assim como perfeito é o vosso Pai celestial” (Mateus 5:48). O escritor aos Hebreus afirmou: “É impossível que Deus minta” (Hebreus 6:18), assim, nós também não devemos mentir. “Deus é amor” (1 João 4:16), e Jesus disse, “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39). Em suma, a ética cristã baseia-se na vontade de Deus, e Deus nunca deseja algo que seja contrário ao Seu caráter moral imutável. A partir do fato de que o caráter moral de Deus não muda (Malaquias 3:6; Tiago 1:17), chega-se à conclusão de que as obrigações morais derivadas de Sua natureza são absolutas. Isso significa que são obrigatórias a todas as pessoas e em todos os lugares”.

 

APLICAÇÃO

   Concordo com Hernandes Dias Lopes quando reconhece que no decorrer dos séculos a relação do Estado com a Igreja tem sido notoriamente controvertida. Quatro modelos principais já foram tentados: o erastianismo (o Estado controla a Igreja); a teocracia (a Igreja controla o Estado); o constantinismo (compromisso pelo qual se estabelece que o Estado favorece a Igreja e ela se acomoda ao Estado a fim de garantir seus favores); e a parceria (a Igreja e o Estado reconhecem e incentivam um ao outro nas distintas responsabilidades dadas por Deus, em um espírito de colaboração construtiva). O último parece o que melhor se encaixa no ensino de Paulo aqui em Romanos 13.

   De fato, a Igreja, como instituição deve respeitar os irmãos que decidam se dedicar a uma atividade político-partidária. Logo, a Igreja não deve interferir nas preferências e convicções filosófico-políticas de cada um. Deve, sim, orientar seus membros que queiram ingressar em atividades dessa natureza a buscar uma ideologia que mais se aproxime dos ideais cristãos. Mas, este Pastor não comunga a ideia de que a Igreja deva assumir determinado Partido Político. A história das civilizações, do pensamento humano e da Igreja confirmam que todas as vezes em que a Igreja fez aliança com determinado segmento político do Estado, (ela) perdeu forças sob o prisma espiritual e se corrompeu, chegando às raias da apostasia. Conquanto sejamos bons patriotas e cidadãos respeitáveis, nossa bandeira é o Evangelho da Graça salvadora! Esse é, pois, o pendão real que deve ser desfraldado e mantido nas maiores alturas por todos os guerreiros e guerreiras do Rei Jesus!

 

CONCLUSÃO

   Vimos no verso chave a advertência bíblica no sentido de que o Senhor espera que não devamos nada a ninguém, a não ser o amor. Aliás, ali está o arremate de que quem ama tem cumprido a lei. Anote-se, nessa medida, que conquanto seja altamente recomendável fugir das dívidas, o texto bíblico não está proibindo os crentes de contraírem dívidas, seja com compras a prazo, com financiamentos (v.g. arrendamento mercantil, ou leasing e alienação fiduciária), com cartão de crédito ou, enfim, com modalidades do gênero. Seguramente, a proibição aqui, a meu sentir, situa-se em contrair dívidas impagáveis ao ponto de conduzirem o devedor a uma penosa situação de inadimplência.

   Ao lançar seu comentário sobre o verso chave (Romanos 13:8), o Pastor e Professor Francis D. Nichol, foi muito preciso ao asseverar que quem ama os semelhantes cumpre a intenção e o propósito da lei. Todos os mandamentos de Deus estão fundamentados no princípio do amor (Mateus 22:34-40; Romanos 13:9). Portanto, Sua lei não pode ser perfeitamente obedecida por mera conformidade exterior à letra. A verdadeira obediência é uma questão de coração e de espírito (Romanos 2:28-29). Não se fala de cumprimento exterior, mas do amor sincero, que é o cumprimento da lei (Romanos 13:10). Os judeus foram lentos para crer e praticar essa verdade fundamental, apesar dos claros ensinamentos de Moisés sobre o assunto (Levíticos 19:18-34; Deuteronômio 6:5; 10:12). Eles transformaram a lei do amor de Deus num código rígido de requisitos legais sem vida. Eles estavam prontos a dar o dízimo, mesmo da hortelã, do endro e do cominho, mas passavam por alto as questões mais importantes da lei: a fé, a justiça, a misericórdia e o amor de Deus (Mateus 23:23; Lucas 11:42). Por isso, Jesus procurou revelar mais uma vez o verdadeiro propósito dos mandamentos do Pai. Ele ensinou que todos os mandamentos se resumem no amor (Mateus 22:37 40; Marcos 12:29-34: Lucas 10:27 28), e que a marca distintiva de um discípulo obediente é o amor aos semelhantes (João 13:34-35).

   Bem é de se ver, nesta mensagem bíblica está implícita a lição de que o cristão deve pagar tudo o que deve. A ressalva, contudo, alude a uma dívida —um débito — que jamais poderá ser quitado cabalmente. Trata-se do amor para com o próximo. Socorre-me a lembrança, nesse passo, as claras palavras do Senhor Jesus Cristo, em João 13:35 que proclama: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos. Se tiverdes amor uns para com os outros”. Leia o mesmo verso na paráfrase “A Mensagem”, do Pastor Eugene Peterson. Eilo: “Dessa maneira, todos irão reconhecer que vocês são meus discípulos, quando eles virem o amor que vocês têm uns pelos outros”.

   Por último, mas não menos importante, cumpre assinalar que o texto em questão trata, essencialmente, da conduta do cristão em relação às autoridades constituídas nas três esferas de Poder (Executivo, Legislativo e Judiciário). Entretanto, é possível inferir do comando cravado no v. 7 os princípios regentes de nossa relação para com os Ministros da Palavra. Outrossim, o Senhor desafia e estimula cada crente a cultivar carinho, consideração e respeito no trato para com seus Pastores que, como “ungidos do Senhor”, são autoridades na Igreja de Cristo. Deus nos abençoe!

 

QUESTÕES PARA REFLETIR EM CLASSE

1. À luz das notas explicativas esboçadas em Romanos 13:1 e 2, qual deve ser, no seu entender, a relação dos membros da IBSD para com as leis em geral?

R.

2. Nos versos 2 e 3 de Romanos 13, está escrito que as autoridades são constituídas pela vontade de Deus. Como você explica o “empoderamento” de uma autoridade tirana e despótica? Por que Deus permite que Seus fi lhos passem por tais situações?

R.

3. Mencione, com base em experiências bíblicas, situações em que se mostra admissível a desobediência civil. Discorra sobre alguma situação hipotética atual em que, como herdeiros da Pátria Celestial, deveríamos optar por ficar firmes com a Palavra de Deus, sem transigir.

R.

4. Como se pode entender a exortação contida no verso chave? Estabeleça um contraste entre contrair dívidas com a situação de inadimplência. No seu entender, porque tudo se resume no amor?

R.

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