Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó SENHOR, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome.
Isaías 63:16
INTRODUÇÃO
É muito comum em nossas orações nos referirmos a Deus como “Pai”. De fato, Ele o é. O próprio Jesus quando ensinou Seus discípulos a orar disse: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus...” (Mateus 6:9 grifo nosso). Deus é um Pai bondoso, amoroso e misericordioso, mas também justo, que não Se alegra com a injustiça e tampouco deixa de corrigir Seus filhos. Na lição de hoje veremos, ao longo da narrativa bíblica tanto do novo como do antigo testamentos, como se delineia esse relacionamento de Deus com Seus filhos. Ponderaremos como isso ocorreu com o povo de Israel, com Jesus e como ocorre com os cristãos.
RELACIONAMENTO DO PAI COM O SEU POVO
Deus sendo apresentado como Pai não é algo restrito ao Novo Testamento, mas essa forma de relacionamento é primeiramente apresentada no Antigo testamento, tanto da parte do povo de Israel para com Deus, como da parte do Senhor para com o povo. Quando Deus comissiona Moisés para libertar o povo de Israel das mãos dos egípcios, Ele lhe diz que a mensagem que deveria ser levada a faraó era a seguinte: “Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito. Digo-te, pois: deixa ir meu filho, para que me sirva; mas, se recusares deixá-lo ir, eis que eu matarei teu filho, teu primogênito” (Êx 4:22,23).
Este texto retrata bem o amor que Deus tinha por Seu povo, como o amor de um pai, como um pai zeloso pelo seu filho primogênito (levando em conta a cultura daquela época e região). Em outras palavras é como se a mensagem de Deus para faraó fosse uma mensagem de Pai para pai. É como se Deus dissesse: “Você é pai e sabe o quanto amamos os nossos filhos, então liberta o meu filho senão o seu morrerá”. De fato, isso ocorreu, faraó não concedeu e pagou com a vida de seu filho, e o Senhor, como um pai que não desonra suas promessas, libertou Seu “filho” Israel da escravidão do Egito.
Todavia os filhos se rebelaram contra o Pai e então Ele os colocou de castigo por quarenta anos no deserto. (Será que isso não ensina nada aos pais da atualidade que não fazem nada diante de uma geração de filhos rebeldes?). Mas mesmo assim não deixou de amá-los e cuidar dos mesmos.
Ao se despedir do povo que entraria na Terra Prometida, Moisés entoou um belo cântico que descreveu ao povo os cuidados que Deus, como um Pai, teve com o Seu povo (Deuteronômio 32:1-43). Em um dos trechos desta canção, Moisés indaga ao povo: “É assim que recompensas ao Senhor, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai, que te adquiriu, te fez e te estabeleceu? (v.6). Nesta ocasião Moisés fala à nova geração que havia se levantado durante o período de quarenta anos que o povo havia peregrinado no deserto. Ele faz questão de lembrar ao povo que o Deus Pai sustentou e cuidou de Seus filhos durante todo aquele tempo. Não lhes faltou vestimenta (Deuteronômio 29:5), comida (Êxodo 16:35) ou proteção (Êx 13:21,22).
Como um bom Pai, Deus não só sustentou Seu povo, mas também lhe corrigiu quando necessário, mas nunca sem orientá-lo e deixá-lo ciente sobre as consequências das escolhas que eles fariam (Deuteronômio 30:15-20).
Ao longo do relacionamento de Deus com Seu povo percebemos também o Senhor como:
Um pai que Se compadece: Davi escreveu o seguinte sobre a misericórdia de Deus: “Como um pai que se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem” (Salmos 103:13). O motivo para tal está no verso seguinte: “Pois conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” (v.14). Como um pai sempre está disposto a socorrer o filho em suas fraquezas Deus socorre Seus filhos e Se compadece deles.
Um pai que exige honra e respeito: em um tempo em que o povo de Deus vivia uma pobreza espiritual, o Senhor manda aos seus filhos um profeta que os questiona da seguinte maneira: “O filho honra o pai, e o servo respeita o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se eu sou Senhor, onde está o respeito para comigo? (Malaquias 1:6)
RELACIONAMENTO COM O FILHO
É lindo o relacionamento entre o Pai e o Filho. Embora isso seja melhor percebido no Novo Testamento, o Antigo testamento também mostra isso. Como disse João em seu Evangelho: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (João 1:1-3). Ou seja, esse relacionamento entre Pai e Filho começa no céu. Percebemos claramente o amor, a cumplicidade, igualdade e unidade entre os dois quando o Pai disse ao Filho: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança” (Gênesis 1:26). Essa imagem demonstra a profundidade do relacionamento entre Deus e Jesus. Salvar o mundo (João 3:16) não foi a primeira missão a qual o Filho se submeteu ao Pai. Embora não haja uma concordância geral sobre isso, acredito que Jesus era o terceiro homem na visita de anjos à casa de Abraão (Gênesis 18:1-2), o enviado para comissionar Gideão para livrar o povo de Israel (Juízes 6:21 23), o quarto homem na fornalha (Daniel 3:25), entre outras cristofanias presentes no Antigo Testamento.
Como dissemos anteriormente, em o Novo Testamento o relacionamento entre o Pai e o Filho se delineia de uma forma que podemos perceber com mais clareza como isso ocorria. Observemos algumas marcas deste relacionamento:
O Pai glorifica o Filho: logo após ser batizado, Deus professa uma das mais belas declarações que um pai possa dizer ao filho: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. (Mateus 3:17). Deus declara publicamente o Seu prazer e Sua alegria no Filho. Como um pai que sente orgulho de seu filho, aquelas palavras expressaram o sentimento de gratidão, prazer e alegria do Pai para com o Filho e ao mesmo tempo elas soaram como um incentivo ao coração de Jesus por saber que Seu pai estava orgulhoso d’Ele. Falta um pouco disso para os pais modernos, incentivar e elogiar os filhos, ao mesmo tempo que para os filhos modernos falta uma dose de submissão em alegria aos pais.
A submissão do Filho ao Pai: uma das marcas mais profundas do ministério de Jesus era Sua obediência ao Pai e à missão que recebera do mesmo. Certa vez Ele disse: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou”. (João 6:38). O Mestre precisava ensinar aos discípulos que eles deveriam ser obedientes, a importância da obediência à Palavra e à missão que eles receberiam e a melhor forma de fazer isso foi Seu exemplo, pois em tudo fez conforme o Pai tinha prescrito (João 12:49-50).
A unidade entre o Pai e Filho: um dos textos mais usados para explicar a triunidade é: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). Essa não apenas fala sobre a unidade em essência entre o Pai e o Filho, mas sobre a profunda intimidade entre os dois. Ser igual é sentir igual, amar da mesma forma, pensar da mesma maneira, doar-se.
Profundo tempo em comunhão: hoje em dia, depois de um certo tempo, os filhos se relacionam pouco com os pais e passam pouco tempo juntos. Mas não era assim com Jesus. Atualmente os filhos raramente consultam os pais para tomar alguma decisão. Com Jesus era diferente, por exemplo: antes de escolher os 12 apóstolos, Ele passa uma noite toda conversando com o Pai para então fazer a escolha (Lucas 6:12-13). Mesmo sendo um homem muito ocupado com Sua missão, Jesus nunca deixou de ter intensos momentos de comunhão com Seu Pai. (Conf. Mateus 14:13 23; Marcos 1:35; Lucas 5:16).
O “não” do Pai: um dos maiores erros que um pai pode cometer no seu relacionamento com seu fi lho é não saber dizer “não”. E hoje temos uma geração de fi lhos mimados que dominam os pais, quando deveria ser o contrário. Um dos momentos mais intensos do relacionamento do Pai com o Filho foi quando o Filho, intensamente triste, pede ao Pai: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice” (Mateus 26:39). E por três vezes o Filho clama ao Pai. Já pensou se o Pai tivesse dito “sim”? Com certeza se assim fosse, nós não estaríamos estudando esta lição. Todavia o Pai sabia que era necessário que o Filho passasse por aquele momento e mesmo que o Filho se sentisse desamparado (Mateus 27:46), o Pai jamais o abandonou. E mesmo que isso tenha sido penoso, o “não” do Pai nos trouxe salvação.
RELACIONAMENTO COM O CRISTÃO
Anteriormente observamos o relacionamento de pai e filho entre Deus e Jesus. Agora veremos que pela morte do Filho, os que aceitaram este sacrifício e receberam Jesus como Senhor e Salvador passam a ser participantes desta mesma bênção. Deus o Pai agora nos tem como filhos e esse relacionamento se dá da seguinte maneira:
Somos filhos gerados em Cristo e herdeiros por meio d’Ele: é comum as pessoas dizerem “eu também sou filho de Deus”. Todavia em parte isso não é verdade. Todos somos criação d’Ele, mas filhos são somente os que receberam Jesus como Salvador e Senhor e por meio disso morreram para o pecado e sepultaram o velho homem, sendo regenerados pelo sangue do Cordeiro (Romanos 6:1-12). Estes então, espiritualmente novas criaturas, passam a ser filhos, como o próprio Jesus e assim herdeiros de todas as bênçãos destinadas apenas aos filhos (Romanos 8:17). E uma das maiores bênçãos é que agora não somos mais estranhos ao Pai, mas podemos desfrutar da bênção e da comunhão do relacionamento entre Deus Pai e Seus filhos.
O Pai da provisão: como filhos de Deus, podemos ter certeza que nosso Pai nos proverá tudo o que precisamos para viver conforme disse Seu Filho: “Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; ” (Mateus 6:31-32). Para demonstrar o amor provedor do Pai, Jesus também disse o seguinte: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mateus 7:11). Para aqueles que não tiveram um bom pai, este texto é muito consolador, pois nossos pais terrenos nem sempre puderam dar o melhor, mas o Pai do céu o faz.
O Pai de amor: a maior carência da humanidade é de ser amada. Em Deus suprimos esta necessidade (1 João 3:1). n’Ele encontramos amor e nos sentimos amados. Muitos pais têm dificuldade par demonstrar amor aos filhos porque não receberam de seus pais quando ainda eram filhos. Por meio de Deus nós recebemos amor, pois de fato Ele é amor (1 João 4:8), e n’Ele nos sentimos amados e então por meio d’Ele podemos então amar.
Um pai que corrige: embora seja um pouco difícil de entender, a correção é um ato de amor. O livro de Provérbios diz que “o que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga”(13:24). Muitos querem as bênçãos de Deus, mas não aceitam a repreensão. Os que procedem assim não são de fato filhos, mas bastardos, pois a Palavra diz:
“Estais esquecidos da palavra de animação que vos é dirigida como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho. Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige? Mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos” (Hebreus 12:5-8).
CONCLUSÃO
Certa vez fui questionado por uma pessoa que me disse que eu não chamava Deus da forma correta, pois não o chamava pelo nome que ele possui. Então eu disse a ela: “você tem um pai?”, e ela disse que sim. Então eu disse: “Quando você o chama, você o chama pelo seu nome ou simplesmente diz ‘pai’?”, ela ficou sem palavras. É assim que podemos nos achegar a Deus, simplesmente dizendo “Pai”. n’Ele encontramos segurança nos momentos de dificuldades. n’Ele encontramos amor nos dias de solidão. Em nosso Pai encontramos abrigo nas noites frias. E como isso se dá? Através da oração. Era assim que Jesus fazia e é assim que devemos fazer. Você já conversou com o Pai hoje?
QUESTÕES PARA REFLEXÃO EM CLASSE
1. Como observamos no Antigo Testamento Deus se revelando como Pai do Seu povo?
R.
2. Relacione três características do relacionamento entre pai e filho com relação a Deus e Jesus e discuta sobre elas.
R.
3. Como podemos constatar o relacionamento de Deus como um pai na vida dos Cristãos?
R.
4. Qual a forma que nós podemos conversar com nosso Pai do céu?
R.
5. De que forma o relacionamento do nosso pai terreno conosco pode afetar o nosso relacionamento com nossos filhos? Como isso se dá entre nós e Deus?
R.