Texto de Estudo

OH! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.

Salmos 133:1 

INTRODUÇÃO

            O Salmos 133 é o segundo menor do Saltério; perde apenas para o Salmos 117 Em contraste com a timidez do texto está a profunda mensagem que transmite. Ele é o penúltimo dos “Cânticos de Romagem”, ou “Cântico de Degraus”, conforme algumas traduções. É um dos mais típicos, lidos em aberturas de cultos ou reuniões cristãs, e não poderia ser diferente, pois o seu tema central é a união fraternal e os resultados de tal união.

            A poesia do Salmo é conferida ao rei Davi, e a maioria dos autores concorda sobre isso. Entretanto, não há um consenso se “irmãos” (v.1) refere-se diretamente a parentes próximos (irmãos de sangue), membros de uma comunidade (no caso, Israel) ou a todo o ajuntamento de devotos a Jeová (nesse caso, os estrangeiros estão inclusos). O estudo de hoje não se preocupa em elucidar tal questão; a intensão é transpor a mensagem central à comunidade cristã, na qual todos os remidos em Cristo tornam-se irmãos na fé.

                       

É BOM E AGRADÁVEL

            O Salmo começa com uma exclamação sapiencial: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos”. Para esta parte do texto precisamos fazer uma relação: “bom e agradável” com “unidos”, e também “irmãos”.  A Nova Versão Internacional da Bíblia (NVI) expressa melhor o seu sentido: “Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união!”. Assim, o sentido de “união” vai além do “estar junto”, ou “permanecer junto” - “viverem unidos”. Transmite a ideia de compartilhamento: “convivem em união”.

            Para que isso ocorra, a unidade e a comunhão dependem da maior virtude espiritual de todas: o amor. Sem tal virtude, é impossível que a convivência de “irmãos” seja “boa e agradável”. Logo, a verdadeira união, aquela que é boa e agradável, provém do Senhor, pois “Deus é amor” (1João 4:7-8). A unidade vinda de Deus é boa e agradável à Igreja, porque extingue as divisões (Efésios 2:14); faz com que a comunidade aja em senso comum (Efésios 4:3-6) e busque o mesmo objetivo. A união na Igreja testifica ao mundo a obra de Jesus Cristo, pois Ele mesmo disse:

 

Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra, a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim, e eu em ti, também sejam eles em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste  (João 17:20-21)

 

            Um dos textos que melhor exemplifica a união e a comunhão na Igreja é o de Atos dos Apóstolos 4:32-35, em especial o verso 32: “Da multidão dos que creram era o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nenhuma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum”. Uma das características mais impressionantes da vida entre os primeiros cristãos era sua unidade. Essa união se expressa aqui nos termos era um o coração e a alma, expressão que embora escrita em grego no Novo Testamento, tem sua raiz em uma expressão hebraica típica que significa acordo total (cf 1Cro 12:38).

           

É COMO ÓLEO PRECIOSO

            Para exemplificar o quanto “é bom e agradável a união entre os irmãos”, o salmista pinta duas cenas que expressam a excelência da união fraternal. Em primeiro lugar, Davi diz que a união entre irmãos “é como o óleo precioso”. Essa símile equipara a unidade do povo de Deus à mistura especial e exclusiva de óleo usada para ungir e consagrar móveis e utensílios do tabernáculo, como também Arão e seus filhos. Vejamos como tal óleo era preparado:

 

Disse mais o Senhor a Moisés: Tu, pois, toma das mais excelentes especiarias: e mirra fluida quinhentos ciclos, de cinamomo odoroso a metade, a saber, duzentos e cinquenta ciclos, e de cálamo aromático duzentos e cinquenta ciclos, e de acácia quinhentos ciclos, segundo o ciclo do santuário, e de azeite de oliveira um him. Disto farás o óleo sagrado para a unção, o perfume composto segundo a arte do perfumista; este será o óleo sagrado da unção... Assim consagrarás estas coisas, para que sejam santíssimas (Êx 30:22-25 e 29)

           

O óleo precioso era tão especial em sua composição e utilização que qualquer homem que se atrevesse a compor algo semelhante deveria ser eliminado do povo (Êx 30:33). Perceba a comparação de Davi e note o quão importante é união entre os irmãos. Vejamos alguns pontos importantes sobre a união, com base no que vimos neste tópico.

            A união é como a fragrância de um bom perfume. Uma das características do óleo precioso, conforme vimos no texto de Êxodo, é a boa fragrância que exalava. Não podia ser diferente, levando em conta sua composição. O efeito da União na Igreja é tão notório e tão agradável como o odor de um bom perfume, pois a essência da mesma é o amor que vem de Deus.

            A união santifica. A função primordial do óleo precioso era a consagração; tudo que fosse ungido com ele seria santo. Assim, a união na Igreja opera na mesma a santificação. Como isso ocorre? Quanto mais os cristãos buscam viver a união, mais se separam do mundo. O autor de Hebreus faz uma forte ligação entre união e santidade, ao afirmar: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14)

            A sequência do Salmo mostra que o óleo é derramado sobre a cabeça de Arão, desce para sua barba e escoa sobre as vestes. Dois pontos são importantes nessa parte do texto. Primeiramente, temos a honrosa barba, altamente respeitada pela mente dos hebreus. Uma boa barba era sinal de distinção e sabedoria. Assim, a unidade fraternal é firmada em um relacionamento de honra, respeito e sabedoria.

Em segundo lugar, o óleo derramado pela barba descia sobre os ombros de Arão e, então, sobre suas vestes, inscritas com os nomes das 12 tribos de Israel. Assim sendo, o óleo simbolizava a unidade nacional, sob as bênçãos do único Deus.

             

É COMO O ORVALHO SOBRE A TERRA

            A segunda símile do salmista está relacionada à ação do orvalho que cai sobre a terra. Ele diz que a união “é como o orvalho do Hermom quando desce sobre os montes de Sião”.

            Hermom refere-se a uma montanha, localizada na fronteira norte de Israel, com quase 3.000 metros de altitude. O seu pico ficava carregado de neve. Os montes de Sião eram menores e recebiam do Hermom, carregado por sua humidade, uma pesada orvalhada.

            O orvalho traz vida à vegetação. Pode até não chover, mas se a terra for regada, todas as manhãs, pelo orvalho, o verde cresce normalmente. As suas gotículas vão se juntando nas folhas do capim, formando gotas maiores, irrigando a terra e nutrindo a vida da natureza. Sem água, o solo fica crestado e estéril. Mas, com água, surge a fertilidade e a prosperidade, e estes são produtos da fraternidade, sob a direção e a bênção de Deus. O orvalho representa o refrescante, doador da vida, um símbolo apropriado à bênção do Senhor. Mas, cabe ressaltar que é conferida por meio de instrumentos humanos que vivem no espírito do amor. Por isso, a união entre os irmãos é tão importante quanto, assim como o “Orvalho do Hermom”. Uma igreja sem união é propensa a morrer. Salomão disse:

...é melhor serem dois do que um, porque, se caírem, um levanta o seu companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, aquentar-se-ão; mas um só, como se aquentará? (Ec.4:9-11).

           

CONCLUSÃO

            “Ali, ordena o Senhor, a sua bênção e a vida para sempre”. A conclusão do Salmo aponta o resultado da união entre o povo de Deus: as bênçãos de Deus são derramadas. “Ali” refere-se ao lugar da habitação divina. E onde Deus habita? A resposta está nas palavras de Jesus: Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. (Mateus 18:20) Ou seja, a Igreja unida atrai a presença de Deus.

            Ali indica o Templo. Ali, para a comunidade de irmãos unidos, o Senhor envia sua bênção - bênção que é vida; vida que é duradoura. A vida é cheirosa (a morte é pútrida e malcheirosa); a vida é úmida e fecunda (a morte, árida e estéril). O amor fraterno é uma bênção que atrai bênçãos de vida plena que se prolonga; é aroma que se difunde... É orvalho que impregna.

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