Texto de Estudo

Efésios 2:8

INTRODUÇÃO

Cremos e ensinamos que a salvação é pela graça de Deus, e somente pela graça. Nada há que um pecador perdido, degenerado e espiritualmente morto possa fazer para contribuir de algum modo para a salvação. A fé salvadora, o arrependimento, a conversão e a obediência são todas operações divinas realizadas pelo Espírito Santo no coração de todo aquele que é salvo. A própria essência da obra divina de salvação é a transformação da vontade, o que resulta em amor a Deus. Por outro lado, a verdadeira salvação não pode e não irá deixar de produzir obras de justiça na vida do verdadeiro crente. Não há obras humanas no ato da salvação, mas a obra de Deus na salvação inclui uma mudança de intenção, de vontade, de desejos e de atitudes que produz inevitavelmente o fruto do Espírito.

No estudo de hoje iremos aprofundar estas três importantes verdades.

 

A GRAÇA DE DEUS

Um dos mais belos aspectos da fé cristã é o da graça de Deus. A palavra graça vem do grego charis (ocorre 156 vezes no Novo Testamento) e significa favor imerecido, referindo-se sempre ao infinito amor de Deus e a tudo que Seu amor o levou a fazer para a nossa salvação. A graça de Deus não somente abrange o imerecido favor estendido aos pecadores, mas também a dádiva de poder habilitar seus filhos a cumprirem a sua vontade. Nesse caso a graça de Deus pode ser vista em toda a história da humanidade. 

1. A graça revelada no Antigo Testamento. A graça sempre se manifestou aos homens, mesmo no Antigo Testamento. A graça já era um plano de Deus antes mesmo da queda do homem. No Éden encontramos a promessa de um Salvador e Redentor da humanidade. Este Salvador poria fim ao poder de Satanás de enganar a humanidade, conduzindo-a ao pecado (Gênesis 3:15; 2 Timóteo 1:9). Por causa do pecado do homem, um cordeiro teve de ser sacrificado (Gênesis 3:21; Apocalipse 13:8). O sangue de um inocente foi derramado e a pele do animal serviu como vestime ta (justiça). Este cordeiro, de acordo com João, é a prefiguração do Cristo que morreria em nosso lugar (João 1:29), manifestando dessa forma a graça de Deus à humanidade.  

Foi a graça que poupou Noé e sua família (Gênesis 6:6-7). Foi a graça que restaurou Davi, quando este clamou pela misericórida de Deus (Salmos 32:1-2; 51:1). O convite ao arrependimento e à conversão em Isaías 55:6-7 - “torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” - é a graça de Deus em ação. Encontramos a graça de Deus nos Salmos. Por exemplo, o Salmos 103:10-12 diz que Deus “não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou segundo as nossas iniqüidades”. O Salmos 136 frisa muito bem o carater gracioso de Deus, pois repete por mais de 20 vezes que “o seu amor dura para sempre”. Assim, a graça de Deus se revelou até mesmo na Lei, como afirma Agostinho de Hipona: “A Lei foi concedida por Deus para que busquemos a graça, e a graça nos é oferecida para que possamos cumprir a Lei”.

2. A graça revelada em Cristo no Novo Testamento. Embora a graça de Deus possa ser vista no Antigo Testamento, nas mais variadas formas de atuação, ela ainda não havia sido revelada em toda a sua plenitude. Segundo João: “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. Porque a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (João 1:16-17). Foi em Cristo que a graça de Deus se revelou plenamente. 

A graça revelada em Cristo é a graça salvadora, que difere da graça geral ou comum, mediante a qual todos os homens podem usufruir toda e qualquer dádiva divina, sem a necessidade de crer ou exercer fé alguma. Jesus faz menção à graça comum quando diz que Deus “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5:45). A graça salvadora, por sua vez, refere-se às dádivas alcançadas por Cristo em sua morte na cruz, e a sua aplicação, por meio do Espírito Santo, na vida dos que creem e se arrependem de seus pecados.

A graça salvadora manifesta-se em Cristo (Tito 2:11-14) e é dela que provem a salvação. Ela é a fonte da salvação, pois “onde abundou o pecado superabundou a graça” (Romanos 5:20). Portanto, a salvação vem tão somente pela graça (Romanos 3:23-24). O pecador é incapaz de ajudar-se a si próprio, quanto mais pensar em sua própria salvação. A ideia da salvação foi concebida por Deus, que enviou seu Filho para nos salvar. É a graça salvadora que “produziu a obra de Cristo, que é a causa eficiente da salvação, e suscita fé, que é o instrumento de aceitação, para que a salvação se torne uma realidade na experiência da vida”. Assim, a salvação é uma obra divina, completa e perfeita (Efésios 2:8,9). 

Na graça salvadora não há espaço para mérito algum, pois “se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Romanos 11:6). Obra e graça e graça e obra são incompatíveis na salvação, ou se é por obra ou se é por graça. Mas a própria Bíblia afirma que a salvação é somente pela graça de Deus, “que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (2 Timóteo 1:9). Paulo diz que a vida eterna é “o dom gratuito de Deus”, ou seja, um presente que Deus oferece gratuitamente para todos aqueles que exercem a fé em Jesus Cristo, nosso Senhor (Romanos 6:23). 

 

A FÉ CRISTÃ

A fé é indispensável à vida cristã. Ela está presente, por exemplo, na eficácia da oração (Tiago 1:16). É preciso fé para agradar a Deus (Hebreus 11:6). A vitória sobre o mundo depende dela (1 João 5:4). Acerca da fé é necessário entendermos:  

Em Hebreus 11:1 encontramos a definição clássica da fé cristã. O texto sacro nos diz que “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”. Esta é a unica definição de fé que encontramos na Bíblia, mas ela não passa de uma simples elucidação meramente intelectual e teórica a respeito da fé.63 Por isso o autor apresenta exemplos de fé no Antigo Testamento a fim de demonstrar na prática o que é exercer a fé em Deus, confiando que ele é cumpridor de suas promessas.

Acerca da fé é necessário entendermos dois aspectos importantes.

1. A fé geral ou comum. Na verdade não existe no mundo uma única pessoa que não tenha fé. A própria vida o prova quando fazemos coisas que exigem certa dose de convicção. Esse é o tipo de convicção que chamamos de fé natural, que nada mais é do que a mera confiança em alguém ou em alguma coisa. Pode ser a crença em Deus ou em divindades pagãs (1 Reis 18:27-28). Esse tipo de fé faz com que a pessoa apenas acredite em algo. É uma crença incapaz de gerar mudança. Sobre esse tipo de “fé” ou “crença”, Tiago ensina, enfaticamente, que até mesmo “os demônios creem e tremem” (Tiago 2:19). 

2. Fé salvívica. A fé salvífica é aquele tipo de fé que conduz o homem à salvação. Esta é a genuína fé cristã. Ela está enraizada no coração que foi regenerado por Deus. A fé salvadora é obra de Deus e é direcionada para Deus por meio de Cristo (Hebreus 12:2; 1 João 5:1-5). Esta fé é uma dádiva proveniente da graça de Deus, ou como diz o apóstolo Paulo, “é um dom de Deus” (Efésios 2:8). A salvação do homem começa quando Deus, por sua graça, concede ao pecador a fé que o salva. Sendo assim, o homem não possui, naturalmente, a fé que salva. Contudo, devemos observar que nós não somos salvos pela fé, mas sim por Cristo Jesus por meio da fé. 

Um dos grandes pilares da Reforma Protestante do século XVI foi uma volta à doutrina apostólica da salvação pela fé em Cristo Jesus. Os reformadores sublinharam a supremacia da fé sobre as obras para a salvação. O Breve Catecismo de Westminster, na questão , afirma que a “fé em Jesus Cristo é um dom de Deus, uma graça salvadora pela qual o recebemos e confiamos somente nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho”. Para Louis Berkhof a fé salvadora pode ser definida como “uma convicção produzida pelo Espírito Santo no coração, quanto à veracidade do Evangelho, e uma segurança (confiança) nas promessas de Deus em Cristo”.

A fé salvívica está baseada somente em Cristo. A principal diferença entre a fé comum e a fé salvadora é que nesta a pessoa é levada e entregar sua vida inteira nas mãos de Cristo, para que ele a conduza até a eternidade.  Esta fé vem “pelo ouvir... a palavra de Deus” (Romanos 10:17) e conduz-nos à salvação, como afirma Paulo: “Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Efésios 2:8, NVI). Ora, o que não vem do homem é a fé, pois dela depende sua entrega a Cristo, para ser salvo; tanto a fé (que é o meio) quanto a salvação (que é o “produto final”) fluem da mesma graça.

 

ASPECTOS DA SALVAÇÃO

Zacarias Severa define salvação da seguinte maneira: “Salvação é o livramento do pecado e seus efeitos, mediante a ação graciosa de Deus em Cristo, para uma vida de glória com Deus, numa nova ordem de existência eterna”. 

1. A salvação no Antigo Testamento. A palavra traduzida como “salvação” ou “libertação” (yeshuah), ou seu equivalente, aparece mais de 200 vezes no Antigo Testamento e significa livramento do cativeiro, da enfermidade, da morte, dos inimigos, das catástrofes naturais, visando mais às coisas desta vida do que às do mundo vindouro. Pode-se dizer que a salvação no Antigo Testamento era vista como sendo a manifestação de Deus em favor do seu povo (Gênesis 49:18; 2 Crônicas 20:17; Salmos 9:14). 

2. A salvação no Novo Testamento. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento a salvação tem como agente salvador o próprio Deus. Paulo afirma que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19). No entanto, o significado de salvação no Novo Testamento difere do Antigo, pois o que está em foco é o homem ser salvo do pecado e de suas consequências (Mateus 1:21), é ser salvo da condenação (João 3:17), é ser salvo da perdição (Lucas 9:24), é ser salvo da morte (Tiago 5:10), é ser salvo da ira de Deus (Romanos 5:9). Essa diferença se acentua ainda mais porque a ideia cristã de salvação tem o fato de o indivíduo perecer, pois “aquele que não for salvo, perecerá, sofrerá todos os efeitos de seus pecados, incluindo a separação eterna de Deus e as terríveis angústias no estado de perdição”.

3. Os estágios da salvação. Há pelo menos três estágios na salvação: 1) a salvação pode ser considerada como um ato, ou seja, o homem já está salvo nopresente (João 5:24); 2) a salvação como um processo é o desenvolvimento da vida e da personalidade do crente em conformação com a imagem de Cristo (1 Coríntios 7:1; Romanos 6:19-22); 3) a salvação como consumação, ou seja, o cristão se move em direção a uma gloriosa consumação, na qual sua salvação será completa (1 João 3:2). O ápice da consumação da salvação está na ressurreição do corpo (1 Coríntios 15:14-19). Somente depois de consumado todas as coisas é que finalmente o cristão estará livre de qualquer influência de sua natureza pecaminosa.  

Assim podemos dizer que a salvação tem três aspectos: passado, presente e futuro. Os que creem já foram resgatados da culpa e penalidade do pecado (justificação). Agora os salvos estão sendo libertados do poder do pecado (santificação). E, finalmente, eles serão libertos da presença do pecado em seus corpos (glorificação).  

4. Implicações práticas da salvação. A salvação deve produzir frutos para a glória de Deus (João 15:8), e para isso ela tem pelo menos duas dimensões. A dimensão vertical representa a restauração das relações do homem com Deus (Romanos 5:1). Ureta Floreal expressa bem o que é ser restaurado à comunhão com Deus: “Estar em paz com Deus significa estar em harmonia com ele; sentir que a vida recebe um novo significado, porque nesta relação com Deus encontramos um propósito e uma meta”. 

A salvação em sua dimensão horizontal refere-se às relações com o próximo; o homem salvo ama, pois aprende isso com o próprio Senhor que o amou e o salvou (1 João 4:78). É em suas relações humanas que a pessoa salva demonstra sua disposição em amar e servir ao próximo; a salvação produz servos e servas que servem, não por obrigação, mas pelo simples prazer de ser útil.  

Uma terceira implicação da salvação é que ela conduz o homem a conformar-se à imagem de Cristo (Efésios 4:13). Nesse caso, o indivíduo que participa da salvação “passa por um desenvolvimento pessoal, moral e espiritual, até chegar ao padrão, que é Cristo”.   

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