Ei, Eu Tive Aula de Matemática com Esse Cara!

Você já teve a experiência de ir a uma reunião da escola, ver alguém entrar e ter certeza de que o conhece? A princípio, você pensa que reconhece a pessoa, mas o terno caro e o ar bem sucedido faz com que você diga: “Ei, eu tive aula de matemática com esse cara!” O que você pode não ter intencionado dizer em voz alta foi: “Começamos empatados, mas esta pessoa me passou! Quem ela pensa que é?” Talvez seja apenas da natureza humana a comparação com outros, mas isto raramente traz resultados positivos. Ou sentimos inveja daqueles que julgamos estar “acima” de nós ou sentimos presunção por aqueles que julgamos estar “abaixo” de nós. É necessário às vezes um ato de vontade dizer para si mesmo: “Bom para ele. Ele se saiu bem.”

Pode ser difícil imaginar o retorno de Jesus à sua terra natal em termos semelhantes; todavia, duvido que a natureza humana tenha mudado nos séculos que se passaram. Suspeito que quando Jesus retornou para casa e pegou o rolo, as emoções sentidas naquele grupo tenham sido similares ao que eu descrevi.

Voltando para Casa

Desde que Jesus subira das águas do batismo de João, Cristo estivera pregando, ensinando e curando nas redondezas do Mar da Galileia. Enquanto ganhou muitos seguidores, Jesus também enfrentara a rejeição em um número de comunidades. Boa parte do capítulo 13 de Mateus é ocupada com algumas das mais importantes parábolas de Jesus e uma explicação de por que algumas pessoas entendem as parábolas e outras não (13:13-15).

Mateus 13:53 é uma sentença tradicional que o evangelista usa para se mover de uma seção em que basicamente Jesus está falando, para uma seção narrativa. A narrativa (ou história) a que somos apresentados é focada no retorno de Jesus à sua terra natal. A família de Cristo retornara a Nazaré após o tempo de exílio imediatamente após seu nascimento. José e Jesus provavelmente trabalhavam em projetos de construção na pequena comunidade e nas vizinhanças. A sinagoga de Nazaré teria sido sua “igreja” e escola. O povo de Nazaré o viu crescer.

O versículo 54 diz que quando Jesus veio para casa, foi à sinagoga no sábado. Sabemos que ele estava acostumado a visitar sinagogas no sábado quando viajava (Marcos 1:21 e Lucas 13:10) e aqui o encontramos continuando a prática com o grupo de Nazaré.

Uma sinagoga nos tempos de Cristo, lembrar-nos-ia o que conhecemos como “igreja”. Mas ela não era primariamente para adoração; era primeira e principalmente para a educação nas Escrituras. Era comum para rabinos visitantes serem convidados a ler e a ensinar a Torá. Era óbvio para os líderes da sinagoga que Jesus fosse convidado a ler. Mas, como em Cafarnaum (Marcos 1:21, 22) Jesus ensinava a palavra “como quem tem autoridade” (22). A reação dos seus vizinhos foi imediata. Eles ficaram preocupados.

Seria fácil (e tentador) simplesmente olhar para a reação da sinagoga em termos puramente negativos. O versículo 54 do capítulo 13 diz: “Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos?” Estes comentários sobre conhecer sua herança, suas atividades familiares e seus irmãos tornariam fácil ver isto como somente “uvas amargas”. Mas se pudermos nos colocar no lugar deles por um momento podemos enxergar outra motivação. Este homem que eles conheceram por quase toda a vida, um homem que sabiam não ter nenhuma criação ou treinamento especial, chegou e interpretou suas Sagradas Escrituras de uma maneira como nunca ouviram antes. Como você se sentiria se alguém subisse no púlpito de sua igreja e pregasse as Escrituras com um sentido muito diferente do que você conhece? Suspeito que também ficaria cético, ou no mínimo muito espantado. Conhecendo as nossas igrejas, afirmo que em algumas deles, ele nem terminaria seu sermão!

Quer estivessem tentando proteger seu entendimento ortodoxo da Torá ou apenas estivessem com inveja, o resultado foi o mesmo. O versículo 57 diz: “E escandalizavam-se nele.” A palavra traduzida aqui “escandalizavam-se” é a mesma palavra em português para “ofender-se” ou “ofensa”. É também a mesma palavra frequentemente traduzida como “pedra de tropeço” em outras passagens do Novo Testamento (Romanos 11:9 e 1 Coríntios 1:23). Jesus era para eles uma pedra de tropeço para a fé.

A reação de nosso Salvador é manifesta no provérbio proferido: “Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa.” Não há evidência de que este sábio dizer era um provérbio comum da época, pois ele não está incluído em nenhum livro do Antigo Testamento. Claramente, Jesus não estava surpreso com a reação que recebeu em sua cidade natal. Esta passagem então se encerra com a afirmação de que nenhum milagre foi realizado em Nazaré, “por causa da incredulidade deles” (58).

Cristo foi limitado pela indisposição deles de acreditar? No relato de Marcos destes eventos (Marcos 6:5) ele diz que Jesus “não pode fazer ali nenhum milagre”, mas prossegue dizendo que ele impôs as mãos sobre alguns. A evidência bíblica é que ele não estava restrito pela falta de fé deles. Em João 9:6 36 e Lucas 7:11-15, lemos de grandes milagres sem evidência de fé prévia da parte dos recipientes. Então vamos deixar bem claro: o poder de Jesus não foi e nem pode ser limitado, porém Jesus voluntariamente limitou sua interação com o povo de Nazaré por causa da descrença deles. Ou seja, uma vez que eles não creram, nosso Salvador decidiu não fazer nenhum milagre entre eles.

Podemos extrair uma profunda lição a partir da reação da sinagoga da cidade de Jesus ao seu ensinamento e pregação. Mesmo aqueles que se ofenderam, porque pensavam estar protegendo a Torá estavam na verdade fazendo mau uso das palavras que se empenhavam em proteger. Qual era a responsabilidade deles (e nossa) diante de uma maneira de entender as Escrituras? Você automaticamente aceita o que seu pastor diz no púlpito? Oro para que seu pastor seja uma pessoa de Deus em quem você possa confiar; contudo, eles devem ser os primeiros a dizer que são humanos e falíveis. Onde encontramos a verdade infalível? Na própria Palavra de Deus.

Muitas passagens do Novo Testamento instruem os cristãos a “testarem” de várias maneiras. Devemos experimentar “qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2). Em 1 Tessalonicenses (5:19, 20) somos orientados a não tratarmos as profecias com desprezo, mas para julgarmos “todas as coisas.” Em Apocalipse 2:2 (a carta de Jesus à igreja em Éfeso) ele os elogia porque eles puseram à prova os que a si mesmos se declaravam apóstolos e não eram, e os acharam mentirosos.

Mas como podemos fazer isto? Como discernir honestamente o que vem de Deus e o que não vem? Hebreus 4:12 tem a resposta. Pela graça de Deus nos foi dada a ferramenta definitiva para este objetivo. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz... e penetra... e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” Aplicados com um coração humilde, podemos discernir o que pertence a Deus pelo uso de sua palavra. Se a sinagoga em Nazaré tivesse testado as palavras de Jesus com a Palavra de Deus, teriam encontrado o próprio Messias.

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