O Diabo Me Obrigou
Muitos anos atrás, o popular comediante Flip Wilson criou um personagem chamado Geraldine em seu programa semanal na televisão. No quadro regular de personagens, Geraldine sempre tinha um problema e quando era confrontada sempre tinha uma resposta pronta: “O diabo me obrigou.” A culpa era sempre do diabo. A personagem foi um grande sucesso. Em 1970, Wilson ganhou um Grammy por um álbum de comédia chamado “O Diabo me obrigou a usar este vestido”.
Wilson acertou em um ponto fraco nas pessoas com aquela personagem, porque todos nós podemos (em diferentes graus) nos ver nela. Desde que Adão culpou a Eva no Éden, os seres humanos sempre buscaram outra pessoa para jogar a culpa por nossas falhas diante da tentação. A realidade do trecho das Escrituras desta semana é que a tentação é um assunto sério; algo que precisamos estar prontos para enfrentar.
Do Batismo à Tentação
Para Jesus, sua tentação no deserto está diretamente ligada ao seu batismo. Frequentemente quando vemos um novo capítulo em nossas Bíblias presumimos que haja um desligamento em relação ao tópico anterior, e isso, às vezes, é verdade. Mas não aqui. Observe que o versículo 1 começa com “A seguir”. Isto nos diz que a ação que estivemos lendo a respeito, está prosseguindo. Em Mateus 3:16 o Espírito de Deus desceu sobre Jesus como parte de sua identificação divina como Filho amado de Deus. O mesmo Espírito que identificou quem Jesus era em Mateus 3:16 o conduziu ao deserto em Mateus 4:1 “para ser tentado pelo diabo.”
O que podemos entender disso? Terá sido Deus a fonte primária da tentação de Jesus? Deus entregou seu Filho amado para ser tentado? As respostas a estas perguntas são difíceis. A palavra que é traduzida como “tentou” aqui pode ser traduzida como “tentou” ou “testou”. Pode ser usada em um contexto negativo quando significa “instigar ao pecado”. Aqui normalmente usaríamos a palavra “tentou”. Mas esta palavra também pode ser usada positivamente. Pode ser usada significando “apurar o caráter, as visões ou os sentimentos de alguém.” Podemos preferir vermos a palavra “testou” nesse caso. Em Hebreus 11:17 o escritor diz que Deus “testou” Abraão. Mas em Tiago 1:13 ele diz que Deus não “tenta ninguém”. Notavelmente, a mesma palavra é usada nestas passagens! Considere a possibilidade de que ambas as coisas estão acontecendo ao mesmo tempo. Deus estava testando o caráter de Jesus ao permitir que fosse tentado pelo diabo. Lembre-se, não é da natureza de Deus “instigar ao pecado”. Jesus ser tentado não era pecado em si. Contudo se ele cedesse, o pecado teria sido cometido.
Três Tentações
Após 40 dias e 40 noites de jejum, a condição física de Jesus já estava muito fraca. A primeira tentação do diabo foi diretamente apontada para sua fraqueza humana: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.” A tentação foi um ataque frontal à identificação batismal de Jesus. O Filho de Deus era um ser humano e esta tentação era um sério ataque. Sua necessidade humana o convenceria a fazer algo tão básico quanto alimentar-se? Jesus sabia que responder ao pedido do diabo serviria apenas a si e ao maligno.
Como ele respondeu?
A resposta de Cristo vem das Escrituras. Ele cita Deuteronômio 8:3 que é uma referência ao cuidado de Deus pelos filhos famintos de Israel. Deus lhes deu o maná para ensiná-los que a dependência ao Senhor era mais importante que a dependência às coisas terrenas. Jesus escolheu depender do Pai.
Quando Jesus repele esta tentação mais básica, o diabo tenta voltar o uso que Cristo fez das Escrituras contra ele. No ponto mais alto do templo, Satanás sugere que Jesus poderia mostrar que era o Filho de Deus lançando-se precipício abaixo. Ele usou a frase do Salmos 21:11 12, implicando que se Jesus fosse o escolhido, Deus o protegeria. Ele queria que nosso Salvador testasse a proteção prometida por seu Pai, mas Jesus imediatamente viu o que estava por trás desta tentação mais sofisticada. Jesus mencionou Deuteronômio 6:16 deixando claro que não pecaria ao tentar manipular o Senhor Deus.
A terceira tentação não ataca o conforto ou a identidade pessoal de Jesus. Ela acometeu o propósito fundamental da encarnação de Jesus. Satanás mostrou a Jesus o “esplendor” do mundo e lhe diz que ele pode possuir tudo, se Jesus simplesmente se prostrasse e o adorasse. Em sua falta de progresso e frustração, o diabo expôs seu propósito primário em todas estas tentações. Ele ofereceu a Jesus uma maneira de evitar a cruz. Estava buscando um jeito de subverter o plano de salvação de Deus. Satanás ofereceu uma tentação que ele mesmo não teria resistido e talvez esta é a razão pela qual pensou que seria mais persuasivo. Mas Jesus o viu como ele era, e o baniu de sua presença. Ele novamente confiou nas Escrituras, citando Deuteronômio 6:13.
Como você pode resistir às suas próprias tentações?
Se você é um seguidor comprometido de Jesus, sabe que suas tentações não desapareceram quando entregou sua vida a ele. O mal continua a minar a condição espiritual de salvos e não salvos. Às vezes, quando somos tentados na vida podemos resistir ao pecado por um simples ato de vontade, mas com frequência as tentações que enfrentamos parecem inteiramente esmagadoras. A força humana sozinha não pode ser bem sucedida. Temos que olhar para o exemplo de Jesus. Como ele resistiu a estas poderosas tentações?
Antes que você pense, “bem, para ele era fácil... ele era o Filho de Deus,” ouça estas palavras de Hebreus 4:15: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.”
Se Jesus foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança” e ainda assim viveu uma vida sem pecado, devemos examinar a passagem das Escrituras desta semana em busca de métodos que possamos usar. Em primeiro lugar, observe que Jesus redirecionou cada tentação concentrando-se na vontade do Pai. Podemos fazer o mesmo, ponderando e nos perguntando: “Eu desejaria isto se Jesus estivesse ao meu lado neste momento?” Uma atitude de auto-serviço é uma porta aberta para o pecado.
A lição primária desta passagem é o fato de que Jesus pôde erguer a Palavra de Deus como um escudo diante de cada tentação. Não somente isso, mas quando as Escrituras foram mal usadas pelo maligno, Jesus reconheceu sua intenção doentia. Para nós, isto só pode acontecer se estivermos dispostos a gastar tempo com nossas Bíblias, lendo, contemplando e memorizando o que encontramos ali. Não podemos simplesmente nos permitir irmos ao mundo indefesos, e nossa melhor defesa é a Palavra de Deus. Devemos portanto nos revestir de toda a armadura de Deus (Efésios 6:10-19) e nos achegarmos “confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.” (Hebreus 4:16)