Explanação

Há duas semanas, vimos Jesus como mestre, uma imagem presente em Lucas. Na semana passada, observamos-lhe como curador, um retrato retirado de Marcos. Nossa série de quatro estudos nos Evangelhos continua hoje com Jesus como servo, um aspecto presente no Evangelho de João.

 

O Evangelho de João pode ser dividido em três seções principais. A primeira, 1:1 até 2:11, aborda a preparação de Jesus para seu ministério terreno. A segunda, 2:12 até 12:50, detalha este ministério. A terceira, 13:1 até 21:25, mostra a morte e ressurreição de nosso Salvador. O texto bíblico de hoje, portanto, está no começo da terceira seção do Evangelho de João.

Embora muitos dos seguidores de Jesus estivessem surpresos e desapontados com a morte dele na cruz, Jesus sabia que este seria seu destino. Em João 7:33 Ele disse: “Estou com vocês apenas por pouco tempo e logo irei para aquele que me enviou” (NVI). Também podemos notar várias vezes no Evangelho de João a declaração de Cristo que seu “tempo” ainda não havia chegado. (2:4; 7:30; 8:20). A passagem de hoje, entretanto, sinaliza uma grande mudança na narrativa, declarando que “que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai”. (13:1, NIV). Sabendo que seu tempo tinha finalmente chegado, nosso Senhor engajou-se num grande esforço de preparar seus discípulos para a sua próxima impendente (capítulos 13-17). Esta preparação foi composta principalmente de instrução verbal e culminou com o que os comentadores chamam de “a grande oração sacerdotal de Jesus” (capítulo 17).

No texto de hoje, que introduz este tempo de preparação, Jesus ensinou a seus discípulos através do exemplo. Ele modelou para eles um comportamento que chocou as suas sensibilidades: o serviço. Numa época em que a falta de ruas pavimentadas criou a necessidade regular de se lavar os pés. Esta tarefa, vista como degradante, passou a ser tarefa para escravos ou pessoas tidas sem valor pela sociedade. Quando Jesus começou a realizar este serviço para seus discípulos, o seu pensamento foi contestado. Pedro, em particular, opôs-se inflexivelmente ao exercício de tal comportamento por Jesus (versículos 6-8). Tal atitude do Mestre abalou a compreensão de Pedro de quem Jesus era. Sim, foi fácil para Pedro ver a Jesus como um professor e como um terapeuta, mas como poderia ver o seu Senhor como um servo? Aparentemente, no entendimento de Pedro, um líder não poderia ser um servo. Foi, no entanto, essa imagem, Cristo como servo, que Jesus estava tentando comunicar a seus seguidores.

Exploração

Consoante mencionado acima, Jesus ensinou esta lição sobre o serviço de um modo bem específico: Ele a exemplificou. Ele de fato serviu a seus discípulos, tornando-se uma imagem do que é servir. Por que Jesus escolheu exemplificar esta verdade, ao invés de somente verbalizá-la? Aparentemente cria que seus seguidores absorveriam melhor o ensinamento se pudessem vê-lo em ação. Jesus não estava apenas mostrando aos seus discípulos que era um servo, bem como estava instando-os a desempenharem o mesmo papel. As Escrituras nos ensinam que não foi somente Jesus quem foi chamado para servir, porém, cada seguidor dele tem sido chamado para servir ao próximo.

Faz sentido que os discípulos ficariam mais bem preparados para servir aos outros, uma vez que eles próprios tinham sido servidos. Isso nos ajuda a compreender a razão pela qual Jesus escolheu exemplificar “a atitude de um servo” para eles. Eles não somente ouviram Jesus falar, mas também o viram praticar. Isto se enquadra com outros ensinamentos bíblicos de primordial importância. Na primeira epístola de João, por exemplo, o autor escreveu: “Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros” (1 João 4:11 NVI). Paulo escreveu aos cristãos em Éfeso: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo” (Efésios 4:32 NVI). A ideia é esta: Quando se recebe uma bênção de Deus, temos a oportunidade de compartilhá-la com os outros. Conforme Jesus disse aos seus discípulos em João 13:15: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz” (NVI).

No entanto, há ainda mais acontecendo aqui. Como pudemos perceber, em 1 João 4:11 somos chamados a amar uns aos outros. A frase seguinte oferece um discernimento maior para este mandamento: “Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós” (1 João 4:12 NVI). Quando amamos os outros, após sermos amados por Deus (ou seja, recebermos o amor divino), estamos aptos a permitir que Deus viva através de nós. Em outras palavras, quando compartilhamos as bênçãos de Deus com os outros, estamos realmente levando Deus até eles, trabalhando para o crescimento do reino dos Céus. Quando Jesus ordenou aos seus discípulos para servirem uns aos outros, estava pedindo-lhes que completassem a sua própria missão. Por isso, quando servirmos aos outros, estamos também servindo a Deus. O nosso serviço, no vigésimo primeiro século é uma continuação do serviço de Jesus no primeiro.

Encorajamento

No verso 15 de nossa passagem bíblica de hoje, Jesus está dizendo aos seus discípulos que estava deixando-lhes um exemplo. No verso 17, Ele também lhes disse que seriam bem-aventurados se seguissem seu exemplo. Como nós podemos seguir o exemplo de Jesus? Primeiro, vamos entender exatamente o que Ele fez nesta passagem.

Algo que o texto nos mostra é que Jesus “sabia”. Segundo os versos 1 e 3, Ele sabia que estaria aqui na terra por um tempo determinado e que estava chegando a hora de deixar este mundo. Temos nós o mesmo conhecimento que Jesus tinha? Diferentemente dele, não sabemos quando nosso “tempo” chegará. Podemos morrer hoje mesmo; podemos viver muitos anos ainda. Nós simplesmente não sabemos quando partiremos. Entretanto, assim como Jesus, nós sabemos que há um tempo determinado para nossa existência nesta terra. Estamos certos que um dia não mais estaremos aqui.

Outro fator que o texto nos mostra é que Jesus amava. O verso 1 nos informa que Jesus amou os seus que estavam neste mundo. Temos nós o mesmo amor que Ele tinha? Amamos ao nosso próximo como a nós mesmos? Eu tenho que admitir que enfrento problemas nesta área. Algumas vezes peço a Deus para amar determinadas pessoas através de mim, porque em minhas limitações humanas, eu não consigo amá-las. Antes de responder com um impensado sim à pergunta acima, pondere na seguinte poesia ¹:

Se amar fosse fácil, não haveria tanta gente amando mal, nem tanta gente mal amada.

Se amar fosse fácil, não haveria tanta fome, nem tantas guerras, nem gente sem sobrenome.

Se amar fosse fácil, não haveria crianças nas ruas sem ter ninguém, nem haveria orfanatos, porque as famílias serenas adotariam mais filhos, nem filhos mal concebidos, nem esposas mal amadas, nem prostitutas.

E nunca ninguém negaria o que jurou num altar, nem haveria divórcio e nem desquite, jamais...

Se amar fosse fácil, não haveria assaltantes e as mulheres gestantes não tirariam seu feto, nem haveria assassinos, nem preços exorbitantes, nem os que ganham demais, nem os que ganham de menos.

Se amar fosse fácil nem soldados haveria, pois ninguém agrediria. Mas o amor é sentimento que depende de um “eu quero”, seguido de um “eu espero”.

O amor é difícil porque o homem é egoísta e maximiza seu “eu”.

Jesus Cristo não brincava quando nos mandou amar. E, quando morreu amando, deu a suprema lição.

Não se ama por ser fácil, ama-se porque é preciso!

Como você está se saindo nesta área?

Finalmente, uma dinâmica interessante ocorreu no texto de hoje: Jesus combinou o seu conhecimento e o seu amor. Ele sabia que em breve deixaria este mundo, Ele amava seus discípulos, então deliberadamente mostrou-lhes a plena medida do seu amor (versículo 1). Ele fez isso, servindo-os.

E se você soubesse que no próximo mês partiria? Depois de sua partida seus queridos saberiam que você lhes amava? Como eles sabem disto? Jesus disse a seus discípulos que eles compreenderiam depois aquilo que estava fazendo (versículo 7). Será que as pessoas que você ama teriam um entendimento posterior do amor que você tem por elas? Talvez, neste exato momento, elas não compreendam o quanto você as ama. Em tempo, porém, elas finalmente entenderão. Que passos você está dando neste dia, neste mês, neste ano, em última análise, para demonstrar o seu amor por elas? Eles são, portanto, os passos de fé. Seu serviço pode passar despercebido hoje, mas no futuro vai provar o seu amor. Você tem fé no presente? Você é capaz de servir, sem um reconhecimento imediato do seu serviço? Jesus serviu, e fixou um exemplo para nós.

__________________

¹Autor desconhecido

Related Articles

O credor incompassivo
Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas. Mateus 18:35...
O amigo importuno
E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; Lucas 11:9...
A dracma perdida
Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? Lucas 15:8...
A dracma perdida
Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? Lucas 15:8...