Ah! SENHOR Deus de Israel, justo és, pois ficamos qual um remanescente que escapou, como hoje se vê; eis que estamos diante de ti, na nossa culpa, porque ninguém há que possa estar na tua presença, por causa disto.

Esdras 9:15 

INTRODUÇÃO


   Certa vez um pregador perguntou ao público que lhe escutava: “Qual é o único pecado que Deus não perdoa?” Houve um silêncio na congregação. Ninguém se arriscou em dar uma resposta. Então o pregador disse: “O único pecado que Deus não perdoa é o pecado não confessado”. Sem entrar em uma discussão teológica, como por exemplo, o tema do pecado contra o Espírito Santo, podemos concordar que o tal pregador foi feliz em sua afirmação: “O pecado que Deus não perdoa é o pecado não confessado”.
    Mas o perdão de Deus é decorrente de alguns passos que o precedem.
Em primeiro lugar, o pecado precisa ser revelado. Isso ocorre através do conhecimento obtido pela Palavra de Deus, como foi bem explanado na lição da semana passada. Em segundo lugar, o pecado precisa ser reconhecido. Não basta ao homem saber o que é errado, é necessário reconhecer que ele está no erro. E, por fim, o pecado deve ser tratado. Aqui cabe à pessoa se arrepender e tomar decisões para que abandone o erro, e praticar ações para evitar que o pecado tenha domínio sobre sua vida. Então, o perdão do Senhor será imputado sobre a vida daquele que busca esse favor.
   Na lição de hoje, através do estudo dos dois últimos capítulos do livro de Esdras, vamos aprofundar mais essa
questão: Dar ao pecado seu devido tratamento.


O PECADO É EXPOSTO (Esdras 9:1 2)


   O primeiro passo a ser dado no tratamento contra o pecado é que ele deve ser exposto, ou seja, reconhecer que
ele existe e como ocorre na vida da pessoa, de um povo ou de uma igreja, muitas vezes.
   Os versos 1 e 2, do cap. 9, de Esdras vão mostrar o que estamos discorrendo aqui:


   “Acabadas estas coisas, alguns dos chefes vieram falar comigo, dizendo: — O povo de Israel, os sacerdotes e os levitas não se separaram dos povos de outras terras e das suas abominações, isto é, dos cananeus, dos heteus, dos ferezeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amorreus. Tanto eles como os seus filhos casaram com mulheres desses povos, e assim a linhagem santa se misturou com os povos dessas terras. Os chefes e os magistrados foram os primeiros a cometer esse pecado” (Esdras 9:1 2).


   Na leitura do texto parece mostrar alguns homens “dedos duros” querendo fazer moral apontando os erros dos outros. Todavia não é o caso aqui. O que percebemos é o resultado da reforma moral que estava acontecendo naqueles dias. Quando Esdras decide ir até Jerusalém, um propósito ardia em seu coração: buscar a Lei do Senhor, cumpri-la e ensiná-la ao povo (7:10). A Palavra que fora ensinada começa a surtir efeito na vida do povo. Algo extraordinário estava acontecendo. O culto ao Senhor estava sendo restabelecido, as festividades religiosas estavam acontecendo, o ministério sacerdotal e levítico estavam retomando seu lugar. Algo estava errado. O povo sabia disso e eles não podiam continuar sem resolver a questão do pecado.
   A Lei havia trazido à tona o pecado do povo. E de fato esse é um dos papéis da Palavra de Deus. Paulo também afirma: 
Mas eu não teria conhecido o pecado, a não ser por meio da lei. Porque eu não teria conhecido a cobiça, se a lei não tivesse dito ‘não cobice’(Romanos 7:7).
   O pecado não pode ser tratado da forma devida se não for exposto plenamente. Alguns dizem que o pecado é como um câncer. Assim como essa doença deve ser tratada, o mesmo ocorre com ele. Exames clínicos expõem o lugar onde o câncer 
está e o grau de malignidade da doença. O pecado também deve ser exposto à luz da Palavra para que seja tratado.
   Ainda o verso 1 mostra o que havia acontecido: o povo de Israel havia, através de práticas religiosas pagãs e de
casamentos mistos, se mesclado com outros povos. Mas algo chama atenção aqui: oito povos listados em Deuteronômio 7:1 com os quais o povo se contaminou, cinco deles aparecem na lista de Moisés, que, sob instrução divina, ordena que fossem eliminados. O que aconteceu naquela ocasião foi que o povo de Israel não obedeceu completamente. Depois essas nações foram como laço ao povo santo de Deus. Naquele momento, apresentado no livro de Esdras, o que percebemos é o pecado recorrente. Pecado não tratado devidamente, torna-se um laço na vida do cristão. É o tal
“pecado de estimação”. Como um câncer que não foi extirpado, mas que deixou raízes malignas que, quando menos se espera, irão aflorar.


O PECADO RECONHECIDO (Esdras 9:6 e 7; 10-22)


   Uma das dificuldades do homem, se não for a maior delas, é reconhecer os seus erros. Davi afirmou em certa ocasião: Quem há que possa discernir as suas próprias faltas?(Salmos 19:12). Todavia o reconhecimento do pecado, seguido de confissão, é o segundo passo para o correto tratamento. Enquanto não reconhecermos o nosso erro (entenda-se, pecado), sentindo o seu devido peso, jamais alcançaremos misericórdia e perdão.
   Quando Esdras toma conhecimento do pecado do povo, de imediato, ele mostra sua preocupação e inconformidade. O Escriba rasga suas próprias vestes, arranca os cabelos da cabeça e da barba.
   Você consegue imaginar essa cena? Isso deveria refletir nossa postura diante do pecado. O cristão não pode se conformar com o pecado reinando em sua vida, em sua família, em sua nação. O pecado deve causar revolta em nós. O texto bíblico na versão Nova Almeida Atualizada diz que Esdras ficou perplexo diante daquela situação. Ao mesmo tempo, a atitude dele demonstra sua profunda tristeza pelo pecado do povo.
   Até por volta das três da tarde ele ficou assim, praticamente imóvel. As pessoas ao seu redor lhe acompanhavam como alguém que vela um corpo. O pecado produz morte, física e espiritual (Romanos 6:23). No horário do sacrifício e também da 
oração, Esdras toma posição e se coloca em oração diante do Senhor em favor do povo.
   Algumas ações do sacerdote naquele momento nos chamam a atenção e nos ensinam princípios valiosos sobre qual deve ser nossa postura diante do Senhor quando pecamos.
   A primeira ação de Esdras na presença do Senhor é colocar-se de joelhos (v. 5b). Essa atitude demonstra sua completa submissão diante do Criador. Reconhece sua pequenez. Sua posição aponta para a postura que devemos ter diante do Senhor nas situações em que pecamos. Só se comporta dessa forma a pessoa que reconhece o seu pecado. Com essa tomada de consciência, não há lugar para o orgulho ou soberba.
   Esdras estende suas mãos ao Senhor. Age como alguém que busca um favor; que clama pela graça e bondade do Senhor. Alguém que não tem nada a oferecer, mas que depende totalmente da misericórdia divina.
   A partir deste momento Esdras faz confissão pelo povo e por si mesmo, embora ele não tivesse cometido o pecado. A vergonha de Esdras era tão grande que ele nem ousava levantar a face para falar com Deus (v.6). E com um coração quebrantado e contrito,
30 ele ora ao Senhor.
   A oração do escriba talvez seja uma das mais sinceras orações de confissão. Neemias fez uma oração parecida (Ne 1:4-11). Esdras reconhece a reincidência do pecado do povo (v. 7). Ele não usa de justificativas, pelo contrário, assume o erro e confessa o pecado sem reservas (v. 14). Ao final da oração, apela para a misericórdia de Deus. Essa oração nos mostra que a confissão precede o perdão, como apontam as Sagradas Escrituras:
Quem encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e abandona, alcançará misericórdia(Provérbios 28:13).
   Enquanto não confessamos os nossos pecados não poderemos alcançar misericórdia. E isso deve ocorrer em
humildade e sinceridade diante de Deus. Mesmo que Ele saiba quais são as nossas faltas, precisamos confessar diante d’Ele em oração. O problema é que muitas vezes as pessoas confessam apenas em parte seus pecados. Mal comparando, 
poder-se-ia dizer que “pecam no atacado” e “pedem perdão no varejo”. O ideal é evitarmos orações genéricas, desenvolvendo o hábito de formular preces específicas. Esdras sabia qual era o pecado do povo e ele sabia que Deus tinha conhecimento também, mas ele confessa com clareza diante do Senhor: “Será que poderíamos voltar a transgredir os teus mandamentos e nos unir em casamento com os povos que praticam essas
abominações?”
(v.14). É assim que devemos tratar a questão do pecado: reconhecendo os nossos tropeços pecaminosos e confessando diante do Pai.


O PECADO TRATADO E RESOLVIDO


   É incrível o efeito que ocorre quando os filhos de Deus se derramam em oração diante da Sua presença. Algo extraordinário ocorreu naquele fim de tarde quando Esdras finalizava sua oração: Enquanto Esdras orava e fazia confissão, chorando prostrado diante da Casa de Deus, uma enorme congregação de israelitas – homens, mulheres e crianças – se reuniu em volta dele. E o povo chorava amargamente(10:1). Naquele momento o povo passou a sentir os efeitos da transgressão, o que envergonhou os israelitas e os levou ao arrependimento. Eles caíram em si, sentiram a dor causada pela infidelidade para com Deus. Até mesmo as crianças choravam! O arrependimento começou a tomar conta daquela congregação. Algo surpreendente estava acontecendo.
   Naquele dia ecoava aos corações as palavras do Senhor quando disse:
se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar, me buscar e se converter dos seus maus caminhos, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.(2 Crônicas 7:14 grifo nosso). Pelo ministério de Esdras, o povo havia se humilhado, orado e buscado o perdão. Todavia, faltava o último passo: se converter dos maus caminhos. Essa é a última ação no que se refere ao tratamento de choque contra o pecado.
   O pecado havia sido confessado e reconhecido, não apenas através da oração do líder, mas pela confissão oral do povo:
“- Nós temos transgredido contra nosso Deus, casando com mulheres estrangeiras, que pertencem aos povos desta terra. Mas quanto a isso ainda há esperança para Israel. Façamos agora uma aliança com nosso Deus, de que despediremos todas essas mulheres e os seus filhos, segundo o conselho do meu senhor e dos que tremem diante do mandamento do nosso Deus. Que se faça segundo a Lei(Esdras 10:2 e 3).
    Nesses versos podemos destacar três passos, que são: confissão, arrependimento e conversão. Aquela situação era contrária à Lei de Deus e não podia continuar. Eles precisavam 
se converter dos seus maus caminhos”, ou seja, mudar de direção, de atitude, interromper o ciclo da prática do pecado.
   Tratar do pecado exige mais do que uma confissão oral. Demanda ações práticas, mudanças de hábitos e abandono de coisas que nem sempre são fáceis de deixar. Peço permissão para expressar o sentimento que me toma todas as vezes que leio este texto: fico imaginando quanto foi difícil para aqueles homens despedirem suas esposas e seus filhos, mandando-os de volta para os seus respectivos povos. Eu imagino a minha família, minha esposa e filhos. Os homens israelitas haviam criado laços com seus familiares. Eu imagino naquele dia os cônjuges dando o último beijo, filhos beijando os pais e dando um abraço de despedida. Não deve ter sido nada fácil!
   O que isso nos mostra? Que o pecado exige um tratamento radical quanto às suas práticas. Jesus foi enfático e radical quando tratou dessa questão:
“— Se o seu olho direito leva você a tropeçar, arranque-o e jogue-o fora. Pois é preferível você perder uma parte do seu corpo do que ter o corpo inteiro lançado no inferno. E, se a sua mão direita leva você a tropeçar, corte-a e jogue-a fora. Pois é preferível você perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ir para o inferno.(Mateus 5:29 e 30).
   Não podemos fazer concessões ao pecado. Confissão sem arrependimento não produz conversão e o perdão não é obtido. Hoje em dia a filosofia do “venha como está” tem barateado a graça de Deus, graça essa que nos aceita sim, como somos, mas não nos deixa como éramos.


O PECADO DE ESTIMAÇÃO


   Esse é o tipo de pecado mais desafiador a ser tratado. É o pecado que está dentro da nossa casa e tem morada fixa no nosso coração. É como as mulheres estrangeiras que eram esposas dos israelitas. Por mais difícil que seja de reconhecer, é o pecado que nós gostamos e que, de uma forma direta ou indireta, alimentamos. Temos dificuldade de abandonar e de fato não é algo fácil. É o pecado que não conseguimos vencer e descaradamente dizemos: “A carne é fraca”. Entretanto esse pode ser o pecado que nos levará à perdição eterna e, por isso, precisamos tratá-lo com eficácia.
   Não foi fácil para os homens israelitas quando disseram a Esdras:
Que assim seja! Faremos segundo as suas palavras” (Esdras 10:12). Mais difícil ainda foi colocar em prática. Mas era necessário, caso contrário, o furor do Senhor não se apartaria da congregação (v. 14b).
   Tratar o “pecado de estimação” é uma ação urgente para os filhos de Deus, em especial para aqueles que lideram a igreja ou estão envolvidos em algum ministério na congregação, como era o caso dos sacerdotes e levitas que estavam listados entre aqueles que haviam se casado com estrangeiras (vs. 18 a 24).


CONCLUSÃO


   Finalizamos hoje a parte do estudo que tratou do livro de Esdras. Nela percebemos, ao longo destas lições, o propósito do Senhor em trazer o Seu povo para perto de Si, restaurar a verdadeira adoração e instruí-lo pela Santa Palavra. Mas, para isso, o pecado precisou ser tratado. Qualquer ação do homem em tentar se aproximar do Senhor e fazer a Sua vontade será inválida enquanto o pecado reinar em seu coração (Isaías 59:2). Mas, pela oração, arrependimento e confissão, podemos estar diante de Deus, por meio de Cristo Jesus. O Deus que redimiu o povo do cativeiro babilônico e o levou novamente à terra prometida, por último nos redimiu do cativeiro deste mundo e nos guia hoje, como forasteiros aqui, para a Canaã celestial.


QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE


1. Por que o pecado deve ser exposto (confessado) em nossa vida? Qual o papel das Escrituras nesta questão? (Romanos 7:7)
R.


2. Por que o ser humano tem dificuldade em reconhecer (detalhar na oração de confissão) o pecado? (Salmos 19:12)
R.


3. No que diz respeito ao tratamento do pecado na vida do cristão, qual estágio é o mais difícil: humilhar-se, orar ou se converter dos maus caminhos? Como isso ocorreu nos dias de Esdras?
R.


4. Você tem algum “pecado de estimação”? Consegue reconhecê-lo? Que ações você tem praticado para extingui-lo de uma vez por todas da sua vida?
R.


5. Por que a mudança de atitude em relação ao pecado deve começar pela liderança da igreja? (Esdras 10:18-24)
R.

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