E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?

Atos dos Apóstolos 16:30 

INTRODUÇÃO


   O maior exemplo de compromisso, atuação dedicada e de como foi usado pelo Espírito Santo é o do apóstolo Paulo. De perseguidor da Igreja a apóstolo dos gentios, foi uma guinada em sua vida. R. F. Hock, (citado por TIDBALL) calcula que Paulo percorreu mais de 16 mil quilômetros em viagens missionárias.169 Graças ao ambiente de segurança garantido pelo Império Romano na Ásia Menor e na Europa, foi mais fácil percorrer todas essas regiões. Qual era a sua estratégia para alcançar tanto os judeus da diáspora quanto os gentios em tão pouco tempo? Lembrando que a maior parte das viagens foram feitas a pé, exceto algumas marítimas. Na maioria das vezes, ele começava pela sinagoga da cidade a ser evangelizada, demonstrando que o Messias, esperado pelo povo de Israel, era Jesus e que somente através d’Ele poderiam alcançar a Salvação. E, em seguida, ele evangelizava os gentios.
   O verso-chave é a descrição feita por Lucas do início da plantação da Igreja de Filipos. Essa cidade era uma colônia militar para onde o Império Romano enviava os seus soldados veteranos como aposentados.170 Foi a primeira cidade da Europa a ser evangelizada. A história é muito bonita: não havia sinagoga na cidade e eles procuraram um local de oração, num dia de sábado. Dirigiram-se para as margens de um rio e lá encontraram algumas mulheres que eles evangelizaram. Foi plantada a Igreja de Filipos, uma exemplar comunidade de fé. Para cada situação Paulo utilizava uma estratégia para alcançar as pessoas com o Evangelho. Por isso, ele fala na carta à Igreja de Corinto: “Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Para com os judeus, fiz-me como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da Lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da Lei, embora eu não esteja debaixo da Lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei.” Fiz-me fraco para com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, a fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, para ser também participante dele” (1 Coríntios 9:19-23).


A COMUNICAÇÃO EFICIENTE PARA EVANGELIZAR O PÚBLICO ALVO

 

  1. Língua: Para que haja uma conversão, a pessoa, além de ouvir o Evangelho, deve entender a mensagem. A comunicação deve ser bem feita e no idioma dos que serão evangelizados. Quando jovem, em 1917, William Cameron Townsend foi à Guatemala evangelizar o povo indígena. Ele levava bíblias em espanhol e descobriu que muita gente não conseguia ler nessa língua. Perguntaram-lhe: “Deus não fala a nossa língua? Ele é um Deus só para as pessoas que falam inglês ou espanhol?” Aqueles questionamentos fizeram com que ele fosse morar com o povo Cakchiquel. Dessa forma, aprendeu o idioma e traduziu o Novo Testamento para a língua deles. Mais tarde, surgiria o Wycliffe Bible Translators, uma organização missionária que traduziu a bíblia para línguas de povos do mundo todo. Da primeira tradução de toda a bíblia em 1951 até o ano 2000, já havia 500 traduções completas.172 O missionário precisa aprender e ser fluente no idioma do povo alvo. Assista no YouTube ao documentário de uma tribo da Papua-Nova Guiné recebendo a bíblia escrita em sua língua: https://www.youtube.com/watch?v=oMLXOi7nH60.
  2. Cultura: a mensagem do Evangelho deve ser culturalmente adequada, não estamos falando de “negociar” princípios da Palavra de Deus, mas de contextualização, considerando a cultura do povo em que se vai trabalhar. Não é possível adequar o Evangelho a tudo na cultura, por exemplo: missionários cristãos não podem concordar com o infanticídio que ocorre em algumas tribos indígenas do Brasil. Porém, temos que respeitar a cultura do povo em que vamos trabalhar. Não podemos nos sentir superiores a eles. Outro exemplo bem simples: um obreiro cristão que tenha vindo do Nordeste para trabalhar no Rio Grande do Sul terá algum choque cultural. Não se sentirá muito à vontade numa roda de chimarrão ou com o vocabulário típico dessa região. O contrário também é verdade: um obreiro do sul do Brasil que vá trabalhar entre os nordestinos também terá alguns problemas com a cultura: dormir em rede, por exemplo, ou com as comidas apimentadas e tradicionais que o povo nordestino já está acostumado. O nosso objetivo é a evangelização e, para alcançarmos isso, temos que respeitar a cultura do povo, mesmo que em coisas praticamente inocentes. Lembre-se: Deus comunica-se em todas as culturas. 
  3. Métodos de comunicação: temos que pensar em estratégias diferentes para comunicar-se numa sociedade rural ou em uma urbana. 

   Contudo, uma vez que reconheçamos a estrutura fundamental de tais sociedades, constatamos que os métodos mais bem-sucedidos nessas sociedades são os que aproveitam o fluxo natural de comunicação. Os princípios básicos de tal abordagem são quatro: 1) a comunicação eficaz baseada em amizade pessoal; 2) a abordagem inicial concentrada nos que podem passar adiante e com eficácia a mensagem dentro de um agrupamento familiar; 3) tempo para a difusão interna das novas ideias; 4) desafio a qualquer mudança de crença ou ação dirigida às pessoas ou aos grupos socialmente capazes de tomar tais decisões. (NIDA, Eugene A.)

   Procurar fazer uma amizade sincera com as pessoas que queremos evangelizar é uma das primeiras coisas que o obreiro cristão deve esforçar-se para conseguir. Dificilmente alguém acredita em um estranho. Procurar evangelizar toda a família é uma estratégia eficiente que deve ser usada. 

 

PREGANDO ONDE O EVANGELHO AINDA NÃO FOI LEVADO


   Paulo diz à Igreja de Roma: Assim, desde Jerusalém e arredores até o Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo, esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já foi anunciado, para não edificar sobre alicerce alheio. Pelo contrário, como está escrito: ‘Aqueles que não tiveram notícia dele o verão, e os que nada tinham ouvido a respeito dele o entenderão’” (Romanos 15:19b - 21).
   Em nossos dias, nas cidades e principalmente nas grandes, é comum haver templos de denominações diferentes em uma mesma região ou no mesmo quarteirão. Quando uma Igreja local pretende abrir novas congregações deve pesquisar locais procurando onde não haja trabalhos de outras denominações. O mesmo vale para abertura de congregações onde se considera como campo missionário como vilas no sertão do nordeste, comunidades ribeirinhas da Amazônia ou comunidades quilombolas.


EXEMPLOS DE ESTRATÉGIAS PARA PLANTAÇÃO DE IGREJAS

  1. Avanço missionário: é quando várias pessoas, de diferentes origens, ficam numa cidade pequena durante um tempo evangelizando a comunidade. Todas as casas da comunidade são visitadas, são realizadas reuniões públicas de pregação do Evangelho. É o método de curta duração que é realizado pela JUVEP, uma agência missionária de João Pessoa, na Paraíba.174 Eles o denominam “Projeto Missionário”.
  2. Radical Sertão: outra modalidade que é desenvolvida pela JUVEP onde os missionários (geralmente casais) ficam morando numa pequena comunidade rural, no Sertão do Nordeste. Durante esse período eles evangelizam a comunidade e plantam uma Igreja. 
  3. Distribuição de Bíblias dentro das empresas: esse é um método bastante interessante. Quando se distribuem bíblias no ambiente de trabalho das pessoas, cria-se empatia com elas. É uma forma de descobrir os que já foram crentes e os que ainda são. As pessoas com problemas (de saúde, conjugais, de opressão diabólica ou qualquer outro) criam coragem para pedir ajuda para quem está doando a Bíblia. Em 2018, foram distribuídas Bíblias para 110 pessoas no frigorífico da empresa Vibra, de Itapejara do Oeste, PR. Apareceram muitos casos que foram motivos de oração. Criou-se um grupo de oração entre esses funcionários. É uma excelente oportunidade de evangelizar.
  4. Grupos de oração nas empresas: baseados na experiência narrada acima, podemos dizer que há uma grande
    oportunidade de pregar o Evangelho dentro das empresas. Usando o intervalo de almoço, pode-se organizar grupos de oração e estudo bíblico. Todas as pessoas necessitam de oração. É uma forma muito boa de levar o Evangelho. Sugerimos aos pastores que observem se há algum membro da Igreja que trabalha em uma grande empresa. Se houver, desafie o irmão a compartilhar a Palavra e dê ele um bom treinamento (isso evitará problemas dentro da empresa). Veja a possibilidade de distribuir bíblias por meio desse irmão.
  5. Grupos de oração e estudo bíblico na escola: há um ministério chamado Mocidade Para Cristo (MPC) que estimula os jovens a testemunhar em suas escolas. Proporciona treinamento e mentoria. Há trabalhos desde o Ensino Fundamental até o Superior. É um movimento interdenominacional que trabalha com todas as Igrejas Evangélicas. Sugerimos aos pastores que se informem e estimulem os jovens de sua Igreja a participarem. Veja o site: https://mpc.org.br/estudantes-em-acao/
  6. Trabalho de prevenção ao uso de drogas em empresas e escolas: o uso de drogas lícitas (álcool e tabaco) e ilícitas (crack, cocaína, maconha e outras) é um problema sério presente em todo o mundo. Oferecer esse trabalho para diretores de empresas e escolas é uma forma muito eficiente de entrar nelas. Quem for fazer isso, deve primeiro ser treinado e estudar muito sobre os perigos e consequências da drogadição175. Lembrando que estamos invadindo o reino de Satanás, portanto, esse trabalho, como os outros já citados, deve ser realizado após muita oração. A sociedade está clamando por um ministério desse. Abrirá portas para evangelização nas escolas e empresas. Sugerimos que antes de iniciar um trabalho, entre em contato com centros de recuperação de dependentes químicos, dirigidos por evangélicos, que tenham sua seriedade e idoneidade reconhecidas, para encaminhar as pessoas com problemas.
  7. Ensinando música para as crianças do bairro, levando o Evangelho aos pais. Há uma linda história de um maestro de São Paulo que levou a música clássica para jovens e adolescentes numa grande favela de São Paulo. Formou a Orquestra Sinfônica Heliópolis. O maestro Silvio Baccarelli que se condoeu da situação das pessoas que moram em condições precárias e que não têm perspectivas em suas vidas. Propôs-se a ajudar adolescentes em condições de vulnerabilidade. Veja em: Sesc São Paulo - A favela que se rendeu à música – Revistas – Online. Essa seria uma ótima ideia para uma Igreja que tenha músicos em sua membresia. As portas seriam abertas de uma maneira muito especial e a igreja teria acesso à comunidade.
  8. Acudindo as famílias em catástrofes (incêndio, enchente, mortes). Líderes e pastores de Igrejas devem estar atentos para as oportunidades que possam aparecer. Acudir pessoas que foram vítimas de catástrofes é uma oportunidade de entrar numa comunidade com o Evangelho. Isso não deve ser uma coisa oportunista, apenas visando um benefício posterior, mas sim motivado por um profundo amor cristão que nos leva a agir.
  9. A diáspora venezuelana, haitiana, síria, iraquiana, afegã, dos povos da África e da Ásia. O nosso país está
    sendo escolhido por povos que estão sendo expulsos de suas terras por guerras, perseguições religiosas e políticas. Povos que, muitas vezes, vêm de países hostis ao Evangelho. Temos certeza de que Deus tem um plano para que sua Igreja dê testemunho a esses povos. Em seus países de origem, eles não poderiam ter acesso à Palavra de Deus. O imigrante não tem conhecidos e precisa de ajuda para aprender a língua, conseguir um modo de subsistência, colocar os filhos em escolas, conseguir documentação e o mais importante: precisa de amigos verdadeiros. Se próximo à sua Igreja houver imigrantes, converse com os irmãos sobre como poderiam ajudar. 
  10. Uma bola de futebol: exemplo da Igreja (IBSD) do Boqueirão (Curitiba – Paraná). Esse é um caso bem sucedido de plantar uma Igreja através de métodos nem um pouco ortodoxos. O imóvel onde está situada a Segunda Igreja Batista do Sétimo Dia de Curitiba foi adquirido a partir de um trabalho com crianças do bairro onde está situada. Iniciou-se quando um dos jovens da igreja foi visitar os irmãos Maria e Ramiro num sábado à tarde. Nessa oportunidade, viu as crianças brincando no campo e isso lhe deu uma ideia. Conversando com a irmã Maria, ela se dispôs a emprestar a varanda da sua casa para que fossem feitas as reuniões com os meninos e ele e os meninos iriam jogar bola depois. Só que não estava nos planos de Deus que fossem apenas os meninos. Na primeira reunião, apareceram várias meninas trazendo irmãos pequenos. A bola foi deixada com os meninos e o idealizador do jogo de futebol acabou brincando de roda com as meninas. Após alguns sábados jogando, decidiu convocar as jovens da Igreja para participar. Logo o trabalho foi apelidado de “Missãozinha”. As crianças apareciam todos os sábados sem faltar. Foi uma maravilhosa e doce experiência de evangelizar crianças.

   Um tempo depois, uma casa de madeira em frente à residência daquele casal foi posta à venda. O Pr. Romeo Storck tomou a iniciativa de negociar a compra do imóvel. Mais tarde o terreno ao lado foi colocado à venda também. Pr. Romeo assumiu a compra, pela fé, sem nenhuma ajuda externa, a comunidade adquiriu o outro terreno.
   Algumas daquelas crianças da época estão hoje em Igrejas Evangélicas: um é diácono na Igreja Quadrangular, ali perto; uma das meninas é líder e professora na Igreja Menonita Ágape. O testemunho de todas as pessoas que participaram quando crianças da “Missãozinha” é que foram impactadas pela Palavra de Deus. Houve vários batismos de irmãos que eram da comunidade.
   Assim nasceu a Igreja Batista do Sétimo Dia no Boqueirão, conhecida oficialmente como “Segunda Igreja Batista do Sétimo Dia em Curitiba”.
   Esse exemplo foi citado para que todos os irmãos percebam que Deus usa os métodos que Ele quer e as pessoas que se dispõem a fazer a Sua vontade. É importante que não percam as oportunidades e que se utilize a criatividade.


CONCLUSÃO

   Um pensamento a respeito das Igrejas locais: “a Igreja deve ser amada ou odiada pela comunidade, mas não pode passar despercebida”. Vemos na maioria das Igrejas BSD em nosso país uma letargia: batiza-se (lá de vez em quando) um filho de crente, dificilmente um novo convertido. A maior parte das famílias cristãs mantém todas as crianças na igreja até a adolescência. Quando vão para o Ensino Médio ou para a universidade, algumas delas somem da comunidade. A solução para esse problema é um reavivamento espiritual. Para isso, tem que haver uma disposição dos crentes em orar. Isso mesmo! abundantes orações: pelos perdidos, por oportunidades de evangelismo, pela obediência da Igreja ao Senhor Jesus, pelo derramamento do Espírito. A oração junto com a leitura organizada da Bíblia e o compartilhamento da fé são as bases do reavivamento espiritual de um grupo cristão.
   Isso nos leva a pensar que Deus quer Igrejas avivadas: 
“— Ao anjo da igreja em Laodiceia escreva: ‘Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus. Conheço as obras que você realiza, que você não é nem frio nem quente. Quem dera você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, e não é nem quente nem frio, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca’” (Apocalipse 3:14-16). Avivamento não significa falar em línguas, promover curas milagrosas ou ser pentecostal. Igrejas avivadas são as que obedecem ao Senhor Jesus “indo”, que têm o foco na Palavra de Deus e no serviço cristão, promovem a justiça e os seus membros são pessoas de oração. Essas Igrejas levam a sério as Missões: oram por missionários, pelos povos não alcançados, ajudam no sustento de obreiros e fazem a diferença nas comunidades onde estão localizadas.


QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CL ASSE


1. Esse estudo tocou seu coração? Se sim, de que forma?

R.


2. Quais estratégias de plantação de Igrejas são úteis para que a sua comunidade possa iniciar uma nova congregação?
R.


3. Será que somos uma Igreja que faz diferença na comunidade onde estamos?

R.


4. Será que as reuniões de oração da Igreja incluem Missões?
R.


5. O que precisamos mudar para que a Igreja local cresça e ajude a plantar novas igrejas?
R.


OBSERVAÇÃO: sugerimos à igreja que assista aos vídeos, acesse os links recomendados e discuta os temas. Com certeza isso enriquecerá a discussão dessa lição. Incentive os jovens da sua Igreja a participar de um Projeto Missionário da Juvep e participar da MPC (Mocidade para Cristo). Links de interesse: Mocidade para Cristo: https://mpc.org.br/estudantes-em-acao/ JUVEPE:https://www.juvep.com.br/projeto-missionario/
Wycliffe Bible Translator: https://www.wycliffe.org/about
Povo da Papua-Nova Guiné recebendo a Bíblia na sua língua: https://www.youtube.com/watch?v=oMLXOi7nH60

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