E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio.

Atos dos Apóstolos 17:22-23 

INTRODUÇÃO


   George Peters comenta que “Missões é a realização prática da obra do Espírito Santo neste mundo em nome do eterno propósito de Deus, e da aplicação efetiva da salvação, obtida através de Cristo Jesus na vida das pessoas”.    Considera-se aqui a opinião de Peters complementada com o que Bosch pensa. Ele comenta que a partir do exemplo de Jesus, a missão “consiste em desfazer a alienação e em derrubar os muros de hostilidade, em cruzar fronteiras entre indivíduos e grupos”. Peters menciona que é uma obra do Espírito Santo. Mas, como seria possível compreender esta obra?   

   Recorremos a três textos bíblicos neste momento:

   Mateus 28:20 “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ...” (grifo nosso).

   A expressão “de todas as nações” diz respeito a todas as pessoas, de todos os povos da época de Jesus até o final dos tempos conforme a última expressão do versículo 20 “... Eis que estou convosco até o fim dos tempos” Esse anúncio deveria ser proclamado em tempo e fora de tempo para que a mensagem de salvação chegasse a todas as pessoas. Além disso, em cada povo deveriam ser feitos discípulos, novos seguidores de Jesus surgiriam por meio da pregação
do Evangelho. Mas para ir e anunciar, os discípulos tiveram que esperar pelo derramamento do Espírito Santo. Daí surge a promessa anunciada por Jesus.
   Atos dos Apóstolos 1:8 Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra(grifo nosso).

   A expressão “até aos confins da terra” se torna realidade na vida de alguns discípulos que avançam na proclamação do Evangelho não se intimidando com possíveis dificuldades que pudessem surgir. Quando lemos o livro de Atos notamos que este testemunho aconteceu para os cristãos do primeiro século d.C. Filipe foi a Samaria (Atos dos Apóstolos 8), Pedro foi a Cesaréia (Atos dos Apóstolos 10) e Paulo foi a Corinto (Atos dos Apóstolos 18), a Éfeso (Atos dos Apóstolos 19) e a Roma (Atos dos Apóstolos 28), entre outras. Estes discípulos de Cristo se depararam com desafios culturais receberam a graça e sabedoria de Deus por meio do Espírito Santo para cumprirem a sua missão.

   Lucas, o autor de Atos, escreve que os discípulos receberiam o poder do Espírito Santo e se tornariam testemunhas (martures de Cristo na língua grega). A tradução mais indicada, segundo F. Wilbur Gingrich, em sentido não legal seria relacionada à atestação de atos ou comunicações
dignas de nota. Em última análise, uma atestação que leva à morte. Este seria o pano de fundo para o uso técnico posterior de mártir. Essa seria uma consequência extrema para aqueles que estiverem dispostos a participarem e cooperarem com a missão.

   Por exemplo, no caso do apóstolo Paulo, pode-se questionar como um perseguidor implacável dos cristãos (ainda Saulo) tornou-se uma testemunha de Cristo? Ele passou por algum treinamento? Que tipo de treinamento foi esse? Na carta aos Gálatas, Paulo diz que partiu para a Arábia e ficou ali três anos. Parece que este período foi importante para Paulo crescerem sua comunhão com Deus ao mesmo tempo em que seu caráter era preparado para trabalhar numa missão que avançasse simultaneamente (Gl.1.17 e 18). Coleman afirma que:

   “A ordem não é para fazermos convertidos, mas discípulos [...] Eis a genialidade do plano de Cristo para ganhar todas as nações, levantando um povo à sua semelhança que o louvará para sempre, pois os discípulos de Cristo crescem em seu caráter e, pela mesma virtude, desenvolvem-se em seu ministério para o mundo”.

   Romanos 10:14 15 Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: “Como são belos os pés dos que anunciam boas novas!(grifo nosso).

   A expressão “...como crerão naquele de quem não ouviram apontava para a necessidade dos povos circunvizinhos a Israel (Síria e Egito, por exemplo) e também a países bem distantes como a Macedônia e a Itália Quando o apóstolo Paulo escreve sua carta aos cristãos em Roma ele apresenta como preocupação a necessidade que outros povos tinham quanto ao anúncio do Evangelho.

 


O QUE SÃO MISSÕES TRANSCULTURAIS?


   Numa perspectiva bíblica, missões transculturais são aquelas que um seguidor de Cristo como o apóstolo Paulo, por exemplo, (Atos dos Apóstolos 17), deixa o país de origem (Israel) e se dirige a outro país (Grécia), com o intuito de comunicar o Evangelho da salvação de Cristo a pessoas com diferentes idiomas, hábitos, tradições, credos e convicções. Uma das características marcantes desta prática é quanto a deslocamentos que levam a geograficamente conhecer lugares novos com o objetivo principal em evangelizar aqueles que nunca ouviram nada a respeito da mensagem de salvação. Pensando sobre Missões Transculturais podemos mencionar a perspectiva definida por Ronaldo de Almeida comentando que missões transculturais envolvem entre outras ciências, a antropologia e a linguística, além de conhecimentos técnicos como de enfermagem e pedagogia, que facilitam a entrada dos missionários junto a povos a serem evangelizados. Considerando o fato de adentrarem numa realidade de vida diferente, os missionários são desafiados a estudarem previamente aspectos históricos, sociológicos, religiosos e teológicos do público alvo.

   Quando lemos os relatos que narram o trabalho missionário desenvolvido pelo apóstolo Paulo e seus companheiros (Silas, Lucas, Timóteo, Tito e outros) temos em Atos dos Apóstolos 17.22, na cidade de Atenas, uma boa referência do que Paulo experimentou a respeito de adentrar numa cultura diferente da dele. Ele diz:
... vejo que sois muito religiosos...”.

   Além de ser importante conhecer aspectos científicos, históricos e culturais a respeito dos povos, notamos que o apóstolo Paulo contava com a ação, direção e capacitação do Espírito em sua vida, algo que também aconteceu ao longo da história da Igreja Cristã com outros irmãos e irmãs, e que deve acontecer na atualidade em nossas vidas (Atos dos Apóstolos 13:2; 23.11)

 


POR QUE A CULTURA É UMA BARREIRA PARA A PREGAÇÃO DO EVANGELHO?


   Darrow L. Miller escreve que toda cultura tem muitas crenças, segundo ele, cada cultura apresenta aspectos que proíbe as pessoas de enxergar uma realidade total. Essa realidade total comentada por Miller pode ser melhor compreendida quando pensamos por exemplo, sobre o fato de muitas nações terem uma divindade reverenciada como padroeira (o) da nação. Por exemplo, Portugal tem Fátima, como sua padroeira; a Bolívia, Copacabana, o México, Guadalupe e o Brasil, Aparecida. Trata-se de uma tradição enraizada na mente e no coração das pessoas.    Nestes países mencionados a predominância religiosa é do cristianismo (catolicismo) que reconhecem, em sua maioria, a Cristo como Filho de Deus e como Salvador do pecador e perdido. Mas não aceitam, em sua maioria de adeptos, que apenas por meio da fé em Cristo e em sua obra se recebe salvação para o desfrute de uma vida eterna na presença do Senhor Deus, o Criador e Sustentador do Universo.

   Além de aspectos religiosos, cada povo, tem suas peculiaridades culturais, como por exemplo, as tradições em festas, rituais e sacrifícios. Em solo africano, não são raras as práticas em magia e feitiçaria, assim como no Brasil existe sincretismo religioso91. Consagrações são realizadas a entidades espirituais invisíveis. Darrow Miller comenta que os povos desenvolvem uma cosmovisão a respeito de mundo e cria histórias culturais diferentes produzindo comportamentos e estilos de vida que divergem do pretendido originalmente pelo Senhor para o ser humano.

   Quando lemos Atos dos Apóstolos 16:16 notamos que em Filipos, na Macedônia, havia uma jovem que tinha em si um espírito de adivinhação. Mas Paulo, por meio do nome de Jesus Cristo, ordena que este espírito saia da jovem. E assim acontece. Esse relato demonstra o poder do nome de Jesus para libertar uma pessoa sob o domínio de um espírito maligno. Esse tipo de conflito/confronto pode acontecer quando se anuncia o Evangelho de Cristo às culturas e povos que não reconhecem n’Ele, poder para salvar para a eternidade e libertar para uma nova forma de viver na vida presente. A busca por um desenvolvimento de um convívio social segundo os ensinamentos de Cristo certamente suscitará questionamentos e confrontos com seguidores e adeptos de credos e convicções diferentes.

 


O QUE É IMERSÃO NA CULTURA?


   Alan Tippetti relata que “... toda religião possui uma enorme profundidade temporal e tem seu próprio sistema lógico, simbolismo, teologia e ritual, com uma complexa cosmovisão, que certamente não surgiu da noite para o dia”. Quando lemos alguns textos bíblicos encontramos a seguinte expressão “nação, tribo, língua e povo.” (Apocalipse 5:9; 7:9; 14:6). Às vezes não nessa ordem exatamente, mas essa expressão nos leva a entender que há um anseio em todos os povos aguardando pelo anúncio do Evangelho.

   A necessidade dos missionários na atualidade em termos de preparação para o trabalho missionário se dirige para estudar o histórico cultural e religioso de cada povo e contar com a sabedoria advinda do Espírito Santo. A cautela, a humildade e a paciência fazem parte desse processo.

   Há alguns aspectos que às vezes passam despercebidos, mas, por exemplo, o clima, a língua (idioma), a alimentação, a forma que cada cultura lida com a importância do trabalho, entre outros detalhes são importantes a serem observados pelos que se dedicam à obra missionária. A resistência encontrada em cada povo pode ocorrer por divergências e diferenças culturais e teológicas, mas quase sempre há algum tipo de barreira espiritual que precisa ser superada por meio da oração e intercessão.

 


QUAL A BASE BÍBLICA PARA ENVIAR MISSIONÁRIOS PARA POVOS DE OUTRAS CULTURAS?


   Jesus afirmou em Atos dos Apóstolos 1:8 Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra”. Esse versículo é a expressão máxima da responsabilidade da Igreja quanto à missões a “todos os povos”. Os primeiros cristãos levaram muito a sério esta ordem de Jesus.  Quando lemos o capítulo 13 de Atos encontramos a seguinte expressão “... separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra que os tenho chamado” (Atos dos Apóstolos 13:2). Observamos que esta ordenança se realiza sob a direção do Espírito Santo mediante a percepção e consagração da liderança da igreja cristã primitiva em Antioquia. Neste relato notamos que estes dois discípulos de Cristo obtiveram bom testemunho em seu círculo de atuação. Eles receberam a incumbência de levar a mensagem do Evangelho às cidades distantes, nas quais habitavam muitos não judeus, como por exemplo, Listra e Derbe que pertenciam à Licaônia (Atos dos Apóstolos 14:6). Muitos sinais e prodígios foram realizados (Atos dos Apóstolos 14:3). A separação para a obra do Senhor, o envio e a manifestação de sinais trazem segurança e convicção para nos dedicarmos à missão de propagar o Evangelho de Cristo em meio a nações e povos que ainda não foram evangelizados.

   Em Eclesiastes 3:11 é mencionado que há no ser humano um anseio pela eternidade “Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez” (grifo nosso). Essa afirmação diz respeito a todas as pessoas em todas as épocas e em todos os lugares do mundo. Sabedores que apenas por meio da fé em Cristo é que se obtém a salvação para a eternidade concluímos que, ao ordenar a evangelização dos povos, Jesus, termina sua missão terrena e passa aos seus discípulos a responsabilidade de levar adiante aquilo que ele começou.

 


O QUE QUE É COLONIALISMO? POR QUE AFETOU A DIFUSÃO DO EVANGELHO?


   O colonialismo é uma prática de dominação política, econômica e cultural de um país sobre o outro e a exploração das riquezas da colônia por parte do colonizador.

   Podemos pensar que o colonialismo iniciou com as grandes navegações quando espanhóis e portugueses lançaram-se ao mar em busca de novas terras. A partir da descoberta de Colombo (em 1492), os espanhóis partiram em busca de ouro no Novo Mundo, mesmo que para isso tivessem que destruir os povos nativos como ocorreu com os indígenas da América do Sul e Central. Os portugueses vieram em busca de riquezas também. Primeiramente o pau-brasil que produzia um corante valioso e depois o ouro, pedras preciosas e a produção de açúcar. Tanto espanhóis como portugueses escravizaram os indígenas. Impuseram a sua cultura e sua religião.97 Conforme Gilberto Freyre, os jesuítas destruíram a cultura artística e religiosa dos indígenas contatados.  Aliás, “evangelizar” os povos conquistados era uma das desculpas para o aprisionamento e escravização de indígenas e depois, de africanos. O elemento escravizado adotou a religião do conquistador adaptando-a às suas crenças. Surgiu daí um sincretismo religioso, bastante evidente no Nordeste do Brasil, que chamamos de catolicismo popular.

   Mas, o colonialismo foi praticamente mundial. A maioria dos países europeus possuíam uma colônia, ou seja, um país mais pobre que era por eles explorado. A Inglaterra dominou vários países como a Índia, Estados Unidos, África do Sul. Por que é importante falarmos nisso? Porque na América Latina, a evangelização estava atrelada ao colonizador (português ou espanhol) e a evangelização não foi uma ação de levar o Evangelho de Jesus Cristo, mas uma imposição da religião europeia e criou uma religião sincrética. Isso até hoje cria problemas para uma verdadeira evangelização. Os países que mandaram missionários para as suas colônias, criaram nos povos subjugados uma percepção que o cristianismo era uma religião do homem branco ocidental. Muitas vezes o missionário mantinha a Igreja local sob sua autoridade e não dava espaço para os crentes nativos assumirem a liderança. Impunha-se a cultura e “reduzia a Igreja nativa a uma colônia da Igreja estrangeira que a implantara”.

   Os muçulmanos têm grandes problemas com o cristianismo, pois países europeus (França, Inglaterra, Itália e Espanha) dominaram regiões islâmicas do norte da África e Oriente Médio após a queda o Império Otomano. “Com o colonialismo chegaram os missionários, católicos e protestantes, com suas igrejas, escolas e hospitais”. Embora isso parecesse bom, dessa maneira os colonizadores impunham sua cultura aos povos colonizados.

 

 

O QUE ACONTECEU E O QUE DEU ERRADO COM OS MISSIONÁRIOS DOS SÉCULOS XIX E XX?


   O século 19 foi o “Grande século das missões protestantes”. Foram organizadas sociedades missionárias, Deus levantou grandes missionários como William Carey (Índia), Hudson Taylor (Missão para o interior da China), David Livingstone (África). No século 20 tivemos Cameron Townsend (Associação Wycliffe de Tradutores da Bíblia), Don Richardson (Papua Nova Guiné), Nate Saint e Jim Eliot (Operação Auca, Equador). O mundo viu a partida de milhares de missionários, muitos anônimos, que serviram o Senhor Jesus levando a Sua Palavra nos rincões mais escondidos desse mundo. Lugares como o Afeganistão, Nepal, China, os índios quéchuas dos Andes no Peru, Laos, Mongólia e outros, foram alcançados por esses “homens de Deus”. Povos que literalmente estavam na “idade da pedra” ouviram a Palavra de Deus e hoje pertencem a uma Igreja cristã. A Bíblia ou porções dela foram traduzidas para milhares de línguas.

   Mas, o que aconteceu que deu errado? Apesar de um grande número de “homens de Deus” levar o Evangelho do Senhor Jesus e por essa causa deram suas vidas, muitos missionários impuseram sua cultura e modo de viver aos nativos. Os séculos 19 e o 20 foram os períodos em que ocorreram as grandes ondas de evangelização pelo mundo, porém também foi a era da colonização europeia no restante do planeta. O modelo proposto por alguns missionários era construir uma base missionária onde estariam a casa do missionário, o hospital, a escola, o templo e tudo cercado por muros. Apenas, os empregados tinham acesso à casa do missionário. Criava uma elite entre os crentes nativos e muitas vezes ser membro da igreja era uma vantagem econômica também. As igrejas plantadas dependiam dos missionários tanto economicamente como não tinham estímulo para se tornarem independentes.

   Apesar de haver missionários que não aprovavam o modelo da Igreja ser um braço do colonialismo, eles eram a minoria. A grande maioria das agências europeias enviava os seus missionários como agentes do colonialismo que imperava. Os missionários faziam parte de um projeto político dos países colonizadores. “Deveríamos começar estabelecendo algumas estações no interior, a partir das quais tanto o comerciante quanto o missionário podem operar; convém que a arma de fogo e a Bíblia andem juntas” (Chanceler alemão Von Caprivi, em 1890).

   Esse modelo de missões politicamente atreladas aos governos europeus que mantinham colônias na América Latina, África e na Ásia levaram o Evangelho a muitos países, mas criaram problemas. Citaremos alguns:

   Igrejas frágeis e um cristianismo sincrético.

   Na mente dos povos colonizados, o cristianismo era uma religião do homem branco europeu.

   Imposição da cultura europeia (vemos isso facilmente quando um cristão africano usa paletó e gravata na Igreja num clima tropical extremamente quente).

   Criaram regimes racistas como na África do Sul, problemas étnicos que explodiram em um violento ataque às minorias na Ruanda de 1990 a 1994. Houve um terrível genocídio onde morreram aproximadamente 800.000 pessoas da etnia tutsi.

   O colonialismo europeu tendo atreladas às missões das Igrejas protestantes, principalmente, criou uma barreira para a evangelização de muçulmanos em nossos dias.

   Sempre houve quem preparasse o solo para que alguém chegasse com a mensagem do Evangelho.

   Há testemunhos a respeito desta história nos séculos 19 e 20, em países como China, Índia, Coréia do Sul, Alemanha, Equador, África do Sul, entre outros. Há relatos e episódios envolvendo missionários que tiveram experiências difíceis e acabaram não avançando no cumprimento da evangelização em culturas diferentes das suas. Houve quem se colocou a cumprir a missão sem perceber a necessidade em se preparar melhor para cumpri-la. Há, no próprio livro de Atos o relato de uma discussão entre Paulo e Barnabé por causa da atitude tomada por João Marcos, na ocasião em que desenvolviam a missão em terras estrangeiras (Atos dos Apóstolos 15:36-41). Mas com o passar dos anos Paulo pede que alguém lhe traga a João Marcos de volta porque ele seria útil para a obra (2 Timóteo 4:11).

   Há equívocos, há frustrações, desilusões, mal-entendidos, discussões, perseguições, rejeições, entre outras coisas que acontecem na obra missionária, mas sob o temor ao Senhor, sob a responsabilidade em se preparar o melhor possível e sob a convicção que o Espírito Santo não falha e a missão pode continuar sendo feita. Durante os séculos 19 e 20 foi que a obra missionária se propagou por todos os continentes e fez surgir homens e mulheres que se tornaram fiéis seguidores de Cristo.

 


O QUE DEUS ESTÁ FAZENDO ENTRE OS POVOS E SUAS CULTURAS?


   John Piper, em sua obra “Alegrem-se os povos. A supremacia de Deus em missões” relata que um guerreiro Masai chamado Joseph em estradas africanas recebeu a mensagem do Evangelho e tomou a decisão de se tornar discípulo de Cristo. Impactado e entusiasmado em comunicar sua experiência aos que moravam em sua aldeia foi rejeitado e espancado por três vezes a ponto de desfalecer. Amparado por algumas pessoas, ele recebeu cuidados e teve sua saúde restaurada. Para sua surpresa, nesse período o Espírito Santo trabalhou e promoveu uma obra de arrependimento e salvação naquela aldeia. Pouco tempo depois toda a aldeia havia se rendido a Cristo.

   Luiz Sérgio Freitas Ribeiro comenta que o apóstolo Paulo em sua experiência missionária zela pelo evangelho, o proclama e sofre por ele. Os povos gentios, que receberam o Evangelho na época dos acontecimentos relatados no livro de Atos, tinham práticas religiosas que foram confrontadas pela mensagem do Evangelho. Na cidade de Corinto, por exemplo, que era um centro comercial importante e lugar em que filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, entre outros, e tiveram seus ensinamentos e convicções divulgados. Foi neste ambiente intelectual em que o trabalho missionário de Paulo se desenvolveu.

   Atualmente, cidades como São Paulo, Curitiba, Nova York, Lisboa, Sydney, entre outras, que também são referenciais importantes para a sociedade, têm recebido o Evangelho por meio de homens e mulheres que zelam e proclamam uma mensagem genuína de salvação. Quanto ao quesito sofrimento, o cristianismo no mundo ocidental talvez não viva a experiência física da perseguição que o mundo oriental atual possui. Países sob regimes políticos autoritários e tradições religiosas enraizadas têm apresentado grandes desafios ao trabalho missionário.

 


COMO O EVANGELHO AFETA A CULTURA DOS POVOS EVANGELIZADOS?


   Quando lemos o capítulo 19 de Atos encontramos uma boa referência para analisarmos o que acontece com uma cultura quando o Evangelho de Cristo produz mudanças em seus ouvintes. Veja o relato em Atos dos Apóstolos 19:17 a 19: 

   Quando isso se tornou conhecido de todos os judeus e os gregos que viviam em Éfeso, todos eles foram tomados de temor; e o nome do Senhor Jesus era engrandecido. Muitos dos que creram vinham, e confessavam e declaravam abertamente suas más obras. Grande número dos que tinham praticado ocultismo reuniram seus livros e os queimaram publicamente...”.

   O fato de estas pessoas queimarem seus livros publicamente é uma demonstração do impacto do Evangelho na vida humana. Como exemplo de mudança contundente do que aconteceu no convívio social e religioso em Éfeso, observamos que a renda de artífices, artesãos e ourives foi afetada, pois parte do povo teve sua forma de viver alterada deixando seus deuses e tornando-se seguidor de Cristo. Demétrio, um destes profissionais revoltados com o que ocorrera, disse o seguinte: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram” (Atos dos Apóstolos 19:25-27).

   Em termos históricos, o livro “Até aos confins da Terra” de Ruth Tucker, relata grande quantidade de experiências vividas pelos missionários em diferentes culturas que produziram transformação no modo de crer, pensar e agir na vida de muitas pessoas.

   Outra obra que relata testemunhos impactantes é a escrita por Paul G. Hiebert, “O Evangelho e a Diversidade das Culturas. Um guia de Antropologia missionária” que nos informa e inspira a nos dedicarmos a evangelizar povos de diferentes culturas e que anseiam pelo encontro com o Salvador ou ainda com o seu “Livro de Ouro (A Bíblia)” esperado por alguns povos ao longo da história da humanidade, principalmente a partir da Reforma Protestante.

 


CONSIDERAÇÕES FINAIS


   Quando Jesus afirma a Pedro que Ele edificaria a Sua Igreja (Mateus 16:18) “E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la”. Temos paz e segurança que Ele não falhará. Todos os missionários (as) que se dedicaram com integridade e fidelidade ao Senhor confiando no poder e ação do Espírito Santo e na eficácia absoluta da Palavra de Deus foram e têm sido instrumentos para que a evangelização siga adiante.
   Há que se preparar em termos intelectuais, há que se portar eticamente em termos morais, há que se respeitar as autoridades constituídas e há que compreender que todo o trabalho missionário é formado por trabalhadores de uma seara que tem como foco principal a salvação eterna e a transformação de caráter enquanto se vive neste mundo. Estes aspectos dizem respeito a todos os povos de todas as tribos em todas as nações. A missão avança na vida de todo aquele que se apresenta à obra do Senhor como um servo que sempre tem algo novo a aprender e a anunciar àqueles que ainda não ouviram.


QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CL ASSE


1. O que são Missões Transculturais?
R.


2. Por que a cultura é uma barreira para a pregação do Evangelho?
R.


3. Qual a base bíblica para enviar missionários para povos
de outras culturas?
R.


4. O que que é colonialismo? Por que afetou a difusão do
Evangelho?
R.


5. O que aconteceu e o que deu errado com os missionários
dos séculos XIX e XX?
R.


6. O que Deus está fazendo entre os povos e suas culturas?
R.

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