Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.

1 Timóteo 3:13

INTRODUÇÃO

   O apóstolo Paulo e Timóteo, identificando-se como “servos de Cristo Jesus”, endereçaram uma carta a “todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, juntamente com os bispos e diáconos” (Filipenses 1:1). Ao longo de todo o Novo Testamento, os dois ofícios destacados apresentam-se como de importância crucial para o efetivo desempenho das comunidades cristãs.

   Os bispos (também chamados de “presbíteros” e “anciãos”) são encarregados do ensino e pregação da Palavra de Deus (1 Timóteo 3:2 5:17; Tito 1:9). Os diáconos, por sua vez, cuidam das necessidades físicas e logísticas da Igreja, permitindo assim que os pastores tenham maior liberdade para cumprirem o seu chamado principal. A palavra vem do grego “diakonos”, indicando um “servente de mesas”, “servo”, “ministro”, “administrador” ou alguém “que execute qualquer serviço”. O Dicionário Bíblico Wycliffe afirma que o termo tem “a conotação de um serviço muito pessoal, intimamente relacionado com servir por amor”.

   Em um sentido geral, todo cristão é um “diácono” (servo). Mas a Bíblia também aplica o termo a um oficio formal e específico. Ao longo dessa lição, iremos estudar a respeito da origem do diaconato, suas funções, requisitos e importância para a Igreja de Deus.

 

A ORIGEM DO DIACONATO

   Antes de sua ascensão aos céus, Cristo prometeu aos Seus apóstolos: “Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra” (Atos dos Apóstolos 1:8). Tendo recebido o cumprimento da promessa, os apóstolos dedicavam-se em Jerusalém “à oração e ao ministério da palavra” (Atos dos Apóstolos 6:4), de modo que “o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos dos Apóstolos 2:47).

   A Igreja primitiva realizava um belo serviço social, de tal modo que “não havia nenhum necessitado entre eles, porque os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e os depositavam aos pés dos apóstolos; então se distribuía a cada um conforme a sua necessidade” (Atos dos Apóstolos 4:34 35). Contudo, com o crescimento da comunidade, acabaram surgindo problemas internos.

   Havia dois grupos dentro da Igreja: o dos “hebreus” e o dos “helenistas”. Os hebreus eram os judeus nativos da Palestina, que falavam a língua aramaica e utilizavam o texto hebraico das Escrituras. Os helenistas eram judeus nascidos fora da Palestina, que falavam principalmente o grego e utilizavam a Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento. Muitos haviam voltado a Jerusalém e se convertido ao Cristianismo. As diferenças de idioma e cultura acabavam gerando certas tensões entre ambos os grupos.

   Os helenistas começaram a reclamar, afirmando que as viúvas de seu grupo “estavam sendo esquecidas na distribuição diária” (Atos dos Apóstolos 6:1). A seu ver, estava acontecendo um favoritismo e as viúvas de seu grupo não estavam recebendo da comunidade o necessário para a sua sobrevivência. Na lei judaica, as mulheres não recebiam herança e eram, portanto, dependentes de outras pessoas para o seu sustento. As viúvas, geralmente, eram pobres e não raramente oprimidas.

   Para resolver o conflito, os apóstolos ordenaram a escolha de “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria” (Atos dos Apóstolos 6:3). O parecer agradou a todos, e “Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia” (Atos dos Apóstolos 6:5) foram eleitos, recebendo a oração e a imposição de mãos pelos apóstolos.

   Os sete tinham nomes gregos, o que sugere que foram escolhidos dentre a ala helenista da Igreja, que havia feito a reclamação inicialmente. Estes foram os primeiros diáconos na história do Cristianismo, e a sua escolha para servir à congregação e resolver os assuntos práticos deu aos apóstolos a liberdade necessária para continuarem a sua obra principal, o chamado para a pregação do Evangelho de Jesus Cristo.

 

FUNÇÕES DO DIACONATO

   De acordo com o Novo Testamento, a principal função de um diácono é ser um servo. Os diáconos fornecem à Igreja suporte logístico e material, de modo que os pastores possam focar em seu chamado (oração e ensino da Palavra). “Se por um lado, diakonia [serviço] é marca da Igreja inteira, é igualmente um dom especial – paralelo ao de profecia e de governo, porém, distinto da doação generosa – a ser exercido por aqueles que o possuíam (Romanos 12:7; 1 Pedro 4:11)”.

   Quando comparamos as listas de qualificações para os bispos e para os diáconos em 1 Timóteo 3 as distinções mais claras são que (a) não se requer dos diáconos que sejam “aptos a ensinar” (v. 2) e (b) se omite a seção na qual se compara governar a própria casa a cuidar da Igreja de Deus (v. 5). Disso se pode concluir que o chamado e a ordenação dos diáconos na Igreja não dizem respeito primariamente ao ensino e ao governo/liderança; essas funções pertencem aos pastores.

   Escritos cristãos antigos indicam que entre as funções exercidas pelos diáconos estavam o atendimento aos doentes e a preparação da celebração da Eucaristia (ceia do Senhor). Diaconisas também realizavam visitas a mulheres de famílias pagãs. De acordo com Benjamin L. Merkle (Professor Associado de Novo Testamento e Grego no Seminário Teológico Batista do Sudeste, EUA),

   “baseado no padrão estabelecido em Atos dos Apóstolos 6 com os apóstolos e os Sete, parece melhor enxergar os diáconos como servos que fazem o que for necessário para permitir que os presbíteros cumpram o seu chamado divino de pastorear e ensinar a igreja. Assim como os apóstolos delegaram responsabilidades administrativas aos Sete, também os presbíteros devem delegar certas responsabilidades aos diáconos, de modo que os presbíteros possam focar os seus esforços em outras atividades. Como resultado, cada igreja local é livre para definir as tarefas dos diáconos conforme as suas necessidades particulares.”

      A seguir, ele oferece as seguintes sugestões de atuação:

   Instalações: Assegurar a limpeza e organização do ambiente de culto e administrar o sistema de som;

   Benevolência: Administrar fundos e outras formas de assistência da Igreja aos necessitados;

   Finanças: Coletar e contar as ofertas e manter registros financeiros da congregação;

   Arranjos: Distribuir boletins informativos, acomodar a congregação nos assentos e preparar os elementos para a comunhão

   Logística: Estar prontos a ajudar em uma variedade de modos, de forma que os presbíteros possam se concentrar no ensino e no pastoreio da Igreja.

   Conforme Brian Croft, pastor da Igreja Batista de Auburndale (EUA),

   “o papel principal de um diácono é o de serviço. Isso não quer dizer que os diáconos não supervisionam certos ministérios, nem isso implica que os pastores não devem servir. Mas isso se refere ao principal papel bíblico de cada ofício, onde os pastores exercem a supervisão (lideram, supervisionam, administram) sobre todos os assuntos da Igreja local e os diáconos lideram em serviço, em submissão aos pastores.”

   Ao final da lista de qualificações para o oficio de diácono (que abordaremos na próxima seção), Paulo afirma que “os que desempenharem bem o diaconato alcançarão para si mesmos uma posição de honra e muita ousadia na fé em Cristo Jesus” (1 Timóteo 3:13). O apóstolo aqui busca encorajar aqueles que aspiram ao diaconato. Um diácono fiel, afirma Paulo, receberá dois dons em medida crescente: respeito e ousadia. O primeiro vem horizontalmente da Igreja; o outro desce verticalmente de Deus. “Através de um serviço eficiente e fiel, a convicção de fé do diácono adquire automaticamente mais liberdade, autoridade e poder.”

   Leve-se em conta que para os gregos antigos, o serviço não era considerado algo digno. O desenvolvimento pessoal, e não a humilhação própria, deveria ser a meta de cada pessoa110. Mas Jesus inverteu totalmente essa lógica ao lavar os pés de Seus discípulos (o que deveria ser o trabalho de um escravo). Nas palavras do próprio Senhor: “Porque eu lhes dei o exemplo, para que, como eu fiz, vocês façam também. Em verdade, em verdade lhes digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Se vocês sabem estas coisas, bem-aventurados serão se as praticarem.” (João 13:15-17)

 

QUALIFICAÇÕES DO DIÁCONO

   Em 1 Timóteo 3:8-13 encontramos a única lista no Novo Testamento apresentando os requisitos necessários para a participação no oficio do diaconato. O foco das qualificações está no caráter moral do candidato: não no fazer, mas no ser. Deus está mais preocupado com o caráter do que com as habilidades pessoais. Um diácono deve ser uma pessoa madura e estar acima de qualquer reprovação. Vamos ler o texto e, a seguir, discutir brevemente cada ponto.

   “Do mesmo modo, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não gananciosos, conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Também estes devem ser primeiramente experimentados; e, caso se mostrem irrepreensíveis, que exerçam o diaconato. Do mesmo modo, quanto a mulheres, é necessário que elas sejam respeitáveis, não maldizentes, moderadas e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem os seus filhos e a própria casa. Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançarão para si mesmos uma posição de honra e muita ousadia na fé em Cristo Jesus” (1 Timóteo 3:8-13).

   1. Respeitáveis: Que sejam pessoas honradas, dignas de respeito, estimadas pelos demais. Não quer dizer “perfeitos”, mas humildes e exemplos para seus irmãos.

   2. De uma só palavra: Infelizmente, há pessoas que são indignas de nossa confiança. Falam algo, mas depois desmentem o que foi dito. Ou então, dizem algo a uma pessoa e outra coisa diferente à outra. Os diáconos devem sempre ser verdadeiros. Nenhuma falsidade ou dolo podem ser encontrados em sua língua. O livro de Provérbios nos diz que a vida e a morte estão no poder da língua (18:21). Um problema assim é capaz de destruir uma Igreja inteira.

   3. Não inclinados a muito vinho: O testemunho da Bíblia é consistentemente contrário ao abuso da bebida alcoólica. Salomão afirma que “o vinho é zombador e a bebida forte causa alvoroço; todo aquele que é vencido por eles não é sábio.” (Provérbios 20:1) Uma pessoa que se deixa vencer em seus apetites é indisciplinada e carece do fruto do domínio próprio (Gálatas 5:23).

   4. Não gananciosos: A Bíblia não é contrária ao uso do dinheiro e às riquezas, mas adverte que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e atormentaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm6:10). Deve-se levar em conta que os diáconos muitas vezes têm de lidar com as questões financeiras da congregação.

   5. Que conservem o mistério da fé com a consciência limpa: O “mistério da fé” é a mensagem do Evangelho (confira Romanos 16:25; 1 Timóteo 3:16 e Colossenses 4:3). Alguém poderia pensar que devido ao trabalho prático do diácono, é desnecessário que ele conheça a doutrina bíblica. Mas o diácono deve ser uma pessoa que esteja firme no Evangelho da graça de Deus, sem adulteração de sua doutrina. Mais do que o conjunto correto de crenças, o diácono as mantêm com a “consciência limpa”, isto é, “sua atitude prática deve coincidir com as Escrituras e com a fé e não entrar em contradição diante delas”.

   6. Irrepreensíveis: Os diáconos são “experimentados” através da observação e aprovação prévia da Igreja. O caráter geral da pessoa e seu histórico de serviço aos irmãos devem ser conhecidos previamente à sua escolha para o ofício. A pessoa não deve ocupar o cargo para só depois a congregação verificar se ela é “adequada” ou não para as devidas responsabilidades.

   7. Marido de uma só mulher: O diácono casado é monogâmico e fiel à sua esposa. Apenas com ela -- ele compartilha de sua intimidade física e emocional.

   8. Que governe bem os filhos e a própria casa: O diácono deve liderar sua família de forma pacífica e piedosa. Não existe diácono qualificado que seja um marido ou um pai péssimo.

   Há uma discussão de interpretação a respeito do verso 11: “Do mesmo modo, quanto a mulheres, é necessário que elas sejam respeitáveis, não maldizentes, moderadas e fiéis em tudo.” A palavra “mulheres” (grego “gynaikas”) pode significar esposa, dependendo do contexto. Paulo estaria aqui então se referindo a [1] esposas dos diáconos ou [2] mulheres que exercem o ofício do diaconato na Igreja (diaconisas)? Thomas Schreiner, professor de Interpretação do Novo Testamento no Seminário Teológico Batista do Sul (EUA), apresenta as seguintes razões para entendermos da segunda forma:

   (a) A expressão “do mesmo modo” (NAA) é mais naturalmente interpretada como significando que as mulheres servem como diaconisas, assim como os homens;

   (b) As qualidades de caráter exigidas para as mulheres são o tipo de coisas ditas sobre outros que ocupam cargos oficiais (bispos e diáconos);

   (c) Se Paulo quisesse se referir às esposas dos diáconos, ele poderia ter deixado isso mais claro no grego, adicionando o pronome “suas”;

   (d) Por que Paulo apresentaria requisitos para as esposas dos diáconos, mas não para as esposas dos presbíteros, que possuem uma responsabilidade maior de liderança e ensino dentro da Igreja?

   (e) Evidências extra bíblicas mostram que mulheres atuavam como diaconisas na Igreja Cristã Primitiva.

   A respeito das qualificações para as mulheres, a palavra “respeitáveis” indica a mesma virtude que é exigida dos diáconos (v. 11). Em “não maldizentes”, “maldizentes” é a tradução da palavra grega “diabolos”, de onde vem a palavra “diabo”. Satanás é o grande caluniador! A diaconisa não fica espalhando fofocas e informações que não lhe dizem respeito. Teodoro de Mopsuéstia, bispo e escritor do século IV, explicava que “não maldizentes” significa “não fuxicando os segredos recebidos durante seu ministério”. “Moderadas” (v. 2) indica que elas devem ser pessoas sóbrias, temperantes, estando sempre aptas a realizarem bons julgamentos. “Fieis em tudo” significa que devem ser dignas de toda a confiança por parte dos outros. É um requerimento semelhantemente àquele para que os bispos e os diáconos sejam “irrepreensíveis”.

 

CONCLUSÃO

   Paulo identifica o seu ministério (1 Coríntios 3:5 2 Coríntios 3:6 6:4) e o do próprio Cristo (Romanos 15:8) como o de um “diácono”. aplicado a serviços inferiores”.115 O Senhor Jesus é “o Diácono por excelência, aquele que serve a mesa ao Seu povo” e o diaconato, nesse sentido de serviço, “é uma característica de sua Igreja inteira”.116

   Mas o diaconato como dom e oficio bíblico apresenta um propósito divino único, com importância e beleza na Igreja e que, se bem realizado, resulta em glória para Cristo e benefício para a Sua noiva (a Igreja). A ausência ou má execução desse oficio afetará a saúde e a vitalidade da congregação.

   Oremos para que o Senhor abençoe aos diáconos que servem em nossas Igrejas, para que continuem realizando seu trabalho com amor e excelência, bem como também levante mais pessoas que atendam a esse chamado, para o avanço de Seu Reino.

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Quais são os principais significados da palavra grega “diakonos”?

R.

2. Em que sentido Cristo, o apóstolo Paulo e cada cristão é um “diácono”?

R.

3. Que circunstâncias levaram ao surgimento do ofício de diácono na primitiva Igreja de Jerusalém? R.4. Quais são algumas das funções exercidas pelos diáconos e diaconisas na Igreja? Em que elas diferem daquelas dos pastores?

R.

5. Que requisitos o apóstolo Paulo apresenta para aqueles que irão exercer o diaconato?

R.

6. Que bênçãos a Bíblia promete aos diáconos que exercerem fielmente seu chamado?

R.

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