ESTA é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.

1 Timóteo 3:1 

INTRODUÇÃO

   A igreja local é o corpo invisível e universal de Cristo no tempo e no espaço. Ela é uma assembleia constituída por todos aqueles que se tornaram filhos de Deus. Por isso, é preciso haver uma liderança que a norteie, a oriente e a administre com sabedoria. A igreja local jamais pode ser administrada por um único líder. Apesar da importância do pastor titular, este deve sempre contar com um grupo de obreiros aptos a ensinar e a administrar a igreja local. Por esta razão, a Bíblia nos ensina que a igreja local deve eleger presbíteros dentre os homens honrados, de boa índole e idôneos, para junto do pastor titular, cuidar e zelar do rebanho do Senhor.

 

CONCEITUAÇÃO E ORIGEM DO OFÍCIO

   Encontramos no Novo Testamento dois termos gregos distintos referentes ao mesmo ofício de liderança: presbyteros, transliterado como presbítero ou traduzido como ancião (Atos dos Apóstolos 15:6; 1 Timóteo 5:17; Tiago 5:14; 1 Pedro 5:1-4), e episkopos, traduzido como bispo, tendo também o significado de supervisor (Atos dos Apóstolos 20:28: Filipenses 1:1; 1 Timóteo 3:2-5; Tito 1:7). Ambos os títulos destacam a supervisão, liderança, direção administrativa e espiritual da igreja local. No Novo Testamento, esses títulos são usados de forma intercambiável. Por exemplo, os termos “presbítero” e “bispo” são empregados para designar o mesmo grupo de pessoas cuja atribuição era pastorear a Igreja de Éfeso (Atos dos Apóstolos 20:17-28). O mesmo acontece com os termos “presbítero” e “bispo” sendo empregados com referência às mesmas pessoas (Tito 1:5-7). Além de Pedro declarar-se presbítero, ele exorta os demais presbíteros a pastorear a Igreja de Deus (1 Pedro 5:1-4). A paridade dos títulos aponta uma função única.

   O termo grego presbyteros significava, em sua origem, “ancião”. Denotava, portanto, uma pessoa idosa, que já havia alcançado os 60 anos de idade. Posteriormente passou a designar aquelas pessoas maduras e experimentadas. O termo já era conhecido e utilizado nas sinagogas judaicas, bem antes da sua adoção pela Igreja cristã, para indicar aquele que assumia a liderança espiritual. Cada sinagoga tinha um grupo de pessoas mais velhas que orientavam a comunidade e representavam as tradições. Portanto, a responsabilidade precípua dos anciãos era aconselhar e guiar a comunidade. Já o termo grego episkopos, no ambiente grego-helenista da época, designava um supervisor ou inspetor que atuava tanto no campo civil ou no religioso.

   A Igreja Batista do Sétimo Dia, em seu Regimento Interno, define o presbítero como um oficial eleito pela Assembleia Geral de uma igreja local, dentre seus membros, para, juntamente com o pastor, exercer o governo, a supervisão e a disciplina, zelando pelos interesses espirituais da Igreja a que pertencer.

   A primeira menção no Novo Testamento de presbíteros aparece como resultado do surgimento de novas igrejas e a necessidade de se estabelecer a sua liderança (Atos dos Apóstolos 14:23). O apóstolo Paulo cuidou de organizar a administração das igrejas locais por onde as plantava, separando um grupo de obreiros para tal trabalho. Quando escreve a Timóteo, ele lhe diz: “Não tenha pressa para impor as mãos sobre alguém” (1 Timóteo 5:22). Embora o texto não especifique um processo de seleção de presbíteros, todo o contexto imediatamente anterior (1 Timóteo 5:17-21) trata de presbíteros e a imposição de mãos seria uma cerimônia para ordenar ou estabelecer pessoas em certos ofícios e tarefas na igreja (Atos dos Apóstolos 6:6; 13:3; 1 Timóteo 4:14; 2 Timóteo 1:6-8). A imposição das mãos é outro costume herdado do judaísmo, e apareceu no mesmo período como sinal de nomeação para o ofício. Esse rito de imposição das mãos, por sua vez, inspira-se nos exemplos bíblicos (Números 27:18-23; Deuteronômio 34:19) e com ele é transmitida a responsabilidade e a habilitação correspondente.

   Em o Novo Testamento, as referências aos presbíteros encontram-se no plural, bem como aos bispos ou anciãos, o que indica que as igrejas eram lideradas por um colegiado (Atos dos Apóstolos 11:30; 15:2,4,6; 20.17; Tiago 5:14; 1 Pedro 5:1). Para colaborar com a ideia de que as funções do presbiterato devem ser exercidas de forma plural e colegiada em uma mesma igreja local, há o registro da reunião do apóstolo Paulo com os presbíteros da igreja de Éfeso (Atos dos Apóstolos 20:17), com os presbíteros da igreja de Jerusalém (Atos dos Apóstolos 21:18), e há a instrução de Paulo a Tito, seu pastor auxiliar, para constituir presbíteros em cada cidade (Tito 1:4-5,7). Está claro, assim, o aspecto pastoral da função exercida pelos presbíteros nas comunidades cristãs antigas.

   Foi após a volta da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé que aconteceu a reunião de presbíteros de mais de uma igreja, formando um protótipo do que posteriormente veio a ser chamado de “presbitério” (1 Timóteo 4:14), para decidir sobre questões doutrinárias, no caso a circuncisão ou não dos gentios (Atos dos Apóstolos 15:1-2,6,22-23). A decisão tomada passou a ser observada pelas demais igrejas (Atos dos Apóstolos 16:4). Este relato nos mostra que os presbíteros tinham a responsabilidade de zelar pela sã doutrina.

 

QUALIFICAÇÕES PARA O PRESBITERATO

   A Bíblia explicita com detalhes os requisitos para um cristão que deseja servir como presbítero (1 Timóteo 3:1-7; Tito 1:5 9). Uma leitura mais atenta das duas listas verificará que a qualificação para o presbiterato é centralizada em três aspectos: comportamento moral, conhecimento da doutrina cristã e vida familiar.

   O simples ato de desejar o episcopado não é o meio pelo qual se confirma uma vocação, mas apenas um bom indício. Segundo o apóstolo Paulo, ser presbítero é um excelente ministério (1 Timóteo 3:1). Entretanto, há requisitos prévios tanto de valores espirituais quanto de atitudes vivenciais para alguém que deseja desempenhar essa função. Examinando as instruções paulinas a Timóteo e a Tito, verificamos que os requisitos estabelecidos nessas duas cartas são muitos e bem rigorosos.

   De fato, nesses elencos as qualidades morais exigidas eram praticamente as mesmas exigidas dos candidatos às funções públicas ou de responsabilidade, no campo secular, quais sejam: integridade de vida moral, exemplaridade na vida familiar e matrimonial, capacidade de manter boas relações sociais, equilíbrio de caráter, moderação ou austeridade no uso dos bens, do vinho, do dinheiro etc. Além disso, do candidato ao presbiterato se exige que seja um bom cristão, maduro, com capacidades pedagógicas e didáticas, seguro na fé. A seleção dos presbíteros deve ser feita com cuidado e ponderação, sem favoritismos ou preconceitos (1 Timóteo 5:22). Isso evitará posteriores inconvenientes e imprevistos.

   Quando Paulo lista essas qualificações exigidas dos candidatos a presbíteros, é importante observar o fato de ele juntar requisitos concernentes a traços de caráter e atitudes íntimas com requisitos que não podem ser preenchidos em curto espaço de tempo, senão em um período de muitos anos de vida cristã fiel e dedicada à causa do Senhor. Aqueles que escolhem presbíteros nas igrejas de hoje fariam bem se analisassem os candidatos à luz dessas qualificações e procurassem esses traços de caráter e padrões de vida piedosa e não realizações terrenas, fama ou sucesso.

   As duas listas de Paulo indicam a importância da função e como as igrejas não podem descuidar-se quando da ordenação de pessoas para servi-la. O bom conselho do apóstolo Paulo ainda é a maneira mais segura para se separar obreiros. Em Atos dos Apóstolos 14:23 lemos que Paulo e Barnabé conduziram a eleição dos presbíteros. A leitura literal do versículo declara que os presbíteros foram “escolhidos pelo levantar das mãos”, isto é, foram eleitos democraticamente pelo voto da congregação.

 

AS FUNÇÕES MINISTERIAIS DO PRESBÍTERO

   O segundo aspecto diz respeito ao ministério pessoal do presbítero na Igreja. Esse ministério tem sua amplitude de ação na igreja local e nas assembleias gerais. Neste estudo focaliza- remos apenas a ação presbiteral na igreja local.

   Para entendermos bem essa atuação, vamos ordenar nossa exposição em três aspectos:

   1. O presbítero como administrador na Igreja. O caráter essencial do ofício de presbítero é o de governante eclesiástico. As Escrituras falam de “presbíteros que presidem bem, especialmente os que se esforçam na pregação e no ensino” (1Tm.5:17). A palavra grega proistêmi, aqui traduzida como “presidir”, significa, entre outras coisas, “governar”, “superintender”, “liderar”, “exercer liderança” etc. A expressão sintetiza apropriadamente as funções do presbítero conforme lavradas na Escritura. Portanto, a esfera de ação específica assinalada ao presbítero é a de cooperar com o pastor no exame e governo espirituais da Igreja.

   Deve-se considerar que o presbítero regente, não menos que o pastor, age sob a autoridade de Cristo em tudo que legitimamente faz. Conquanto eleito pelos membros da igreja (e representando-os no exercício do governo eclesiástico), não é dos que o elegeram mestre e guia que deriva a autoridade de governá-los; tanto quanto aquele que “se afadiga na palavra e no ensino” não deriva deles a autoridade para pregar e ministrar as ordenanças. O cuidado e o governo da Igreja devem ser sempre entendidos como uma concessão de Jesus a alguns de seus servos. A Bíblia ensina que Cristo é Senhor e Cabeça da Igreja e também o seu “supremo Pastor” (1 Pedro 5:4). Logo, ser presbítero é ser comissionado pelo próprio Deus para servir a Igreja como Cristo serve. Tal realidade nos mostra a importância de ser presbítero, pois implica em uma vida de comunhão com o Espírito Santo.

   2. O presbítero como modelo na Igreja. Qualquer estudante atento do Novo Testamento poderá verificar com facilidade que Jesus se apresentou como o modelo a ser imitadoe que os apóstolos, entendendo bem esse princípio, viveram e pregaram isso nas igrejas, colocando-se eles mesmos também como modelos de imitação (1 Coríntios 4:16; Fl 3:17; Hebreus 6:12). Quando o apóstolo Paulo escreveu ao presbítero Timóteo, o encorajou a tornar-se “padrão dos fiéis na palavra, no amor, na fé e na pureza” (1 Timóteo 4:12). A palavra traduzida por “padrão” tem o significado de tipo (semelhante ao das antigas máquinas de datilografia), de onde se originou a palavra tipografia. Note que a ideia de duplicação padronizada a partir de um modelo fica bem caracterizada.

   O presbítero é um homem de Deus chamado para ser modelo em tudo para Igreja. É bem verdade que a presença do pecado não foi eliminada, realidade que faz de qualquer presbítero uma pessoa imperfeita. Porém, não é admissível que o presbítero possua uma vida onde pecados não são vencidos ou acontecem com frequência. Por ser um homem de Deus, por ser conhecedor das Escrituras, por ser física e espiritualmente experimentado nas situações da vida, por ser um homem de oração, o presbítero deve ser um modelo desejado. Na Igreja e fora dela, ele deve ser uma referência de esposo, de pai, de amigo, de oração, de fé, de amor, de humildade e de pureza.

   3. O presbítero como mestre na Igreja. Ser presbítero de uma igreja implica em interagir com ela em diversas áreas. Entretanto, pelo menos as áreas do ensino e da liderança são inegociáveis e se apresentam como pertinentes a todos os presbíteros. Paulo diz que o candidato a presbítero deve “ser apto para ensinar” (1 Timóteo 3:2). O presbítero tem a responsabilidade de procurar formar o caráter de Cristo na vida dos fiéis (Gálatas 4:19). Essa ação não se limita a uma sala de aula ou à ministração de um curso. Ser mestre deve ser entendido como um orientador para a vida cristã sadia, significa estar perto do crente, instruí-lo na doutrina, discipliná-lo, encorajá-lo, orientá-lo e até puni-lo quando se fizer necessário. O ensino cristão é resultado do exercício do dom espiritual (Romanos 12:7) e pode ocorrer em nível individual ou coletivo,

 

CONCLUSÃO

   “Quem deseja o episcopado (ser presbítero), excelente ministério deseja!” (cf. 1 Timóteo 3:1 parêntese nosso). O ministério presbiteral na igreja local se constitui numa verdadeira estrutura de sustentação. As ações dos presbíteros devem sempre estar firmadas sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, sendo Cristo a pedra principal (Efésios 2:20). Por essa razão é de se esperar que aqueles que são separados para essa função já estejam dentro de elevados padrões de conduta e maturidade espiritual.

   A função presbiteral visa prover a Igreja de todas as suas necessidades de orientação e cuidado, disciplina, encorajamento, administração e ministração da doutrina. Sendo essas necessidades muitas e diversas, o ministério presbiteral não é exercido solitariamente, mas coletivamente, sendo o número deste o resultado da necessidade da Igreja. O presbítero deve ser um homem de Deus que cuida e se preocupa com a vida dos membros e dos novos na fé. Ser presbítero é ser mestre-modelo que é conhecedor e praticante das Escrituras.

   O presbítero é professor que ensina as doutrinas bíblicas pelo exemplo e pelas palavras, educando os cristãos individual ou coletivamente a serem imitadores de Cristo. Ser presbítero é ser líder servidor, que se considera servo de todos e como tal assume a responsabilidade que lhe foi confiada de governar com humildade e administrar com probidade os negócios do Reino de Deus.

   Ninguém nasce presbítero. O processo começa com um chamado, que pode ser reconhecido e percebido pelo cristão e este procura desenvolver sua fé, sua santidade, seus dons e talentos para, em tempo oportuno, servir. Apesar de o presbítero ser constituído pelo voto da assembleia da igreja local, esta apenas apresenta publicamente o seu reconhecimento do que na verdade já acontece com quem é vocacionado e se preparou para desempenhar o seu ministério.

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Segundo a lição, o que é um presbítero?

R.

2. Qual o significado do termo “presbitério”?

R.

3. Relacione os deveres dos presbíteros:

R.

4. Quais as duas esferas principais de atuação da liderança da igreja local?

R.

5. Qual é o maior compromisso de todo homem de Deus chamado para ser presbítero?

R.

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