Este Não é o Ônibus Para a Disneylândia?

Quando era um adolescente, eu assinava uma revista cristã que veiculava regularmente uma coluna de conselho chamada:”Deus nunca prometeu a você a Disneylândia.” Adolescentes escreviam sobre as batalhas as quais estavam enfrentando por viverem a vida cristã – pressão dos amigos, tentações, perseguição, isolamento, questionamento da própria fé – e eram lembrados de que estas eram todas experiências perfeitamente normais pelas quais passavam todos os adolescentes cristãos.

 

Frequentemente, ao tentar descrever como é maravilhoso sermos cristãos, nós negligenciamos a menção das partes difíceis. Sim, as bênçãos de Deus são maravilhosas. Sim, nós podemos viver uma vida cheia de alegria e paz. Sim, podemos aproveitar a liberdade em Cristo e uma intimidade crescente com Ele. Contudo, não, isto não significa que nossa vida será somente rosas e nenhum espinho. Dificuldades são inevitáveis na vida cristã. Algumas são as do dia-a-dia, dificuldades comuns que todo o mundo enfrenta. No entanto, outras são dificuldades inerentes ao empenho de se viver como um cristão num mundo em desmoronamento. A chave para o cristão não recai sobre a busca de evitar as dificuldades, mas em aprender a reagir quando (não “se”) estas chegarem.

Problema em Todo o Lugar

Aparentemente, no século I os cristãos tiveram problemas também. Alguns até mesmo desenvolveram ainda mais sua espiritualidade por causa destes. Não era esta a intenção de Paulo na passagem de hoje. Ao contrário, ele estava tentando refutar os clamores do povo tendo em vista ser grande entre os Coríntios. Então, por um breve instante, ele se rebaixou ao nível destes e disse: “Ninguém me considere insensato. Mas se vocês assim me consideram, recebam-me como receberiam a um insensato, a fim de que eu me orgulhe um pouco.” E então, ele começou a descrever seu extenso sofrimento por Jesus, apenas para provar seus argumentos.

Ele compilou uma lista impressionante que me deixou saudoso das histórias que foram omitidas do livro Ato dos Apóstolos: trabalhos forçados, cativeiros, naufrágios, situações – limite de quase morte, e diferentes formas de perigo – desde o que vem do natural (rios e mares) ao esperado (inimigos e bandidos) ao menos esperado (companheiros judeus e até mesmo seus próprios conterrâneos). Todo o tipo de privação: de sono; de comida; de água; de aquecimento – e até mesmo de roupas (eis uma história que eu terei de perguntar a ele quando eu o vir). E, então, havia os espancamentos: os espancamentos judeus (os 39 açoites), os espancamentos romanos (com varas), e as boas e velhas chicotadas – parece que o povo não se importava com o tipo de surra que ele fosse tomar, contanto que fosse espancado.

Agora, eu não sei sobre você, mas minha lista de dificuldades não pode ser comparada com a de Paulo. Contudo, enfrentamos dificuldades que são tão reais quanto as da lista do apóstolo (apesar de que talvez não tão radicais). Nós podemos sofrer emocionalmente, por amor, financeiramente, por causa de nosso posicionamento, espiritualmente e sim, às vezes psicologicamente (especialmente aqueles de vocês que moram em outros países). Isto não deveria nos surpreender. Jesus prometera que seria assim. Ele disse: “Neste mundo vocês terão aflições” (João 16 33, NIV), e “Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês” (Mateus 5 11, NIV). Jesus lembrar-nos-ia de que muitas das nossas aflições são sinais de que nós estamos simplesmente tendo sucesso em segui-lo com perseverança. “Se o mundo vos odeia sabei que primeiro do que a vós, ele odiou a mim.” (João 15 18)

Viro à Esquerda ou à Direita?

Paulo não deu aos Coríntios “Dez Passos Fáceis” para não se meterem em problemas. Ele não os deslumbra com histórias sobre sua coragem e valor ao derrotar o mal. Ele nem mesmo repartia suas dicas para evitar esses tipos de problemas. Paulo estava concentrado em ajudar os Coríntios a entenderem que a única solução prática para seus problemas era eles se jogarem completamente na incrível graça de Deus. Somente na graça do Senhor podemos confiar plenamente.

Na nossa cultura somos ensinados a sermos autossuficientes. Em todo o lugar há propagandas, livros de autoajuda, e palestrantes motivacionais dizendo como podemos ser a resposta para nossos próprios problemas. Entretanto, o primeiro impulso do argumento de Paulo nessa passagem é exatamente o contrário disto. Nós tendemos a pensar em Paulo como um “super-cristão”. E indo contra seu melhor julgamento, ele admite aqui que de alguma maneira aquilo era verdade. Ele possuía o treinamento, a herança, o cérebro, e a personalidade para ter sucesso como cristão. Ele havia feito todos aqueles sacrifícios e havia enfrentado todos aqueles julgamentos em nome de Cristo.

Contudo, Paulo não repartia isto para mostrar o quão maravilhoso ele era ou que ele conseguiria cuidar de tudo com sua própria garra. Em vez disto, ele os usou como uma oportunidade de demonstrar sua fraqueza. Ele se agarrou ao fato de que não poderia lidar com estas situações, porém em vez de levar Paulo ao desespero e desesperança, estas dificuldades forçaram Paulo a confiar em Deus cada vez mais.

Paulo falou sobre uma situação específica na qual estava fora de si. Ele não compartilhou os detalhes, mas admitiu abertamente que não poderia lidar com este ocorrido. Então, Paulo virou-se para Deus e orou para que o Senhor lhe ajudasse a solucionar o problema. Eu adoro a resposta de Deus (parafraseio): “Se eu quisesse mandar embora o problema, eu já o teria feito. Entretanto, o mais importante nesta situação é que você pode aprender a confiar em mim. - então, confie logo.”

Força Na Fraqueza?

Deus, então disse algo a Paulo que parece estranho num primeiro momento, mas que se tornou uma das minhas promessas favoritas nas Escrituras: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Como a graça pode ser aperfeiçoada pela fraqueza? Nós geralmente pensamos que graça e fraqueza são opostos. Obviamente, Deus estava referindo-se à fraqueza de Paulo e não a Dele. Não é que Deus tenha ganhado nenhum poder através da fraqueza do apóstolo. Ao contrário, Paulo tornou-se mais atento à maravilhosa graça de Deus e a sua própria necessidade de alcançá-la.

Quando sentimos que podemos fazer de tudo, quando as coisas estão indo muito bem e estamos lidando bem com tudo o que a vida nos traz, torna-se mais fácil convencermo-nos de que não precisamos de Deus realmente. No entanto, os desafios mais difíceis – as dificuldades, os julgamentos, as perseguições, etc. - nós podemos finalmente chegar ao nosso próprio final e, sinceramente, e desesperadamente estendermos a mão para a fé de Deus. Daí, é quando Ele é mais exaltado em nossa vida.

Duvido que nós chegaremos ao ponto de desejar honestamente mais provações em nossa vida. Entretanto, o que podemos fazer é aprendermos a olhar para Deus primeiro, ao invés de para nossos próprios umbigos quando somos testados. Então, seremos capazes de imitar a atitude de Paulo: “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias...” (12: 16), e nós estaremos aptos a dizer honestamente: “Porque quando estou fraco então sou forte.”

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