E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha. Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.    

Lucas 14:23-24 

Jesus nunca perdia uma oportunidade para ensinar aqueles que o cercavam, estava sempre pronto para orientá-los nos princípios norteadores para uma vida santa, humilde, justa e harmoniosa. Seus seguidores eram compostos de curiosos, interesseiros, arrogantes, humildes, etc. Apesar disso, o Mestre sabia lidar com todos indistintamente. Nesta ocasião, na casa de uma das maiores autoridades farisaica, o Senhor discorreu sobre a parábola da Grande Ceia. Foi a partir de uma expressão de um dos presentes que Jesus ensinou sobre o perigo da rejeição do plano de Deus. Estudiosos não chegaram à conclusão se a fala do conviva expressava sinceridade ou cinismo. A Palavra afirma que Jesus veio para todo aquele que O receber, o convite foi feito, mas muitos O rejeitaram, e veremos nesta parábola o motivo pelo qual assim agiram.

 

O CONTEXTO

Como sempre, por onde Jesus andava uma multidão o seguia. E não foi diferente no contexto desta parábola. Podemos perceber o desprendimento do Mestre, pois notamos nos seus ensinamentos o quanto Ele diferia do modo dos doutores da Lei na aplicação da mesma. Mas mesmo assim, lá estava o Senhor Jesus em meio àquele grupo. Por todo o Evangelho, notamos que Cristo queria conscientizar a todos sobre o caráter do Pai e como as pessoas deveriam se relacionar com Ele. Primeiramente, não havia lugar específico e único para levar as Boas Novas; segundo, todos que quisessem ouvir sobre os acontecimentos vindouros, o plano da salvação e quem era o Mestre, Jesus estava sempre pronto para ensinar, estimular e orientar para a vida eterna! Alguns teóricos relacionam esta parábola com a parábola dos Convidados para as Bodas(Mateus 21:13), cujo contexto difere do de Lucas. Herbert Lockyer as apresenta assim:

A parábola registrada em Lucas foi entregue por Jesus antes da últi­ma viagem a Jerusalém. A que te­mos aqui relatada por Mateus foi proferida dentro do templo de Jeru­salém, perante os principais sacer­dotes e anciãos do povo (Mateus 22:23). Na primeira, os fariseus ainda não tinham cortado relações com Jesus abertamente; mas, na segunda, a inimizade deles tinha chegado ao auge, e estavam fortemente inclina­dos a matá-lo. A festa registrada por Lucas era uma diversão simples, patrocinada por um anfitrião parti­cular, cujo convite era recusado com desdém. A festa registrada por Mateus era dada por um rei para celebrar o casamento do filho. Em Lucas, os convidados eram descorteses; em Mateus, são rebeldes. Em Lucas, os convidados foram mera­mente impedidos de entrar na fes­ta; em Mateus, são destruídos, ten­do a cidade queimada.1

 

O quadro apresentado pelo Evangelho de Lucas, de acordo com Lockyer, demonstra ainda uma certa tolerância ao Mestre por parte dos fariseus, visto que Jesus estava ali para cear com eles. E aquele que se expressou ao ouvir do Senhor sobre a recompensa dos justos na ressurreição, certamente creu que, no final, estar com Deus valeria a pena. Porém Jesus, como respondendo a este, mas mostrando a todos que ali estavam o verdadeiro sentido de se estar na presença de Deus, de estar presente em Seu banquete, discorre sobre uma das mais importantes parábolas. Lockyer comenta que

“Os comentaristas es­tão divididos quanto ao que essa ex­clamação realmente quis dizer, e ao espírito em que foi proferida. Alguns acham que foi uma genuína excla­mação de admiração (...) Todavia outros escritores consi­deram que o que disse isso deixou transparecer uma ideia superficial, o seu pensamento farisaico, de que o reino era um privilégio somente à medida que ele próprio pudesse ga­ranti-lo para si mesmo, pelos seus próprios méritos”.2

Embora alguns teóricos tenham pontos de vista diferentes, isso não anula o objetivo do Mestre de exortar Seu povo quanto à necessidade da aceitação do convite do Pai.

 

OS MOTIVOS DE JESUS

Kenneth Bailey explica de forma clara sobre a expressão “comer pão” no livro As Parábolas de Lucas, dizendo:

“A parábola propriamente dita é introduzida por um desabafo piedoso de um dos convivas (14:15) que diz: “Bem-aventurado aquele que comer pão no Reino de Deus!”, com esta exclamação, localizamo-nos claramente no mundo da fala e da cultura palestinas. “comer pão” é uma expressão idiomática clássica no Oriente Médio, que significa “comer uma refeição”.3

Ora, Jesus não estava focado no que representava aquela expressão naquele momento, Ele narrou essa parábola porque via em muitos que ali estavam o menosprezo pela mensagem que Ele, o Mestre, trazia para Seu povo e os demais também. O Senhor Jesus via o descaso, a indiferença, a intolerância ao Seu ensino e procurava alertá-los quanto ao plano de salvação. O que O motivou a contar essa parábola foi a dureza do coração dos incrédulos, dos fariseus, dos saduceus, daqueles que estavam voltados aos seus próprios interesses. O que O levou a discorrer sobre essa parábola foi o Seu imenso amor por todos, pois poderia deixá-los de lado devido a sua frieza em relação ao Reino de Deus. Contudo o Senhor não descansava e aproveitava todas as ocasiões para falar da importância de se estar presente no “banquete” ofertado pelo Pai! Kistemaker afirma que Jesus estava dando um aviso aos fariseus cujo teor era “...Jesus deixou entrever que não haverá falta de cidadãos no Reino de Deus. Se os líderes religiosos de Israel rejeitassem o convite de Deus para a entrada no Reino, Ele o estenderia aos marginalizados pela sociedade, isto é, aos coletores de impostos, aos indecisos e gentios”.4

O teólogo Bailey ratifica essa preocupação do Mestre quando diz “a ideia de refeição sagrada com Deus está profundamente arraigada no Velho Testamento. No Salmos 23:5 é-nos dito que o próprio Deus prepara um banquete para aquele que confia nEle”.5 Logo, Jesus tinha motivos vários para Se expressar daquela forma aos que estavam presentes na casa daquele líder fariseu, era preocupação com os perdidos e indecisos, era exortar os rebeldes e incrédulos, era confirmar a necessidade e a importância de um bom relacionamento com Deus. Ele se preocupou com os Seus, mas os Seus O desprezaram, e por isso nós, os outros, fomos grandemente abençoados pelo Seu grandioso amor! E assim Lockyer escreve:

O dr. Salmond diz: “A Ceia é uma figura da rica graça que estava para alcançar os homens por meio de Cris­to. Os judeus são os que Deus desig­nara para serem os primeiros a par­ticipar dela. O primeiro chamado é a promessa da graça que estava para vir, que os judeus tinham sob o AT, em contraste com os gentios, que não estavam incluídos na teocracia; e essa condição de terem a promessa da graça, os judeus usavam apenas para dizer que eram privilegiados, a fim de demonstrar superioridade sobre os outros povos. O segundo chamado é o sinal que representa a realização daquela graça e o convite efetivo de Cristo para o reino que não é deste mundo; e isso eles deixaram de lado por causa da exigência de arrependimento, fé, desprendimen­to das coisas deste mundo e consagração. Portanto, o lugar no reino prometido de Deus, que eles rejei­tam, é tirado deles e [...] dado a ou­tros, até mesmo aos rejeitados den­tre os gentios”.6

Assim como hoje, muitos líderes em suas igrejas levam a mensagem do Evangelho, muitos missionários propagam a Palavra de Deus, muitos evangelistas pregam a necessidade do arrependimento, e mesmo assim a minoria crê no poder e no amor do Pai; assim foi no tempo em que Jesus caminhou nesta terra. Todavia, da mesma forma como o Mestre procedeu, procedamos assim enquanto “ainda se pode achar Deus”!

 

APLICAÇÃO DA PARÁBOLA

O Mestre nada falava sem um intuito, todos os Seus discursos, todas as Suas ações sempre tinham um propósito, algo a ensinar aos que O cercavam e a nós hoje. E nessa linha, é importante sabermos quais os objetivos propostos por Jesus. Ele tinha pouco tempo na Terra, logo tudo que por Ele foi dito era de suma importância que fosse guardado na mente e no coração, pois era tesouro perene. Herbert Lockyer avalia dois tópicos interessantes em relação à parábola, que é a interpretação e a aplicação, sendo aquela, para ele, limitada, “dispensacional e profética; enquanto esta ilimitada, moral e prática7. Ora, toda parábola remete a um ensinamento, e a não aplicação daquilo que nós aprendemos significa que perdemos tempo em aprender, que tomamos tempo daquele nos ensinou e tornamos inútil todo o processo de ensino-aprendizagem. Logo não sejamos inúteis ou mesmo tolos em relação a tudo o que o Senhor nos ensina, e a partir do aprendizado, sejamos nós também exemplos e passemos a outros todos os princípios de vida cristã, os quais Jesus sempre nos revela tão graciosamente.

Apesar de se interpretar que é Deus quem convidará para o banquete, devemos nos lembrar de que é Ele e somente Ele quem nos dará um banquete, não há outro que nos convide para uma comunhão santa e eterna. Uma das aplicações desta parábola é estar sempre atento à voz do nosso Deus, assim como Miqueias estava (Miquéias 7:7). O anfitrião havia feito um convite para o seu banquete, e infelizmente muitos declinaram pedindo desculpas ao anfitrião, pois cada um tinha o seu argumento para não participar da ceia. O Senhor tem avisado a todos “Lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. Pois se não vigiares, virei como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei”.(Apocalipse 3:3). O quanto estamos atentos ao chamado, ao conselho, à exortação do Espírito de Deus? Estamos alerta somente durante os cultos, ou somente nos momentos de perigo, ou de dor, ou de angústia? E nos momentos de bonança, de festas, de calmaria? Pela Palavra, sabemos que o nosso inimigo não dorme, e pela própria Palavra, sabemos que o Senhor também, “não dormita quem te guarda”(Sm 121:4). Dessa maneira, nós que sabemos e compreendemos o amor incondicional de Deus atentemos para todo o Seu ensinamento.

Mesmo estando atentos ao chamado do Senhor, muitos se descuidam e não valorizam o Seu banquete. Como foi dito anteriormente, existem em nossas vidas tempos de calmaria, de paz, de sossego. E são nesses momentos que o homem se descuida e deixa de estar alerta. Pelo que percebemos na parábola, todos os convidados tinham necessidades outras, e se analisarmos bem, necessidades terrenas, mensuráveis, algumas, passageiras. De acordo com a resposta deles ao servo do anfitrião, o momento para eles era de alegria, tranquilidade, pois não demonstraram nenhum temor, incerteza ou angústia. Jesus diz “Venha e sente-se à mesa Comigo”, porém muitos têm dado prioridade aos seus compromissos aqui nesta terra, apegando-se a coisas que não precisarão delas na vida eterna, rejeitando o chamado Divino. Ao que é chamado viverá na presença de Deus, logo não só estejamos atentos, mas também atendamos prontamente ao convite, sem reservas, sem desculpas, mas de todo coração sigamos ao encontro do Senhor diariamente!

Kistemaker é claro em dizer que todos estão sendo convidados através dos mensageiros do Senhor, aqueles que creem até o fim participarão do banquete, e que não haverá lugar à mesa para os que rejeitarem o chamado de Jesus.8 E aqui percebemos também o serviço daqueles que estão indo ao encontro das pessoas, levando o Evangelho. A parábola apresenta dois grupos: os que pelos seus interesses recusam-se a partilhar da graça de Deus e os que estão famintos e marginalizados. O Senhor quer a Sua casa cheia, por isso o Evangelho está sendo levado pelos servos a todos os lugares, e estes estão no trabalho prático do Ide, aplicando a vontade do Mestre em todas as nações.

 

CONCLUSÃO

Assim como foi na casa daquela autoridade farisaica, assim também o é em nossos dias. Jesus tem entrado em nossas casas, em nossos ambientes escolar e de trabalho e convidado a todos a participarem da nova vida em Cristo, da vida eterna, para sermos bem-aventurados de acordo com a fala daquele conviva em Lucas 14:15. Muitos dos convidados se recusarão a atender tão gracioso convite para serem felizes, embora muitos mensageiros do Senhor se esforcem para trazê-los à Sua casa. Que tenhamos o zelo, o cuidado, a prontidão de atendermos de imediato a vontade do nosso Deus, tanto ao servir, quanto ao participar de tão poderoso e maravilhoso Reino!

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

 

1 – como via o fariseu a missão de Jesus na Terra?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

2 – em sua opinião, com que intenção disse o conviva “Bem-aventurado aquele que comer pão no Reino de Deus”?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

3 – qual a importância dos servos nesta parábola?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

4 – basta apenas estar atento ao chamado de Deus? Por quê?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

5 – para você, qual a aplicação mais importante desta parábola para nós hoje?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

1 LOCKYER, Herbert. Todas as Parábolas da Bíblia. S. Paulo. Ed. Vida, 2006. p. 287

2 LOCKYER, Herbert. 2006, p. 352

3 BAILEY, Kenneth. As Parábolas de Lucas. S. Paulo. Ed. Vida Nova, 1985. p. 164

4 KISTEMAKER, Simon J. As Parábolas de Jesus. S. Paulo. Ed. Casa Presbiteriana, 1992, p. 111

5 BAILEY, Kenneth. 1985. p. 164

6 LOCKYER, Herbert. 2006, p. 353

7 LOCKYER, Herbert. 2006, p. 24

8 KISTEMAKER, Simon J. 1992, p. 221

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