Porque o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido.    

Mateus 18:11

Qual o valor do ser humano? Quais os critérios usados para medirmos o valor de uma pessoa? Classe social, etnia, estética? Que princípio usamos como referência para avaliarmos quem é bom ou quem é mau? Quem é merecedor e quem não o é da nossa compaixão? Se olharmos a nossa volta com olhos de misericórdia, veremos quantos seres humanos perdidos há no mundo, perdidos por não terem amor do próximo, por não terem amor ao próximo, por estarem afundados em suas vontades, em seus prazeres; perdidos em idolatria, perdidos por não terem Deus como Pai. Esta parábola fala-nos de uma lição divina de amor ao perdido, ao pecador, sem classificá-lo em algum padrão aceitável dentro da sociedade, mas somente amá-lo como é da vontade do Senhor nosso Deus. John MacArtur, em seu livro O Evangelho Segundo Jesus, comenta:

A salvação de uma alma não é a transação antiquada que geralmente pensamos que seja. A redenção não é uma questão de contabilidade divina, em que Deus anota em seus livros quem está dentro e quem está fora. Deus chora pelos perdidos e regozija-se quando alguém é salvo. A sua dor é profunda por causa da condição de perdição da humanidade, e a sua alegria é completa quando um pecador se arrepende.1

Veremos neste estudo alguns aspectos relativos ao texto de Mateus, e também o texto de Lucas, e analisando o foco das duas narrativas, que embora em contextos diferentes, apontam para o mesmo problema que o ser humano enfrenta: a separação de Deus.

CONTEXTO DA PARÁBOLA EM Mateus 18

Há aqui duas vertentes que precisamos levar em consideração para análise, embora as duas nos remetam a uma mesma ideia, tanto em Mateus 18 quanto em Lucas 15 que é o resgate daquele que está perdido, o não salvo. Se observarmos o contexto em Mateus, veremos que Jesus estava dando uma resposta a Seus discípulos sobre quem seria o maior no Reino dos Céus. O Mestre compara então a pureza das crianças com aqueles que poderão entrar no céu. Discorrendo Ele sobre a importância de se dar o devido valor às crianças, mostrava aos discípulos o cuidado que se deve ter para não deixar que as crianças se desviem do verdadeiro Caminho, que é Jesus.

O verso 4 neste capítulo de Mateus responde ao questionamento dos discípulos, contudo Jesus os adverte para que não sejam pedra de tropeço para aqueles que estão se achegando ao Reino dos Céus! E declarando a frase mais importante deste capítulo, para nossa alegria, diz Ele que “veio salvar o que se tinha perdido”. E quem se tinha perdido? Podemos começar com Adão? O contexto de Mateus não apresenta um pecador contumaz, porém um ser em desenvolvimento que precisa ser conduzido, instruído, assistido. O Mestre inquire Seus discípulos: “Que vos parece?”, ou seja, neste caso, o que vocês fariam? E expõe então a situação em que se encontra uma das ovelhas, desgarrada das outras noventa e nove. 

CONTEXTO DA PARÁBOLA EM Lucas 15

Já no contexto de Lucas 15 o público alvo para que se narrasse a mesma parábola eram publicanos, pecadores, fariseus e escribas. Ao ouvir a murmuração destes últimos, Jesus aqui também questiona aqueles que faziam acepção de pessoas, no caso, pecadores. Kenneth Bailey, em seu livro As Parábolas de Jesus, cita Jeremias, que declara: “Para entender o que Jesus estava fazendo ao comer com “pecadores”, é importante perceber que no Oriente, até hoje, convidar um homem para uma refeição é uma honra”2. Nesse contexto, entendemos a queixa dos fariseus e escribas, pois não admitiam que alguém que se dizia messias compartilhasse da mesma mesa que um pecador, alguém destituído de honra. Bailey ainda assinala que “No oriente, hoje em dia, como no passado, um nobre pode alimentar qualquer número de pessoas necessitadas, de nível inferior, como sinal de generosidade, mas não come com eles”3. Sendo assim, percebemos que no contexto passado e atual é algo incomum o ato de Jesus. Por isso o Mestre, que veio para salvar o perdido, narra a parábola da ovelha perdida.

JESUS ILUSTRA SUA MISSÃO

Em Efésios, capítulo 1, vemos a predisposição do Senhor, nosso Deus, em adotar como filhos aqueles que se dispusessem a aceitar o sacrifício vicário do Seu Filho Unigênito. E isso foi determinado antes da fundação do mundo. Logo, tudo o que se sucedeu e se sucede até hoje está dentro dos planos divinos. O Senhor Jesus, em Sua passagem na Terra, afirmava e confirmava todo o propósito do Pai. Disse ele em Mateus 15:24 “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Mister analisarmos essa afirmação do Mestre, visto que se refere apenas aos seus conterrâneos, estaria se contradizendo? Lógico que não, Jesus sempre tinha algo a ensinar aos Seus discípulos e a todos nós atualmente. Naquele contexto, a pessoa que o “importunava”, segundo o parecer dos Seus seguidores, era uma mulher, ser de nível inferior(no padrão cultural da época) e cananeia, fora da linhagem judaica; porém, no desenrolar da narrativa, jesus exalta a fé daquele “ser inferior”. Aparentemente contraditória a afirmação do Mestre no verso 24, o discurso revela uma verdade aos discípulos: encontrei fé em alguém fora dos padrões instituídos pelos doutores da Lei judaica! E Cristo continua confirmando Sua missão quando diz em Mateus 18:11 que veio salvar aquele que estava perdido, missão essa nascida no Pai e que podemos confirmar em João 3:17 “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”.

A Palavra de Deus é um contínuo reafirmar-se, Deus está sempre dizendo o que fará; por meio de profetas, Ele confirma a missão do Filho. Em Ezequiel 34:12-16, a Palavra diz 

 Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas. Livrá-las-ei de todos os lugares por onde foram espalhadas, no dia de nuvens e de escuridão. Sim, tirá-las-ei para fora dos povos, e as congregarei dos países, e as introduzirei na sua terra, e as apascentarei sobre os montes de Israel, junto às correntes d’água, e em todos os lugares habitados da terra. Em bons pastos as apascentarei, e nos altos montes de Israel será o seu curral; deitar-se-ão ali num bom curral, e pastarão em pastos gordos nos montes de Israel. Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas, e eu as farei repousar, diz o Senhor Deus. A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer; a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei; e a gorda e a forte vigiarei. Apascentá-las-ei com justiça.    

Ezequiel 34:12-16 (grifo nosso)

E continua a Palavra de Deus se confirmando, em 1Timóteo 1:15, a Palavra diz “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. Hebreus também, no capítulo 7, verso 25, confirma a longanimidade de Deus em relação àqueles que buscam a Sua presença. Para todos foi enviado o senhor Jesus, o Pastor; testifica a Palavra em 1 João 4:14 “E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo”. Jesus precisou contar a parábola da ovelha perdida nesses dois momentos porque homens pensaram ser melhores que outros, que olharam apenas para si, que se esqueceram do mandamento de amar o próximo como a si mesmo.

APLICAÇÕES ATUAIS DESTA PARÁBOLA

Uma das preocupações iniciais de Jesus ao reunir seus doze discípulos e dar-lhes instruções em relação ao ministério a que Se propunha era a de que eles não se ensoberbecessem com o poder que a eles seria dado. No sermão da montanha, que encontramos em Mateus 5 no verso 3 Jesus alerta que seria feliz aquele que fosse humilde de espírito; previa o Mestre um possível orgulho exacerbado por parte dos Seus seguidores? Lembremo-nos que em Lucas 10 na volta dos setenta, todos eufóricos porque até mesmo os demônios se sujeitaram a eles(v. 17), Jesus lhes diz que aquela alegria não deveria ser por este motivo, mas sim pelo nome deles estarem escrito no Livro da Vida. Ou seja, o poder dado pelo nosso Deus é motivo de glorificá-lO, e não de nos exaltarmos. Então uma das aplicações desta parábola é a prática da humildade, é não deixar-se dominar pelo orgulho, pela arrogância. MacArtur comenta:

Onde quer que Ele fosse, um grupo de indesejáveis reunia-se à sua volta. Eram publicanos, criminosos, ladrões, assassinos, prostitutas e outros do mesmo tipo, que de forma alguma esforçavam-se por viver de acordo com os padrões da lei judaica. Como já vimos, isso incomodava bastante os orgulhosos fariseus. Eles viviam tão perdidamente preocupados com os detalhes da lei que não tinham tempo para interessar-se pelos pecadores.4

Os doutores da Lei não entendiam o “Doutor” do Amor, que era Jesus, e destilavam ódio pelo Mestre por assim agir.

Outra aplicação que podemos verificar é que devemos praticar o princípio da empatia. Jesus mostra aos fariseus e escribas o valor das pessoas, qualquer um que esteja sem a direção do Espírito Santo, esteja longe do Pai, merece ser resgatado. Assim Jesus nos ensina. Se nos colocarmos no lugar daquele que não tem rumo, não tem esperança, não tem “vida”, faremos o que o Senhor faria, buscar o perdido, trazê-lo ao aprisco do Senhor, dar-lhe um novo Norte. Na visão de MacArtur, nessa situação de termos pessoas sem a esperança que dá vida, a conduta do cristão é a mesma de um pastor de ovelhas, e citando ele “Qual dentre vós”, do verso 4 de Lucas 15 indica que o comportamento compassivo que Ele descreve seria esperado até mesmo da parte de um simples criador de ovelhas”.5 MacArtur fala de simplicidade, característica mostrada pelo Mestre em toda a Sua jornada na Terra.

Simplicidade é outra aplicação que dela podemos nos utilizar na nossa caminhada nesta terra. E Simon J. Kistemaker, em seu livro As Parábolas de Jesus, refere-se ao livro de Mateus, capítulo 18, quando diz “No contexto, a expressão se refere às crianças, mas, levando em conta a demonstração visual feita por Jesus, colocando uma delas no círculo dos discípulos, “estes pequeninos” passa a ter uma conotação espiritual. Jesus está se referindo àqueles cuja fé mantém a simplicidade das crianças”.6 O Mestre nos exorta a uma vida simples, bucólica, como se apresenta a parábola. Esta diz que o pastor foi buscar a ovelha, não o bode ou o lobo. Não o rebelde, nem o orgulhoso, mas aquele que sabe da sua condição insignificante diante do universo, da sua condição de pecador, mas entende que necessita do Salvador para uma boa e agradável reunião junto aos santos, embora a mensagem da cruz seja para todos, crédulos e também incrédulos.

E por último, a alegria em fazer parte da salvação de uma pessoa! Sim, de uma pessoa. O pastor tem prazer em convidar outros para que se juntem a ele na mesma alegria, a alegria de ter salvado a ovelha desgarrada! Essa demonstração de alegria significa compaixão, empatia, amor. Podemos nos questionarmos: mas era apenas uma ovelha. E aí vemos o imenso amor de Deus por toda a humanidade, cada um de nós temos valor para Deus, Ele, na verdade, não gostaria de que nenhum se perdesse. E assim o Senhor nos chama, a sua igreja, para que também como o pastor da parábola, façamos o mesmo. Kistemaker alude a essa ideia dizendo:

“As duas parábolas, a da ovelha perdida e a da dracma perdida, têm uma verdade evangélica definida. A igreja, conhecida como corpo de Cristo, é chamada para estender seu amor e interesse aos homens, mulheres e crianças que estão espiritualmente perdidos no mundo. Os membros da igreja são convocados para procurar os que estão perdidos e para dizer aos que estão perdidos no pecado “Que Cristo...morreu pelos ímpios” (Romanos 5:6). O fervor que Jesus mostrou, associando-se aos chamados de “pecadores” de seus dias, deve arder em cada um dos membros da igreja, irradiando o calor do zelo evangelístico e se rejubilando com os “anjos de Deus por um pecador que se arrepende”.7

CONCLUSÃO

Enquanto há vida, há esperança. Essa é uma frase de efeito dita por muitos otimistas. Mas nós que somos cristãos devemos não entendê-la apenas como uma frase de efeito, mas como uma realidade bem presente e urgente. Deus, nosso Criador, planejou o resgate da humanidade, Jesus aplicou o projeto do Pai e o Espírito Santo nos assiste nas obras dadas pelo próprio Pai. E a missão principal do corpo de Cristo é ir ao encontro daqueles que ainda se encontram na escuridão, na ignorância, à beira do abismo. O exemplo dado por Jesus mostra que não podemos desistir das pessoas; mesmo que estejamos em um grupo consciente da necessidade de viver na presença de Deus e assim vivamos, ainda há pessoas que agonizam fora desse grupo, que necessitam da mão acolhedora, do suporte amigo, do amor cristão, e que nem sempre elas conseguem vir até nós. Então, que tal irmos lá fora buscá-las?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1 – Explique a diferença contextual entre os dois momentos em que a parábola da ovelha perdida foi contada. 

2 – O que causava desconforto aos fariseus pelo fato de Jesus alimentar-se com “pecadores”? 

3 – Que aplicações a nossa vida diária podemos perceber nesta Parábola? 

4 – Qual delas é a mais difícil de se praticar diariamente?

5 – De que forma você vê a IB7 aplicando esta Parábola?

 

REFERÊNCIAS

1 MACARTHUR, John. O Evangelho Segundo Jesus. S. Paulo. Ed. Fiel, 1999, p. 167

2 BAILEY, Kenneth. As Parábolas de Lucas. S. Paulo. Ed. Vida Nova, 1985, p. 194

3 BAILEY, Kenneth. 1985, p. 194

4 MACARTHUR, John. 1999, p. 167

5 MACARTHUR, John. 1999, p. 168

6 KISTEMAKER, Simon J.. As Parábolas de Jesus. S. Paulo. Ed. Casa editora presbiteriana. 1992, p. 116

7 KISTEMAKER, Simon J. 1999, p. 232

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