Os profetas de Deus são agraciados com poderes incríveis nas páginas da Bíblia. Desde o chamado de quarenta exércitos invisíveis para levantar os mortos, os mensageiros escolhidos de Deus têm jogado a isca para conseguirem fazer seus gritos e serem ouvidos. O profeta Eliseu não foi exceção. Após pedir uma porção dupla do espírito que havia sido dado ao seu mentor Elias, a Eliseu fora dado um ministério conforme sua solicitação. Porta-voz de Deus diante dos reis e governantes da sua época, Eliseu tinha acesso às figuras mais importantes de seu tempo. Entretanto, por causa disto, Eliseu era também um homem que fora forçado a viajar bastante.

 

Uma cama quentinha e uma refeição gostosa

Qualquer que tenha gastado seu tempo na estrada como viajante lhe dirá que é de enorme valor uma refeição gostosa e uma cama quentinha. Eliseu era um grande viajante, então é razoável presumir que pensasse do mesmo modo. É fácil esquecer, algumas vezes, que esses heróis da fé também possuíam necessidades humanas, que precisavam ser preenchidas. É importante lembrar também que, freqüentemente, por causa da mensagens duras que eles tinham de entregar, os profetas não eram bem-vindos na maioria dos lugares para os quais viajavam. 2Reis 2 nos mostra um evento no qual Eliseu fora zombado. É uma grande surpresa, então, encontrar uma história, a apenas dois capítulos depois, que mostra o mesmo profeta de Deus sendo recebido com prazer ao invés de ser rejeitado.

Nesta história, encontrada em 2 Reis 4:8–17, nós descobrirmos que Eliseu recebeu exatamente essa consideração de uma mulher de Suném, uma cidadezinha ao norte da região central de Israel. O texto nos conta que em um certo dia Eliseu foi à cidade desta mulher, onde ela, aparentemente, reconhecendo-o, pediu-lhe para ficar para uma refeição (versículo 8). A segunda parte do mesmo versículo parece indicar que nesta primeira refeição ocorreu tudo bem, com Eliseu fazendo parte de seus hábitos “onde quer que ele chegasse” parar e comer com a mulher e sua família. Nos versículos 9 e 10, a mulher foi ainda mais longe ao sugerir ao seu marido que eles preparassem um quarto na casa deles para Eliseu. O interessante é que a mulher percebeu que Eliseu “é um santo homem de Deus”. Como este fato interfere na escolha dela de abrir a casa para Eliseu não está claro. Talvez a mulher desejasse ajudar a obra de Eliseu ao Senhor – ela deve ter recebido alguma indicação do próprio Eliseu, durante as refeições juntos, de que tal assistência seria bem-vinda. Talvez ela fosse apenas o tipo de pessoa que viu uma maneira de ajudar. Quaisquer que fossem as circunstâncias, o texto nos dá uma pista contando que a mulher sabia que Eliseu seguia Deus.

Nenhuma boa ação...

Essa cortesia em favor dele não escapara a Eliseu, e um dia ele decidiu que iria reconhecer a bondade da mulher fazendo algo por ela. Sendo um homem que conhecia os políticos poderosos da época, Eliseu ofereceu-se para falar bem dela ao rei ou ao comandante do exército do país dela. Interessante que em vez de aproveitar a chance de receber tal endosso, a mulher retrucou que ela tinha “um lar [dela] entre sua gente” (versículo 13b), o que parecia indicar que ela não estava procurando por este tipo de favor de Eliseu. Aparentemente, esta mulher estava sendo hospitaleira sem expectativa de receber qualquer recompensa, seja qual fosse.

Dado o cinismo de nossa cultura a respeito das motivações dos outros, os leitores modernos devem achar a hospitalidade desprovida de interesse da mulher difícil de engolir. As teorias contemporâneas podem afirmar que a motivação do gesto dessa mulher era egoísta, apesar da falta de evidência dentro do texto. Será que estas explicações modernas refletem a humanidade precisamente, ou elas meramente refletem nosso próprio cinismo moderno? A resposta a esta questão não é clara o suficiente. O que está claro nesta história é que qualquer que fosse a motivação dela, esta mulher escolheu recusar alguma recompensa por sua hospitalidade. ...

Não ser recompensado?

Existe uma popular parábola moderna que expressa que nenhuma boa ação fica impune. Não deixemos, entretanto, que este cinismo enuvie a mensagem do texto. É claro que Eliseu desejava fazer o bem para essa mulher e seu marido, que fizeram tanto por ele. Na verdade, estava tão preocupado com isto que depois da mulher ter recusado educadamente as tentativas dele de recompensá-la, ele continuou a buscar uma maneira de poder agradecê-la, perguntando ao servo dele, no versículo 14, o que eles poderiam fazer por ela. O servo respondeu que a mulher não tinha filhos e que o marido dela era velho. Eliseu então chamou a mulher de volta ao seu quarto e prometeu que ela teria um filho naquela mesma época no ano seguinte.

A resposta da mulher à promessa é dita: ela implorou ao profeta que não criasse nela esperanças desnecessárias. A razão mais óbvia para esta reação é a de que Eliseu prometera algo que ela desejava muito – e que estava convencida de que nunca teria. A promessa do profeta mexeu profundamente com ela. Infertilidade freqüentemente causa significativo estresse emocional e dor para as famílias cujo desejo é o de ter filhos. No dia-a-dia de Eliseu estresse e dor eram freqüentemente compostos pela crença de que a esterilidade era demonstração da falta de auxílio de Deus, ou, pior ainda, o julgamento divino. Esta mulher provavelmente viveu numa época de sinais sutis dos outros de que ela era menos mulher por não poder ter filhos. Ainda, mesmo que a promessa do profeta tenha tocado em alguns desses pontos sensíveis, as palavras demonstram que ela queria acreditar na promessa. A sua esperança foi validada quando ela engravidou e deu à luz o filho prometido.

A verdadeira medida de um indivíduo

Quando chega o tempo de aprender sobre esta mulher, existe uma coisa que devemos lembrar, sobretudo: Muito da ação nesta história foi feita pela mulher. Foi a mulher que convidou Eliseu a compartilhar comida com a família dela. Foi a mulher que preparou o quarto para Eliseu dormir. Tudo isto foi feito sem menção alguma sobre ela querer alguma coisa em retorno de Eliseu. Isto é confirmado mais a fundo pelas tentativas da mulher em recusar os favores dele. A mulher agia caridosamente em relação a Eliseu sem pensar em ganho ou benefício pessoal. A atitude é a verdadeira lição da história. Quão freqüentemente agimos desse modo?

É dito que, tipicamente, tentamos discernir os motivos das pessoas que tentam nos ajudar. Contudo, esta história (e muitas outras como esta nas Escrituras) reafirma-nos o valor de agir sem pensar em nós mesmos. De fato, o amor de Jesus, como é demonstrado na cruz, é o principal exemplo de inexistência de amor-próprio. Existem muitas maneiras com as quais nós, como indivíduos, podemos abençoar os outros com atos de serventia, desde hospitalidade até cortesia comum. A Palavra de Deus usa histórias como esta de 2Reis que, delicadamente, nos orienta a servir as pessoas ao nosso redor sem pensar em nós mesmos.

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