Texto de Estudo

Neemias 8:5:

5 E Esdras abriu o livro perante à vista de todo o povo; porque estava acima de todo o povo; e, abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé.

INTRODUÇÃO

Com o muro da cidade reconstruído, as portas assentadas, e dados os primeiros passos para a consolidação, Deus interrompe a obra. As necessidades materiais haviam sido supridas. Agora era hora de se concentrar nas necessidades espirituais do povo de Jerusalém. Por isso, Neemias chamou Esdras para fazer a reforma mais importante: o reavivamento espiritual. Os capítulos 8 a 13 de Neemias relatam esse ministério espiritual: a instrução do povo (8), a confissão dos pecados (9), a consagração dos muros (10-12) e a purificação da comunhão (13).

Na lição de hoje, veremos quais foram os mecanismos que forjaram e impulsionaram o avivamento espiritual desencadeado nos dias de Neemias.

 

RESGATANDO A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

“Era o primeiro dia do sétimo mês” (v. 2), o equivalente judaico ao Ano Novo. O sétimo mês (meados de setembro), era uma época especial no calendário dos judeus, pois o povo comemorava a Festa das Trombetas no primeiro dia, o Dia da Expiação no décimo dia e a Festa dos Tabernáculos do décimo quinto ao vigésimo primeiro dia (Levíticos 23:23-44). Era a ocasião perfeita para a nação colocar a sua vida espiritual em ordem diante do Senhor. 

Em suas memórias, Neemias registra que neste dia todo o povo se reuniu na praça que ficava em frente à Porta das Águas e pediu a Esdras para que lesse o Livro da Lei que Deus tinha dado a Moisés (v. 1). É provável que consistisse no rolo completo da Torá – os cinco livros de Moisés.

Esdras, o sacerdote e escriba, era um homem que se dedicava ao estudo da Palavra do Senhor (Esdras 7:10). Falar e ensinar a todo o povo reunido na praça principal da cidade, sem os modernos meios de transmissão, deve ter sido uma tarefa bastante difícil, mas ele o fez. Lembre-se de que a leitura e explicação das Escrituras duraram sete dias, durante seis horas por dia (vv. 3,18).

Do alto de um púlpito de madeira feito especialmente para a ocasião, Esdras começou a ler a Torá, de modo que todos pudessem vê-lo e ouvi-lo (v. 3). Junto a ele havia 13 homens, que talvez fossem os líderes representando as tribos (v. 4), e uma equipe de estudiosos que se encarregou de explicar as Escrituras ao povo (vv. 7,8). Na praça lotada, em frente ao Portão das Águas, o que se podia perceber eram os ouvidos e olhos atentos de“homens, mulheres e crianças que já tinham idade para entender”(vv. 2,3, NBLH). Eis aqui uma preciosa verdade: antes de entrar no coração da pessoa e liberar seu poder transformador, a Palavra de Deus precisa ser compreendida por quem ouve ou lê.  O conteúdo da Bíblia não é mágico! Só ler não resolve! É necessário ler e entender (cf. At. 8:26-39).

Atarefa foi dobrada, pois a leitura era feita em hebraico e, então, os levitas vertiam para aramaico, língua falada pelos judeus pós-exílicos. Na sequência, eles explicavam o que Esdras acabara de ler, para que o povo pudesse compreender, na prática, o que significava guardar a Lei de Deus (v. 8). 

Esdras e os levitas foram os primeiros de uma extensa linhagem de pregadores que explicam a Bíblia. Esse método tem sido abençoado por Deus ao longo dos séculos e continua a ser um instrumento eficaz para levar os cristãos à maturidade espiritual. Pregações textuais e temáticas podem, com frequência, ser inspiradoras e úteis, porém seus benefícios espirituais não se comparam aos resultados alcançados por ministérios semelhantes ao de Esdras. Abençoados são os cristãos que têm o privilégio de ouvir pregações expositivas sobre a Escritura. 

O povo entendeu a mensagem divina, e, como resultado, sobreveio um poderoso avivamento no meio deles. Houve um quebrantamento verdadeiro, e não um simples remorso (v. 9).  A verdadeira renovação espiritual só vem quando indivíduos saem da religiosidade e apatia moral para com Deus, e se voltam para ele em arrependimento e fé. E isso envolve submissão às Escrituras. 

Assim, podemos afirmar que a maior reforma que Neemias implementou em Jerusalém não foi a reconstrução do muro e da cidade destruída. Foi a restauração da autoridade da Palavra de Deus sobre o povo, pois sem tal restauração a cidade seria completamente vulnerável. 

Outra verdade inconteste é que somente o ensino sério da Palavra de Deus produz verdadeiro avivamento no meio da igreja local. Nos nossos dias, há uma onda de movimentos evangelísticos produzidos por ação humana com o objetivo de atrair multidões a uma busca frenética por novidades e modismos. Tais movimentos carecem da base fundamental e consistente, que é o ensino da Palavra de Deus.

Na história do povo de Deus, não existe reavivamento sem Palavra. Há uma profunda conexão entre o ensino fiel das Escrituras e o reavivamento. Sempre que a Palavra de Deus é exposta com poder, há uma profunda manifestação do Espirito, gerando despertamento espiritual na vida do povo e crescimento da igreja. 

Todos os verdadeiros avivamentos na história do povo de Israel e no seio da Igreja, ao longo dos séculos, só tiveram resultados duradouros quando começaram e prosseguiram alicerçados na Palavra de Deus. Avivamentos sem a Palavra de Deus são apenas movimentos que passam com o tempo e não geram mudanças significativas na vida e no comportamento das pessoas envolvidas. O avivamento, no tempo de Neemias, teve a marca do ensino da Palavra de Deus. 

 

RESTAURANDO A AUTORIDADE DA LIDERANÇA VOCACIONADA

Quando Esdras trouxe o Livro da Lei para ser lido, o clima era de reverência, de respeito e atenção à Palavra de Deus. As pessoas não ficavam andando de um lado para o outro nem conversando distraídas. Não havia dispersão, distração nem enfado.Eles estavam atentos não ao pregador, mas ao Livro da Lei. Não havia esnobismo nem tietagem, mas fome da Palavra.Todos queriam ouvir e entender a mensagem.

Quando abriu o livro, todo o povo se pôs em pé em reverência à leitura da Palavra de Deus (v. 5). Aqui temos o fundamento bíblico ao saudável hábito de se colocar em pé quando se lê a Palavra de Deus nas igrejas.Porém, é bom salientar que os judeus presentes na ocasião não apenas ficaram em pé; eles prestaram atenção à leitura. Reverenciar a Palavra não significa apenas ficar em pé e continuar distraído ou distrair os demais. Reverência se presta com os ouvidos atentos à Palavra, que é viva e eficaz. Esse deve ser o comportamento dos crentes em Jesus nas igrejas locais. Alguém pode escutar, mas não ouvir a leitura da Palavra e sua explicação, por estar desatento durante a ministração. 

A autoridade espiritual restaurada é sensível aos sentimentos do povo. Com a lei de Deus na mente e no coração, o povo teve uma reação surpreendente: “todo o povo estava chorando enquanto ouvia as palavras da Lei”(Neemias 8:9 NVI). Antes, estavam ocupados em ter algum conforto material. Agora, a exposição das Escrituras lhes trouxe convicção espiritual. Entenderam que estavam longe de Deus e que era necessário mudança nas práticas diárias! Choravam por estarem vivendo em pecado (cf. Romanos 3:20). Geralmente, em todo reavivamento genuíno na história, sempre houve dois pontos altos. Primeiro, sempre houve exposição da Palavra de Deus; segundo, sempre houve uma mobilização espontânea como resposta por parte do povo de Deus. 

O primeiro resultado da leitura e explicação da Palavra é que ela causou muita tristeza e convicção da culpa, pois tomaram consciência de que a Lei de Deus havia sido infringida. Quando Esdras, Neemias e os levitas viram que o povo estava arrependido e chorava, lhes disseram: “Este dia é consagrado ao Senhor, vosso Deus, pelo que não pranteeis, nem choreis”(v. 9). Não era hora para tristeza, mas para alegria, porque Deus fora bondoso e perdoara o pecado deles (vv. 9-11). 

A autoridade espiritual restaurada é expressa pela santidade silenciosa da comunhão entre irmãos. Todo o povo deveria celebrar! Ninguém poderia ficar de fora, nem mesmo aqueles que nada tinham preparado, isto é, os que passavam necessidades. Esdras, Neemias e os levitas, cuidaram para que a celebração não fosse egocêntrica. Como eles fizeram isso? Associaram a celebração à doação: “Vão agora para casa e façam uma festa. Repartam a sua comida e o seu vinho com quem não tiver nada preparado”(v. 10, NTLH). Isto também deu àqueles que estavam padecendo de necessidades uma oportunidade para celebrar. 

Depois da convicção do pecado, a Palavra de Deus trouxe alegria ao povo.Havia um clima de festa espiritual e também de festa nacional. E toda aquela alegria era resultado do avivamento genuíno provocado pela exposição da Palavra de Deus. Na realidade, era alegria vinda de cima do céu, da parte de Deus. Era “a alegria do Senhor” (v. 10). Não era euforia humana de origem puramente emocional. As emoções não podem ser excluídas da manifestação de alegria, pois fazem parte de nosso ser. 

O povo experimentou a alegria porque mais uma vez o Senhor se tornou o centro de sua vida, e isto se deveu principalmente à atuação de uma liderança espiritual vocacionada por Deus. Se por um lado, quando não há liderança, o povo padece, por outro, quando a liderança não é vocacionada e chamada por Deus, o povo caminha rumo à destruição.

 

REAVIVANDO A IDENTIDADE DAS PESSOAS

Os versículos finais do capítulo 8 de Neemias ensinam que quando obedecemos e servimos ao Senhor porque nos regozijamos nele, nosso serviço será prazeroso (vv. 13-18).

Esdras continuou o “congresso bíblico” durante toda a semana. E o povo voltava a cada dia à praça, para aprender mais da Lei. E foi outra vez reavivado pela celebração da Festa dos Tabernáculos, que representava a gratidão pela colheita do fim do ano e a lembrança da forma de vida no deserto, após o êxodo do Egito, quando Israel habitou em cabanas, protegido por Deus. Era o reavivamento das tradições bíblicas. Foi uma semana de celebrações, uma semana de Bíblia, uma semana de “mui grande alegria, terminando com uma assembleia solene e espiritual”(vv. 17,18; cf. Números 29:35). 

Não basta o povo de Deus ter uma bela estrutura organizacional, se não tiver vida espiritual! O exterior se mostra belo, mas não reflete o interior. Jerusalém estava repovoada, os muros reconstruídos, mas faltava uma reforma espiritual. E ela aconteceu! Se esta restauração não houvesse sido feita, Jerusalém estaria inacabada. Por isso, por meio da Palavra, o Espírito Santo renovou as forças espirituais do povo de Judá. A Bíblia foi exposta e o povo respondeu praticando-a. As Escrituras causaram grande impacto na vida do povo. Esta, com toda certeza, foi a maior reforma implementada por Neemias em Jerusalém! 

 

CONCLUSÃO

Somente após o ensino ter sido ministrado na praça de Jerusalém, foi que irrompeu um dos maiores avivamentos da história bíblica. O povo se alegrou com o Templo construído sob a liderança de Esdras. Ele jubilou com a restauração dos muros sob a direção de Neemias, mas o aviamento chegou quando todos ouviram e entenderam a mensagem da Palavra de Deus. 

Você sente necessidade dessa renovação pessoal em sua vida espiritual? O seu tempo dedicado às Escrituras e à oração anda limitado pelos muitos compromissos (por bons que sejam) e agenda cheia? A história de Neemias, ainda que pessoal, é de grande alcance. Ele deve ter lido com frequência nos Salmos sobre esse Deus restaurador: “Restaura-nos ó Deus! Faze resplandecer sobre nós o Teu rosto, para que sejamos salvos” (Salmos 80:3). E Deus realmente fez resplandecer seu rosto sobre seu povo – e está pronto a fazê-lo novamente.

É tempo de a Igreja reunir-se sob a Palavra de Deus para renovar sua aliança com o Senhor. Precisamos ter esse senso da glória de Deus em nossos cultos, com arrependimento, confissão, adoração e percepção clara de quem é Deus e o que ele faz. Precisamos olhar para o passado e ver as lições da história, pois o mesmo Deus fez, faz e fará maravilhas na vida do seu povo. 

 

 

 

 

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