Texto de Estudo: 2 Timóteo 2:8-15

Pensamento Embaraçado

Você já pensou ter entendido uma ideia com clareza e tropeçou nas palavras, frustrando-se ao explicá-la para outra pessoa? Até algo simples, como fazer um bolo de amendoim, dos chamados "bolos de liquidificador", pode se tornar complexo ao tentarmos mover da esfera do "algo que fazemos" para o algo "que ensinamos como fazer". Isso é ainda mais verdade quando se trata de um pensamento ou convicção. Quando chega a hora, temos uma porção de ideias embaraçadas, vagando na cabeça, que têm muito a ver com a forma como somos e no que acreditamos.

Há grande valor em ser capaz de articular pensamentos e crenças. Transformar ideias em palavras, sejam escritas ou faladas, força-nos a sermos específicos e mais concretos. Também nos força a fazer e a responder perguntas duras. Podemos ter de reavaliar. Assim, temos oportunidade de afirmar ou de corrigir nossas crenças. O resultado de tal exercício deve sempre ser um entendimento mais profundo e uma convicção maior de nossas crenças.

Pensamento embaraçado pode ser especialmente perigoso quando se trata de nossas crenças sobre Deus, acerca da Bíblia e da fé. Crenças embaraçadas podem ser abaladas quando desafiadas. Até pior; podem nos levar a falsas crenças, se não estiverem baseadas na verdade. Crenças claramente articuladas ajudam a solidificar a fé e podem ser compartilhadas.

Na passagem de hoje, Paulo usa um hino para encorajar seu protegido, Timóteo, a pensar e a ensinar sobre Jesus Cristo. Ele deixou o assunto claro: "Lembra-te de Jesus Cristo" (v. 8). Ele poderia ter pulado direto para o versículo 14. Ao invés disso, gastou tempo lembrando Timóteo o que ele deveria lembrar sobre Jesus.

Por que lembrar-se de Jesus?

A ordem para lembrar-se de Jesus Cristo, à primeira vista, pode parecer bastante estranha. Como poderia Timóteo esquecê-lo? John Stott responde a essa pergunta:

[...] a memória humana é notoriamente fraca: é possível que alguém se esqueça de seu próprio nome! O epitáfio o sobre o túmulo de Israel levava as palavras: "eles logo se esqueceram", e foi para impedir o nosso esquecimento do Cristo crucificado que ele, deliberadamente, instituiu a Ceia como uma festa de recordação. Mesmo assim, a Igreja esquece-se frequentemente de Jesus Cristo, absorvendo-se ora em infrutíferos debates teológicos, ora em simples atividades humanitárias, ora em insignificantes programas restritos em seu círculo. 3

Enfatizando tanto a humanidade ("descendente de Davi", v. 8) quanto a divindade de Jesus ("ressuscitado de entre os mortos", v. 8), Paulo lembrou a Timóteo que Jesus é o fundamento central de nossa fé. Não somente ele era uma figura real e histórica (oposta a uma ideologia embaraçada), mas Jesus também representava a entrada física de Deus no âmbito terreno, pelo qual executou seu plano de salvar homens e mulheres de si mesmos.

Paulo explica que a salvação e a glória eterna estavam fundadas apenas em Jesus Cristo (v. 10, cf. Atos 4:12). Por essa razão, estava disposto a sofrer a dureza e a humilhação de ser acorrentado como um criminoso comum (v. 9) pelo privilégio de pregar a respeito de Jesus.

Mais do que apenas factoides interessantes que ajudam você a vencer na gincana bíblica, estes são os componentes principais da nossa fé. Sem Jesus, sua completa humanidade e divindade, sem sua vida, morte e ressurreição, sem sua promessa de glória eterna, nossa fé esmigalha-se no chão. Não há nada mais no que ter fé. Não é de se admirar que Paulo tenha sentido tão fortemente a importância de nos lembrarmos de Jesus. Quando lembramos, a fé é afirmada e fortalecida. Nossos corações são impulsionados a amar a Deus mais profundamente. A coragem de perseverar é reforçada. Nossa paixão é estimulada à ação no que acreditamos, vivendo-a e compartilhando-a.

O que devemos lembrar sobre Jesus?

Nesta curta lição, não temos espaço adequado para detalhar tudo que devemos lembrar sobre Jesus (cf. João 21:25). Contudo, Paulo dá uma ideia das coisas que devemos recordar, pegando emprestado de um poema ou hino batismal que, provavelmente, era familiar às primeiras igrejas. Encontramos esse hino de louvor nos versículos 11 a 13.

A primeira estrofe do hino proclama: "Se já morremos com ele, também viveremos com ele" (v. 11b, cf. Romanos 6:8). O simbolismo do batismo captura a ideia de morrer com Cristo e de ressuscitar para a nova e eterna vida. Eis uma declaração imensa na qual devemos embrulhar nossas mentes. E ela ainda reitera que Jesus é a chave da salvação e resume a principal transformação que acontece em nossas vidas quando nos alinhamos a ele. Paulo esclarece que, ao "morrer" com ele, nosso velho eu, nossa natureza humana e pecaminosa, "foi destruído" (Romanos 6:6) pela obra de Cristo. Isso seria razão para louvarmos a Jesus pelo restante de nossas vidas. Mas espere... Há mais! Não ficamos mortos. Assim como "Cristo foi ressuscitado dos mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida" (Romanos 6:4).

A segunda estrofe faz eco às palavras de Jesus, repetidas vezes nos Evangelhos: "Aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mateus 10:22; Mateus 24:13Marcos 13:13). Ela traz uma promessa direcionada à perseguição que Timóteo e a Igreja enfrentavam por causa da fé. Paulo, dentre todas as pessoas, entendia isso, pois escrevia da prisão (v. 9), enfrentando o que acreditava ser sua condenação e execução (4:6). Paulo exortou Timóteo a "ser forte" (2:1) e a participar dos sofrimentos (2:3) com ele. Ele estava estabelecendo o exemplo e seguiu-o com a promessa: "se perseveramos, também com ele reinaremos" (v. 12). Isso concorda com a visão que João relatou em Apocalipse 22:4-5; com alegria e encorajamento, sabemos que nosso serviço fiel será recompensado.

A promessa é acompanhada de uma advertência, na terceira estrofe: "se o negamos, ele, por sua vez, nos negará" (v. 12b), o que era quase uma citação direta das palavras de Jesus em Mateus 10:33. Se a promessa de reinar com Cristo não era motivação suficiente para perseverar, certamente a trágica possibilidade de ser negado por ele seria o bastante para levar qualquer crente verdadeiro a caminhar sobre brasas. O aviso é rapidamente mitigado pela reafirmação, na quarta estrofe, de que nossa salvação não depende da própria fé fraca e inconstante, mas da promessa divina.4

Como nos lembramos de Jesus?

Lembramo-nos de Jesus por meio de nosso estudo da Palavra de Deus. Paulo recomendou diligência, uma busca apaixonada da verdade, para Timóteo enquanto ele vivia seu chamado para lidar de maneira precisa com a Palavra de Deus. Nem todos são chamados para serem pastores, como Timóteo foi, mas somos todos chamados para sermos fieis estudantes da Palavra de Deus (v. 15). Ao estudarmos diligentemente, ficamos expostos à verdade sobre Jesus. E, quanto mais aprendemos sobre ele, mais nos lembramos do que ele fez, e mais o amamos.

Lembramo-nos de Jesus com nosso ensino. Paulo instruiu Timóteo não apenas a ensinar, mas também a ensinar os outros a ensinarem (2:2) e a lembrarem esses professores (ou ajudar-lhes a lembrar) as coisas que ele aprendera sobre Jesus Cristo e seu evangelho (v. 14). Nenhum de nós deve se ver somente como estudante da Verdade. Temos uma responsabilidade de passar adiante o que aprendemos. Se levarmos a Grande Comissão a sério, estaremos constantemente à procura de oportunidades para ajudar os outros a crescerem na Verdade.

Lembramo-nos de Jesus fazendo a adoração – não apenas em nossa adoração formal, representada pelo hino batismal citado por Paulo, mas também na que realizamos diariamente. Paulo lembrou a Timóteo que, em seu trabalho, estudo e ensino, ele estava se apresentando como oferta de adoração ao Senhor (v. 15, cf. Romanos 12:1). Quando continuamos a crescer em nosso conhecimento e amor por Jesus, inspiramo-nos a adorá-lo mais frequente, rica e apaixonadamente.

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3 STOTT, John R.W. Tu, porém: a mensagem de 2 Timóteo. São Paulo: ABU Editora, 1982, p. 27.

4 HINSON, E. Glenn. I e II Timóteo e Tito. In. ALLEN, Clifton J. Comentário bíblico Broadman: Novo Testamento. Rio de Janeiro, JUERP, 1985, p. 414.

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