A Fé em Xeque

 

Crise financeira. Um casamento desfeito. A morte inesperada de uma pessoa amada. Fracasso moral. Essas situações e incontáveis desafios trágicos causam-nos dor, sofrimento, ansiedade e incerteza. Elas também provocam a elaboração de perguntas difíceis – sobre nós mesmos, acerca dos outros e, mais especialmente, concernentes a Deus. São momentos em que, diante de desafios, nossa fé pode ser colocada à prova.

Por que somos tentados a colocar Deus na berlinda quando mais precisamos dele? "Por que deixou que isso acontecesse comigo?"; "Você me odeia tanto assim?"; "Se é assim que você trata seus filhos, realmente vale o esforço ser cristão?". Nós sabemos, logicamente, que Deus não parou de nos amar, nem está nos punindo por meio dessas circunstâncias; mas, de alguma maneira, ainda O culpamos em pensamento: "Já que o sirvo, Ele deveria evitar que isso acontecesse".

Na passagem de hoje, Paulo desafia os leitores, por intermédio de sua mensagem e de seu exemplo, a reconhecerem a fidelidade de Deus em meio à adversidade, a verem o sofrimento por Sua causa como um privilégio e a celebrarem a oportunidade de servirem os outros por meio de provações.

O Sofrimento de Paulo e dos Filipenses

Paulo tinha um relacionamento singular com os filipenses. Seu período, levando o Evangelho à cidade deles e fundando a primeira igreja na Europa, fora incrivelmente encorajador. Deus deixara bem óbvio (ao bloquear todos os outros caminhos e, então, dando a Paulo uma visão) que queria que o apóstolo fosse até ali. Isso foi confirmado por uma resposta favorável ao Evangelho e um livramento milagroso. De fato, a igreja em Filipos tornou-se uma das mais leais em apoio a Paulo – moral, espiritual e financeiramente.

As experiências do apóstolo não foram todas positivas, pois enfrentara grande sofrimento. Depois de libertar uma escrava endemoninhada e vidente, com Silas, foi arrastado até o mercado, acusado diante dos magistrados, traído pela multidão, despido, espancado com varas e lançado à prisão. Depois de sua soltura, foi expulso da cidade.

Os cristãos filipenses testemunharam tudo isso e comoveram-se de compaixão quando ouviram a respeito de mais sofrimento de Paulo em Tessalônica e sobre sua prisão em Roma. O apóstolo foi claramente inspirado por Deus, como pôde demonstrar-lhes, a escrever sobre a maneira apropriada de responder ao sofrimento.

Posteriormente, era a vez de Paulo encorajar os filipenses em seu sofrimento. Eles estavam atribulados pela situação do apóstolo, mas também enfrentavam dificuldades financeiras e oposição dos que se opunham ao Evangelho. No topo de tudo, a pressão dos judaizantes ameaçava a igreja com conflitos internos. Eis o contexto no qual Paulo escreveu: "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos" (4:4).

Como Reagir ao Sofrimento

O princípio central desta passagem, e a ideia principal que Paulo queria que os filipenses abraçassem, pode ser encontrado no versículo 21: "Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro”. Se eles pudessem chegar a esse ponto, nenhum sofrimento poderia fazer com que tirassem o foco de Jesus, e eles seriam verdadeiramente fortalecidos para se "alegrarem" em seu compromisso cristão.

Valendo-se de seu próprio regozijo (v. 18), Paulo demonstrou aos filipenses que tinha uma perspectiva eterna da vida (Certamente seu uso do termo lembrou-lhes das histórias de Paulo e de Silas cantando louvores na prisão). O que era realmente importante para ele era sua própria salvação e que o Evangelho continuasse a ser pregado.

Paulo expressou sua confiança (v. 19-20) de que suas provações momentâneas e seu sofrimento nas mãos do governo romano fossem apenas temporários. De modo algum ameaçavam seu destino eterno ou o ministério. "Qual é a pior coisa que eles podem fazer – me matar?" Paulo colocava sua confiança na resposta de Deus às orações e na provisão do Espírito de que, de uma maneira ou de outra, seria liberto. Contanto que Jesus continuasse a ser exaltado, não se importava com a forma que o livramento assumisse.

A ousada declaração do apóstolo, no versículo 21, corresponde ao testemunho em uma frase: "Minha vida inteira está centrada em meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A morte apenas me trará para mais perto dele". Ele prossegue (v.22-26) explicando o dilema que tal atitude colocava nele. O que deveria escolher? A morte era muito mais desejável, pois não somente poria fim ao sofrimento, como o colocaria na presença de Jesus que era, afinal, seu objetivo definitivo. Contudo, sabia que, permanecendo vivo, beneficiaria seus amigos filipenses e todos a quem deveria pregar o Evangelho.

Sabemos que a "escolha" de Paulo foi apenas hipotética. Se viveria ou morreria, não cabia a ele decidir. Mas, na declaração, deixou claro aos filipenses que, por causa deles, alegremente sacrificaria a alegria de estar com Cristo para continuar sofrendo. Tratava-se de seu sofrimento por eles e pelo Evangelho. À luz de tudo, Paulo desafiou os filipenses a não cederem à tentação de se afastarem do compromisso que fizeram com Cristo por causa do sofrimento. Por isso, implorou-lhes que abraçassem a oportunidade de sofrerem em nome de Cristo.

Ajuste de Atitude

Paulo seguiu isso com um conselho para adotarem tal atitude (v. 27-30), que se provará útil também a nós: 1) Você representa Jesus Cristo; então, assegure-se de que sua vida corresponda ao Evangelho; 2) Você precisa de seus irmãos crentes; então, assegure-se de que estão juntos – apoiando e encorajando uns aos outros; 3) Sua causa é de importância definitiva; então, ponha de lado suas diferenças triviais e trabalhe junto de seu irmão pela causa do Evangelho; 4) Deus vence no fi m; então, não se surpreenda, nem se atemorize quando os inimigos opuserem-se à obra que está fazendo para ele; 5) Você sabe o quanto Cristo sofreu em seu favor; então, considere um privilégio crer nele e sofrer por ele.

A realidade é que nosso Soberano Deus poderia evitar que maldades e tragédias acontecessem conosco, mas Ele está mais interessado em nosso crescimento a longo prazo que no conforto, a curto. Logo, às vezes, permite que desafios (até sofrimentos) venham. Daí, temos uma escolha: podemos murmurar e reclamar, questionar Deus, abrir mão de nosso compromisso com Cristo; ou abraçar a oportunidade e perguntar "O que posso aprender a partir desta prova?".

Tiago 1:2-3 lembra a atitude apropriada diante dessas oportunidades: "Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança".

 

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