A vida exige muito de nós. Há conjuntos de regras pelas quais devemos conduzir nossa vida. Algumas regras são escritas e executadas pelos governos. Outras são aceitas em nome da “cortesia comum”, “maneiras locais de se fazer as coisas”, “correção política.” Mesmo a “Regra de Ouro” pode se encaixar aqui em certo sentido. Para a maioria das coisas, estas instruções para a vida nos servem bem. Mas há momentos em que entram em confl ito umas com as outras. E quando esse embate envolve a lei terrena, é com certeza problemático.

Escravo Fugitivo

No caso de Onésimo, este conflito era grave. Ele era um escravo fugitivo. Todo o sistema sócio-econômico da antiga Roma dependia fortemente da escravidão. Penas sérias – qualquer desde o encarceramento a chicotadas, amputação ou até mesmo morte – aguardavam o desertor que era pego.

Warren Wiersbe explica:

“Se um escravo fugisse, o dono registrava o nome e a descrição com os ofi ciais, e o escravo estaria na lista de “procurados”. Qualquer cidadão livre que encontrasse um escravo poderia assumir a custódia e até interceder junto ao proprietário. O escravo não era obrigatoriamente devolvido ao dono, nem ele era automaticamente sentenciado à morte. Enquanto é verdade que alguns senhores de escravos fossem cruéis (é dito que um homem jogou seu escravo em um tanque cheio de piranhas!), muitos deles eram razoáveis e humanos. Afi nal, um escravo era uma propriedade pessoal cara e útil, e custaria ao proprietário perdê-lo.”

Não sabemos como Onésimo entrou em contato com Paulo. Maxie Dunnam escreve:

“Como Onésimo foi levado a buscar Paulo não se sabe, mas não há testemunho mais veemente do poder do evangelho irradiando da vida de alguém, que esta história de um escravo sem amigos, buscando um rumo na vida através de um labirinto de confusão, sofrimento e então, instintivamente se volta para Paulo que agora está na prisão por causa do evangelho. Você teria tido grande dificuldade em plantar na mente de Onésimo qualquer dúvida sobre a graça e o amor providenciais de Deus. Um caminho muito longo ele percorrera em sua busca por liberdade, por muitas estradas e através de muita dor, desde que fugira de seu dono. E aqui estava ele – convertido através do ministério do mesmo homem por meio de quem seu possuidor se convertera, servindo amavelmente um prisioneiro do Senhor que era um querido amigo do senhorio de quem ele escapara.”

Independentemente disso, esta situação expõe um retrato muito humano e íntimo do apóstolo Paulo. Podemos pensar em Paulo como um disciplinador caracterizado em 1 Coríntios 5 Mas aqui está uma descrição de um homem muito pessoal e diplomático, escrevendo a um amigo por causa de outro amigo, com tato e graça.

As pressões sobre Filemom provavelmente estavam pesadas. Não é difícil de imaginar a atitude de outros donos de escravos, pessoas com quem Filemom tinha negócios, amigos dele, e possivelmente parentes. Permitir que Onésimo passasse sem severas consequências estabeleceria um exemplo ruim. E se um dos escravos deles escapasse com a falsa esperança de uma leniência similar? É claro, isto é especulação, mas à partir do que vimos sobre a escravidão em nosso próprio passado fornece algumas pistas do que pensarmos deste assunto.

A Lei do Amor

Paulo poderia ter decidido usar sua autoridade como apóstolo na questão e ordenado Filemom a respeito. Mas esta carta é um bom exemplo do mesmo conselho que ele deu aos cristãos colossenses: “Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades. O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um” (Colossenses 4:5 6, NVI)

Miquéias 6:8 vem à mente: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e o que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e Andes humildemente com o teu Deus.”

Paulo nunca perdeu de vista seu chamado e propósito iniciais na vida – transformar excluídos em incluídos. Ele seguiu o exemplo de Cristo em encontrar maneiras de tornar em próximas as pessoas com quem ele aparentemente tinha pouco em comum. Afi nal, o que um escravo fugitivo tinha em comum com o grande apóstolo? Contudo, eles tinham isto em comum: o próprio apóstolo era um prisioneiro em cadeias.

De uma maneira graciosa e humilde, o apóstolo apelou aodono deste escravo. Ele apelou ao seu coração, sua amizade, sua integridade e sua fé. Havia outras pressões sobre Filemom. Como anfi trião de uma igreja que adorava em sua casa, ele tinha uma obrigação de viver como exemplo de cristão. 

No Limite

As divisões aqui são agudas. Filemom estava no tênue limite entre as obrigações para com o mundo e a direção do Senhor. Onésimo estava no limite entre quem ele havia sido e quem se tornara, agora que tinha encontrado o Senhor, através de Paulo. E Paulo, o prisioneiro, ofereceuse para pagar ao dono o que o escravo devia. Você vê a imagem de Cristo aqui? Como prisioneiro em uma cruz, ele ofereceu liberdade a um criminoso que havia sido pego e condenado e fez o mesmo a todos que aceitassem o preço pago pelo débito deles com Deus.

Paulo assegurou a Filemom que este antigo fugitivo inútil era agora útil não apenas para seu senhor, mas também para Paulo. O apóstolo usou um jogo de palavras aqui: Onésimo signifi ca “útil” ou “lucrativo”. Ele havia sido redimido e seu valor se elevara a algo mais do que uma propriedade funcional. Ele era agora um valioso membro de uma comunidade, um irmão para Paulo exatamente como Filemom o era. E nesse relacionamento próximo, Paulo escreve: “Certo, como estou, da tua obediência, eu te escrevo, sabendo que farás mais do que estou pedindo” (Filemom 21). Assim como Paulo esperava que Onésimo honraria seu nome, sendo útil, ele também esperava que Filemom agisse de uma maneira consistente com seu nome: “afetivo” ou “aquele que é bondoso.”

O único Cristo que Onésimo havia visto era o Cristo no coração de Paulo, que compartilhou seu amor e sua graça; uma graça que tinha sido recebida e passada adiante. Este também não é nosso chamado? É fácil ver as pessoas pelo fi ltro dos tipos: escravo fugitivo, imigrante ilegal, executivo do mercado fi nanceiro, e a lista segue. Como Jesus, Paulo via as pessoas como vencedoras em potencial a serem vistas a partir do coração.

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