Texto de Estudo
Mateus 7:7:
7 Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.
INTRODUÇÃO
Parece natural que Jesus tenha passado de nosso relacionamento com os homens para nosso relacionamento com o nosso Pai celeste, principalmente porque o nosso dever cristão para com eles (não julgá-los, não lançar pérolas aos porcos e ser prestativos sem ser hipócritas) é por demais difícil sem a graça divina.
Esta passagem não é a primeira instrução sobre a oração no Sermão da Montanha. Jesus já nos advertiu contra a hipocrisia dos fariseus e o formalismo dos pagãos, e nos deu seu próprio modelo de oração. Agora, entretanto, ativamente nos incentiva a orar, dando-nos algumas grandes promessas de sua graça. Pois nada é melhor para nos levar à oração do que a convicção plena de que seremos ouvidos.
UM MANDAMENTO À ORAÇÃO
Jesus procura imprimir suas promessas em nossa mente e memória por meio dos golpes do martelo da repetição. Primeiro, suas promessas vêm ligadas a ordens diretas: “Pedi... buscai... batei...” (v. 7). Talvez tenham sido deliberadamente colocadas em escala ascendente de insistência. Em grego há duas formas imperativas do verbo. A primeira é o imperativo aoristo, que pronuncia uma ordem definida e limitada: “Feche a porta”, por exemplo, seria um imperativo aoristo. Mas também existe aoristo presente, que dá caráter de continuidade à ordem que se reparte, como se fosse dito: “Feche sempre as portas”. Os imperativos que aparecem aqui estão no aoristo presente, e seu significado, portanto, é: “Peçam sempre, e sigam pedindo; procurem sempre, e sigam procurando; batam sempre, e sigam batendo”. Todos os três verbos demonstram a persistência com a qual devemos fazer nossos pedidos conhecidos a Deus.
Jesus nos diz que devemos persistir na oração; diz que não devemos desanimar. É evidente que nisto reside a prova de nossa sinceridade. Queremos realmente o que estamos pedindo? É algo de tal natureza que podemos voltar a levá-lo, uma e outra vez, ao trono da graça divina? Porque a prova do valor de qualquer desejo sempre será se posso pedir a Deus por ele, em oração. Jesus estabelece, nesta passagem, a dupla realidade de que Deus sempre responderá nossas orações à sua maneira, em sabedoria e amor; e que devemos levar ante Deus uma vida de infatigável oração, que demonstre a validez das coisas pelas quais pedimos, e a validez de nossa sinceridade ao pedi-las.
Examinemos, pois, antes de tudo, a tríplice exortação. Em seguida, vem a promessa que acompanha a exortação e demonstra que a nossa obediência ao mandamento não será debalde. A forma mais simples do mandamento é:
1. Peçam. Pedir implica humildade e consciência de necessidade. O verbo é usado com referência a uma petição que um inferior dirige a um superior. Pedir também pressupõe fé num Deus pessoal com quem o homem pode manter comunhão. Quando pedimos, esperamos uma resposta. Daí, isso implica fé num Deus que pode responder, e que responderá mesmo, ou seja, fé num Deus que é Pai.
É importante não confundir o que Jesus está dizendo com o estabelecimento de condições que, se cumpridas, levarão Deus a nos responder. Jesus não está dizendo que se você pedir com fervor suficiente, e se for bastante persistente, Deus responderá sua oração. Ele simplesmente está dizendo que quando sentirmos uma necessidade tão intensa que nos leve ao Senhor repetidas vezes, não devemos nos sentir desencorajados, mesmo se a resposta parecer atrasada. Deus verdadeiramente se preocupa com aquilo que importa para seus filhos. E Deus responde às nossas súplicas dando-nos boas coisas.
2. Busquem. Buscar é pedir e também agir. Inclui a petição fervorosa, porém, isso só não é suficiente. Uma pessoa deve ser ativa em seu empenho para obter a satisfação de suas necessidades. Por exemplo, o cristão não deve simplesmente orar por um profundo conhecimento da Bíblia, mas deve igualmente perscrutar e pesquisar diligentemente as Escrituras (João 5:39; Atos dos Apóstolos 19:11), assistir aos cultos (Hebreus 10:25), e, acima de tudo, se esforçar por viver em harmonia com a vontade de Deus (Mateus 7:21-24,25; João 7:17).
Buscar é um nível mais profundo de oração do que apenas pedir. Às vezes, podemos estar em dúvida ou inseguros quanto ao que pedir e precisamos primeiro buscar a vontade de Deus antes de sabermos o que pedir. Porém, Deus fez uma provisão para nós, mesmo nesses tempos, como está escrito: “Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar [...]. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus” (Romanos 8:26-27, NVI).
3. Batam. Bater é pedir, e também agir e perseverar. O adorador bate repetidas vezes até que a porta se abra. Entretanto, na realidade, a perseverança já está implícita nos três imperativos, uma vez que todos estão no tempo aoristo presente. Porém, o que é implícito para os dois primeiros é explícito para o último, visto que a própria ideia de bater, biblicamente falando, já inclui a perseverança. O adorador continua batendo à porta do palácio do reino até que o Rei, que é ao mesmo tempo o Pai, abra a porta e o supra de tudo quanto carece (Lucas 11:5-8).
UMA PROMESSA
Jesus exemplifica suas promessas por meio de uma singela parábola (vv. 9-11). Ele desenha uma situação com a qual todos os seus ouvintes deviam estar familiarizados, isto é, uma criança achegando-se a seu pai com um pedido. Jesus escolhe seus exemplos com cuidado. Escolhe três, porque Lucas acrescentará mais um aos dois que temos em Mateus. Se o filho pedir pão, seu pai lhe dará uma pedra? Se o filho pedir um peixe, o pai lhe dará uma serpente? Se o filho pedir um ovo, o pai lhe dará um escorpião? (Lucas 11:12). Claro que não! Os pais, ainda que sejam maus, isto é, egoístas por natureza, amam os seus filhos e lhes dão boas dádivas.
Portanto, a força desta pequena parábola jaz mais no contraste do que na comparação entre Deus e os homens. É um argumento a fortiori: se os pais humanos, embora sendo maus, sabem dar boas dádivas a seus filhos, quanto mais o nosso Pai celeste, que não é mau, mas totalmente bom, dará boas coisas aos que lhe pedirem (v. 11)? Pois o que poderia ele deixar de dar agora aos filhos quando pedem, uma vez que já lhes garantiu exatamente isto, a saber, que podem ser seus filhos? Não há dúvida de que as nossas orações são transformadas quando nos lembramos de que o Deus de quem nos aproximamos é “Abba, Pai”, e infinitamente bom e gentil.
O professor Joachim Jeremias demonstrou a novidade deste ensino de Jesus. Ele escreve que, com a ajuda dos seus assistentes, examinou cuidadosamente a literatura relacionada com a oração dos judeus antigos, mas que em lugar nenhum dessa grande e rica, mas muito pouco explorada, literatura encontrou esta inovação de Deus como Abba. Abba era uma palavra de uso diário, conhecida em família. Nenhum judeu se atreveria a dirigir-se a Deus desta maneira. Jesus o fazia sempre e autoriza seus discípulos a repetirem a palavra Abba depois dele.
O que poderia ser mais simples do que este conceito de oração? Se pertencemos a Cristo, se Deus é nosso Pai, somos seus filhos, e a oração é a apresentação que lhe fazemos de nossos pedidos. O problema é que, para muitos de nós, a coisa parece simples demais, até mesmo simplista. Em nossa sofisticação, dizemos que não podemos crer nisso, e de qualquer modo isso não corresponde absolutamente à nossa experiência. Assim, voltamo-nos das promessas de Cristo sobre a oração para os nossos problemas com a oração.
Podemos extrair uma lição de tudo isto. Deus responderá sempre a nossas orações, mas o fará à sua maneira, e sua maneira será a da perfeita sabedoria e o perfeito amor que o caracterizam. Frequentemente, se respondesse a nossas orações tal como nós o desejamos, o resultado seria o pior possível, porque em nossa ignorância costumamos pedir coisas que, em vez de nos beneficiar, nos prejudicariam. Este dito de Jesus afirma não só que Deus responderá nossas orações, mas também o fará com sabedoria e amor. Podemos agradecer a Deus porque o seu atendimento às nossas necessidades é condicional, não depende apenas de pedir, buscar e bater, mas também de se o que desejamos, pedindo, buscando e batendo, é bom. Graças a Deus, porque ele atende a oração. Graças a Deus, que às vezes também não a atende.
É absurdo supor que a promessa “pedi, e dar-se-vos-á” seja uma garantia absoluta, sem condições; que “batei, e abrir-se-vos-á” seja um “abre-te, Sésamo” para todas as portas fechadas, sem exceção; e que ao agitar da varinha mágica da oração todo desejo se realizará e todo sonho se concretizará. Embora não seja difícil encontrar cristãos que assim pensem.
É certo que o Pai celestial não decepcionará seus filhos. Todavia, isso não significa que ele lhes dará sempre tudo quanto eles pedem. Significa que ele não lhes dará aquilo que lhes seria prejudicial. Ele dará “coisas boas”. Com base em Lucas 11:13 é válido concluir que o Pai Celestial dará a seus filhos o que ele tem de melhor a oferecer, o Espírito Santo. Não há nada melhor que possamos receber de Deus do que a presença viva e real dele em nossa vida, por meio da habitação do seu Espírito em nosso coração.
CONCLUSÃO
A oração parece ser uma coisa muito simples, quando Jesus fala sobre ela. Não obstante, é uma simplicidade ilusória; há muita coisa por trás. Primeiro, oração pressupõe conhecimento. Considerando que Deus só concede dádivas de acordo com a sua vontade, temos de esmerar-nos em descobri-la — pela meditação nas Escrituras e pelo exercício da mente cristã disciplinada nessa meditação. Segundo, oração pressupõe fé. Uma coisa é conhecer a vontade de Deus; outra é nos humilharmos diante dele e expressarmos a nossa confiança em que ele é capaz de executar a sua vontade. Terceiro, oração pressupõe desejo. Podemos conhecer a vontade de Deus e crer que ele pode executá-la, e ainda assim não desejá-la.
A oração é o principal meio ordenado por Deus para a expressão de nossos mais profundos desejos. E por isso que a ordem de “pedir — buscar — bater” está no imperativo presente e em escala ascendente, para desafio de nossa perseverança. Assim, antes de pedir, precisamos saber o que pedir e se está de acordo com a vontade de Deus; temos de crer que Deus pode concedê-lo; e precisamos genuinamente desejar recebê-lo. Então, as graciosas promessas de Jesus se realizarão.
Uma das grandes tragédias na igreja é termos pouca inclinação para orar. O maior convite no mundo é estendido a nós e, incompreensivelmente, quase sempre nos desviamos para outras coisas. Voltemos à salutar prática da oração constante!