Lucas 9:57-62Para tudo na vida é preciso ter coragem. Aprendemos desde pequenos a enfrentar o medo, as situações desconhecidas, as barreiras, e a superar as nossas limitações. Quando crianças enfrentamos o medo de escuro, de tomar injeções, de andar sozinhos. Depois criamos coragem para ir aos parques de diversões ou piscinas. Na escola enfrentamos a realidade de ficar sozinhos, longe dos pais por algumas horas diárias. Quando jovens enfrentamos a puberdade com todas as alterações bruscas provocadas em nosso corpo. A vida é uma sucessão de experiências, onde aprendemos coisas novas, fazendo escolhas.

Para ser cristão também é preciso ter coragem, muita coragem. Em nosso mundo ocidental dificilmente entendemos o que venha a ser isso, mas, no mundo islâmico, hindu ou comunista, a coragem é primordial para alguém converter-se a Cristo. Pessoas convertidas perdem empregos, sofrem perseguições, são expulsas da escola e podem chegar a ser presas. Seus bens podem ser confiscados, podem sofrer torturas físicas ou psicológicas, e até morrer! Porém, no mundo ocidental, também é preciso coragem para ser cristão. Seja aqui no Brasil, na Europa ou qualquer outro lugar. Para ser um cristão verdadeiro, autêntico, é preciso ter coragem.

Jesus caminhava para outra aldeia samaritana. Os samaritanos eram judeus mestiços e não tinham amizade com os judeus puros, pois estes os consideravam inferiores. Jesus estava indo para Jerusalém e deveria passar por uma aldeia samaritana. Os discípulos foram à frente para proverem pousada, mas não foram bem recebidos. Tiago e João ficaram deveras irados, como eu e você também ficaríamos. Pediram a Jesus para fazer descer fogo do céu, como Elias fizera no passado. Creio que nós não chegaríamos a tanto, não é mesmo? Jesus, todavia, os repreendeu duramente, pois este não era o espírito de Sua mensagem. No caminho ocorreram três diálogos, que nos apontam para a coragem exigida por Jesus da parte dos seus seguidores.

O primeiro diálogo é entre Jesus e um provável jovem. Sim, pois os jovens são imbuídos deste espírito romântico e aventureiro. Palavras poéticas, dignas de serem ditas com um fundo musical especial: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores!” Poderíamos imaginálo seguindo a Jesus pelas campinas, vales, montanhas, praias cidades, campos, etc. Esse tipo de palavras é muito bonito, mas nem sempre corresponde à verdade. Jesus bem sabia o que era a fraqueza humana e, ao invés de elogiá-lo por tal expressão, trouxe-o à realidade fria do alto custo por seguí-Lo:

As raposas têm seus covis...” - Jesus poderia estar se referindo ao poder político nas mãos de Herodes, um idumeu esperto, que se valia do prestígio de Roma, para dominar os judeus. Os amigos de Herodes, como por exemplo os sacerdotes, os saduceus, obtinham favores e vantagens diversas. “...As aves têm seus ninhos” - Pássaros constróem ninhos longe da cobiça de outros animais, em lugares seguros e altos. Roma tinha a águia como símbolo de sua força, que alçava vôos altíssimos e construía ninhos nas altas rochas. Quem era à favor de Roma contava com segurança e proteção.

...Mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.” Jesus não possuía palácios, nem exércitos, nem prestígio ou poderio humano. Ele não poderia pagar a esse moço nenhum salário, nenhuma benesse. Os discípulos esperavam que Jesus fosse um rei terreno, que dominasse o mundo através da força, mas Jesus mostrava um poder diferente, um Reino que não era deste mundo.

Quantas pessoas procuram a Jesus Cristo para obter favores, vantagens, poder político, cura de enfermidades, ou, como outros, poder para realizar milagres. Querem Jesus para obterem coisas através dEle. Para estes, Jesus mostra a dura realidade: seguí-Lo é carregar a cruz, é renunciar ao mundo, é ser, muitas vezes, vítima da indiferença dos amigos e familiares. Devemos seguir a Jesus conscientes disto. O nosso lugar não é aqui. Nosso lugar é o Céu. A nossa pátria definitiva é lá. A nossa riqueza deve ser armazenada lá.

Em outro diálogo de Jesus, Ele convida alguém para seguí-Lo. Porém, este outro é mais realista e apre- senta a Jesus uma grande dificuldade: tinha o pai para sepultar. Sim, nada mais justo. Não se pode esperar para sepultar a alguém. Já pensou embrulhar um defunto e guardá-lo no guarda-roupas, em casa?!

No entanto, seguindo Keneth Bayley, autor do livro A POESIA E O CAMPONÊS, o sentido daquilo  que o moço dizia era outro. Provavelmente ele estaria dizendo que “ficaria com o pai até que esse viesse a mor- rer”. Sim, ele queria seguir a Jesus, mas a prioridade de sua vida era cuidar de seu pai, para desta forma receber uma herança maior que seus irmãos. Tal tarefa era mais importante. Oh, como encontramos pessoas assim tam- bém, que preferem agradar os seus pais, suas famílias, ao invés de agradarem primeiro a Jesus Cristo! Preferem manter a tradição religiosa, a posição social, os relaciona- mentos diversos, do que deixar tudo isto de lado por Cristo!

Somos assim também. Talvez o pai com quem ficaríamos até morrer são as desculpas que damos a Deus em tantas ocasiões. Não podemos serví-Lo, porque tra- balhamos demais, porque a nossa profissão não permite, porque moramos longe, porque nossas agendas andam repletas, etc, etc, etc. Muitas vezes dizemos que só quan- do nos aposentarmos é que Jesus Cristo poderá esperar alguma coisa mais de nós...

“Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” - palavra firme de Jesus. Deixa que os que não têm vida cuidem de suas prioridades mortas, inferiores. Deixe para trás as coisas secundárias. Dê o seu melhor para Cristo. Se alguma coisa o está atrapalhando de seguir ple- namente ao Senhor, renuncie esta coisa e dê prioridadeao Reino de Deus.

E por fim, chegamos ao terceiro diálogo. Alguém se oferece para seguir a Jesus, mas pede autorização para despedir-se primeiro de seus queridos familiares. Algo natural, justo e humano, não acham? O que aquele jovem estaria pedindo, que eu não pediria também?

Provavelmente era algo mais que simplesmente dizer adeus aos familiares. Ele desejava ficar! Sua despedida seria trágica, como se estivesse sendo condenado à pena de morte. Daria um adeus à vida. “Adeus, queridos pais; adeus; adeus, lar, doce lar; adeus, mundo amado e queri- do...” Certamente ele carregaria consigo uma tristeza imen- sa, uma dor intensa, uma saudade profunda de tudo que deixou para trás, de tudo que deixou de ter, de fazer, de viver, pelo fato de ter que seguir a Cristo.

“Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o Reino de Deus”. Seguir a Jesus e continuar chorando pelo que deixou é perda de tempo. Já pensou alguém se casar e viver chorando pela saudade do tempo de solteiro, ou de alguma pessoa que fez parte de sua vida? Não se pode ter Jesus e continuar com os santos, as santas, as “senhoras”, os guias, os orixás ou outras aberrações quaisquer. Não se pode ter a Jesus e sonhar com os prazeres do pecado ou das paixões infa- mes. Ou ficamos com Cristo em Seu Reino para sempre, ou escolhemos as trevas e o deixamos para sempre. Se você está seguindo a Jesus, não pense nas coisas que dei- xou para trás, mas naquelas que recebeu e ainda receberá! Aliás, nossa herança não está aqui, mas no Céu, no Reino de Deus! O melhor está por vir! Com Cristo obtemos a vida eterna, o perdão de todos os nossos pecados, o direito à ressurreição da carne, num corpo imortal e trans- formado, uma grande família de irmãos, poder para vencer as tentações, e tantas coisas mais! Não é maravi- lhoso? Então, se Jesus é melhor, por que chorar pelo que ficou para trás? Jesus é melhor, sim, melhor que ouro ou bens! Aleluia!

Certa vez ouvi uma história de coragem cristã, numa conferência missionária. Aconteceu certa feita, num país distante e de governo comunista, onde o evangelho não tinha permissão de existir e sofria duríssima perseguição, que uma igreja se reunia, escondida, na floresta. Eram cerca de 15 pessoas. Oravam, cantavam, realizaram batismos e aprendiam os ensinos de Cristo. O pastor estava pregando. Subitamente um grupo de 10 soldados invadiu o recinto, armados de metralhadoras e granadas. Mandaram todos para a parede, inclusive o pastor. O comandante avisou-os que não era permitido serem cristãos, e que deveriam imediatamente renunciar ao evangelho, pois, caso contrário, seriam mortos naquele instante. Porém, se obedecessem, teriam a vida preservada. Com vergonha e tristeza, o pastor deu um passo à frente, negou à fé e recomendou ao seu rebanho que fizesse o mesmo. Os irmãos, no entanto, repreenderam o pastor e desafiaram os soldados, mandando que ati- rassem logo, pois em breve estariam com o Senhor Jesus Cristo. Atônito, o comandante sentiu orgulho daquela coragem demonstrada, mas sentiu ódio daquele covarde ministro religioso. Numa decisão pessoal, mandou que aqueles crentes fossem embora, exceto o pastor.

Que lugar você ocuparia? O lugar do pastor ou o dos crentes? Que Deus o ajude a ter coragem, coragem para ser a cada dia um cristão autêntico e destemido, que vira as costas ao mundo e levanta o olhar para Deus. Que Ele o abençoe. Amém

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