Entendendo e Vivendo: Dons da palavra
Quinta, 15 Abril 2021 | |
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Visitante, Graça e paz, Entendendo e VivendoDons da palavraPr. Edvard Portes Soles
INTRODUÇÃO Para o crescimento e desenvolvimento da Igreja o Senhor concede dons a Seus servos. Estes dons são dados conforme a direção do Espírito Santo e visam o bem comum dos fiéis. Eles tanto edificam a Igreja quanto proclamam o Evangelho, são essenciais para a Igreja e sem eles ela se torna um organismo morto, sem sentido e sem razão de ser. Nesta lição vamos falar sobre três destes dons, a saber: palavra da sabedoria, variedades de línguas e interpretação de línguas. São dons da palavra ou da locução devido sua natureza, pois envolvem as faculdades da fala e são responsáveis por proclamar o evangelho e manifestar a sabedoria de Deus em palavras.
PALAVRA DA SABEDORIA “Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria [...]” (1 Coríntios 12:8). De maneira bem simples, o dom da palavra da sabedoria relaciona-se com certas circunstâncias especiais: onde há um impasse, uma palavra sábia se faz necessária para que algum assunto tenha solução. Sabedoria é a tradução da palavra grega “sophia”, que tem uma gama de significados. No entanto, no presente contexto ela trata de um conhecimento amplo e profundo, cuja perspicácia permite avaliar com clareza e profundidade, proporcionando ao indivíduo uma visão além, com a qual ele pode enxergar o que os outros não conseguem. A “sabedoria”, no texto, está subordinada à palavra “logos”, que pode ser traduzida, neste caso, por comunicação, elocução, ato de dizer alguma coisa. Mas trata-se de algo que é concedido pelo Espírito Santo, ou seja, quem está se comunicando é Ele. Então, a sabedoria vem dEle. É a sabedoria dEle, por isso expressa Sua vontade e comunica a sabedoria divina. Essa sabedoria é de altíssimo nível e transcende os limites da sabedoria natural ou humana. Não se adquiri nas escolas seculares, nem também nas faculdades teológicas ou filosóficas. Ela é concedida por Deus, a quem Ele quer, visando atender a necessidade da Igreja ou individual, de algum servo ou serva Sua, principalmente no momento em que o saber natural não é suficiente para tomada de decisões ou resoluções difíceis. A Bíblia nos apresenta alguns casos em que essa sabedoria foi concedida: Jetro, o sogro de Moisés (Êx 18:13-27): Jetro não estava diretamente envolvido na liderança do povo de Israel, mas ele ficou a observar como Moisés fazia para julgar as questões que eram-lhe apresentadas. Com isso, percebeu que a forma como era feito acabava por prejudicar tanto o povo quanto o próprio Moisés, pois o mesmo ficava o dia todo ouvindo e julgando as causas que lhe eram trazidas. Entanto, apesar do esforço os resultados não eram satisfatórios. Então, Jetro deu um conselho baseado na sabedoria propondo um método melhor e mais eficaz de liderar, no qual tarefas são distribuídas de acordo com a capacidade de cada um. Moisés acatou tal parecer, escolheu homens dotados de capacidade e os nomeou para serem seus auxiliares. Assim, eles tratavam de assuntos corriqueiros e Moisés resolvia assuntos de maior complexidade. José no Egito (Gênesis 41:01-36): O Faraó teve um sonho que lhe causou incômodo, pois via sete vacas gordas serem devoradas por sete vacas magras e sete espigas viçosas (com grãos) serem devoradas por sete espigas mirradas (sem grãos). Ao ser chamado, José entendeu o sonho e alertou o Faraó dizendo que haveria sete anos de fartura seguidos por sete anos de fome. Bem, o problema fora detectado, mas e a solução? É aqui que entra a sabedoria para apontar caminhos, dar uma direção, mostrar o que fazer para resolver uma situação caótica. Com sabedoria divina, José trouxe solução ao Egito usando um método muito comum em administração, o estoque de produtos. Ele fez o que hoje chamaríamos de “poupança”, guardou o excedente. Quando a fome chegou, ele não apenas manteve o Egito alimentado, mas também tinha produtos para colocar à venda; isso salvou outras nações da fome e aumentou os tesouros egípcios. O Faraó reconhece a fonte dessa sabedoria, “acharíamos, porventura homem como este, em quem há o Espírito de Deus?” (Gênesis 41:38). O Faraó não reconhecia o Senhor, pois o Egito vivia embebido na idolatria, mas reconheceu que tal sabedoria não era meramente humana. Salomão (1 Re 3:16-28): Uma demonstração de como a sabedoria de Deus age, tanto em palavras como em atitudes pode ser vista nessa história. O rei tinha uma causa de grande dificuldade, que envolvia a disputa por uma criança numa época com contexto bem diferente dos nossos dias. Nos tempos atuais um juiz determinaria a realização de um exame de DNA e o problema seria facilmente solucionado. No caso de Salomão, a decisão estava nas mãos dele. Salomão agiu de acordo com a sabedoria que Deus lhe deu. No Novo Testamento Jesus assegurou aos discípulos que em momento oportuno ser-lhes-ia concedido sabedoria para falarem sem que alguém pudesse se opor a eles (Lucas 21:15). Em ocasiões e circunstâncias diferentes isto pode ser visto com clareza em Atos dos Apóstolos, vejamos alguns exemplos: A sabedoria de Estevão (Atos dos Apóstolos 6:8-15): Sua sabedoria era sobremodo elevada que chegava a ser incontestável em seus argumentos e vinha embebida do poder do Espírito Santo. Tal sabedoria não havia sido aprendida, pois é notório que os apóstolos eram homens sem instrução formal e é muito provável que Estevão não fugia a essa regra. O Concílio de Jerusalém (Atos dos Apóstolos 15). O assunto que resultou nesse Concílio foi não impor sobre os gentios alguns aspectos da Lei, pois, até o momento, a Igreja era composta basicamente por judeus convertidos a Cristo. Com a conversão dos gentios, que tinham costumes e cultura diferentes, não demorou para que os problemas surgissem. Seriam eles obrigados a se circuncidarem e guardarem a lei cerimonial? Após Pedro e Paulo apresentarem seu testemunho de como o Evangelho havia alcançado os gentios e de como o Espírito Santo agia entre eles, Tiago foi quem tomou a palavra. Ele apresentou uma solução para o impasse que, até então, havia gerado discussões e trazido desgastes para a Igreja de Cristo. Tiago propõe que aos cristãos gentios sejam feitas apenas recomendações quanto à idolatria, prostituição e carne sacrificada aos ídolos e sufocada ou com sangue (Atos dos Apóstolos 15:19- 21). Este parecer agradou a liderança (apóstolos e presbíteros) e toda a Igreja, dando uma solução que favorecesse a todos.
VARIEDADE DE LÍNGUAS “[...] a outro variedade de línguas” (1 Cor 12:10). Dentre os dons do Espírito Santo provavelmente seja este o que mais tem provocado polêmica e gerado divisão na igreja de Cristo, o que está em contradição com seu propósito, que é a edificação do Corpo (Efésios 2:11-13). Vejamos alguns aspectos deste dom. A primeira controversa gira em torno do significado de “línguas” no contexto dos dons do Espírito Santo. Igrejas, pregadores, teólogos e escritores das mais variadas denominações se dividem em dois grupos, a saber: Os que interpretam o dom de línguas como sendo língua (idioma) falada entre os homens, em algum lugar do planeta Terra. Para esta linha de pensamento, o Espírito Santo concede a capacidade de alguém falar em um idioma qualquer sem que antes o tenha aprendido, ou por experiência ou por preparo técnico. Estes não veem a diferença entre os dialetos falados em Atos dos Apóstolos 2:1-13 e o dom de língua em si como tratado em 1 Coríntios 12 e 14 respectivamente. Também interpretam 1 Coríntios 13:1 como um recurso linguístico, ou seja, Paulo não está afirmando haver uma categoria de língua chamada “línguas de anjos” ou uma língua sobrenatural, que não pertence aos homens. Ele apenas o faz para dar ênfase ao assunto do capítulo, que é a supremacia do amor e este como o dom maior, a ser almejado. Geralmente são “cessacionistas”, ou seja, para eles o dom de línguas (dentre outros) foi necessário apenas no início da Igreja para sua expansão. Assim, para muitos desses, nos dias atuais, tal dom já nem mais existe, uma vez que hoje não haveria necessidade de tê-lo.
Já o outro grupo tem uma intepretação oposta ao primeiro. Para estes o dom de falar em línguas é a ação sobrenatural que capacita o crente a falar em uma língua que não existe aqui neste mundo. Trata-se de uma língua sobrenatural, ou “língua de anjos”, o que não descarta a possibilidade de que também seja um idioma falado em algum lugar entre os homens. Os que assim acreditam defendem ainda (com raras exceções) que as “línguas” são a comprovação que o indivíduo foi “batizado” com o Espírito Santo, interpretando assim Atos dos Apóstolos 2; 19:6 e 1 Coríntios 12, 13, e 14 como sendo essa comprovação. Defendem que o dom de línguas, assim como todos os dons que acompanhavam a Igreja no primeiro século, estão vigentes e que ainda são necessários para a Igreja hoje. Não obstante, o apóstolo Paulo apresenta este dom como sendo uma manifestação do Espírito Santo, embora ele seja de menor valor que o dom de profecia (1 Cor 14:5), ocupa seu espaço dentro do Corpo de Cristo para trazer proveito para todos, ou seja, que traga algum benefício para a Igreja. O falar em “línguas diferentes” ou em “outras línguas” acontece quando se fala um dialeto, ou idioma que é desconhecido para quem fala, mas que é falado em algum lugar da Terra. Trata-se, pois, de um idioma existente entre os homens. Foi o que acorreu em Atos dos Apóstolos 2, em que havia pelo menos 16 dialetos diferentes em Jerusalém e todos ouviram a mensagem em sua própria língua materna. Neste acontecimento não pode haver dúvidas que foram línguas humanas, e que serviram para mostrar o cumprimento da profecia de Joel 2 referente ao derramamento do Espírito Santo sobre toda carne (ser humano), cumprindo-se também com um propósito evangelístico, pois naquele dia houve a conversão de quase três mil pessoa (Atos dos Apóstolos 2:41). Alguns cuidados são necessários ao tratar especificamente desse dom: primeiramente, ele não deve ser confundido com estado de êxtase, no qual o indivíduo perde o controle sobre si mesmo certo limite de tempo que seja o suficiente para que a mensagem seja transmitida para a Igreja. Como bem observa Gruden: Aqui Paulo exige que os que falam em línguas revezem-se e limita o número a três, indicando claramente que os que falavam em línguas estavam cientes do que acontecia à sua volta e eram capazes de se controlar, só falando quando chegava sua vez, quando ninguém mais estivesse falando. Se não houvesse ninguém para interpretar, era-lhes fácil manter silêncio e se calar. Todos esses fatores indicam elevado grau de autocontrole, não se sustentando a ideia de que Paulo entendesse as línguas como algum tipo de discurso extático. Outro erro comum é a desordem que tal “dom” pode provocar no ambiente de culto. Em Corinto havia esse problema e Paulo deu diretrizes a serem seguidas, pois os dons são para edificação e não para confusão. Assim, recomenda-se o silêncio e que todos possam atentar para a palavra que edifica. Outro cuidado diz respeito ao orgulho que esse dom pode trazer a quem o possui. É certo que ele é para a edificação pessoal, mas tal edificação não pode se sobrepor à edificação do Corpo de Cristo pois o Espírito concede os dons tendo em vista o bem estar comum. Portanto, caso precise escolher dentre um e outro, por questão de ordem, a Bíblia nos recomenda que quem fala em língua se cale para que todos possam ser edificados pela profecia, que a todos edifica (1 Coríntios 14:4). Como há muitos enganos, faz-se necessária uma análise atenta sobre como este dom tem sido manifesto hoje em muitas Igrejas, pois pode ser o espírito do próprio homem que se manifesta ou até mesmo espírito de demônios que simulam atuação do Espírito de Deus para enganar. Nenhuma experiência deve suplantar a Palavra de Deus em nossa vida – não importa o quanto ela signifique para nós ou quanto possa impressionar os outros. Nossas experiências sempre têm de ser julgadas à luz da Bíblia, e não a Bíblia à luz das nossas experiências. Deus Espírito Santo nos deu a Bíblia, e nenhum dom que venha mesmo do Espírito Santo contradirá a Bíblia.
DOM DE INTERPRETAÇÃO Este dom tem uma relação de interdependência com o anterior, por isso tem o mesmo grau de importância quanto ao seu propósito e utilidade no corpo de Cristo. Ou seja, a edificação da Igreja como sendo o mais importante. Tal capacidade pode ser dada a um crente qualquer inclusive ao que tem o dom de falar em línguas (1 Cor 14:13). O que é importante com relação a este dom é que não se pode confundir intepretação com tradução, a primeira se atem a mensagem e a segunda ao que está sendo dito de forma literal. A palavra grega para “interpretação” é “hermeneue”, da qual se origina a palavra “hermenêutica”, que é a ciência da interpretação, inclusive da Bíblia. Este vocábulo era usado sempre no sentido de expor, explicar em palavras. Um bom exemplo de interpretação pode ser visto em Daniel 5 em que o rei Belsazar viu uma escrita na parede e nenhum dos sábios da Babilônia podiam dar a interpretação. O que estava ali eram quatro palavras soltas e que pareciam não fazer sentido (Daniel 5:25). Mas o profeta compreendeu o significado que havia nelas. Assim, entendeu que “mene, mene, tequel e parsim” (que literalmente significam “contado, pesado e dividido”) estava dizendo que se tratava de uma mensagem de julgamento para o rei. Ou seja, que tais palavras significavam “seu reino foi contado, você foi pesado na balança e achado em falta, seu reino foi dividido e entregue a outro” (Daniel 5:26-29, tradução livre do autor). No dom de interpretação acontece o mesmo, só que geralmente é uma mensagem falada no ambiente de culto e não escrita. O intérprete não traduz palavra por palavra como o tradutor, ele transmite mensagem falada de uma língua para outra, em tempo real, em interação com o público e com precisão. Anote-se, enfim, que no dom de intepretação o que está em foco é a mensagem e não as palavras somente. Portanto, é de fundamental importância (na verdade, o. Em Atos dos Apóstolos 2, os discípulos não ficaram descontrolados, pois, no discurso de Pedro eles já não estavam mais a falar em “outras línguas”. Outro fato é que Paulo recomenda que ao falar em “outra língua” que seja acompanhado de quem também interprete. Ora, para que haja intepretação é preciso que esteja falando de forma pausada e cada um respeitando imprescindível) que ele exista para a edificação da Igreja, caso o dom de línguas esteja sendo utilizado. CONCLUSÃO Todo assunto que a Palavra de Deus aborda é de grande importância e não deve ser negligenciado. O preconceito é uma grande barreira e atrapalha nosso entendimento das Escrituras. A falta de interesse e as tradições constituem outros empecilhos para qualquer estudioso da Bíblia, de forma a impedir que desfrutemos plenamente do que Deus tem reservado para nós. Por outro lado, a falta de sabedoria e equilíbrio tem levado muitos a cometerem exageros que também atrapalham. No tocante aos dons espirituais não devemos ser ignorantes, é dizer, desinformados (1 Co12:1) para não pecarmos por omissão ou por ultrapassarmos os limites do bom senso, da organização e decência nos solenes momentos de adoração.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE 1. Como podemos definir o dom da palavra da sabedoria? (1 Coríntios 12:8) R. 2. Em que diferem a sabedoria dada pelo Espírito Santo e a sabedoria adquirida naturalmente? R. 3. O que significa o dom de línguas? Com que propósito ele foi dado à Igreja? R.4. Como resolver a “controvérsia” sobre a natureza das línguas em Atos dos Apóstolos 2 e a de 1 Coríntios 14? R. 5. O que significa o dom de interpretação de línguas? R. 6. Porque o apóstolo Paulo recomenda que aquele que fala em língua que ore para também interpretar? (1 Coríntios 14:13) R. 7. Por que tradução é diferente de interpretação? Qual a origem da palavra interpretação e como isso está relacionado ao contexto do dom de línguas? R. |
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