Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.
2 Timóteo 2:3-4
INTRODUÇÃO
“A minha graça é o que basta para você ...” (2 Coríntios 12:9). A graça de Deus foi que transformou a vida do apóstolo Paulo, de um fariseu zeloso em perseguir os cristãos em alguém que, pela graça, veio a ser um defensor de primeira hora, um combatente de linha de frente, do Evangelho de nosso Senhor. Ninguém se apossou mais da graça do que este apóstolo, vivendo na essência a oferta divina. Por gratidão, entendeu que ser escravo de Cristo era viver a verdadeira liberdade.
A graça é a moldura que agrupa todo o plano de Deus para a salvação do homem. Falar sobre ela é mergulhar literalmente no amor divino. O que sintetiza mais o amor de Deus do que João 3:16? Pois lá está ela, abundante que só! Podemos ver que seria impossível descrevê-la em apenas um estudo. Mas vamos procurar entender como a graça tornou o apóstolo Paulo e, através deste, também ao jovem Timóteo, em abnegados combatentes da causa de Cristo.
DESAFIO AO COMBATENTE
Nas cartas de Paulo a Timóteo nós vemos preciosas lições que nos servem nos dias atuais. “Combata o bom combate da fé. Tome posse da vida eterna, para a qual você também foi chamado e da qual fez a boa confissão diante de muitas testemunhas” (1 Timóteo 6:12). Paulo sabia das dificuldades que Timóteo enfrentaria ao assumir o seu lugar e, orienta-o a fugir de certas práticas, desafiando-o a viver como verdadeiro cristão. O apóstolo sabia que sua missão estava chegando ao fim, e por isto, preocupou-se em prepará-lo para assumir seu posto. Desafia seu discípulo a combater o bom combate que ele havia combatido. Um pouco antes o havia instruído a fugir dos falsos mestres e das riquezas, seguindo a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão. Este era o bom combate da fé, do qual Timóteo deveria ser exemplo. Paulo aprendera de Cristo e agora transmitia.
Veja o comentário do Pr. Hernandes:
“A palavra grega para combater é um termo do atletismo que dá origem a nosso verbo agonizar (grifo nosso) e se aplica tanto a atletas quanto a soldados. Era a luta agonizante requerida, caso a pessoa quisesse vencer uma partida de luta romana. Todo cristão é chamado a batalhar a luta pessoal contra o mal em todas as suas formas. Portanto, é digno de nota que o verbo combater (grifo nosso) está no imperativo presente, indicando que a luta é um processo contínuo. Devemos pôr toda a nossa energia em andar com Deus e realizar sua obra. Devemos aplicar toda a nossa força numa causa de consequências eternas”.
Paulo fala que devemos ser combatentes do bom combate pela fé em Cristo. A vida do cristão é um combate em todo o tempo das vontades do Espírito contra as vontades da carne. Este é o desafio, a nossa escolha. É necessário lutar do lado certo, em favor das coisas espirituais, pois esta é a maneira correta de apossar-se da vida eterna. As nossas escolhas devem ser no sentido de agradar a Deus, alimentando o Espírito, não a carne que perecerá. O combatente busca somente um propósito. O que você escolhe?
“Tome posse da vida eterna” (grifo nosso). Veja que a orientação do apóstolo não é para depois e nem por etapas. Tome posse agora da vida eterna. Ela já foi concedida. Será definitiva quando da segunda vinda de Cristo, mas já podemos desfrutar dela agora (um antegozo do céu) na convicção da salvação. A graça nos concede isto em Cristo Jesus! Aleluia!
A MOTIVAÇÃO E O OBJETIVO DE UM BOM SOLDADO DE CRISTO
“Desde agora me está guardada a coroa da justiça, que o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2 Timóteo 4:8). Eis a motivação que alimenta a alma do cristão para prosseguir na direção de Cristo. Paulo, ao buscar incentivar e motivar Timóteo, demonstra convicto, que a ele já está reservado o galardão eterno e a Timóteo também, se ele seguir os conselhos do apóstolo . Jesus Cristo era a recompensa do apóstolo. O que motiva o soldado na batalha é a vitória, a certeza do dever cumprido. É conseguir cravar no ponto mais alto a bandeira da sua nação.
“Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é agradar aquele que o recrutou.” (2 Timóteo 2:4) O objetivo é demonstrar gratidão pelo sofrimento na cruz. Bendito seja o Senhor Jesus por ter assumido o nosso lugar no calvário. Um soldado em serviço vai demonstrar lealdade para com o seu comandante. O bom soldado possui características necessárias que o levarão à vitória.
Ao usar a figura do soldado para instruir Timóteo, Paulo mostra o quanto lhe era familiar o ambiente militar. Em toda sua trajetória, ele conviveu muito próximo do círculo militar, quer nas ocasiões em que passou encarcerado, quer na própria convivência da sua família de nobres e que, portanto, se relacionavam de perto com o círculo militar, visto a presença dos mesmos entre a nobreza. Conviveu de perto com as legiões romanas na cidade que nasceu, Tarso, capital da Cilícia e, também quando mudou-se para Jerusalém onde estava sediada a Terceira, mais temível e conhecida legião romana. Conhecedor das virtudes e características de um soldado preparado para vencer batalhas, Paulo faz a analogia entre o cristão e o soldado. Ambos estão sujeitos a irem para o combate. Aquele na luta do bem contra o mal, da luz contra as trevas, e este onde for chamado para defender sua pátria. Tanto um quanto o outro precisam de:
Coragem: É essencial ao soldado na batalha e ao cristão na propagação da obra de Deus. Vejamos o que Deus fala para Josué: “Seja forte e corajoso, porque você fará este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar aos pais deles. Tão somente seja forte e muito corajoso para que você tenha o cuidado de fazer segundo toda a Lei que o meu servo Moisés lhe ordenou. Não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que seja bem-sucedido por onde quer que você andar. Não foi isso que eu ordenei? Seja forte e corajoso! Não tenha medo, nem fique assustado, porque o Senhor, seu Deus, estará com você por onde quer que você andar” (Josué 1:6 7 e 9 grifo nosso).
Note que Deus repete por três vezes a ordem para Josué. É preciso coragem para pregar o Evangelho da salvação e declarar que Jesus Cristo é o Senhor. Faltou coragem aos mártires como por exemplo Policarpo, Estevão, Pedro e tantos outros?
Obediência: Segundo Edmar Pedrosa “a disciplina militar é, pois, a obediência pronta, inteligente, espontânea e entusiástica às ordens do superior. A disciplina é a força que mantém unida uma tropa e sustenta um reino.” Portanto, a insubordinação traz divisão, e Jesus declara: “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir” (Marcos 3:24).
Disciplina Militar: A Lei Federal nº 6.880 de 9 de dezembro de 1980 estabelece que a hierarquia e a disciplina são a base de uma instituição militar. Isto tem suas raízes no Império Romano, época em que viveu o apóstolo Paulo. Disciplina significa vigor, energia moral como a força da alma. Temos o caso de Urias, que por lealdade e disciplina aos seus companheiros que estavam em batalha, frustrou os planos do Rei Davi, quando este tentou eximir-se de sua responsabilidade quanto a gravidez de Bate-Seba. Vale lembrar também que: Uma instituição militar apoia sua força na hierarquia e na disciplina, mas os cristãos lembram que: “Uns confiam em carros de guerra, e outros em seus cavalos; nós porém, invocaremos o nome do Senhor, nosso Deus” (Salmos 20:7).
Diante do exposto acima, é fácil entender quando o apóstolo Paulo usa a figura do soldado secular, como exemplo para aquele que aceita ser arregimentado pelo grande General Jesus Cristo. É preciso coragem, obediência, disciplina e submissão ao serviço do Senhor Jesus. A batalha da Luz contra as trevas é feroz, não dá tréguas, requer abnegação, lealdade, espírito de corpo (unidade). É necessário que o soldado de Cristo esteja revestido com a armadura de Deus (Efésios 6:10-18). Entretanto, apesar do embate violento, (pois não lutamos contra a carne e sangue, mas no plano espiritual), temos um General que vai à frente e com um detalhe que faz toda a diferença: já garantiu que a vitória é do povo de Deus!
QUAL A CORRELAÇÃO QUE A BÍBLIA FAZ ENTRE O COMBATENTE E O ATLETA?
“Igualmente, o atleta não é coroado se não competir segundo as regras” (2 Timóteo 2:5). O chamado do obreiro ao serviço e ao sofrimento mostra que é necessário a obediência aos mandamentos de Deus. O apóstolo Paulo menciona os exemplos do soldado e do atleta para, de uma forma prática, nos ensinar a viver para Cristo. Os dois, para serem bem sucedidos, precisam desenvolver características semelhantes às que o cristão também precisa para servir ao Reino de Deus. Vejamos algumas destas características:
O combatente para ir à guerra precisa preparar-se para enfrentar o inimigo. Precisa estar bem equipado e saber usar o seu equipamento. Precisa conhecer o terreno. Conhecer as táticas de guerra, de enfrentamento. Saber quem é o seu inimigo, quais são as suas táticas e como ele agirá no campo de batalha. Não basta ser um combatente, é necessário ser um “bom combatente”. O atleta, da mesma forma, para conseguir alcançar os louros da vitória, o prêmio para aquele que vencer a competição, precisa preparar-se para a competição. E isto requer disciplina severa no cuidado do corpo e da saúde. Precisa de descanso e de exercícios de forma equilibrada. A alimentação precisa ser saudável, regrada. Para alcançar a vitória, autodisciplina é vital, a fim de que nada o desvie deste alvo. Importante destacar que a vida do atleta dentro e fora da competição precisa ser uma só, do contrário, o que faz quando não está competindo irá refletir diretamente em seu desempenho.
Outro ponto importante que Paulo enfatiza a Timóteo é que antes da vitória da glória futura, o sofrimento é inevitável. O próprio Senhor Jesus declarou que para receber a coroa, primeiro teria que carregar a cruz (Lucas 9:23 e 24). O combatente sabe, que antes de ver tremular a bandeira de seu país no ponto mais alto do campo de batalha, haverá muita luta, inclusive corpo a corpo, muito esforço. Terá que abrir mão do conforto. Mas tudo isto é combustível para manter o brio e o moral elevados. O atleta também abriu mão para estar alinhado entre os competidores. Para ele não há outro resultado que não seja a vitória e lutará até “agonizar” (no meio militar ensina-se que o combatente quando acha que já deu tudo de si, ainda lhe resta 50% da sua capacidade de continuar lutando, portanto deve levantar-se e continuar) para chegar na frente. Importante dizer que o cristão ao atender o chamado do Senhor Jesus, já sabe que a vitória é certa. Cristo é o penhor dela (Jó 19:25).
O combatente ao ser alistado para a guerra, passa a concentrar sua vida apenas nesta direção, do contrário será facilmente surpreendido no campo de batalha. Lá ele precisará estar concentrado, pois o solo poderá estar minado. A sua prioridade será preservar a sua vida, a de seus companheiros e lograr êxito em cada missão que lhe for entregue. A disciplina o levará a estar focado naquele ambiente. Além disto, o combatente buscará cumprir as ordens do seu comandante, em quem confia, pois sabe que este zelará sempre pelo bem estar de sua tropa. O bom soldado de Cristo sabe que foi chamado por Ele, o qual deve seguir sem olhar para trás. Costumo dizer que às “seis horas e trinta e três minutos de Mateus” (Mateus 6:33) é a melhor forma de iniciarmos o dia. O atleta por sua vez, também não poderá desviar-se das regras durante a competição, sob pena de ser eliminado. A disciplina a elas validará a vitória. Tanto o combatente precisa de caráter onde repousa os valores cívicos, como o atleta deve competir com dignidade realçando mais valor ao prêmio conquistado. Isto vale para aquele que se dispõe a combater o bom combate, bem como o atleta de Cristo. O cristão necessita de uma vida íntegra, pois ela fala do seu ministério.
COMPREENDENDO A LIÇÃO SUBJACENTE NA FIGURA DO LAVRADOR
“O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos. Pense bem no que acabo de dizer, porque o Senhor dará a você compreensão em todas as coisas” (2 Timóteo 2:6-7).
Se as expectativas de adrenalina na vida de um combatente são garantidas e haverá aplausos na direção do atleta, já não podemos dizer o mesmo da rotina de um lavrador. Em muitos momentos ele está sozinho no campo, solitário, virando a terra, semeando, observando o desenvolvimento da lavoura. Ele persevera, na certeza de alguma recompensa pelo trabalho duro realizado. Porém o seu labor é árduo, muitas vezes extenuante. Um ambiente onde não há espaço para o preguiçoso, pois ele não comerá se não trabalhar. O trabalho do lavrador depende das condições incertas do tempo. Por saber que muito do resultado do seu labor não depende apenas do seu esforço, ele precisa aprender a esperar, ter paciência. Veja quantas lições podemos tirar comparando a vida do lavrador com a do cristão. A seara do Reino de Deus é muito grande, com poucos obreiros. Há muito trabalho por fazer. Aquele que não tiver disposição para colocar a mão no arado, não comerá. A obra está à sua frente, com frio, chuva, sol quente, de dia ou à noite. Em muitas vezes, como Paulo, você terá apenas a companhia de Jesus. Somente Ele estará vendo você trabalhar, se esforçar, chorar pelas almas que comprou. O resultado do seu trabalho não depende de você, mas da obra do Espírito Santo. Portanto pela fé terá de confiar e esperar, pois a colheita é certa.
REGRAS PARA A COMPETIÇÃO
“Tudo faço por causa do evangelho, para ser também participante dele. Vocês não sabem que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Corram de tal maneira que ganhem o prêmio” (1 Coríntios 9:23-24).
Paulo tinha uma visão extraordinária para pregar o Evangelho. “Tudo faço por causa do evangelho...,”. (1 Coríntios 9:23a). A sua motivação era compartilhar as bênçãos e para isto utilizava-se inclusive do contexto cultural, como ocorre no texto acima. Aqui, aproveitando-se dos jogos ístmicos, que ocorriam em Corinto a cada dois anos e tinha grande importância, “eram festas extravagantes de atletismo, religião e artes, atraindo milhares de competidores e visitantes de todo império. Seus patronos e atletas eram homenageados [..] por meio de monumentos, estátuas e inscrições”44. Assim, ele incentiva aqueles que ouviam a sua pregação, a correrem de tal maneira que fossem vencedores, com determinação tal de cruzar a linha de chegada em primeiro lugar “Aquele, porém, que ficar firme até o fim, esse será salvo” (Mateus 24:13).
DISCIPLINA E DETERMINAÇÃO
“Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível” (1 Coríntios 9:25).
Ainda utilizando a figura do atleta, Paulo escreve que este, para atingir seu objetivo de vencer a competição, em tudo se domina pela autodisciplina na dieta rigorosa e nos treinos , buscando o prêmio pela vitória, que era uma grinalda feita com folhas de louro. Por isto Paulo diz que era uma coroa corruptível, pois sendo de folhas de uma árvore, logo pereceria. Mas o cristão, disciplinado e determinado, receberia a coroa da vida eterna.
FUGINDO DOS ATALHOS, POIS ESTES SÃO ENGANOSOS E TRAIÇOEIROS
“Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1 Coríntios 9:26-27).
Aqui Paulo fala dele próprio e do seu ministério. Que tinha ciência dos objetivos de sua vida, e pelos quais lutava contra a carne. Seu alvo era Jesus e alcançar a Sua estatura, não correr apenas por correr. Lutava não a esmo como se estivesse golpeando o ar, mas para sufocar a carne e alimentar o Espírito. Pois seu inimigo era a carne com seus desejos, contra os quais ele lutava escravizando-a, para dar lugar ao Espírito. Ele fala do perigo de não viver o que prega. Entregando-se aos prazeres da carne correria o risco de ser desqualificado, ou seja, perder a salvação. A cobiça, a ganância e a impureza sexual tem sido um perigo constante entre os líderes cristãos, levando-os a tropeçar. Paulo em sua primeira carta a Timóteo o alerta “Mas você, homem de Deus, fuja de tudo isso. ...” (1 Timóteo 6:11).
CONCLUSÃO
A graça está estampada em todas as páginas das Escrituras. Os primeiros nove versículos do capítulo dois da carta de Paulo aos Efésios, com certeza revelam o poder e importância da graça com muita clareza. Paulo fala do resultado desta graça para aqueles que ouvem o chamado de Cristo, em um primeiro momento transformando, depois fortalecendo e aperfeiçoando pela fé durante a peregrinação neste mundo, e por fim o dito resultado, a glória eterna. O combatente do bom combate, o atleta disciplinado e o lavrador que semeia na esperança da colheita e de participar dela, somente são o que são, porque a graça mencionada na carta acima, os constrangeu a lutar, correr e semear como cidadãos do Reino. Porque o Senhor de toda glória, curvou-se até nós, desgraçados que éramos, num ato de amor imensurável. Por isto, somos levados em gratidão, a proclamar as Boas Novas de salvação a toda criatura, não importando as circunstâncias, mas em Jesus e por Jesus.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE
1. De que maneira a cruz desafia você?
R.
2. No seu entendimento, qual a razão para o apóstolo Paulo comparar o cristão a um soldado?
R.
3. No primeiro capítulo do livro de Josué, Deus fala por três vezes para que Josué tenha coragem. Por que esta característica é importante na vida do cristão?
R.
4. Responda com suas palavras o que você entende por disciplina e determinação?
R.
5. Diante do que a Bíblia nos revela do viver cristão de Paulo, após sua conversão, o que você poderia dizer sobre o que a graça fez na sua vida, ou o que gostaria que ela fizesse?
R.